Qual foi o último filme que viram ?

[José]

The Deep End - Até ao Fim (2001), de Scott McGehee e David Seigel
https://www.imdb.com/title/tt0250323/?ref_=nv_sr_srsg_5

Remake do filme de 1949 "The Reckless Moment - Momento de Perdição", realizado por Max Ophüls (que teve por base a obra "The Blank Wall", de Elisabeth Sanxay Holding). Foi o filme onde descobri a excelente Tilda Swinton e estava com receio de o rever, que já não me impactasse tanto como o fez há largos anos, quando o apanhei na TV pela noite dentro. Nada disso, a sua densidade mantém-se por inteiro.

"The Deep End - Até ao Fim" é um neo noir que conta a história de uma mãe que, após encontrar o cadáver de um homem junto à residência da família no Lago Tahoe, decide livrar-se do corpo. Esta reacção instintiva deve-se ao facto dela saber das implicações do filho com a pessoa morta, querendo protegê-lo das investigações policiais. O problema adensa-se quando, pouco tempo depois, alguém lhe bate à porta… O filme é um stress constante, cheio de obstáculos atrás de obstáculos; é o reflexo da força de uma mulher/mãe em prol da protecção de um amor maior e da manutenção de qualquer tipo de normalidade no espaço familiar - mesmo sendo confrontada com circunstâncias extraordinárias que a ultrapassam largamente.

Já na recta final, dou a mão à palmatória ao admitir que perde-se um pouquinho de alguma singularidade e mestria que vinham a ser sustentadas com tanta sagacidade, mas não é nada de tão prejudicial assim; "The Deep End" é um exercício de género sempre muito estimulante e até comovente, com um elenco bastante uniforme.

Ahhh, o Max Ophüls, um dos verdadeiramente míticos (e bons! ).

Eu vi o The Reckless Moment, mas já pouco me recordo dele. Não vi o remake, nem sabia que havia um...

Mítico, excelso, supremo!

[technicolor]

Pergunta inocente: há alguma razão para haver uma "lista de quarentena" que seja diferente de uma lista sem ser de quarentena?

Sim também tens razão, mas... eu por exemplo, nesta altura evito ver tudo o que tenha a ver com epidemias, vírus e outros que tais.
Digamos que prefiro filmes interessantes qb que me "aligeirem" o estado de espírito, (meu e da família).
Outros farão exactamente o contrário ...
mas concordo se calhar nem faz sentido, cada um saberá bem o que lhe mais interessa e agrada ver

[Samwise]

Imagino (e compreendo) que seja para pessoal que assim do nada se vê no ponto de interseção destas duas rectas compressoras:

1 - Imenso tempo para queimar
2 - Necessidade de tirar a cabeça dos problemas que nos caíram em cima

Uma maioria das pessoas que, não sendo cinéfilos (i.e.: todos os maluquinhos que frequentam o fórum e se servem do Cinema para saciar a tola como da água para saciar a sede), não se preocupa normalmente em pensar no que é que quer ver a seguir.

[mansildv]

todos os maluquinhos que frequentam o fórum e se servem do Cinema para saciar a tola como da água para saciar a sede

[rui sousa]

Serve pelo menos como um guia para gerir o tempo, para não o perder totalmente nas redes sociais e outros que tais! :D

Pus de parte uma série de DVDs para ver nestes tempos e geri a minha vida de forma a conciliar com música, leitura e os últimos episódios dos Sopranos.

[technicolor]

E pronto, as batatas já estão todas semeadas (sim sim é verdade, o technicolor é um rústico que trabalha na horta para descarregar o stress provocado pela quarentena ...e posso afirmar que comigo resulta ) fico agora com mais tempo para o cinema e outras actividades lúdicas em atraso.

Directo ao assunto o filme visto hoje:


Die Vermessung der Welt/ Measuring the World (2012) Detlev Buck

Uma produção germano-austríaca com um orçamento modesto (pelos padrões americanos) com rodagem parcial no Equador mas com uma qualidade inesperada. Tem caracteríticas "mistas" de filme de aventura com doc científico da PBS/ Canal História (mas nada chato) que conta as "peripécias" de dois cientistas do século XIX; Alexander von Humboldt geógrafo e explorador e Carl Friedrich Gauss matemático notável.
Com argumento adaptado do romance de Daniel Kehlmann (no qual espero poder em breve aprofundar esta fascinante história) achei interessante e bem realizado, excelentes actores, cenários magníficos, bela fotografia. Obviamente que não é filme a considerar pelos intelectos mais exigentes dado tratar a ciência de um modo algo... digest, mas para os apenas curiosos e menos exigentes (em termos de rigor e detalhe) como eu é plenamente satisfatório.

ah... e tem também os tais "toques de humor bem colocados" que nesta altura eu tanto valorizo.

A pontuação no IMDb de 5.8 a mim não diz nada e até arrisco um 7.8 sem qualquer relutância.

https://www.imdb.com/title/tt1571401/

[nimzabo]

Chicken
https://www.imdb.com/title/tt2420876/?ref_=ttls_li_tt
https://www.rottentomatoes.com/m/chicken
Excelentes interpretações e uma história com interesse num filme inglês.

[nimzabo]

Double Feature hoje.
Depois do Chicken vi ainda outro filme inglês jeitoso e curiosamente com a mesma duração: 1h25.

Shifty - Uma História Urbana
https://www.imdb.com/title/tt1104126/?ref_=ttls_li_tt
https://www.rottentomatoes.com/m/shifty
Amigos de infância que não se viam há um tempo, negócios de droga, relações familiares, problemas do passado, uns twists...
Vê-se bem.

[Samwise]

O Shifty não chama por mim, mas fiquei com algum interesse no Chicken. Nunca ouvi falar destes filmes.

[drakes]

Onward
https://www.imdb.com/title/tt7146812/

Animação bem feita na parte técnica, mas achei a história apesar das boas intenções bem simples, por isso daria uns 6,8.

[rui sousa]

Acabei de ver o The Cable Guy e fiquei impressionado.
O raio do filme tem piada, e o Jim Carrey é perfeito como um diabólico sociopata completamente fora do que então se queria dele. Esta comédia negra merece realmente ser bem apreciada. Foi o primeiro risco que Carrey tomou no cinema, afastando-se daquilo que o público queria para dar um tipo de humor diferente. Mais tarde viriam outras propostas interessantes, mas esta só recentemente é que começou a ser mais valorizada, e ainda bem.

[rui sousa]

Vi hoje o Scarlet Street do Fritz Lang. Lançado logo depois de "The Woman in the Window", também de Fritz Lang e com os mesmos protagonistas e alguns secundários (e que vi há dois diaa), não é uma "repetição" desse outro filme, mas uma variação completamente diferente à volta da questão do amor e da culpa, mas também da rejeição. E é a prova de que um "remake" pode ser feito por boas razões, podendo, até, ser superior ao original. Mesmo que já soubesse a história (e a versão de Renoir é admirável), foi impossível não me deixar enredar pela "descida às trevas" de Edward G. Robinson. Das poucas capacidades de análise que as circunstâncias da vida me deram, fiquei com a ideia de que se trata de uma bela (e também serenamente diabólica) obra prima.

[Samwise]

Eu gosto muito desses dois do Lang, estão entre as melhores obras dele, mesmo que não sejam tão populares, famosas, ou abrangentes na mensagem quanto o Metropolis ou o M. - e estou de acordo que são duas variações feitas pelo mesmo realizador e com os mesmos "protagonistas" sobres as mesmas temáticas (para além das que apontas: a tentação, o desejo, as circunstâncias que provocam o "shift" moral, o arrependimento - e se este ainda "vem a tempo"... penso que são muito caras ao Lang). Por esta altura acho que já baralho e confundo um pouco os dois, mas lembro-me de algumas sequências de eleição (uma a ver com a faca que cai e fica espetada no chão entre marido e mulher, outra com o "regresso à realidade", e como isso é conseguido do ponto de vista técnico, ou ainda as micro reflexões sobre a arte...). Agora fiquei cheio de vontade de os ir recordar.

[rui sousa]

Eu gosto muito desses dois do Lang, estão entre as melhores obras dele, mesmo que não sejam tão populares, famosas, ou abrangentes na mensagem quanto o Metropolis ou o M. - e estou de acordo que são duas variações feitas pelo mesmo realizador e com os mesmos "protagonistas" sobres as mesmas temáticas (para além das que apontas: a tentação, o desejo, as circunstâncias que provocam o "shift" moral, o arrependimento - e se este ainda "vem a tempo"... penso que são muito caras ao Lang). Por esta altura acho que já baralho e confundo um pouco os dois, mas lembro-me de algumas sequências de eleição (uma a ver com a faca que cai e fica espetada no chão entre marido e mulher, outra com o "regresso à realidade", e como isso é conseguido do ponto de vista técnico, ou ainda as micro reflexões sobre a arte...). Agora fiquei cheio de vontade de os ir recordar.

A primeira que dizes é deste (a primeira intenção assassina do Robinson revelada contra a mulher), e a segunda do outro filme, no desfecho "happy ending" que, mesmo tirado a ferros para agradar a censura, até faz o seu sentido.

[Samwise]

Vi o True Crime, do Eastwood.

Deve ser o filme dele da fase mais moderna que menos me entusiasmou, e aquele onde o peso do seu narcisismo é mais evidente, a ponto de tornar uma obra em que a temática principal seria, em circunstâncias normais, a pena de morte aplicada a um possivel inocente, num filme mais centrado na personagem que ele interpreta, um jornalista que é destacado para escrever um artigo sobre o condenado (que está a horas da execução) - e que terá alguns paralelos com a sua vida pessoal e com seu modo de encarar as coisas. Uma vida de mulherengo virada de pernas para o ar à conta de relações extra-conjugais, uma teimosia de mula (o "nariz" com faro para palpites) em querer desvendar um hipotético erro da justiça, uma personalidade que não verga perante nada, e uma correria cheia de voltas e reviravoltas nos últimos 20 minutos narrativos, bem ao jeito do inspector Harry Callahan - apenas para criar uma situação de tensão palpitante que não se enquadra no tom do resto do filme. Para afastar ainda mais os pratos da balança, a vertente do condenado está filmada com uma postura de solenidade e dignidade quase irreais (a dignidade humana, mais ao nível do indivíduo, e a sua negação pelos poderes que mandam em tudo, é uma temática Eastwoodiana), enquanto a vertente sobre a vida do jornalista é preenchida com gags e diálogos humorísticos (ele e o James Woods têm grandes momentos... cómicos... ) - uma mistura indigesta que retira coerência e sentido crítico ao conjunto, deixando também pouca matéria para reflexão e debate.

5/10