Blade Runner 2049 (2017) - Denis Villeneuve

[Rui Santos]

Para começar, devo dizer que é extremamente difícil para mim falar deste filme, como sequela de um dos filmes mais icónicos dos anos 80.
Claro que o filme em tudo é um piscar de olhos a quem viu o filme original, passando pelas personagens, pelas homenagens presentes ao longo de todo o filme, e culminando numa banda sonora que só se transforma em memorável quando é um remix da original.
Mas além da extraordinária fotografia são tantos tantos os planos inesquecíveis, (provavelmente mais que no original), fantástica recreação de um LA 2049 (sabem a pouco as cenas exteriores, mas as que existem são muito boas), um set de personagens secundárias absolutamente inesquecível, saliento as três atrizes que secundam Ryan Gosling, que fazem esquecer a Rachel, pelo menos para mim.
Depois o filme tem uma história cativante e misteriosa, mais explicita que o primeiro, mas ainda assim cheia de cenas que nos fazem pensar e cheias de um segundo sentido.
A música... a música nem é má, mas sofre do problema de conhecermos demasiado bem a música do primeiro.... e de esta só acharmos boa quando se cola com a do primeiro.

Mas do que digna sequela, é um filme completamente autónomo que ganha quando se viu o primeiro.
Mais uma vez é um filme de amor, e não um filme de Ficção Cientifica. É um filme onde os personagens são credíveis e que se confia neles. Quase que sentimos a sua dor interior e as causas que os fazem sofrer. Cinema é isto, a forma de nos passar emoções através de imagens.
Sinceramente não sei se o prefiro ao primeiro... mas no mínimo não é inferior. Respeita por completo a herança do primeiro, e é uma digna continuação do mesmo.
Aliás pensei que as histórias fossem mais desligadas, mas são completamente ligadas.

É um dos filmes do ano para mim, e sem dúvida que o irei comprar nas sucessivas edições que vai ter. Denis Villeneuve tem um futuro sorridente à sua frente. Fazer uma sequela para Blade Runner era mesmo possivelmente uma das tarefas mais difíceis que posso imaginar, DV conseguiu e todos os elogios que tenho visto por aqui são merecidos.
10/10 e obrigada por haver uma continuação... ao menos assim sabemos o que aconteceu depois do final do primeiro.

Ainda voltarei aqui para algumas respostas à medida que o tempo foi surgindo.

@Cabeças...
Não penses sequer 2x, assim que possas vai. Tenho a certeza que tu vais adorar o filme.

Sobre o enredo falarei com a tag de spoiler pois recomendo que não leiam.

As três mulheres que falo, são a chefe dele (Robin Wright), a amante virtual (Ana de Armas) e a chefe da corporação (Sylvia Hoeks).
A cena da amante a fazer amor físico com ele está muito boa, e a Luv como chefe da corporação parece-me claramente um clone da Rachel na forma como se move e veste.
Da mesma forma a aparição da Rachel está muito bem conseguida, e a cena final com Vangelis quando ele está deitado na escada :) só dá mesmo para bater palmas.
Edward James Olmos.... quase que me apetecia aquele origami.

A cena final da neve em 3d fica maravilhosa... quase que temos frio

IMAX
Foi a minha estreia na sala, gostei mesmo muito.
Mas o que gostei mais foi o som, mais do que a imagem 3D (bem conseguida e elegante) o som é completamente imersivo e este filme merece ser visto com este som.
O 3D estava bom, mas dispensava o mesmo. Claro que poderei ver o filme em casa em 2d... mas com aquele som é impossível.
Tive algum azar, pois apesar de as filas serem muito distantes verticalmente, e porque as legendas são muito em baixo, a minha mulher tinha alguma dificuldade em ver as mesmas. Da mesma forma os oculos obrigam a ver o filme numa posição mais fixa, pois qq movimento da cabeça e a imagem fica desfocada.
Resumindo uma excelente opção para filmes espectaculares visualmente.
Sala a 90%... com uma plateia mista entre os 50 e os 30 anos. Pessoal de pipoca... mas se vou ao imax não me posso queixar disso.
Pena não ter ficado numa fila mais abaixo como me recomendaram, mas não havia bilhetes.

[rui sousa]

Vi o filme ontem numa sessão péssima no City de Alfragide - o ecrã ficou preto por três ocasiões, som muito mau e o ecrã diminuiu de tamanho por uns quinze minutos. Ainda assim, adorei o filme e tenciono rever em breve, em condições mais apropriadas. Admito que não estava nada à espera de encontrar um filme assim.

[Samwise]

E aquela ideia de ...

...colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?

Sem dúvida que o filme tem uma infinidade de pormenores que dão que pensar.

E foi impressão minha, ou a determinada altura o carro dele sobrevoa uma extensão enorme de casa amontoadas e empilhadas tipo favela? Os pobres ficaram na terra, os ricos emigraram para as colónias noutros planetas. O assunto não é mencionado directamente, mas há indícios disso mesmo. Até o apartamento onde ele vive e a vizinhança...

[lud81]

Para já, está-me assaltar esta dúvida, de entre umas quantas que tenho:

Como foram as memórias "dela" parar dentro "dele"?

Quero dizer: alguém as plantou. E para as ter plantado, teve de as retirar dela. Quando e como sucedeu isto? E porquê?

E era só ele que tinha aquela memória?

Quem implantou especificamente se calhar não se sabe, mas ela era desenhadora de memórias a contrato (estou enganado?) e às tantas disponibilizou aquela dela própria junto com outras. Ele tê-la é daquelas coincidências de filme, digo eu.
Acho que esse aspecto não é grande mistério nem sujeito a leituras obscuras (a não ser que se queira, claro ), é como a Rachel ter memórias da filha do Tyrell.

[Rui Santos]

Para já, está-me assaltar esta dúvida, de entre umas quantas que tenho:

Como foram as memórias "dela" parar dentro "dele"?

Quero dizer: alguém as plantou. E para as ter plantado, teve de as retirar dela. Quando e como sucedeu isto? E porquê?

E era só ele que tinha aquela memória?

Quem implantou especificamente se calhar não se sabe, mas ela era desenhadora de memórias a contrato (estou enganado?) e às tantas disponibilizou aquela dela própria junto com outras. Ele tê-la é daquelas coincidências de filme, digo eu.
Acho que esse aspecto não é grande mistério nem sujeito a leituras obscuras (a não ser que se queira, claro ), é como a Rachel ter memórias da filha do Tyrell.

Concordo com a justificação do Lud.
Se calhar foi algo preguiçosa e em vez de pensar ideias novas limitou-se a passar as dela para os replicant...
Mas fica a dúvida, passou essa ideia a todos, ou só ao K? ou seriam as memórias que ela criava personalizáveis replicant a replicant?

[Rui Santos]

E aquela ideia de ...

...colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?

Sem dúvida que o filme tem uma infinidade de pormenores que dão que pensar.

E foi impressão minha, ou a determinada altura o carro dele sobrevoa uma extensão enorme de casa amontoadas e empilhadas tipo favela? Os pobres ficaram na terra, os ricos emigraram para as colónias noutros planetas. O assunto não é mencionado directamente, mas há indícios disso mesmo. Até o apartamento onde ele vive e a vizinhança...

Sem dúvida que o filme tem uma infinidade de pormenores que dão que pensar.
Fica de fora, pois não é spoiler, isso é uma das coisas que me encantou no filme. A possibilidade que tem de crescer com mais algumas visualizações. Nesse aspeto acho que é um complemento perfeito ao primeiro filme.

"E foi impressão minha, ou a determinada altura o carro dele sobrevoa uma extensão enorme de casa amontoadas e empilhadas tipo favela? Os pobres ficaram na terra, os ricos emigraram para as colónias noutros planetas. O assunto não é mencionado directamente, mas há indícios disso mesmo. Até o apartamento onde ele vive e a vizinhança... "

Mas se fores a reparar já o primeiro era algo assim, aliás há uma frase dele que indica isso mesmo. Quando ele diz que os replicants foram criados para explorar os novos planetas e fazer o que ninguém queria.
Mas LA... é LA ;)

"..colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?"
Se eles se podem reproduzir ;) tudo o resto é acessório.
Mas fica a ideia que são cada vez mais perfeitos e completos os replicant, mas que o melhor upgrade é serem obedientes
Mas os Hologramas de companhia, são maravilhosos... quase que têm sentimentos...

[drakes]

Bom, podemos começar a deitar as dúvidas cá para fora?

ATENÇÃO SPOILERS ENORMES dentro da TAG. SE NÃO VIRAM AINDA O FILME, NÃO CAIAM NA TENTAÇÃO DE LER. CONSIDER YOURSELVES WARNED!

Para já, está-me assaltar esta dúvida, de entre umas quantas que tenho:

Como foram as memórias "dela" parar dentro "dele"?

Quero dizer: alguém as plantou. E para as ter plantado, teve de as retirar dela. Quando e como sucedeu isto? E porquê?

E era só ele que tinha aquela memória?

Provavelmente os nexus 8 ou pais adotivos de Ana para protege-la, implantaram algumas memórias dela nos nexus 9 outros, para embaralhar, já que os registros médicos diziam que sobreviveu um menino e assim criando uma camuflagem com sacrífico de algum implantado com essa memória real, já que ela reconheceu sua memória quando encontra K/Joe, e me parece além de emocionada também um pouco surpresa - então não foi ela, conscientemente.

Sobre sacrificio nos planos, em blade runner , a partida de xadrez mostrada é a Imortal, perder peças importantes é a alma daquele jogo para impedir que o adversário compreenda seu plano.

[Cabeças]

Como muitos sabem, aprecio as críticas do Tiago Belloti. Nunca até agora o tinha visto dar nota máxima!

(sem spoilers)

[Samwise]

Para já, está-me assaltar esta dúvida, de entre umas quantas que tenho:

Como foram as memórias "dela" parar dentro "dele"?

Quero dizer: alguém as plantou. E para as ter plantado, teve de as retirar dela. Quando e como sucedeu isto? E porquê?

E era só ele que tinha aquela memória?

Quem implantou especificamente se calhar não se sabe, mas ela era desenhadora de memórias a contrato (estou enganado?) e às tantas disponibilizou aquela dela própria junto com outras. Ele tê-la é daquelas coincidências de filme, digo eu.
Acho que esse aspecto não é grande mistério nem sujeito a leituras obscuras (a não ser que se queira, claro ), é como a Rachel ter memórias da filha do Tyrell.

Ela era desenhadora de memórias, mas referiu especificamente que era proibido passar/implantar memórias verdadeiras. Não acredito que seja uma coincidência (não acredito em "coincidências" no argumento deste filme , penso que tudo/todos os detalhes têm uma razão que terá sido bem pensada). Logo as memórias, que são uma peça fundamental não só no fio condutor deste filme mas de todo o puzzle que envolve o que é/quem é o Dekard, algo que pelos vistos não está nada resolvido/concluído, nem ficou com a final cut do Scott.. .

[Samwise]

E aquela ideia de ...

...colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?

"..colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?"
Se eles se podem reproduzir ;) tudo o resto é acessório.
Mas fica a ideia que são cada vez mais perfeitos e completos os replicant, mas que o melhor upgrade é serem obedientes
Mas os Hologramas de companhia, são maravilhosos... quase que têm sentimentos...

Fiquei com ideia de que tinham ou podiam ter realmente sentimentos, tal como os replicants. Ter corpo físico ou não, isso seria acessório. A dedicação da Joy ao K é extrema. Ela contrata uma prostituta para poder proporcionar ao K o prazer de um contacto físico (admirável), tendo para issop de se "sincronizar" com ela. Parte também dela a sugestão de apagar a memória principal e copiar-se para a pen, sacrificando-se pelo K., para que os agentes não pudessem aceder ao seu banco de memórias. Finalmente, e not the least, quando ela está prestes a "morrer", o seu último pensamento vai para o K... um simples e desesperado "I Love You".

Eu acho que o filme está carregadinho de simbolismos. Mas carregadinho. É só começar a pensar nos porquês que eles, os símbolos, começam a saltar cá para fora.

Ora... o papel da arte no filme... temos o Pale Fire, obra literária do Nabokov, metade poema metade prosa, que ainda vou tentar perceber o que faz no filme (não é de certeza uma referência ao calhas). Temos a quote do Treasure Island, acerca do "apetece-me queijo". Temos uma aparição do Sinatra e outra do Elvis (esta, a intrometer-se entre "pai" e "filho"). Temos o Deckard a viver numa espécie de Las Vegas futurista e abandonada, mas com aspecto retro, reconstituição física de um passado já bem distante.

Temos estátuas gigantes espalhadas nas ruas dessa zona, que depois são replicadas pelos hologramas da joy, em tamanho real e tudo. Coincidência? (nah...)

Temos ainda um conjunto de colmeias e um cão que faziam companhia ao Deckard. Replicante???? Começo a ter sérias dúvidas.

Já agora, K é a inicial que o Kafka costuma dar a algumas das suas personagens, em particular à de "O Processo" e à de "O Castelo", personagens essas que estão "presas" numa teia de enganos fabricada pelo sistema e da qual não só não se conseguem libertar, como a cada passo que avançam se enterram mais na sua própria desgraça.

[drakes]

E aquela ideia de ...

...colocar replicants a poderem ter "hologramas de companhia", com consciência/inteligência artificial?

Sem dúvida que o filme tem uma infinidade de pormenores que dão que pensar.

E foi impressão minha, ou a determinada altura o carro dele sobrevoa uma extensão enorme de casa amontoadas e empilhadas tipo favela? Os pobres ficaram na terra, os ricos emigraram para as colónias noutros planetas. O assunto não é mencionado directamente, mas há indícios disso mesmo. Até o apartamento onde ele vive e a vizinhança...

No primeiro ele já fala sobre isso, só fica os pobres ou quem tem doença, e no segundo a Ana mesmo para ficar na Terra ou é doente ou fazem ela acreditar que é

[Samwise]

Bom, podemos começar a deitar as dúvidas cá para fora?

ATENÇÃO SPOILERS ENORMES dentro da TAG. SE NÃO VIRAM AINDA O FILME, NÃO CAIAM NA TENTAÇÃO DE LER. CONSIDER YOURSELVES WARNED!

Para já, está-me assaltar esta dúvida, de entre umas quantas que tenho:

Como foram as memórias "dela" parar dentro "dele"?

Quero dizer: alguém as plantou. E para as ter plantado, teve de as retirar dela. Quando e como sucedeu isto? E porquê?

E era só ele que tinha aquela memória?

Provavelmente os nexus 8 ou pais adotivos de Ana para protege-la, implantaram algumas memórias dela nos nexus 9 outros, para embaralhar, já que os registros médicos diziam que sobreviveu um menino e assim criando uma camuflagem com sacrífico de algum implantado com essa memória real, já que ela reconheceu sua memória quando encontra K/Joe, e me parece além de emocionada também um pouco surpresa - então não foi ela, conscientemente.

Ponto assente, não foi ela conscientemente.

Quanto a terem sido os pais adoptivos, parece-me perigoso implantar memórias de alguém que se pretende esconder a todo o custo, ainda para mais num replicante que está sujeito a verificações constantes do seu estado, e eventualmente sujeito a análises de memória.

Ou seja, para quê espalhar informações sobre algo que se pretende esconder?

Eu acho que aquilo é uma pista. Um link colocado deliberdamente na mente do K que lhe permite começar a seguir o fio à meada. Qualquer coisa do género. Mas não consigo para já perceber como foi feito. Sendo um Blade Runner, imagino que ele tenha saído direitinho da Wallace Coprporation para as fileiras da polícia.

[PanterA]

Não esquecer da rebelião, que além de achar uma das partes clichés do filme pode ter um papel importante nesta história dos "irmãos".

[Rui Santos]

Como muitos sabem, aprecio as críticas do Tiago Belloti. Nunca até agora o tinha visto dar nota máxima!

(sem spoilers)

Está excelente mesmo. Até porque ele explica muito melhor o que quero dizer, e vi que ele na review fala também de algo que eu achei marcante. As 3 atrizes femininas são personagens interessantíssimas.
Recomendado.

[lud81]

Só de ver a expressão dele nesse caption perco a vontade de ver a review... Epá, sinceramente, não sou fan de youtubers. Peço desculpa se ele andar por aqui.