Million Dollar Baby (2004) - Clint Eastwood

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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roxo
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Post by roxo »

já agora é um 8/10 a milhas do 9/10 que dei ao mystic river, se comparasse um com o outro dava 6/10 ao MDB provavelmente.
i'm going to make you an offer you can't refuse.
Malick
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Post by Malick »

Desculpem lá, mas eu passo-me com as asneiradas que são para aqui ditas. Tenho de defender este filme, que para mim é um dos melhores dos último anos. Realização sublime (ultra depurada), interpretações fantásticas, fotografia imaculada (os jogos de sombras são magníficos) e um argumento impecável. Mete num bolso o Mystic River e é um clássico imediato. Quando daqui a uns largos anos fizerem a leitura do cinema desta época este estará no topo da lista com toda a certeza. Uma obra-prima.

p.s. Quem considera isto um filme recheado de clichés e que "morre" na segunda parte, que o vá ver segunda vez pois não percebeu nada do que foi "contado". mau-)
alan_smithee
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Post by alan_smithee »

Malick wrote:Desculpem lá, mas eu passo-me com as asneiradas que são para aqui ditas.
Aquilo que tu chamas “asneiradas”, eu chamo de opiniões. Há muitas opiniões que eu discordo, mas nunca as catalogaria de “asneiradas”. Todos nos vemos e sentimos “o cinema” de forma diferente, porque todos nós somos diferentes, os gostos são diferentes as sensibilidades são diferentes. Chamar as opiniões dos outros de “asneiradas” é no mínimo, um pouco arrogante.
Malick wrote: p.s. Quem considera isto um filme recheado de clichés e que "morre" na segunda parte, que o vá ver segunda vez pois não percebeu nada do que foi "contado". mau-)
Só aqueles que têm uma opinião igual a tua é que perceberam o filme? :-?
Felizmente no cinema não existem verdades absolutas, nem opiniões absolutas. A tua opinião, (tal como a minha), vale tanto como qualquer outra opinião, de qualquer um dos membros do fórum.
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Millor Fernandes
Malick
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Post by Malick »

Concordo totalmente contigo alan. Mas acabei de ver o filme e quando vejo uma obra belíssima ser "assassinada" desta forma não consigo ficar indiferente. Todas as opiniões são válidas mas tenho pena que algumas pessoas não consigam ver o grande filme que este Million Dollar Baby é.

Cumprimentos e se ofendi alguém as minhas desculpas.
Frances
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Post by Frances »

Por acaso li o teu post pela primeira vez e também tive vontade de responder como o Alan. Depois li 2ª vez e mais do que ofensa a alguém ou desrespeito, vi a defesa apaixonada de alguém por um filme :wink:

Eu ainda não o vi :-(
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Malick
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Post by Malick »

Obrigado pela tolerânica e lucidez da tua leitura do meu post Frances!
"vi a defesa apaixonada de alguém por um filme "
"Takes one to know one" :wink:
alan_smithee
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Post by alan_smithee »

No hard feelings, Malick :-)
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DarkPhoenix
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Post by DarkPhoenix »

p.s. Quem considera isto um filme recheado de clichés e que "morre" na segunda parte, que o vá ver segunda vez pois não percebeu nada do que foi "contado".
Ok, então eu não percebi mesmo nadinha. Obrigado pela sugestão. :roll: :wink:
gunthi
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Post by gunthi »

é um grandíssimo filme.
é duro, é cruel, é mesmo insensível em diversos momentos. tal e qual a vida.

o melhor Eastwood desde Unforgiven, e o melhor que vi, neste ainda curto ano.

(curioso, sempre preferi Scorsese a Eastwood, mas hj à noite vou torcer pelo 2º.)
paasa
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Post by paasa »

Bom, depois de ver este filme é caso para dizer que não sobra espaço para outros este ano. É claramente um justo vencedor dos Óscares, mesmo contando que a Academia não costuma premiar obras polémicas.

Daí parece-me que o que realmente conta aqui não é o boxe, mas sim a metáfora da vida que está representada por toda a história.

O que realmente o filme mostra é o mundo em que vivemos, em que a mediocridade, a trapassa e o chico-espertismo levam a melhor.

Quanto ao efeito lacrimejante, acho o filme mais chocante e não tanto sentimental.

Não me parece que haja personagens "leves" neste filme. A familia da Swank é aquilo que acontece com a maioria das pessoas naquela situação. Orgulhosas e estúpidas.

10/10

Bons filmes.
Paulo Alho
palmm
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Perfeição

Post by palmm »

Se Mystic River era um 10 redondo, este Million Dollar Baby é um 10 perfeito, curvilíneo, sem mácula. Eastwood consegue o mesmo jogo de emoções sentido em Mystic - a análise à paternidade, aqui perdida e reencontrada, continua a ser chave - com uma história ainda mais simples, sem precisar de forçar os acontecimentos (e sentimentos). À luz da singeleza de formas e conteúdos de MDB, as linhas mestras que fizeram o sucesso de Mystic ficam mais esventradas (mas não esmorecem, continua uma obra-prima). Mas aqui tudo encontra o tempo e o lugar perfeito. E a veterania, a experiência de vida, a renúncia ao facilitismo, é intrínseca à forma como evolui o dilema final. O que muitos entendem como o prolongamento artificial da lamechiche, representa a sabedoria de um homem que conhece cada vez melhor as difíceis escolhas e situações que a vida coloca aos seres humanos. E ninguém está a conseguir transpor melhor estes sentimentos para o cinema.

Saí da sala a pensar que bastava assistir a um filme deste calibre por ano para me sentir feliz com o cinema.
PMM
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Ricardo Ribeiro
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Post by Ricardo Ribeiro »

Há aqui pessoas que escrevem com a certeza da verdade absoluta, sobre algo tão subjectivo como a "qualidade", e note-se as aspas, de uma obra artística, de uma interpretação, de uma composição. Pessoalmente, não compreendo, e nunca compreenderei, o gosto pela obra cinematográfica típica de Clint Eastwood e de uma forma de fazer cinema que traz ao de cima sentimentos negativos, de tristeza, miséria, injustiça ou quaisquer outros. Não suporto os filmes-desgraça como Mystic River e O Paciente Inglês, e, pelo que sei, este Million Dollar Baby.

Não admito a ideia de gastar do meu tempo, e muito provavelmente do meu dinheiro, para estar 2 horas a ser agredido com desgraças alheias, que, apesar de não passarem de um filme, penetram na nossa mente como reais, provocado, de forma geral, as respectivas reacções ao que é triste e mau. E não são reacções saborosas, de prazer. Continuarei para sempre sem compreender a apreciação positiva daquilo que supostamente tem na sua essência a transmissão de boas sensações - o cinema - para o efeito diametralmente oposto.

Contudo, que prefere ser agredido nas chagas em vez de acariciado... hey... é o seu tempo e o seu dinheiro... quem sou eu para dizer que comete "asneiradas". Vejo nas palaras do utilizador Gunthi o espelho fiel da ideia que não consigo compreender:

"é um grandíssimo filme.
é duro, é cruel, é mesmo insensível em diversos momentos. tal e qual a vida."

Que bom! Duro, cruel e mesmo insensível. Como é que posso compreender a conjugação destes adejectivos com uma conclusão plena de admiração. Para mim, é o enaltecimento do Mal. Um grandessisimo filme para mim é o cinema de A Rosa Púrpura do Cairo, o refúgio da dureza, crueldade e mesmo insenssibilidade da vida. Porque para dureza, crueldade e mesmo insensibilidade, todos temos a própria vida. O cinema seria suposto constituir a magia que falta no dia a dia de quase todos nós. Magia branca, entenda-se.
Ricardo Ribeiro
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palmm
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Post by palmm »

Ricardo Ribeiro wrote:Há aqui pessoas que escrevem com a certeza da verdade absoluta, sobre algo tão subjectivo como a "qualidade", e note-se as aspas, de uma obra artística, de uma interpretação, de uma composição.
Mas isso é mais ou menos possível. Dificilmente se encontra alguém a dizer que a música composta por Mozart ou Beethoven não tem "qualidade" ou elevado nível artístico. Mesmo quando não se gosta - aí sim entra o valor subjectivo - pode-se fazer uma análise o mais objectiva, e isenta, possível. Nunca será uma fórmula matemática claro, mas basta ler uns livros sobre cinema para perceber certo e determinado tipo de características que quando presentes num filme lhe dão um vínculo de qualidade. Já o gosto, isso é outra história. Um filme pode ter qualidade artística - a nível de montagem, como por exemplo O Couraçado Potemkine, ou de qualquer outro componente que faz parte de um filme - e pode-se não gostar dele. E o inverso também se aplica (muitas obras de série B e série Z são disso exemplificativas).
Ricardo Ribeiro wrote: Pessoalmente, não compreendo, e nunca compreenderei, o gosto pela obra cinematográfica típica de Clint Eastwood e de uma forma de fazer cinema que traz ao de cima sentimentos negativos, de tristeza, miséria, injustiça ou quaisquer outros. Não suporto os filmes-desgraça como Mystic River e O Paciente Inglês, e, pelo que sei, este Million Dollar Baby.
Hollywood manteve-se incólume, de forma artificial, a esses sentimentos durante vários anos. Era como se o cinema vivesse num mundo diferente. Independentemente das desgraças por que as pessoas passavam, dos horrores que o mundo ia conhecendo, em Hollywood era tudo brilhante, glamoroso, risonho. Um mundo feliz. Este tipo de escapismo, levado ao extremo, é uma excelente forma de esconder a realidade [não é por acaso que o cinema produzido em Portugal durante o Estado Novo se resumia a comédias...]. Sim, as pessoas morriam nas guerras, passavam fome, eram exploradas no trabalho, mas se fossem ao cinema só viam coisas maravilhosas. As telenovelas brasileiras utilizam o mesmo tipo de premissa: os pobres tornam-se rapidamente ricos, o amor é arrebatador, etc. O pior é que algumas pessoas, quer de dentro do cinema, quer de fora, acharam ou começaram a achar que o cinema poderia transpor a barreira da ilusão e ter uma intervenção social, políctica, cultural. E esse foi o amadurecimento do cinema, tal como acontece com um ser humano. Quando somos bebés e crianças, desconhecemos o conceito do Mal. Mas à medida que vamos crescendo, percebemos como funciona o mundo. Claro que se pode virar a cara às injustiças, ao sofrimento, à morte, ao ódio, a todos os sentimentos "negativos" (embora muito humanos), mas isso não os faz desaparecer. Felizmente que há cineastas que não viraram a cara, humanizando o cinema. O cinema tornou-se deste modo uma arte.
Ricardo Ribeiro wrote: Não admito a ideia de gastar do meu tempo, e muito provavelmente do meu dinheiro, para estar 2 horas a ser agredido com desgraças alheias, que, apesar de não passarem de um filme, penetram na nossa mente como reais, provocado, de forma geral, as respectivas reacções ao que é triste e mau. E não são reacções saborosas, de prazer. Continuarei para sempre sem compreender a apreciação positiva daquilo que supostamente tem na sua essência a transmissão de boas sensações - o cinema - para o efeito diametralmente oposto.
A premissa de só ir ver coisas "bonitas" é tão válida como as pessoas que preferem ver coisas "realistas".
Ricardo Ribeiro wrote: Que bom! Duro, cruel e mesmo insensível. Como é que posso compreender a conjugação destes adejectivos com uma conclusão plena de admiração. Para mim, é o enaltecimento do Mal.
Enaltecimento do Mal? Este raciocínio é que eu não compreendo mesmo. Não compreendo como A Lista de Schindler, por exemplo, possa enaltecer o Mal. Até até acho que devia ser, juntamente com uma série de actividades paralelas (enquadramento histórico por livros, documentários, etc) um filme obrigatório no ensino. Precisamente para que não corressemos o risco de esquecer certas coisas. Ou seja, um filme pode também representar um alerta, uma memória, uma crítica. O Mal não fica enaltecido, fica exposto.

Pelo menos, grande parte do cinema não contribui para criar gerações à custa dos contos de fada e histórias cor-de-rosa que depois geram, em muitos casos, uma inadequação às agruras da vida real. "Ah mas há pessoas más na vida? E acontecem coisas que nos fazem sofrer? É que nos filmes não há!"
PMM
paasa
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Post by paasa »

Realmente é curioso que se entenda que o cinema deve ser apenas exaltação de sentimentos positivos, vulgo histórias cor-de-rosa, onde tudo acaba em bem, com os bons premiados e os maus castigados.

O cinema mais realista, mesmo quando estamos perante casos extremos, como ex. "Dancer in the Dark", contém momentos sentimentais do mais puro que é possível encontrar.

SPOILER

O MDB nem sequer se enquadra, quanto a mim, no filme tragédia, já que apesar do seu final ser aparentemente trágico, não podemos esquecer que a pugilista realizou o seu sonho e o treinador encontrou a paz que procurava.

SPOILER

E não me esqueço que filmes dentro da lógica do final feliz também conseguem momentos únicos, como ex. "Seabiscuit", os denominados "feel good movies".

E claro que não concordo que filmes tristes não possam ser considerados obras-primas.
Assim como a vida é triste e alegre, acho que o cinema bem pode viver com as duas tonalidades.
Paulo Alho
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Chloê
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Post by Chloê »

Pegando noutro tópico sobre qual o grande derrotado dos óscares, para mim a resposta é clara, foram os próprios oscares!

Melhor filme?? mau-)
Melhor realizador?? mau-)

Se este é o melhor filme do ano chego facilmente à conclusão de que este foi um fraco ano de cinema.


SPOILERS

O filme está claramente dividido em 2, sendo a primeira parte (2 terços) um filme de boxe, que retrata a velhinha história do herói ou heroína cuja paixão por um desporto (neste caso o boxe) e força de vontade de vencer é tão grande que acaba por vencer todos os obstáculos e triunfar. Com a ajuda do velho sábio e desconfiado que no ínicio não lhe dava grande crédito, mas que depois de muita persuasão parte junto com ela em busca da glória.

Clichê?? Não que ideia. Mas claro, é realizado por Clint Eastwood!

A segunda parte, feita propositadamente para nos fazer chorar, retrata a queda da nossa heroína. Coitada, para além de pobre, feia (digo eu) e desprezada pela família fica completamente paralisada. Até uma perninha teve de ser amputada! Esta de facto foi a melhor parte. Digam lá que isto não está ali somente para comover (ainda mais) o espectador??

E o tema desta segunda parte, passa a ser a eutanásia (polémica, pois claro), tema esse tb presente em Mar Adentro, outro dos vencedores da fantochada oscariana deste ano. Cabe ao velho e torturado professor acabar com o sofrimento da heroína, acto que acaba por cometer depois de muito protestar. Interessante a sua relação com a filha (o motivo do tormento) que nunca é explicada, aliás muita coisa não é explicada.

Resultado: Um filme lamechas, cuja única diferença com qualquer telefilme televisivo sobre supostos casos da vida é ter sido realizado e (mal) interpretado pelo senhor Clint Eastwood que virou este ano em Hollywood a "bola da vez".

Eu, que sou uma lamechas assumida e que me comovo muito com certos dramas retratados no cinema, confesso que não fui capaz de chorar por sentir que tanto rol de desgraças tinha um único e só objectivo. Comover!

Pelo menos em mim esse objectivo não foi atingido.

P:S- Esta é a minha opinião e é tão válida como qualquer outra. Não têm de concordar com ela apenas respeitá-la!



:wink:

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