Persépolis (2007) - Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
Moderators: waltsouza, mansildv
Persépolis (2007) - Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
«Persépolis», de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, nomeado para o Óscar de Melhor Animação em 2007, estreia nas salas de cinema nacionais no dia 14 de Fevereiro, anunciou a Midas Filmes.
O filme baseia-se na banda desenhada biográfica da realizadora e estreou em Maio do ano passado no Festival de Cinema de Cannes, onde foi distinguido com o Prémio do Júri.
A animação conta a história da revolução islâmica de 1979 no Irão, através dos olhos de uma menina de 10 anos, Marjane Satrapi, que acabou por se exilar em França, onde vive actualmente. A cineasta recorre a pequenos episódios da sua infância para abordar a vida do mundo islâmico, os fundamentalismos, assim como as diferenças culturais e religiosas entre o Islão e o Ocidente.
«Persépolis», todo a preto e branco, mostra uma pequena Marjane, filha de um casal de classe média, que tem conversas com Deus e Karl Marx, que sonha ser profeta, que é obrigada a usar véu, sem deixar de vestir um blusão punk e de ouvir Iron Maiden. São registos pessoais, familiares e autobiográficos de uma iraniana «ocidentalizada» e inconformada com a mudança cultural no seu país.
Satrapi, de 38 anos, nascida em Rasht, no Irão, tem, actualmente, nacionalidade francesa e realizou a obra cinematográfica em conjunto com Vincent Paronnaud, autor de banda desenhada francês.
O filme conta com as vozes de Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Danielle Darrieux, entre outros. Além de Cannes, a animação foi ainda premiada nos festivais de São Paulo e Vancouver e distinguido pelos críticos de cinema de Los Angeles e Nova Iorque.
A banda desenhada «Persépolis» está editada em Portugal pelas Edições Polvo.
Diário Digital / Lusa
-
- Entusiasta
- Posts: 150
- Joined: October 7th, 2007, 9:45 pm
- Location: Ponte de Lima/Porto
- Contact:
Por acaso apanhei-o durante a Festa do Cinema Francês no fim do ano passado, e o filme é excelente.
Muito boa animação mesmo, e a história equilibra muito bem a autobiografia com um olhar sobre a sociedade do Irão.
Muito boa animação mesmo, e a história equilibra muito bem a autobiografia com um olhar sobre a sociedade do Irão.
O 4º Escuro
Notícias, críticas, e bitaites sobre cinema.
Notícias, críticas, e bitaites sobre cinema.
-
- Especialista
- Posts: 1251
- Joined: June 17th, 2003, 12:45 am
- Location: Lisboa/Sintra
Que maravilha de filme.
Persépolis é a adaptação da graphic novel autobiográfica, da iraniana Marjane Satrapi, que segue o trajecto de amadurecimento da sua jovem protagonista, a partir do seu conturbado relacionamento com o seu país, o Irão.
Narrado a partir do ponto de vista da protagonista, o filme acompanha todos os acontecimentos recentes do Irão (com destaque para o golpe que levaria o Aiatolá Khomeini ao controle da recém-declarada República Islâmica) e simultaneamente relata uma história de vida incrível e cativante, sobre alguém que cresceu num país em constantes mudanças e conflitos.
Utilizando uma brilhante animação em duas dimensões (estamos aqui longe da animação da Pixar), que une a simplicidade de traços quase infantis com senso de humor afiado, o filme acerta em cheio no coração do espectador. Pelo menos no meu acertou.
A arte do filme é quase toda em preto-e-branco (os poucos momentos coloridos representam o presente, enquanto a narração consiste em flashbacks postos em ordem cronológica), e mantém intactas as características da Graphic novel. Os desenhos dão a sensação de terem sido imaginados por uma criança, cheios de elipses criativas sem compromisso com uma representação fiel da realidade – ou seja, estamos no terreno da pura poesia visual.
No entanto, a brilhante concepção estética de “Persépolis” não funcionaria, contudo, sem o apoio de uma narrativa igualmente eficiente. Marjane Satrapi teve o mérito de dar ao tom intimista e delicado da sua história, um carácter universal, mas sem perder de vista as peculiaridades individuais e subjectivas de sua própria infância. Apesar da curta duração, o filme consegue manter as particularidades trazidas pelo pano de fundo histórico, ao mesmo tempo, abordar com desenvoltura o tema principal, que é a travessia da adolescência e a chegada da vida adulta, com todas as dificuldades que isto significa.
Para contar a sua própria história, ela selecciona eventos facilmente compreensíveis por pessoas de qualquer cultura, raça ou religião: a sempre difícil relação com os pais, as dificuldades enfrentadas pela família diante da perseguição política, as amizades que vêm e vão. Sexo, música, comida. Tristeza e alegria. Vida, enfim. “Persépolis” é um filme embriagado de vida.
O filme no entanto, não deixa de mostrar os traumas da guerra, de mencionar a prática da tortura por parte das autoridades iranianas que se revezavam no poder, a influência dos britânicos e dos americanos na manutenção daquele regime, na abordagem de temas como a infidelidade, a depressão e a perda da virgindade, além da violência à dignidade da mulher. Algumas destas sequências são trabalhadas de uma forma belíssima, como por exemplo o conflito armado visto ao som de Iron Maiden e os tiros das armas se desabrochando em flores, ou por ex. a cena em que os combatentes de ambos os lados de uma batalha trocam tiros, que os derrubam, na vala comum que os separa.
Enfim, Persépolis é um filmaço.

Persépolis é a adaptação da graphic novel autobiográfica, da iraniana Marjane Satrapi, que segue o trajecto de amadurecimento da sua jovem protagonista, a partir do seu conturbado relacionamento com o seu país, o Irão.
Narrado a partir do ponto de vista da protagonista, o filme acompanha todos os acontecimentos recentes do Irão (com destaque para o golpe que levaria o Aiatolá Khomeini ao controle da recém-declarada República Islâmica) e simultaneamente relata uma história de vida incrível e cativante, sobre alguém que cresceu num país em constantes mudanças e conflitos.
Utilizando uma brilhante animação em duas dimensões (estamos aqui longe da animação da Pixar), que une a simplicidade de traços quase infantis com senso de humor afiado, o filme acerta em cheio no coração do espectador. Pelo menos no meu acertou.
A arte do filme é quase toda em preto-e-branco (os poucos momentos coloridos representam o presente, enquanto a narração consiste em flashbacks postos em ordem cronológica), e mantém intactas as características da Graphic novel. Os desenhos dão a sensação de terem sido imaginados por uma criança, cheios de elipses criativas sem compromisso com uma representação fiel da realidade – ou seja, estamos no terreno da pura poesia visual.
No entanto, a brilhante concepção estética de “Persépolis” não funcionaria, contudo, sem o apoio de uma narrativa igualmente eficiente. Marjane Satrapi teve o mérito de dar ao tom intimista e delicado da sua história, um carácter universal, mas sem perder de vista as peculiaridades individuais e subjectivas de sua própria infância. Apesar da curta duração, o filme consegue manter as particularidades trazidas pelo pano de fundo histórico, ao mesmo tempo, abordar com desenvoltura o tema principal, que é a travessia da adolescência e a chegada da vida adulta, com todas as dificuldades que isto significa.
Para contar a sua própria história, ela selecciona eventos facilmente compreensíveis por pessoas de qualquer cultura, raça ou religião: a sempre difícil relação com os pais, as dificuldades enfrentadas pela família diante da perseguição política, as amizades que vêm e vão. Sexo, música, comida. Tristeza e alegria. Vida, enfim. “Persépolis” é um filme embriagado de vida.
O filme no entanto, não deixa de mostrar os traumas da guerra, de mencionar a prática da tortura por parte das autoridades iranianas que se revezavam no poder, a influência dos britânicos e dos americanos na manutenção daquele regime, na abordagem de temas como a infidelidade, a depressão e a perda da virgindade, além da violência à dignidade da mulher. Algumas destas sequências são trabalhadas de uma forma belíssima, como por exemplo o conflito armado visto ao som de Iron Maiden e os tiros das armas se desabrochando em flores, ou por ex. a cena em que os combatentes de ambos os lados de uma batalha trocam tiros, que os derrubam, na vala comum que os separa.
Enfim, Persépolis é um filmaço.
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Millor Fernandes
Filme interessante, que ajuda a perceber que há vida no Irão para além do fundamentalismo islâmico. É claro que o faz através dos olhos de um membro da classe média alta, uma minoria naquele país, mas não será por isso que perde interesse.
Onde o filme perde é talvez por narrar uma história que não será assim tão rica para uma longa metragem. Acredito que talvez tivesse beneficiado se fosse menos longo, ganhando a narrativa por se manter com uma dinâmica menos arrastada e um pouco repetitiva, algo que senti em determinada altura.
À parte disso, o desenho animado é muito bom, quer no realismo transmitido, quer nas soluções mais artísticas que vão sendo encontradas para relatar determinadas partes da história. Há momentos muito bons a esse nível. Em certa medida, fez-me lembrar o Yellow Submarine, ainda que o registo seja bem diferente.
Recomendo vivamente, nem que seja para ajudar a perder uma certa versão maniqueísta dos países islâmicos que alguns acontecimentos nos parecem querer forçar.
Onde o filme perde é talvez por narrar uma história que não será assim tão rica para uma longa metragem. Acredito que talvez tivesse beneficiado se fosse menos longo, ganhando a narrativa por se manter com uma dinâmica menos arrastada e um pouco repetitiva, algo que senti em determinada altura.
À parte disso, o desenho animado é muito bom, quer no realismo transmitido, quer nas soluções mais artísticas que vão sendo encontradas para relatar determinadas partes da história. Há momentos muito bons a esse nível. Em certa medida, fez-me lembrar o Yellow Submarine, ainda que o registo seja bem diferente.
Recomendo vivamente, nem que seja para ajudar a perder uma certa versão maniqueísta dos países islâmicos que alguns acontecimentos nos parecem querer forçar.