Desabafos... (Off-TopiC)

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rui sousa
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

:mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:

Olhem que ir falar de BD à televisão não faz de mim um bom realizador, mas agradeço a confiança!
technicolor
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

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Um doc sobre o trabalho de Ralph McQuarrie o vizualizador dos mundos e personagens da saga Star Wars.


Comparação entre os visual concepts e as cenas filmadas
nimzabo
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by nimzabo »

Dá-se uma fortuna a quem conseguir explicar o que está escrito.
Artigo 27.3(b) do TRIPS:
(Trade-Related Aspects of Intellectual Property)

'Members may also exclude from patentability: plants and animals other than micro-organisms, and essentially biological processes for the production of plants or animals other than non-biological and microbiological processes.'
nimzabo
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by nimzabo »

Workshop de Pedro Mexia - Forças Maiores: Uma Década em Dez Filmes
http://euaprendoemcasa.pt/workshop-de-p ... ez-filmes/
drakes
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by drakes »

Toppling statues is not erasing history. Statues are symbols. They don’t store knowledge. No one is burning books or advocating against learning.


https://twitter.com/shane_bauer/status/ ... 6541122560


o-( o-(
technicolor
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

Ora então aqui vai um genuíno DESABAFO (longo e chato)

Este verão pandémico (e por vezes cinzento também) deste "peculiar" ano de 2020 parece estar a acabar com algumas coisas que sempre fizeram parte da minha vida (da nossa?); a literatura, pelo menos a edição em papel é uma delas. Vou sabendo por amigos que esta e aquela editoras suspenderam actividades e já não "reabrirão portas", que aquela e a outra livrarias fecharam, ou vão fechar porque apesar de ainda abertas já não tem quase clientes... possivelmente ainda aparecerão na prometida Feira do Livro de Lisboa em final Agosto mas que não é certo; nem a Feira nem o reaparecimento dessas editoras, a maior parte eventualmente só lá iriam escoar stocks e fazer algum dinheiro para pagar algumas das dívidas. E é uma tristeza, uma dor de alma pois olho para as minhas estantes e vejo que ainda lá há significativas lacunas que já dificilmente serão preenchidas. Tenho andado pelos sites de vendas em segunda mão a comprar o que de interessante e acessível vai aparecendo com a consciência de do outro lado poderá estar alguém a desfazer-se de coisas que amam para poderem sobreviver (por isso não costumo regatear preços), mas o filão começa a esgotar-se. E os alfarrabistas onde muitas vezes descobri preciosidades, umas que comprei e outras não, porque não estavam ao meu alcance, encontram-se ainda mais desanimados do que eu, abrindo esporadicamente as portas quando alguém telefona e demonstra interesse em lá ir.

Com os filmes a situação é idêntica: edições prometidas que afinal não são publicadas, edições compradas em lojas online que também tardam meses a chegar ou não chegam mesmo, edições "descontinuadas" das quais existem raros exemplares a preços exorbitantes e as lojas físicas que já tiveram grandes secções de DVD e BD a deixarem de vender ou a reduzir espaço . O último "choque" foi no CascaiShopping onde a Fnac prometia resistir mas... reduziu para um terço o espaço dos filmes (e com razão pois havia pouquíssima gente dentro da loja a meio da tarde...) entretanto a nova Fnac de Torres Vedras, inaugurada recentemente já nem tem praticamente nada deste produto. E finalmente os blogs que vão morrendo, os sites que vão deixando de ser actualizados, os fóruns outrora muito movimentados que agora reflectem o desanimo geral com escassas participações e de duas ou três linhas apenas, as páginas de FB que se resumem a informações de compra e venda e algumas trivialidades...
Olho pela janela e vejo um dia enevoado (um futuro cinzento?). A raça humana não desaparecerá seguramente com a pandemia (bom os dinossauro extinguiram-se) mas a cultura que a sustentava civilizacionalmente parece estar a desaparecer ou a ser substituída por sucedanêos e isso numa época em que o negacionismo (de factos científicos até agora inquestionáveis) e a proliferação de fake news que grande parte das pessoas não consegue detectar por falta de bases culturais / educacionais, começa a ser um preocupante sinal de retrocesso civilizacional ?

Despeço-me (melancolicamente) com uma das belas melodias de Ennio Morricone (com a inconfundível voz de Edda Dell'Orso).
Adeus até ao meu regresso. salut-)


rui sousa
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

Credo homem, que pessimismo! Como se o mercado livreiro não tivesse vivido sempre à beira do abismo e como se o cinema não estivesse a ser posto em causa praticamente desde o seu nascimento.

O teu desabafo merece uma resposta longa, mas para já, sobre o mercado livreiro, deixo o link para a entrevista que fiz há uns meses com o editor Hugo Xavier. Ele faz um bom ponto de situação (surpreendente e não tão apocalíptico) do futuro que espera o sector.

https://www.mixcloud.com/abeiradoabismo ... go-xavier/
José
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by José »

technicolor wrote: July 9th, 2020, 10:41 am Ora então aqui vai um genuíno DESABAFO (longo e chato)

Este verão pandémico (e por vezes cinzento também) deste "peculiar" ano de 2020 parece estar a acabar com algumas coisas que sempre fizeram parte da minha vida (da nossa?); a literatura, pelo menos a edição em papel é uma delas. Vou sabendo por amigos que esta e aquela editoras suspenderam actividades e já não "reabrirão portas", que aquela e a outra livrarias fecharam, ou vão fechar porque apesar de ainda abertas já não tem quase clientes... possivelmente ainda aparecerão na prometida Feira do Livro de Lisboa em final Agosto mas que não é certo; nem a Feira nem o reaparecimento dessas editoras, a maior parte eventualmente só lá iriam escoar stocks e fazer algum dinheiro para pagar algumas das dívidas. E é uma tristeza, uma dor de alma pois olho para as minhas estantes e vejo que ainda lá há significativas lacunas que já dificilmente serão preenchidas. Tenho andado pelos sites de vendas em segunda mão a comprar o que de interessante e acessível vai aparecendo com a consciência de do outro lado poderá estar alguém a desfazer-se de coisas que amam para poderem sobreviver (por isso não costumo regatear preços), mas o filão começa a esgotar-se. E os alfarrabistas onde muitas vezes descobri preciosidades, umas que comprei e outras não, porque não estavam ao meu alcance, encontram-se ainda mais desanimados do que eu, abrindo esporadicamente as portas quando alguém telefona e demonstra interesse em lá ir.

Com os filmes a situação é idêntica: edições prometidas que afinal não são publicadas, edições compradas em lojas online que também tardam meses a chegar ou não chegam mesmo, edições "descontinuadas" das quais existem raros exemplares a preços exorbitantes e as lojas físicas que já tiveram grandes secções de DVD e BD a deixarem de vender ou a reduzir espaço . O último "choque" foi no CascaiShopping onde a Fnac prometia resistir mas... reduziu para um terço o espaço dos filmes (e com razão pois havia pouquíssima gente dentro da loja a meio da tarde...) entretanto a nova Fnac de Torres Vedras, inaugurada recentemente já nem tem praticamente nada deste produto. E finalmente os blogs que vão morrendo, os sites que vão deixando de ser actualizados, os fóruns outrora muito movimentados que agora reflectem o desanimo geral com escassas participações e de duas ou três linhas apenas, as páginas de FB que se resumem a informações de compra e venda e algumas trivialidades...
Olho pela janela e vejo um dia enevoado (um futuro cinzento?). A raça humana não desaparecerá seguramente com a pandemia (bom os dinossauro extinguiram-se) mas a cultura que a sustentava civilizacionalmente parece estar a desaparecer ou a ser substituída por sucedanêos e isso numa época em que o negacionismo (de factos científicos até agora inquestionáveis) e a proliferação de fake news que grande parte das pessoas não consegue detectar por falta de bases culturais / educacionais, começa a ser um preocupante sinal de retrocesso civilizacional ?

Despeço-me (melancolicamente) com uma das belas melodias de Ennio Morricone (com a inconfundível voz de Edda Dell'Orso).
Adeus até ao meu regresso. salut-)


Caro, Technicolor

Primeiro, a tua exposição não é, de todo, longa e chata. É incisiva e revela muitas das minhas preocupações. Moro no distrito de Setúbal e tenho reparado que, a uma velocidade estonteante, a secção de DVD e Blu-Ray da FNAC do Alegro Setúbal tem ficado paupérrima. O espaço tem diminuído de forma drástica e os DVD então são colocados a preços standard e da uva mijona, numa lógica que me parece de dumping. Há títulos que tenho esperado pela sua edição em qualquer um destes formatos físicos e, mesmo tendo em conta o contexto pandémico, está-me a parecer que não chegarão a ver a luz do dia; outros, como é o caso do filme "O Congresso", de Ari Folman, assim que esgotam em stock online e que já não se encontram disponíveis nas várias lojas já não são reeditados (soa-me a um triste lamento do tipo "acabou, morreu, foi bom enquanto durou").

Uma alternativa à qual recorro - embora interrompida pelo período de confinamento - é a das feiras de artigos em 2ª mão, onde consigo encontrar livros e DVD's bem interessantes a preços simpáticos - por vezes, fico tão melindrado por conseguir, por exemplo, um clássico àquele preço tão baixo que acabo por dar mais dinheiro ao vendedor do que aquele que me é pedido.

A minha participação neste fórum, para além do imenso prazer de vos ler - e aprender, assimilar tanta coisa, absorver sugestões, etc - prende-se com o facto de ser um espaço de Cultura na mais bela acepção da palavra. Fala-se de tudo um pouco, com disponibilidade e respeito, entrega e harmonia (sobre livros, cinema, música, influências artísticas, viagens, jogos, etc) e, nesse sentido, permite manter aquela réstia de esperança de que há ainda quem valorize isso mesmo: a Cultura. É um efeito-espelho muito reconfortante, acreditem.

Também sinto que estamos todos a caminhar perigosamente para uma sociedade tendencialmente insuportável, irrespirável, em que qualquer grunhido ganha uma projecção de verdade absoluta e onde se instalou a intolerância; vivemos tempos irónicos, quase burlescos: nunca houve tanta informação a circular e, no entanto, a desinformação é a que está disseminada; privilegia-se a assimilação instantânea de conteúdos sem qualquer tipo de validação prévia. Logo, não se trata de um caminhar para a frente, em termos evolutivos, mas sim de uma marcha-atrás civilizacional. Mas, e há sempre um mas, acredito no espírito de resiliência humana e que várias forças positivas e estóicas se manterão sempre de pé e apelarão ao melhor de todos nós...
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

Ora vamos lá a isto.
technicolor wrote: July 9th, 2020, 10:41 am Este verão pandémico (e por vezes cinzento também) deste "peculiar" ano de 2020 parece estar a acabar com algumas coisas que sempre fizeram parte da minha vida (da nossa?); a literatura, pelo menos a edição em papel é uma delas. Vou sabendo por amigos que esta e aquela editoras suspenderam actividades e já não "reabrirão portas", que aquela e a outra livrarias fecharam, ou vão fechar porque apesar de ainda abertas já não tem quase clientes... possivelmente ainda aparecerão na prometida Feira do Livro de Lisboa em final Agosto mas que não é certo; nem a Feira nem o reaparecimento dessas editoras, a maior parte eventualmente só lá iriam escoar stocks e fazer algum dinheiro para pagar algumas das dívidas. E é uma tristeza, uma dor de alma pois olho para as minhas estantes e vejo que ainda lá há significativas lacunas que já dificilmente serão preenchidas. Tenho andado pelos sites de vendas em segunda mão a comprar o que de interessante e acessível vai aparecendo com a consciência de do outro lado poderá estar alguém a desfazer-se de coisas que amam para poderem sobreviver (por isso não costumo regatear preços), mas o filão começa a esgotar-se. E os alfarrabistas onde muitas vezes descobri preciosidades, umas que comprei e outras não, porque não estavam ao meu alcance, encontram-se ainda mais desanimados do que eu, abrindo esporadicamente as portas quando alguém telefona e demonstra interesse em lá ir.
Tudo o que dizes neste parágrafo é acertado: tal como muitos outros sectores de actividade (uns com mais robustez que outros), o mercado do livro está a ser e será muito afectado com toda a crise criada pela pandemia. O dinheiro dos potenciais consumidores retrai-se quando pensam em investir na compra de um livro - e já não ajuda nada termos dos preços mais elevados da Europa no que diz respeito às novidades (podem vir com as desculpas que quiserem, mas não percebo como é que em 2020 se editam novelas em domínio público, com menos de cem páginas, a preços acima dos quinze euros!). O investimento de editoras em novas apostas e "riscos" também acaba por ser menor nestes tempos incertos em que estamos a viver.

No entanto (e como aponta o Hugo na entrevista que lhe fiz - aconselho-vos mesmo a ouvir, não porque fui eu que a fiz, mas porque ele dá mesmo uma perspectiva reveladora do que é o livro em Portugal, tal como na outra entrevista recente que ele deu ao jornal i), antes desta crise já tinha havido outra, que limpou com muitas editoras e livrarias. Depois dessa crise criou-se um modelo mais diminuto adaptado a um nicho - e as editoras que trabalham para esse nicho (que independentemente da pandemia terá sempre dinheiro para comprar livros) até conseguem sobreviver, graças a tiragens pequenas e gestão bem rigorosa dos títulos a publicar.

Portugal sempre foi um país mau para o livro, e isso já não é de agora. Não me lembro nunca de ouvir dizer que os portugueses davam tudo nos rankings nacionais ou europeus de literacia, ou de que o público português tivesse uma fome constante de livros - podem dizer que os vossos avós/pais/tios/etc e tal, mas não nos esqueçamos que o país é bem maior do que a bolha em que estamos inseridos.

Algumas boas editoras retomaram actividade e têm conseguido "sobreviver" - muito porque os seus leitores compreenderam a situação de risco e decidiram apoiar. As livrarias é que saíram muito prejudicadas desta situação, mas garanto-te que (por ter trabalhado numa livraria durante a faculdade) algumas, se têm dívidas e estão numa situação complicada, isso não é infelizmente uma situação de agora, mas até alastrada há já alguns anos. Outras merecem o seu espaço e espero que consigam resistir a este caos - mas para isso precisam, acima de tudo, de... clientes! As pessoas que sabem que podem comprar livros é que podem fazer a diferença. Mesmo que não encontres em lado nenhum os livros que procuras, porque não tentas pedir uma ajuda a alguma das livrarias da RELI (Rede de Editores e Livreiros Independentes)?

A situação é diferente da última crise? Nada. É até um pouco menos preocupante no que à publicação de livros diz respeito. Continua-se a publicar muita m*rda que vende muito nas primeiras semanas e que depois fica a ganhar pó nos armazéns para sempre. E tens outros livros que vendem bem sempre (tenho ido à livraria onde trabalhei para os ajudar de vez em quando, e vejo uma enorme diferença: um público mais jovem, e constato que os clássicos de sempre são de facto intemporais e interessarão sempre a alguém, ao contrário dos "fenómenos literários" desta actualidade tão vertiginosa).

Não consigo entender mesmo a tua decepção porque nunca foi um sector com grande vitalidade em Portugal. É uma altura incerta para lojistas, editores, e leitores? Sim, é. Mas nunca em Portugal o livro teve uma vida fácil - e por isso, infelizmente, nada do que relatas é uma novidade. Cabe a nós tentar contrarias essa situação e ir comprando o que pudermos.

Uma nota para os e-books: epá, não gosto nada! Passo a vida a olhar para ecrãs e a leitura é uma forma para escapar-lhes, por isso prefiro o bom papel!

Com os filmes a situação é idêntica: edições prometidas que afinal não são publicadas, edições compradas em lojas online que também tardam meses a chegar ou não chegam mesmo, edições "descontinuadas" das quais existem raros exemplares a preços exorbitantes e as lojas físicas que já tiveram grandes secções de DVD e BD a deixarem de vender ou a reduzir espaço . O último "choque" foi no CascaiShopping onde a Fnac prometia resistir mas... reduziu para um terço o espaço dos filmes (e com razão pois havia pouquíssima gente dentro da loja a meio da tarde...) entretanto a nova Fnac de Torres Vedras, inaugurada recentemente já nem tem praticamente nada deste produto. E finalmente os blogs que vão morrendo, os sites que vão deixando de ser actualizados, os fóruns outrora muito movimentados que agora reflectem o desanimo geral com escassas participações e de duas ou três linhas apenas, as páginas de FB que se resumem a informações de compra e venda e algumas trivialidades...
Olho pela janela e vejo um dia enevoado (um futuro cinzento?). A raça humana não desaparecerá seguramente com a pandemia (bom os dinossauro extinguiram-se) mas a cultura que a sustentava civilizacionalmente parece estar a desaparecer ou a ser substituída por sucedanêos e isso numa época em que o negacionismo (de factos científicos até agora inquestionáveis) e a proliferação de fake news que grande parte das pessoas não consegue detectar por falta de bases culturais / educacionais, começa a ser um preocupante sinal de retrocesso civilizacional ?
Mais uma tendência que, infelizmente, já é notória há alguns anos. Lá fora, no entanto, vês alguma vida no mercado do home video (Espanha tem muitos lançamentos excelentes, assim como França, Itália e UK) e nós somos o parente pobre que sai sempre prejudicado por nenhum investimento compensar para tão pequeno mercado. Tenho medo de passar na FNAC do Chiado, que reabriu agora, e constatar o que me parece óbvio, que a secção de filmes deve ter sofrido um novo corte brutal...

Mas fora isso, vejo também um futuro negro nos campos social e cultural. Mas também não será nada de novo - não nos esqueçamos que não foi assim há tanto tempo que milhões de alemães acharam que Hitler era um tipo fixe. O que hoje nos poderia salvar é a internet, mas é impressionante que muitos a usam só para justificar a sua burrice sobre a terra ser plana ou outras coisas do género... enfim, a espécie humana nunca foi pródiga em ter muitas cabeças pensantes ao mesmo tempo, mas se o contexto é diferente, a desgraça também acaba por ser a mesma de sempre. Por isso, mais vale tentarmos ser positivos e trazer alguma coisa de bom aos que nos rodeiam e que podemos "salvar" da estupidificação generalizada.
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Post by rui sousa »

José wrote: July 9th, 2020, 11:30 am Primeiro, a tua exposição não é, de todo, longa e chata. É incisiva e revela muitas das minhas preocupações. Moro no distrito de Setúbal e tenho reparado que, a uma velocidade estonteante, a secção de DVD e Blu-Ray da FNAC do Alegro Setúbal tem ficado paupérrima. O espaço tem diminuído de forma drástica e os DVD então são colocados a preços standard e da uva mijona, numa lógica que me parece de dumping. Há títulos que tenho esperado pela sua edição em qualquer um destes formatos físicos e, mesmo tendo em conta o contexto pandémico, está-me a parecer que não chegarão a ver a luz do dia; outros, como é o caso do filme "O Congresso", de Ari Folman, assim que esgotam em stock online e que já não se encontram disponíveis nas várias lojas já não são reeditados (soa-me a um triste lamento do tipo "acabou, morreu, foi bom enquanto durou").
Quanto ao "Congresso": tentaste contactar a editora (Midas)? Até há bem pouco tempo tinham o filme a 3 euros no Cinema Ideal.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by José »

rui sousa wrote: July 9th, 2020, 4:56 pm
José wrote: July 9th, 2020, 11:30 am Primeiro, a tua exposição não é, de todo, longa e chata. É incisiva e revela muitas das minhas preocupações. Moro no distrito de Setúbal e tenho reparado que, a uma velocidade estonteante, a secção de DVD e Blu-Ray da FNAC do Alegro Setúbal tem ficado paupérrima. O espaço tem diminuído de forma drástica e os DVD então são colocados a preços standard e da uva mijona, numa lógica que me parece de dumping. Há títulos que tenho esperado pela sua edição em qualquer um destes formatos físicos e, mesmo tendo em conta o contexto pandémico, está-me a parecer que não chegarão a ver a luz do dia; outros, como é o caso do filme "O Congresso", de Ari Folman, assim que esgotam em stock online e que já não se encontram disponíveis nas várias lojas já não são reeditados (soa-me a um triste lamento do tipo "acabou, morreu, foi bom enquanto durou").
Quanto ao "Congresso": tentaste contactar a editora (Midas)? Até há bem pouco tempo tinham o filme a 3 euros no Cinema Ideal.
Há bastante tempo fui ao site e estava à venda por 10 euros, aos quais acresciam custos de entrega. Ainda esperei pela FNAC, onde sabia que tinha lá estado à venda por 5 euros, mas, até ao momento, nada feito. Se houver mais edições do filme a circular, pelo menos lá não estão a chegar :-(
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

rui sousa wrote: July 9th, 2020, 4:52 pm
Não consigo entender mesmo a tua decepção porque nunca foi um sector com grande vitalidade em Portugal. É uma altura incerta para lojistas, editores, e leitores? Sim, é. Mas nunca em Portugal o livro teve uma vida fácil - e por isso, infelizmente, nada do que relatas é uma novidade. Cabe a nós tentar contrarias essa situação e ir comprando o que pudermos.
Bom começando então pelos livros...
eu ainda sou do tempo... em que, começando a descer o Chiado a logo à direita havia a Livraria do Diário de Notícias, logo a seguir do lado esquerdo a Sá da Costa, depois a Bertrand, virando à direita para a R. Nova do Almada, a Luso Espanhola (onde gastei muito dinheiro) e mais abaixo a Ferin. Do outro lado na Rua do Carmo a Livraria Portugal e a seguir a Aillaud & Lellos. Cá em baixo no Rossio outra do DN e mais uma ao lado do Nicola da qual já não recordo o nome original. 9 belas livrarias em menos de 1 Km de percurso. Eram muitas mas todas tinham a sua clientela fiel. Até a pequeníssima (mini) livraria da Assirio e Alvim no Terminal tinha os seus clientes (e o irreverente Luís Pacheco ao fim do dia já com um grão na asa encostado à conversa com o empregado) Outras de visita obrigatória no final do mês (quando ainda se pagavam os ordenados a dia 30) A Buchholz na Duque de Palmela, a Luso Brasileira na Rodrigues Sampaio, a Barata na Av. de Roma ao lado de outra Bertrand, A Europa-América na Júlio Diniz a do Centro Comercial AC. Santos na Av. da Igreja, a Livraria Apolo 70 que ainda existe... uma livraria no Caleidoscópio da qual também já não recordo o nome... etc e regularmente passava por todas elas.

Rui, escutei com muita atenção o podcast onde se abordam temas interessantes (gostei de saber que vão reeditar as obras do José Vilhena com as ilustrações adoro o trabalho de José Vilhena que considero um grande artista) mas está quase sempre a falar-se essencialmente de uma pequeníssima editora ( ou pequenas/médias editoras) com custos fixos reduzidos e penso eu, sem capacidade de negociar e publicar obras como algumas das que se editaram em Portugal no passado. Dou como exemplos a Gradiva com livros como "Cosmos" ou "Gödel, Escher, Bach" por exemplo, a Verbo que editou muita coisa magnífica da Dorling Kindersley (em coedição) ou produziu de raiz livros como "Cozinha Tradicional Portuguesa" com mais de 100 000 exemplares?, da Presença com um fundo editorial verdadeiramente notável, ou ainda da grande Europa-América com mais de 5000 títulos editados (por exemplo o "Perestroika" do Gorbachev, uma edição mundial em simultâneo, cujos direitos para língua portuguesa custaram na altura o equivalente a 25 000 euros) do Circulo de Leitores com edições próprias importantes (a colecção Grandes Temas da Nossa História de produção caríssima estou a olhar para os dois enormes volumes profusamente ilustrados de A Guerra de África da autoria de José Freire Antunes com 550 páginas cada um e milhares de fotografias ) os Livros do Brasil que para além dos livros de bolso (Vampiro e Argonauta) com tiragens semanais que chegaram a atingir o 12 000 exemplares por semana ou mais (centenas de títulos do melhor)... publicaram grandes clássicos da literatura mundial (recentemente reeditados) na bela Colecção Dois Mundos etc.

Destaco ainda duas coisas que ouvi e que na minha opinião marcaram a entrevista (já com 2 meses quando o optimismo era maior); o "panorama horroroso" que se avizinha e "o desaparecimento de 40 a 60% de editoras e livrarias" palavras ditas pelo Hugo Xavier mais ou menos a meio da conversa. Certo que o tempo das grandes editoras em Portugal (com elevadíssimos custos fixos) passou, excepção para os grupos editoriais com várias chancelas, mas então agora quem vai arriscar-se a editar as grandes obras actuais?
Os consumidores/leitores retraem-se perante preços de 15 euros para cima. Bom, com tiragens pequenas de 1000 exemplares ou às vezes menos não há como contornar isso, os custos de produção por exemplar são obviamente mais altos, mesmo recorrendo a linhas de impressão digital para livro que recebem os ficheiros de um lado e fazem sair o livro encapado completo do outro extremo na quantidade pretendida. Mas são equipamentos caros adquiridos em leasing e cujo custo tem que ser amortizado o mais rápido possível e isso reflecte-se no preços praticados pelas gráficas que as possuem.

Resta-nos o Brasil que ainda consegue fazer e vender edições na ordem das dezenas de milhar mas... existe muita relutância em ler em português BR. Eu não tenho esse preconceito, nunca tive, e também leio com alguma facilidade em castelhano, não tudo é claro. O inglês, desde que não seja Shakespeariano vai dando para despesa. Mas quem não aceitar estas "soluções" fica muito limitado nas opções.

Das edições de cinema em português nem quero falar mais. Há já 19 anos que visito regularmente Madrid 1 a 2 vezes por ano para "abastecer" mas a coisa por lá também começa a dar sinais significativos de crise pois apesar de trabalharem para um mercado muito maior, a Espanha e eventualmente toda América latina (500 milhões de consumidores) a crise é global.

Quanto à parte final estamos de acordo só que o ditador agora em vez de Hitler ou Estaline chama-se "capitalismo liberal" ...
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

José wrote: July 9th, 2020, 5:09 pm Há bastante tempo fui ao site e estava à venda por 10 euros, aos quais acresciam custos de entrega. Ainda esperei pela FNAC, onde sabia que tinha lá estado à venda por 5 euros, mas, até ao momento, nada feito. Se houver mais edições do filme a circular, pelo menos lá não estão a chegar :-(
José, segundo sei a Fnac de momento não está a repor stock de filmes.Como deves saber há a possibilidade de (existindo noutra loja) pedires para mandarem vir um exemplar para a tua loja habitual. Se fores a Lisboa tenta o Nimas na Av 5 de Outubro ou o Ideal no Largo de Camões como referiu o Rui.

De resto sobre o que escreveste em resposta ao meu "desabafo" estamos de acordo, vivemos hoje numa sociedade cada vez mais desumanizada mas não partilho tão entusiasticamente dessa tua crença "no espírito de resiliência humana e que várias forças positivas e estóicas se manterão sempre de pé e apelarão ao melhor de todos nós..." lamento mas já passei o meio século e já percorri algum mundo (não muito) e nessas andanças vi muita miséria produto de acentuadas assimetrias sociais (tão bem retratadas no Parasitas por exemplo).
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by mansildv »

Parece que há um exemplar do filme na FNAC do Chiado yes-)
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Post by José »

technicolor wrote: July 9th, 2020, 9:54 pm
José wrote: July 9th, 2020, 5:09 pm Há bastante tempo fui ao site e estava à venda por 10 euros, aos quais acresciam custos de entrega. Ainda esperei pela FNAC, onde sabia que tinha lá estado à venda por 5 euros, mas, até ao momento, nada feito. Se houver mais edições do filme a circular, pelo menos lá não estão a chegar :-(
José, segundo sei a Fnac de momento não está a repor stock de filmes.Como deves saber há a possibilidade de (existindo noutra loja) pedires para mandarem vir um exemplar para a tua loja habitual. Se fores a Lisboa tenta o Nimas na Av 5 de Outubro ou o Ideal no Largo de Camões como referiu o Rui.

De resto sobre o que escreveste em resposta ao meu "desabafo" estamos de acordo, vivemos hoje numa sociedade cada vez mais desumanizada mas não partilho tão entusiasticamente dessa tua crença "no espírito de resiliência humana e que várias forças positivas e estóicas se manterão sempre de pé e apelarão ao melhor de todos nós..." lamento mas já passei o meio século e já percorri algum mundo (não muito) e nessas andanças vi muita miséria produto de acentuadas assimetrias sociais (tão bem retratadas no Parasitas por exemplo).
Technicolor, obrigado pelas sugestões. yes-) Quanto à questão do desabafo, todo o respeito pelas tuas tomadas de posição. E, uma vez mais, obrigado por essa tua exposição de pensamentos!

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