Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Moderators: waltsouza, mansildv
-
- DVD Maníaco
- Posts: 2517
- Joined: March 3rd, 2005, 11:52 pm
- Location: Braga City!
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Não vou aqui alargar-me sobre os dois primeiros filmes. Já o fiz muitas vezes e, honestamente, penso que fica mais difícil para quem ama os primeiros dois aceitar o murro no estômago que é este terceiro.
Só vi Before Midnight uma vez e não foi em sala. Tinha lido apenas o suficiente para saber onde a história se passava e em que termos começava. Não estava, nem de perto, preparado para a lição de vida que estava prestes a receber. Há quem lhe chame um filme amargo, há quem ache que o personagem da Julie Delpy se tornou uma "bitch", há quem ache que aqueles dois personagens tão incrivelmente apaixonados dos outros dois filmes não seriam capazes de ir por aquele caminho. Aquilo que eu acho é que estes personagens cresceram - tal como tinham crescido e sido massacrados pelo tempo e a distância entre o Before Sunrise e o Before Sunset. E as marcas do tempo são feitas pelas experiências com as quais nos vamos cruzando na vida, que muitas vezes nos deixam mais "sóbrios", outras mais calmos, muitas vezes mais amargurados. A vida muda-nos e as marcas do tempo pesam sobre nós como pesa sobre estes personagens o facto de estarem juntos há muito tempo, de terem filhos, de não terem cumprido na plenitude tudo aquilo que esperavam. Talvez porque as expectativas deles fossem tão altas que era impossível serem cumpridas. Talvez porque a despedida eterna no final do Before Sunrise, depois daquelas noite perfeita, assim como o tempo de espera pelo reencontro, tenha elevado a fasquia a níveis inatingíveis.
Before Midnight é um filme duro, sim, mas maduro, e no qual a felicidade talvez se encontre agora na cumplicidade, na compreensão gerada por anos de vivência em comum e não tanto na fugacidade de uma noite ou na eterna esperança de um reencontro impossível.
Só vi Before Midnight uma vez e não foi em sala. Tinha lido apenas o suficiente para saber onde a história se passava e em que termos começava. Não estava, nem de perto, preparado para a lição de vida que estava prestes a receber. Há quem lhe chame um filme amargo, há quem ache que o personagem da Julie Delpy se tornou uma "bitch", há quem ache que aqueles dois personagens tão incrivelmente apaixonados dos outros dois filmes não seriam capazes de ir por aquele caminho. Aquilo que eu acho é que estes personagens cresceram - tal como tinham crescido e sido massacrados pelo tempo e a distância entre o Before Sunrise e o Before Sunset. E as marcas do tempo são feitas pelas experiências com as quais nos vamos cruzando na vida, que muitas vezes nos deixam mais "sóbrios", outras mais calmos, muitas vezes mais amargurados. A vida muda-nos e as marcas do tempo pesam sobre nós como pesa sobre estes personagens o facto de estarem juntos há muito tempo, de terem filhos, de não terem cumprido na plenitude tudo aquilo que esperavam. Talvez porque as expectativas deles fossem tão altas que era impossível serem cumpridas. Talvez porque a despedida eterna no final do Before Sunrise, depois daquelas noite perfeita, assim como o tempo de espera pelo reencontro, tenha elevado a fasquia a níveis inatingíveis.
Before Midnight é um filme duro, sim, mas maduro, e no qual a felicidade talvez se encontre agora na cumplicidade, na compreensão gerada por anos de vivência em comum e não tanto na fugacidade de uma noite ou na eterna esperança de um reencontro impossível.
Last edited by p_alucinado on August 19th, 2019, 5:02 am, edited 1 time in total.
Um clássico por semana, visto pela primeira vez, em UMA PARAGEM NO DRIVE-IN (http://umaparagem.blogspot.pt)
- Rui Santos
- Site Admin
- Posts: 6208
- Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
- Location: Portugal - Lisboa / MAC
- Contact:
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Sem tirar nem por, há ali todo um balanço feito numa noite, claramente enviesado como o são todas as discussões. A paixão foi substituída e desgastada por uma relação, pelos filhos. Mas existe ainda e muito (e isso é bem mais visível em visionamentos subsequentes, as nossas personagens, o amor deles, e o encanto de um pelo outro.p_alucinado wrote: May 3rd, 2019, 3:59 am Before Midnight é um filme duro, sim, mas maduro, e no qual a felicidade talvez se encontre agora na cumplicidade, na compreensão gerada por anos de vivência em comum e não tanto na fugacidade de uma noite ou na eterna esperança de um reencontro impossível.
Pequeno spoiler sobre o final deste filme:
Rui Santos - 54 Anos | 23 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
A minha história com a trilogia (será que vai ser só trilogia?
) do Before é curiosa. A primeira vez que vi o Before Sunrise foi aí há uns seis, sete anos no Canal Hollywood. Não o vi sequer desde o princípio. Estava a fazer zapping na TV, parei no Hollywood e, apesar de não ter apanhado o filme desde o princípio, prendeu-me imenso a atenção, deixei-me ficar e foi impossível tirar os olhos do écran. Teve pouca importância não ter visto desde o início porque, como é um filme que vive de e cujo "sumo" é o conteúdo do diálogo entre o Jesse e a Céline e como a plot propriamente dita é pouca, percebi bem tudo. Fiquei até ao fim e ainda bem que não mudei de canal. Achei-o brilhante. Felizmente apanhei a hora a que ele ia ser reposto no Hollywood e, ainda mais sorte, não tinha nada para fazer a essa hora. Foi perfeito! Vi o que não tinha visto. Duplamente brilhante. Contudo, o primeiro DVD que comprei não foi o do Sunrise mas sim o do Sunset que, entretanto, e também por pura sorte, vi pela primeira vez no Hollywood. Mais tarde comprei então o DVD do Sunrise. Fui um privilegiado na medida em que não vi o Sunrise quando saiu nem o Sunset, o que significa que não tive de suportar a espera longa mas no final satisfatória de 9 anos que, como sabemos, tanto separa a estreia dos filmes como a própria história dos filmes. Nem quero imaginar o que as pessoas que viram em sala o Sunrise, o Sunset e o Midnight devam ter sofrido.
Sinceramente acho que, se a história tivesse acabado no Before Sunset, já teria sido excelente, ainda que eu ao mesmo tempo também no fundo gostasse que houvesse mais um filme. Muitas pessoas queixam-se da última cena do Sunset por não ser um final à Hollywood com tudo bem explicado dando uma resposta clara à pergunta "eles ficam juntos ou não?". Eu acho que não há ambiguidade na cena. A resposta à pergunta está lá, é preciso é estar atento e olhar para certos pormenores porque as pistas estão lá.
Por isso o Before Midnight foi uma surpresa para mim. A fazerem um terceiro filme colocar-se-ia à partida uma dificuldade relativamente ao título. Depois do Amanhecer e do Anoitecer, o que mais poderia ser "Depois"? A resposta acabou por ser óbvia tendo em conta o facto de que no Midnight como nos filmes anteriores a história passa-se em real time e neste último filme tudo se passa efectivamente antes de soar a meia-noite.
Para quem, no final do Sunset, tinha ficado na dúvida se eles ficavam juntos ou não, as cenas iniciais do Midnight mostram que ficaram e que ele não apanhou o avião de regresso aos Estados Unidos (e à mulher). Mais uma vez seguindo a "regra dos nove anos", nove anos após o fortuito reencontro deles os dois em Paris é mostrado que não só eles ficaram juntos, como tiveram filhos (filhas).
Gostei muito do Midnight. Não gostei tanto deste como dos outros porque em termos pessoais não estou na mesma situação deles. Casado, com filhos e, no caso do Jesse, mais um filho do anterior casamento e ainda por cima do outro lado do Atlântico (assumo que ele esteja a viver com a Céline em Paris mas acho que esse aspecto no filme não é mencionado), com toda a carga extra de responsabilidade inerente. É toda uma outra esfera que eu sigo à medida que vejo o filme mas na qual não me revejo por não ter filhos. Basta o factor filhos e o factor casamento para ser suficiente para eu não me relacionar com o filme como me relacionei com os anteriores. O final não é muito claro também mas tende claramente para a reconciliação entre eles.
Agora sinto a mesma indecisão que senti depois de ver o Sunset. Acho que a história fica bem acabando assim mas ao mesmo tempo também quero mais. Quero voltar a acompanhar estas personagens e a vida deles, ver de que forma continuam a partir daqui.
Talvez isto não se fique pela trilogia. É possível que haja quarto filme. O Ethan Hawke tem dito que gostava de fazer mais um. A Julie Delpy neste momento não está muito disposta a isso. Tudo dependerá do Linklater.
A haver novo filme será em 2022 porque só aí é que terão passado nove anos. Ainda teremos de esperar um bocado mas normalmente o Linklater costuma pronunciar-se cerca de um ano antes do filme sair, por isso talvez daqui a 2 anos ou no final de 2020 na melhor nas hipóteses
saberemos se eles vão fazer algo. É muito gira a forma como se desenrola o processo criativo entre o Ethan, a Julie e o Linklater. Procurem coisas sobre isso e leiam porque vale a pena.


Sinceramente acho que, se a história tivesse acabado no Before Sunset, já teria sido excelente, ainda que eu ao mesmo tempo também no fundo gostasse que houvesse mais um filme. Muitas pessoas queixam-se da última cena do Sunset por não ser um final à Hollywood com tudo bem explicado dando uma resposta clara à pergunta "eles ficam juntos ou não?". Eu acho que não há ambiguidade na cena. A resposta à pergunta está lá, é preciso é estar atento e olhar para certos pormenores porque as pistas estão lá.
Por isso o Before Midnight foi uma surpresa para mim. A fazerem um terceiro filme colocar-se-ia à partida uma dificuldade relativamente ao título. Depois do Amanhecer e do Anoitecer, o que mais poderia ser "Depois"? A resposta acabou por ser óbvia tendo em conta o facto de que no Midnight como nos filmes anteriores a história passa-se em real time e neste último filme tudo se passa efectivamente antes de soar a meia-noite.
Para quem, no final do Sunset, tinha ficado na dúvida se eles ficavam juntos ou não, as cenas iniciais do Midnight mostram que ficaram e que ele não apanhou o avião de regresso aos Estados Unidos (e à mulher). Mais uma vez seguindo a "regra dos nove anos", nove anos após o fortuito reencontro deles os dois em Paris é mostrado que não só eles ficaram juntos, como tiveram filhos (filhas).
Gostei muito do Midnight. Não gostei tanto deste como dos outros porque em termos pessoais não estou na mesma situação deles. Casado, com filhos e, no caso do Jesse, mais um filho do anterior casamento e ainda por cima do outro lado do Atlântico (assumo que ele esteja a viver com a Céline em Paris mas acho que esse aspecto no filme não é mencionado), com toda a carga extra de responsabilidade inerente. É toda uma outra esfera que eu sigo à medida que vejo o filme mas na qual não me revejo por não ter filhos. Basta o factor filhos e o factor casamento para ser suficiente para eu não me relacionar com o filme como me relacionei com os anteriores. O final não é muito claro também mas tende claramente para a reconciliação entre eles.
Agora sinto a mesma indecisão que senti depois de ver o Sunset. Acho que a história fica bem acabando assim mas ao mesmo tempo também quero mais. Quero voltar a acompanhar estas personagens e a vida deles, ver de que forma continuam a partir daqui.
Talvez isto não se fique pela trilogia. É possível que haja quarto filme. O Ethan Hawke tem dito que gostava de fazer mais um. A Julie Delpy neste momento não está muito disposta a isso. Tudo dependerá do Linklater.
A haver novo filme será em 2022 porque só aí é que terão passado nove anos. Ainda teremos de esperar um bocado mas normalmente o Linklater costuma pronunciar-se cerca de um ano antes do filme sair, por isso talvez daqui a 2 anos ou no final de 2020 na melhor nas hipóteses
saberemos se eles vão fazer algo. É muito gira a forma como se desenrola o processo criativo entre o Ethan, a Julie e o Linklater. Procurem coisas sobre isso e leiam porque vale a pena.
-
- DVD Maníaco
- Posts: 2517
- Joined: March 3rd, 2005, 11:52 pm
- Location: Braga City!
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Sei que nem todos concordam comigo, mas eu acho que tive sorte - e muita - em ter visto os filmes com um longo intervalo entre si. Vi o Sunrise em 1997 pela primeira vez, e aquele final, não sabendo se iria ou não haver sequela (sendo que, na altura, ninguém esperava que houvesse), foi do mais arrebatador que houve e deixou-me a sonhar muitos e longos anos. Numa época em que, à distância, as pessoas comunicavam apenas por telefone e carta - não havia telemóveis nem internet - toda aquela despedida adquiriu contornos mágicos. Para mim, é um dos monumentos maiores da História do Cinema e ainda bem que não soube que haveria sequela até muito mais tarde...Helder Fialho wrote: May 8th, 2019, 12:45 am Fui um privilegiado na medida em que não vi o Sunrise quando saiu nem o Sunset, o que significa que não tive de suportar a espera longa mas no final satisfatória de 9 anos que, como sabemos, tanto separa a estreia dos filmes como a própria história dos filmes. Nem quero imaginar o que as pessoas que viram em sala o Sunrise, o Sunset e o Midnight devam ter sofrido.![]()
No restante, de acordo contigo.

Um clássico por semana, visto pela primeira vez, em UMA PARAGEM NO DRIVE-IN (http://umaparagem.blogspot.pt)
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
p_alucinado wrote: May 13th, 2019, 3:33 pm
Sei que nem todos concordam comigo, mas eu acho que tive sorte - e muita - em ter visto os filmes com um longo intervalo entre si. Vi o Sunrise em 1997 pela primeira vez, e aquele final, não sabendo se iria ou não haver sequela (sendo que, na altura, ninguém esperava que houvesse), foi do mais arrebatador que houve e deixou-me a sonhar muitos e longos anos. Numa época em que, à distância, as pessoas comunicavam apenas por telefone e carta - não havia telemóveis nem internet - toda aquela despedida adquiriu contornos mágicos. Para mim, é um dos monumentos maiores da História do Cinema e ainda bem que não soube que haveria sequela até muito mais tarde...
É uma forma de ver a coisa e que é igualmente válida. Isso é verdade. Eu ainda sei como era porque nasci em 86 mas qualquer puto que veja o filme hoje não vai compreender como as comunicações eram limitadas e que houve uma altura em que não havia internet nem telemóveis e, por isso, vai achar ridículo o diálogo entre eles quando se despedem com toda a ansiedade, esperanças e incertezas que o rodeiam. Ainda por cima o Jesse e a Céline não trocaram números de telefone sequer, em parte talvez devido a que tinham de definir em pouquíssimo tempo o que iriam fazer antes que o comboio que levaria a Céline de volta a Paris partisse mas sobretudo porque ambos tinham combinado encontrarem-se ali em Viena dali a seis meses. É uma cena arrebatadora sim e esmagadora em termos emocionais e também a cena quase no final que mostra todas as zonas de Viena por onde eles passaram naquela noite é muito boa também. O Sunrise e o Sunset são dois dos meus filmes preferidos e, para mim, dois dos melhores filmes de sempre.
- Rui Santos
- Site Admin
- Posts: 6208
- Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
- Location: Portugal - Lisboa / MAC
- Contact:
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Posso dar a minha opinião que é proveniente de uma experiência mista... Mas concordo mais com o p_alucinado.
Vi um par de anos depois de sair o segundo filme, ambos os filmes na televisão. Por razões óbvias o mesmo prendeu-me logo desde o inicio, e o primeiro impacto foi imenso... e das coisas que mais lamento em termos cinematográficos é não ter podido sonhar como seria esses anos que medeiam entre o primeiro e o segundo filme. Aliás tenho pena de não ter visto os filmes com a idade deles (que já agora penso ser semelhante à minha). Teria sido delicioso.
Acho que os filmes que as minhas filhas já viram não os percebem ou sentem... talvez apenas mais o primeiro.
Acho que quem não tem filmes, ou teve uma relação longa não irá compreender o terceiro filme da forma que eu penso compreender. Claro que irá perceber o filme... mas algumas coisa não conseguirá sentir.
E isto é um dos encantos da trilogia, um certo eu já fui assim, eu já me senti assim...
E sim, um puto de hoje não concebe o mundo sem net, ou combinar coisas por papeis, ou locais de encontro... mas compreendo o conceito ao ver o filme, tal como nós aprendemos quando vemos filmes dos anos 50, 40, filmes de guerra... os filmes permitem-nos viajar para situações que desconhecemos, e isso é uma das magias do cinema.
Claro que nunca é tarde para ver os três de seguida, mas há um certo encanto que se perde... e que por exemplo eu nunca terei.
Quanto ao final... encantador. Acho que no fundo, há ali uma espécie de ponta solta no olhar deles. Ele ao voltar para ela no café... acaba por lutar pelo casamento.... e ela apesar de magoada sente isso. Não tenhas dúvidas que se voltares a ver o filme, verás cada vez mais um filme menos amargo que num primeiro visionamento.
É um filme demasiado diferente dos dois primeiros para poder ser absorvido de imediato, ou à primeira....
Há ali pequenos pormenores que num segundo visionamento se sentem muito mais. (os dois primeiros também tem esse encanto... mas enquanto nesses apenas redescobrimos o amor deles que está bastante visível ao longo de ambos os filmes, neste vemos exatamente o mesmo, os pequenos pormenores do amor deles... que tanta falta faz a um primeiro visionamento... que confesso ser sem dúvida violento)
Vi um par de anos depois de sair o segundo filme, ambos os filmes na televisão. Por razões óbvias o mesmo prendeu-me logo desde o inicio, e o primeiro impacto foi imenso... e das coisas que mais lamento em termos cinematográficos é não ter podido sonhar como seria esses anos que medeiam entre o primeiro e o segundo filme. Aliás tenho pena de não ter visto os filmes com a idade deles (que já agora penso ser semelhante à minha). Teria sido delicioso.
Acho que os filmes que as minhas filhas já viram não os percebem ou sentem... talvez apenas mais o primeiro.
Acho que quem não tem filmes, ou teve uma relação longa não irá compreender o terceiro filme da forma que eu penso compreender. Claro que irá perceber o filme... mas algumas coisa não conseguirá sentir.
E isto é um dos encantos da trilogia, um certo eu já fui assim, eu já me senti assim...
E sim, um puto de hoje não concebe o mundo sem net, ou combinar coisas por papeis, ou locais de encontro... mas compreendo o conceito ao ver o filme, tal como nós aprendemos quando vemos filmes dos anos 50, 40, filmes de guerra... os filmes permitem-nos viajar para situações que desconhecemos, e isso é uma das magias do cinema.
Claro que nunca é tarde para ver os três de seguida, mas há um certo encanto que se perde... e que por exemplo eu nunca terei.
Claro que te compreendo na dificuldade de te aproximares do terceiro.Helder Fialho wrote: May 8th, 2019, 12:45 am Gostei muito do Midnight. Não gostei tanto deste como dos outros porque em termos pessoais não estou na mesma situação deles. Casado, com filhos e, no caso do Jesse, mais um filho do anterior casamento e ainda por cima do outro lado do Atlântico (assumo que ele esteja a viver com a Céline em Paris mas acho que esse aspecto no filme não é mencionado), com toda a carga extra de responsabilidade inerente. É toda uma outra esfera que eu sigo à medida que vejo o filme mas na qual não me revejo por não ter filhos. Basta o factor filhos e o factor casamento para ser suficiente para eu não me relacionar com o filme como me relacionei com os anteriores. O final não é muito claro também mas tende claramente para a reconciliação entre eles.
Agora sinto a mesma indecisão que senti depois de ver o Sunset. Acho que a história fica bem acabando assim mas ao mesmo tempo também quero mais. Quero voltar a acompanhar estas personagens e a vida deles, ver de que forma continuam a partir daqui.
Talvez isto não se fique pela trilogia. É possível que haja quarto filme. O Ethan Hawke tem dito que gostava de fazer mais um. A Julie Delpy neste momento não está muito disposta a isso. Tudo dependerá do Linklater.
A haver novo filme será em 2022 porque só aí é que terão passado nove anos. Ainda teremos de esperar um bocado mas normalmente o Linklater costuma pronunciar-se cerca de um ano antes do filme sair, por isso talvez daqui a 2 anos ou no final de 2020 na melhor nas hipóteses
saberemos se eles vão fazer algo. É muito gira a forma como se desenrola o processo criativo entre o Ethan, a Julie e o Linklater. Procurem coisas sobre isso e leiam porque vale a pena.
Quanto ao final... encantador. Acho que no fundo, há ali uma espécie de ponta solta no olhar deles. Ele ao voltar para ela no café... acaba por lutar pelo casamento.... e ela apesar de magoada sente isso. Não tenhas dúvidas que se voltares a ver o filme, verás cada vez mais um filme menos amargo que num primeiro visionamento.
É um filme demasiado diferente dos dois primeiros para poder ser absorvido de imediato, ou à primeira....
Há ali pequenos pormenores que num segundo visionamento se sentem muito mais. (os dois primeiros também tem esse encanto... mas enquanto nesses apenas redescobrimos o amor deles que está bastante visível ao longo de ambos os filmes, neste vemos exatamente o mesmo, os pequenos pormenores do amor deles... que tanta falta faz a um primeiro visionamento... que confesso ser sem dúvida violento)
Rui Santos - 54 Anos | 23 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Rui Santos wrote: May 16th, 2019, 12:07 am Acho que quem não tem filmes, ou teve uma relação longa não irá compreender o terceiro filme da forma que eu penso compreender. Claro que irá perceber o filme... mas algumas coisa não conseguirá sentir.
Claro que te compreendo na dificuldade de te aproximares do terceiro.
Quanto ao final... encantador. Acho que no fundo, há ali uma espécie de ponta solta no olhar deles. Ele ao voltar para ela no café... acaba por lutar pelo casamento.... e ela apesar de magoada sente isso. Não tenhas dúvidas que se voltares a ver o filme, verás cada vez mais um filme menos amargo que num primeiro visionamento.
É um filme demasiado diferente dos dois primeiros para poder ser absorvido de imediato, ou à primeira....
Há ali pequenos pormenores que num segundo visionamento se sentem muito mais. (os dois primeiros também tem esse encanto... mas enquanto nesses apenas redescobrimos o amor deles que está bastante visível ao longo de ambos os filmes, neste vemos exatamente o mesmo, os pequenos pormenores do amor deles... que tanta falta faz a um primeiro visionamento... que confesso ser sem dúvida violento)
Já não tenho a idade que eles (personagens e actores) tinham no Sunrise (25 e 26) e ainda não tenho a idade que eles tinham no Sunset (34 e 35) mas já tenho muito do cepticismo relativamente ao mundo e ao Amor que eles têm no Sunset, por contraposição à esperança inocente no Sunrise. Foi relevante o facto de que na primeira vez que vi o Sunrise eu tinha a mesma idade que o Ethan Hawke (Jesse) tinha no Sunrise e sou de Letras, tal como ele, o que me levou também a identificar-me com ele em muita coisa nos diálogos com a Céline. Apaixonei-me pela primeira vez no ano seguinte a ter visto o Sunrise. Não fui correspondido mas essa experiência e o que ela teve de novo e de transformador para mim fez com que sentisse a 100% o que tinha sentido a 60% no Sunrise. Sou romântico e confesso que isso também ajudou.
Preciso de ver o filme outra vez. Há pouco tempo procurei no youtube a cena final (e encontrei-a) porque quis revê-la precisamente para ver se ainda sentia o tom amargo que bem referiste e senti essa ponta solta, sim. Toda a cena a partir do momento em que ele se senta na mesa da esplanada é fantástica. Exacto, ele inventa aquela história de ficção científica para fazer com que a Céline volte para ele e, no fundo, salvar o casamento que, até àquele momento, está por um fio. Durante todo o filme há tensões entre eles, pequenas coisas mas que se vão acumulando e tudo acaba por explodir com a discussão no quarto do hotel. A discussão quando a vi a primeira vez deixou-me de boca aberta porque não esperava nada daquilo vindo deles os dois e até fiquei ligeiramente arrepiado porque é TÃO real (aliás como tudo nos filmes anteriores onde nunca se sente, eu pelo menos nunca sinto que estou a ver uma história de ficção). Estou a escrever e estou a lembrar-me dos gritos lancinantes da Julie Delpy... A atitude do Jesse é muito humilde, sincera e corajosa. Ele larga o ego, faz pela relação deles e pelo casamento, mostra que gosta realmente dela e tenta relembrar a Céline daquilo que os uniu 18 anos antes, daquilo que sentiam um pelo outro. Acho que ela foi um bocado bitch e injusta com ele. Como o próprio Jesse lhe diz, "If you want true love, then this is it. This is real life. it's not perfect but it's real". Depois ela vai para pegar na mala para se ir embora, hesita um instante e já não lhe pega. E há coisas curiosas... Há como que um paralelo com a cena no comboio em Viena no Sunrise. No comboio a história de ficção científica que ele lhe conta é para convencê-la a sair do comboio com ele e é com a decisão dela que tudo começa. No Midnight a história de ficção científica é para convencê-la a ficar com ele e, mais uma vez, com a decisão dela ela fica. Ela não se vai embora neste "comboio". De certa forma, ela volta a querer sair outra vez do comboio com ele e a história conjunta deles continua. Tudo o que o Jesse lhe diz na história que lhe conta no comboio no Sunrise acaba mesmo por acontecer 18 anos depois no Midnight. Quando ele diz "Jump ahead ten, twenty years and you're married. Your marriage doesn't have the same energy it used to have. You start blaming your husband". A genialidade do Linklater está também nestes pequenos detalhes. Depois quando ela lhe pergunta sobre a máquina do tempo, etc mostra que eles começam a reconciliar-se. Ela sai do comboio, agora metafórico, com ele. Estão juntos. Vão "explorar Viena" outra vez. Tudo acaba bem.
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Fantástico!Helder Fialho wrote: May 26th, 2019, 4:47 am Isto é muito, muito, muito bom:
https://www.youtube.com/watch?v=zb0Q7QyvrHM

Obrigado por colocares aqui.

Cabeças


- Rui Santos
- Site Admin
- Posts: 6208
- Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
- Location: Portugal - Lisboa / MAC
- Contact:
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Helder Fialho wrote: May 26th, 2019, 4:47 am Isto é muito, muito, muito bom:
https://www.youtube.com/watch?v=zb0Q7QyvrHM
Arranjei agora um bocado de tempo, e vi... e estou de queixo caído.
Este feliz e triste ao mesmo tempo, percebo agora melhor os filmes. E já agora tinha sem dúvida um sorriso mágico e cativante.
Ainda estou em divida com umas respostas ao tópico, mas queria já agradecer este vídeo. Se gostam dos filmes... vejam que vale a pena.

Rui Santos - 54 Anos | 23 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Cabeças wrote: May 26th, 2019, 8:43 amFantástico!Helder Fialho wrote: May 26th, 2019, 4:47 am Isto é muito, muito, muito bom:
https://www.youtube.com/watch?v=zb0Q7QyvrHM![]()
Obrigado por colocares aqui.![]()
De nada!

-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Rui Santos wrote: May 28th, 2019, 12:56 pmHelder Fialho wrote: May 26th, 2019, 4:47 am Isto é muito, muito, muito bom:
https://www.youtube.com/watch?v=zb0Q7QyvrHM
Arranjei agora um bocado de tempo, e vi... e estou de queixo caído.
Este feliz e triste ao mesmo tempo, percebo agora melhor os filmes. E já agora tinha sem dúvida um sorriso mágico e cativante.
Ainda estou em divida com umas respostas ao tópico, mas queria já agradecer este vídeo. Se gostam dos filmes... vejam que vale a pena.![]()
Senti exactamente o mesmo quando vi. Eu também não sabia que o Before Sunrise foi inspirado no encontro e na conversa que o Linklater teve com a rapariga. A Céline é a Amy e o Jesse "é" o Linklater! Ela era bonita sim, e, segundo o que é descrito, ela devia ser mesmo especial. É incrível como uma mulher e uma conversa com uma mulher pode mudar a vida de uma pessoa como mudou a do Linklater... A vida e o acaso fazem com que aconteçam coisas do caraças... É ainda mais incrível pensar que, numa das cenas iniciais do Before Sunset em que a Céline aparece na sessão de autógrafos do livro dele, essa cena foi claramente inspirada na esperança que o próprio Linklater teve de que a Amy aparecesse numa das exibições do Sunrise no cinema. Imagina se ela tivesse vivido para ver o Sunrise e os outros!
-
- DVD Maníaco
- Posts: 2517
- Joined: March 3rd, 2005, 11:52 pm
- Location: Braga City!
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Finalmente consegui ver o vídeo sobre a Amy e realmente é de ficar de queixo caído com esta história. É mesmo.
O que ainda tem mais impacto em mim é o facto de ter sido o Before Sunrise (e mais tarde o Into the Wild, entre outros) a inspirar o tipo de vida que passei a levar a partir daí. Eu tinha 16 anos quando vi o filme e lembro-me de, ano e meio depois, dizer aos meus colegas de liceu, no último dia do meu 12º ano, que iria viver a minha vida da forma que eu queria e não da forma que outros me impusessem.
Essa decisão levou-me a um estilo de vida que a sociedade como a conhecemos muitas vezes fez questão de condenar, mas trouxe-me as maiores conquistas pessoais da minha vida (e tenho 38 anos, já). Lembro-me de muitas vezes ter sonhado em ter o meu "momento Before Sunrise" na minha vida. Queria que fosse possível sentir aquela magia na realidade, por que o filme era tão real e os personagens e pessoas como eles tinham de existir realmente.
Em 2008, na manhã do 1º de Janeiro, acabei por ter o meu primeiro "momento Before Sunrise", uma conversa com uma desconhecida, aberta, franca, de partilha totalmente sem compromissos, numa praia vazia. Nunca mais nos vimos.
Foi de tal forma arrasador que nesse mesmo ano decidi que tinha de me fazer ao mundo e procurar pessoas como ela, que conseguissem tirar o melhor de mim. Poucos meses depois fui viver uns meses para a Polónia e descobri que quanto mais desse de mim, mais teria em retorno.
Passaram 22 anos desde que vi o Before Sunrise pela primeira vez. A quantidade de histórias e momentos que esse filme proporcionou, direta ou indiretamente, ao longo da minha vida, não caberiam provavelmente num livro. E tudo por que duas pessoas, um dia, se encontraram numa loja de brinquedos e decidiram dar o melhor de si uma à outra, despretensiosamente.
Peço desculpas pela divagação pessoal, mas quando damos o melhor de nós, nunca sabemos quem vamos inspirar e de que formas. E nunca vos conseguirei traduzir em palavras aquilo em que a minha vida se tornou graças a esse encontro. Por que há coisas para as quais as palavras não chegam.
O que ainda tem mais impacto em mim é o facto de ter sido o Before Sunrise (e mais tarde o Into the Wild, entre outros) a inspirar o tipo de vida que passei a levar a partir daí. Eu tinha 16 anos quando vi o filme e lembro-me de, ano e meio depois, dizer aos meus colegas de liceu, no último dia do meu 12º ano, que iria viver a minha vida da forma que eu queria e não da forma que outros me impusessem.
Essa decisão levou-me a um estilo de vida que a sociedade como a conhecemos muitas vezes fez questão de condenar, mas trouxe-me as maiores conquistas pessoais da minha vida (e tenho 38 anos, já). Lembro-me de muitas vezes ter sonhado em ter o meu "momento Before Sunrise" na minha vida. Queria que fosse possível sentir aquela magia na realidade, por que o filme era tão real e os personagens e pessoas como eles tinham de existir realmente.
Em 2008, na manhã do 1º de Janeiro, acabei por ter o meu primeiro "momento Before Sunrise", uma conversa com uma desconhecida, aberta, franca, de partilha totalmente sem compromissos, numa praia vazia. Nunca mais nos vimos.
Foi de tal forma arrasador que nesse mesmo ano decidi que tinha de me fazer ao mundo e procurar pessoas como ela, que conseguissem tirar o melhor de mim. Poucos meses depois fui viver uns meses para a Polónia e descobri que quanto mais desse de mim, mais teria em retorno.
Passaram 22 anos desde que vi o Before Sunrise pela primeira vez. A quantidade de histórias e momentos que esse filme proporcionou, direta ou indiretamente, ao longo da minha vida, não caberiam provavelmente num livro. E tudo por que duas pessoas, um dia, se encontraram numa loja de brinquedos e decidiram dar o melhor de si uma à outra, despretensiosamente.
Peço desculpas pela divagação pessoal, mas quando damos o melhor de nós, nunca sabemos quem vamos inspirar e de que formas. E nunca vos conseguirei traduzir em palavras aquilo em que a minha vida se tornou graças a esse encontro. Por que há coisas para as quais as palavras não chegam.
Um clássico por semana, visto pela primeira vez, em UMA PARAGEM NO DRIVE-IN (http://umaparagem.blogspot.pt)
-
- DVD Maníaco
- Posts: 2517
- Joined: March 3rd, 2005, 11:52 pm
- Location: Braga City!
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
Hoje encontrei isto, e os últimos parágrafos dizem tudo.
https://thespool.net/features/fotm/2019 ... e-trilogy/
I think it’s the ambiguity that makes these movies so infections, why Linklater, Hawke, and Delpy keep coming back to these characters. And yet, these filmmakers resist the urge to clarify the fates of these people. At the end of every movie, you can convince yourself that true love will conquer all, just as you can talk yourself into a cynical, “realist” reading that their differences will win out. I want to believe there’s a person out there as perfect of a match for me as Jesse is to Céline. Or maybe it doesn’t matter; maybe, in the long run, not even Jesse and Céline can make it work.
So often our media boxes itself into extremes of optimism or pessimism, but reality is fluctuating in-between. The Before trilogy dares to operate in the same grey-area. Perhaps that’s why Jesse and Céline don’t decide to get married. If these movies have taught me anything, it’s that you never know. All we can do is take our lives one day at a time.
Recomendo a leitura completa.
https://thespool.net/features/fotm/2019 ... e-trilogy/
I think it’s the ambiguity that makes these movies so infections, why Linklater, Hawke, and Delpy keep coming back to these characters. And yet, these filmmakers resist the urge to clarify the fates of these people. At the end of every movie, you can convince yourself that true love will conquer all, just as you can talk yourself into a cynical, “realist” reading that their differences will win out. I want to believe there’s a person out there as perfect of a match for me as Jesse is to Céline. Or maybe it doesn’t matter; maybe, in the long run, not even Jesse and Céline can make it work.
So often our media boxes itself into extremes of optimism or pessimism, but reality is fluctuating in-between. The Before trilogy dares to operate in the same grey-area. Perhaps that’s why Jesse and Céline don’t decide to get married. If these movies have taught me anything, it’s that you never know. All we can do is take our lives one day at a time.
Recomendo a leitura completa.
Um clássico por semana, visto pela primeira vez, em UMA PARAGEM NO DRIVE-IN (http://umaparagem.blogspot.pt)
-
- Fanático
- Posts: 503
- Joined: October 15th, 2017, 2:10 am
Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater
p_alucinado wrote: August 19th, 2019, 5:00 am Finalmente consegui ver o vídeo sobre a Amy e realmente é de ficar de queixo caído com esta história. É mesmo.
O que ainda tem mais impacto em mim é o facto de ter sido o Before Sunrise (e mais tarde o Into the Wild, entre outros) a inspirar o tipo de vida que passei a levar a partir daí. Eu tinha 16 anos quando vi o filme e lembro-me de, ano e meio depois, dizer aos meus colegas de liceu, no último dia do meu 12º ano, que iria viver a minha vida da forma que eu queria e não da forma que outros me impusessem.
Essa decisão levou-me a um estilo de vida que a sociedade como a conhecemos muitas vezes fez questão de condenar, mas trouxe-me as maiores conquistas pessoais da minha vida (e tenho 38 anos, já). Lembro-me de muitas vezes ter sonhado em ter o meu "momento Before Sunrise" na minha vida. Queria que fosse possível sentir aquela magia na realidade, por que o filme era tão real e os personagens e pessoas como eles tinham de existir realmente.
Em 2008, na manhã do 1º de Janeiro, acabei por ter o meu primeiro "momento Before Sunrise", uma conversa com uma desconhecida, aberta, franca, de partilha totalmente sem compromissos, numa praia vazia. Nunca mais nos vimos.
Foi de tal forma arrasador que nesse mesmo ano decidi que tinha de me fazer ao mundo e procurar pessoas como ela, que conseguissem tirar o melhor de mim. Poucos meses depois fui viver uns meses para a Polónia e descobri que quanto mais desse de mim, mais teria em retorno.
Passaram 22 anos desde que vi o Before Sunrise pela primeira vez. A quantidade de histórias e momentos que esse filme proporcionou, direta ou indiretamente, ao longo da minha vida, não caberiam provavelmente num livro. E tudo por que duas pessoas, um dia, se encontraram numa loja de brinquedos e decidiram dar o melhor de si uma à outra, despretensiosamente.
Peço desculpas pela divagação pessoal, mas quando damos o melhor de nós, nunca sabemos quem vamos inspirar e de que formas. E nunca vos conseguirei traduzir em palavras aquilo em que a minha vida se tornou graças a esse encontro. Por que há coisas para as quais as palavras não chegam.
Uau. Imagino que deva ter sido incrível... Não és o único, ao longo dos anos fui lendo na net vários comentários de pessoas de todo o mundo que dizem que conheceram pessoas de uma forma muito parecida à que o Jesse conhece a Céline no Before Sunrise e que passaram momentos iguais aos que as personagens passaram.
Há pessoas que nos marcam, de facto. O mundo é uma rede complexa de pensamentos, sentimentos, angústias, hesitações... Não sei se há ou não mas gosto de acreditar que há mentes e corações de pessoas que estão à espera de ser tocadas por alguém e essas mesmas pessoas não sabem disso. Ainda não me aconteceu nada como acontece no Before Sunrise mas já estive apaixonado por uma amiga de há muitos anos, não fui correspondido mas ainda não me apaixonei por outra mulher desde dela. Ainda não voltei a sentir amor por alguém desde então e já conheci várias raparigas entretanto. Mas a partilha e a compreensão mútuas são muito importantes. Decisivas mesmo. A dada altura no Before Sunrise, a Céline diz ao Jesse "If there's any kind of magic in this world it must be in the attempt of understanding someone sharing something." e pouco depois "The answer must be in the attempt". Mas acho que a maior parte das mulheres dá pouco ou nada mesmo. Só querem receber.
Se não for indiscrição, encontraste a tua Céline?

Last edited by Helder Fialho on August 22nd, 2019, 4:54 pm, edited 3 times in total.