Jaime (1999) - António-Pedro Vasconcelos

[Rui Santos]

Jaime (1999)
Realizador: António Pedro Vasconcelos



Trailer:


IMDB | Rotten Tomatoes | Wikipedia

Filme Versão Completa no Youtube

[Rui Santos]

Este domingo vi Jaime, penso ter sido o segundo filme que a RTP passou do ciclo do APV.

Jaime surpreende pela positiva em comparação com o Lugar do Morto, parece um filme muito mais profissional e com mais meios.
O Porto está filmado de forma magistral, e aborda o complexo assunto do trabalho infantil, da industria da confeção, dos Ferraris, do trabalho infantil nas obras, e prostituição, e do abandono escolar.
Retrato meio cru de um Portugal onde a pobreza ainda existe, baseado numa história simples de um filho que sonha apenas juntar a mãe e o pai separados sem que se perceba a causa.
Fernanda Serrado (a mãe) e Joaquim Leitão (o pai) estão muito bem mesmo, mas o principal destaque vai para o puto (Saul Fonseca) que está brutal no papel que faz. Ainda para mais quando é o único que carrega no sotaque portuense, o que nos faz sentir mais próximos da região.
Sendo este o filme seguinte do APV ao Lugar do Morto, surpreende por uma mudança do tom "Film Noir abstracto" do filme anterior, pois é um filme muito cru, muito direto, pouco insinuante, quase amargo.

Não é que não conhecesse os problemas muito referidos no filme, mas é raro vê-los transpostos para um filme, ainda para mais português e de forma tão simples.
Existe algumas histórias paralelas pouco desenvolvidas, mas o tempo de filme, e certamente o orçamento não daria para mais.

Para mim um 8.5/10 gostei mesmo muito.
A música final do Rui Veloso assenta como uma luva.

Pena realmente não termos mais filmes assim normais em Português...

[Rui Santos]

O «Jaime», embora não se assemelhe muito a um filme de cinema e tenha mais características de telefilme, é muito interessante pela forma como aborda um tema problemático sem ser estereotipado: o trabalho infantil. Foi um filme que surpreendeu, não estava à espera de algo assim.

Sem sombra de duvida o "Alice" , mas tambem gostei muito dos balas e bolinhos, mais pelo vertente cómica.
Tambem gostei bastante do "jaime", como moro perto do Porto, conheço bem a zona onde foi filmado o filme e deu para sentir aquele ambiente.

Da banda sonora do grande filme «Jaime».

Antes deste ele fez o Jaime e o seu filme anterior ao Jaime data do início dos anos 90, Aqui D'El Rei. Só vi o Jaime e Os Imortais. Não são maus, mas como já disse, não gosto das interpretações, não me soam naturais...

Ludovic Mestre
"People scare better when they're dying."

Jaime foi também citado nos tópicos:
Um Amor de Perdição (2008) - Mário Barroso
Filme Português Favorito

[Ludovico]

Este domingo vi Jaime, penso ter sido o segundo filme que a RTP passou do ciclo do APV.

Jaime surpreende pela positiva em comparação com o Lugar do Morto, parece um filme muito mais profissional e com mais meios.
O Porto está filmado de forma magistral, e aborda o complexo assunto do trabalho infantil, da industria da confeção, dos Ferraris, do trabalho infantil nas obras, e prostituição, e do abandono escolar.
Retrato meio cru de um Portugal onde a pobreza ainda existe, baseado numa história simples de um filho que sonha apenas juntar a mãe e o pai separados sem que se perceba a causa.
Fernanda Serrado (a mãe) e Joaquim Leitão (o pai) estão muito bem mesmo, mas o principal destaque vai para o puto (Saul Fonseca) que está brutal no papel que faz. Ainda para mais quando é o único que carrega no sotaque portuense, o que nos faz sentir mais próximos da região.
Sendo este o filme seguinte do APV ao Lugar do Morto, surpreende por uma mudança do tom "Film Noir abstracto" do filme anterior, pois é um filme muito cru, muito direto, pouco insinuante, quase amargo.

Não é que não conhecesse os problemas muito referidos no filme, mas é raro vê-los transpostos para um filme, ainda para mais português e de forma tão simples.
Existe algumas histórias paralelas pouco desenvolvidas, mas o tempo de filme, e certamente o orçamento não daria para mais.

Para mim um 8.5/10 gostei mesmo muito.
A música final do Rui Veloso assenta como uma luva.

Pena realmente não termos mais filmes assim normais em Português...

Para não variar, aqui voltas a sintetizar bem os meus pensamentos acerca deste filme. Quando puder escreverei mais me pormenor o que senti ao ver.Mas assino por baixo tudo que dizes .

[lud81]

Assim é que esta música deve ser ouvida, pois a versão de estúdio acaba mesmo quando o solo eléctrico começa. Nunca percebi isso...

[JRibeiro]

passados 20 anos alguns dos problemas já foram erradicados, nomeadamente o trabalho infantil

[Rui Santos]

passados 20 anos alguns dos problemas já foram erradicados, nomeadamente o trabalho infantil

Concordo, é a ideia que tenho e que nesse aspecto muita coisa melhorou.
Mas é uma realidade da altura, e por isso acho que os filmes devem tentar tanto quanto possível (em alguns géneros) retratar uma realidade para memória futura.

[JRibeiro]

Em 1999 também já tinha sido praticamente erradicado, era mais problemas dos anos 80 e por aí abaixo

[Ludovico]

Mais um filme sensacional de António Pedro Vasconcelos,apetece dizer ao acabar de vê-lo.”Jaime” é um filme notável porque é uma soberba encenação e reflexão sobre o trabalho infantil numa família da classe baixa portuense.Jaime(um Saul Fonseca em grande forma)é um rapaz pobre que é engolido através da sua condição para uma atividade ilícita.Esse é só o começo de uma história que ainda agora passados 20 anos da sua exibição,continua visível e premente.É um filme estupendamente bem escrito e interpretado.Toda a direção de atores é verdadeiramente fabulosa e muito eficiente.Todo o miolo do filme é substancialmente credível e familiar.Vasconcelos,urde a trama como um grito de revolta contra a exploração laboral,uma dimensão social que extravasa para o lado humano.Jaime é um personagem complexo numa fase complexa de vida.Tem os pais separados e quer uni-los novamente.Essa é sua missão e nós,como espetadores,vemos essa missão a acontecer com grande prazer.Porque não há vilões típicos e maniqueistas Nada disso, tudo é narrado com grande sentido de espetáculo familiar.Não é um épico em imagens mas sim um épico intimista familiar como é raro de ser feito ainda hoje em Portugal.Devo confessar que só vi o filme porque deu no mês passado, porque quando streou na época não me interessava nem via filme portugueses.Pela idade e pela conjuntura.Passados 20 anos, vi-o finalmente pela primeira vez todo e em adulto e devo confessar que foi uma experiência cinéfila e pessoal a roçar a excelência.Não o acho tecnicamente perfeito, nem formal nem informalmente, esse é que o grande problema do filme.Não é mais vistoso nem arrojado em termos formais, nem no conteúdo, o que não o eleva,para mim, a filme perfeito.Mas ainda assim são 2 horas que são magnifico tempo ganho e não perdido.Jaime é um grande filme para ser visto em família e por pessoas com sentido de justiça social.Para mim,o cinema português precisava de mais filmes deste género,com um guião muito bem apetrechado e desenvolvido. É coeso,inteligente e sensato como"O Lugar do Morto" foi na década de 80 mas"Jaime" consegue ser ainda melhor em tudo,no guião, essencialmente que é portentosamente escrito e estupendamente interpretado.
Nota:8 em 10

[Komodoro]

Peço desculpa vir desenterrar uma publicação antiga.

Mais um filme sensacional de António Pedro Vasconcelos,apetece dizer ao acabar de vê-lo.”Jaime” é um filme notável porque é uma soberba encenação e reflexão sobre o trabalho infantil numa família da classe baixa portuense.Jaime(um Saul Fonseca em grande forma)é um rapaz pobre que é engolido através da sua condição para uma atividade ilícita.Esse é só o começo de uma história que ainda agora passados 20 anos da sua exibição,continua visível e premente.É um filme estupendamente bem escrito e interpretado.Toda a direção de atores é verdadeiramente fabulosa e muito eficiente.Todo o miolo do filme é substancialmente credível e familiar.Vasconcelos,urde a trama como um grito de revolta contra a exploração laboral,uma dimensão social que extravasa para o lado humano.Jaime é um personagem complexo numa fase complexa de vida.Tem os pais separados e quer uni-los novamente.Essa é sua missão e nós,como espetadores,vemos essa missão a acontecer com grande prazer.Porque não há vilões típicos e maniqueistas Nada disso, tudo é narrado com grande sentido de espetáculo familiar.Não é um épico em imagens mas sim um épico intimista familiar como é raro de ser feito ainda hoje em Portugal.Devo confessar que só vi o filme porque deu no mês passado, porque quando streou na época não me interessava nem via filme portugueses.Pela idade e pela conjuntura.Passados 20 anos, vi-o finalmente pela primeira vez todo e em adulto e devo confessar que foi uma experiência cinéfila e pessoal a roçar a excelência.Não o acho tecnicamente perfeito, nem formal nem informalmente, esse é que o grande problema do filme.Não é mais vistoso nem arrojado em termos formais, nem no conteúdo, o que não o eleva,para mim, a filme perfeito.Mas ainda assim são 2 horas que são magnifico tempo ganho e não perdido.Jaime é um grande filme para ser visto em família e por pessoas com sentido de justiça social.Para mim,o cinema português precisava de mais filmes deste género,com um guião muito bem apetrechado e desenvolvido. É coeso,inteligente e sensato como"O Lugar do Morto" foi na década de 80 mas"Jaime" consegue ser ainda melhor em tudo,no guião, essencialmente que é portentosamente escrito e estupendamente interpretado.
Nota:8 em 10

Encontrei este forum por também ter visto recentemente o Jaime (1999). Muito cru, alguns pormenores cinéfilos menos bons (alguns cortes e passagem de cena não tão fluidos e toques e precisões que ficaram na fita) que se nota por questões de orçamento e estrutura da arte que se vivia na altura, ainda que um pouco em atrasado ao contexto que consumimos na altura e actualmente americano, mas muito bem conseguido e nota-se um excelente trabalho.
Totalmente de acordo com a descrição e visão.

Em 1999 também já tinha sido praticamente erradicado, era mais problemas dos anos 80 e por aí abaixo

Queria só deixar esta noticia de 94 dos arquivos da rtp. de onde claramente o filme tira inspiração: dedos cortados na fabrica do pão.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/traba ... -portugal/

E em 98:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/traba ... e-calcado/

Ainda pairava muito, altura, estes acontecimentos. Apesar de em Portugal pouco ou nada se sentir e saber disto. Acredito que em certos casos muito extremos isto aconteça, porque ninguém quer tirar dignidade a uma criança e/ou correr o risco de cometer este crime que não compensa de todo.

Filmes deste calibre, 1h40 de fita, para um ano como 1999 (quando o filme saiu) teve que ter pelo menos 1 ano de rodagem e mais 1 ou 2 de estudo e fazer argumento e angariar parcerias e apoios. É impossível montar-se uma história da noite pro dia. Ou seja, o retrato do filme pode ter sido pensado já noutra altura que não no ano que saiu. Há que também ter isto sempre em conta.

Peço mais uma vez desculpa por este desenterrar de publicação. Mas achei por bem, a quem venha a seguir e descobrir a magia deste filme, coerência da altura em que se criou este filme.

E há mais temas escondidos no filme. Drogas nos jovens, a questão da ilegalidade das creches, vida de rua e vida noturna. A propria injustica laboral não só para as crianças mas para os adultos e aquilo que eles tinham que fazer para subsitir. Ganhava o mais inteligente ou o que carregava mais sacos?

Um abraço a todos.

[Rui Santos]

Peço desculpa vir desenterrar uma publicação antiga.
...

E há mais temas escondidos no filme. Drogas nos jovens, a questão da ilegalidade das creches, vida de rua e vida noturna. A propria injustica laboral não só para as crianças mas para os adultos e aquilo que eles tinham que fazer para subsitir. Ganhava o mais inteligente ou o que carregava mais sacos?

Bem vindo ao fórum Komodoro, não tem problema algum desenterrar posts antigos, estão abertos para isso mesmo

Sem dúvida que é um filme cheio de mensagens escondidas, ou pelo menos que passam no écran e não são explicitamente faladas. Mas a própria pobreza e dificuldade de uma classe "baixa" é um dos temas do filme. Um pouco filmas os mais pobres de forma digna, mostrando a dura realidade de uma grande parte da população portuguesa em finais do séc. XX. O cinema é também isso... é muito isso.

Bom seria que as pessoas vissem o filme e percebessem como estamos melhor... mas como ainda temos tantos problemas para resolver. É um longo caminho que Portugal percorre... para recuperar anos e anos de atraso.