Terraferma (2011) - Emanuele Crialese
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Terraferma (2011) - Emanuele Crialese
Estreia hoje.

IMDB
Sinopse:
Terraferma é uma espécie de alegoria sobre a política italiana em relação à entrada de refugiados no país, cada vez mais restritiva.

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Sinopse:
Terraferma é uma espécie de alegoria sobre a política italiana em relação à entrada de refugiados no país, cada vez mais restritiva.
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Re: Terraferma (2011) - Emanuele Crialese
Vi este belo filme há duas semanas na excelente rúbrica da RTP 2 de cinema às quartas-feiras livre da parvoíce de Hollywood e livre dos géneros comédia e acção. Existe uma grande campanha na RTP 2 a promover esta iniciativa, onde eles mostram excertos das macacadas de acção e comédia americanas e o narrador diz sempre "não temos".
Basicamente este ciclo de cinema opta por filmes inteligentes com qualidade e seriedade, e logo aí os géneros de acção e comédia estão automaticamente excluídos, devido à falta de seriedade e realismo desses dois géneros populares.
Não sou eu que o digo e apenas descrevo o âmbito e natureza desta iniciativa da RTP 2.
O filme "Terra Firme" é um poderoso filme de intervenção, cujo efeito de intervenção está mais alto agora em 2016 do que em 2011, o seu tema são as leis comunitárias da União Europeia, em relação ao salvamento marítimo de refugiados muçulmanos pelos pescadores europeus. A história passa-se na ilha italiana de Linosa e peço a vossa atenção para o mapa de localização no canto superior esquerdo da figura seguinte:

Ilha siciliana de Linosa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Linosa
As leis comunitárias da UE são bonitas no papel e na teoria, afinal a Europa tem segurado a tocha do iluminismo e tem defendido a razão e progresso social e científico, desde o Renascimento, e até hoje é motivo de orgulho, para mim enquanto europeu.
O que este filme mostra é algo que o povo português não sabe e que devia saber em relação aos refugiados islâmicos, até porque nós estamos a acolher uma quota parte. O âmbito do filme é apenas o salvamento marítimo e não tem nada a ver com dilemas posteriores de deportações ou acolhimentos, que também seriam boas questões para outros filmes.
Concretamente o dilema moral, ético e jurídico do povo italiano da ilhota piscatória de Linosa é similar ao que aconteceu em relação ao extermínio dos judeus, durante a 2º Guerra Mundial. Eu lembrei-me logo do filme "O Pianista", quando os cidadão polacos de Varsóvia deixavam os judeus que trabalhavam fora do gueto, roubar pão e outras comidas no mercado, sob pena de serem presos pelo exército alemão por deixarem os judeus levarem comida... lembrei-me também da série norte-americana "Ventos de Guerra", quando um comboio cheio de judeus pára numa estação da Europa de Leste, e aparece um camponês eslavo com uma saca de laranjas às costas a perguntar ao oficial das S.S. se podia oferecer as laranjas aos judeus do comboio.
Neste filme de 2011, os pescadores italianos tentavam ajudar os refugiados e foram penalizados por o fazer, pela polícia marítima, que confiscou um barco de pesca que era ganha-pão de uma família. O velho código do mar de salvar uma vida mudou, e já não podem socorrer náufragos, quando a cor de pele é escura e são muçulmanos.
O medo das coimas é tal, que até dão com o remo na cabeça aos refugiados, cujos cadáveres dão à costa no dia seguinte.
Eu fico muito triste com este paralelismo entre as leis comunitárias actuais sobre o salvamento de refugiados, e os seus respectivos castigos aos povo europeu, que é parecido com as leis nazis do 3ª Reich que castigavam o povo decente que tentava salvar judeus.
Parabéns à RTP 2 por passar um filme de intervenção, para pensar e reflectir.
Basicamente este ciclo de cinema opta por filmes inteligentes com qualidade e seriedade, e logo aí os géneros de acção e comédia estão automaticamente excluídos, devido à falta de seriedade e realismo desses dois géneros populares.
Não sou eu que o digo e apenas descrevo o âmbito e natureza desta iniciativa da RTP 2.
O filme "Terra Firme" é um poderoso filme de intervenção, cujo efeito de intervenção está mais alto agora em 2016 do que em 2011, o seu tema são as leis comunitárias da União Europeia, em relação ao salvamento marítimo de refugiados muçulmanos pelos pescadores europeus. A história passa-se na ilha italiana de Linosa e peço a vossa atenção para o mapa de localização no canto superior esquerdo da figura seguinte:

Ilha siciliana de Linosa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Linosa
As leis comunitárias da UE são bonitas no papel e na teoria, afinal a Europa tem segurado a tocha do iluminismo e tem defendido a razão e progresso social e científico, desde o Renascimento, e até hoje é motivo de orgulho, para mim enquanto europeu.
O que este filme mostra é algo que o povo português não sabe e que devia saber em relação aos refugiados islâmicos, até porque nós estamos a acolher uma quota parte. O âmbito do filme é apenas o salvamento marítimo e não tem nada a ver com dilemas posteriores de deportações ou acolhimentos, que também seriam boas questões para outros filmes.
Concretamente o dilema moral, ético e jurídico do povo italiano da ilhota piscatória de Linosa é similar ao que aconteceu em relação ao extermínio dos judeus, durante a 2º Guerra Mundial. Eu lembrei-me logo do filme "O Pianista", quando os cidadão polacos de Varsóvia deixavam os judeus que trabalhavam fora do gueto, roubar pão e outras comidas no mercado, sob pena de serem presos pelo exército alemão por deixarem os judeus levarem comida... lembrei-me também da série norte-americana "Ventos de Guerra", quando um comboio cheio de judeus pára numa estação da Europa de Leste, e aparece um camponês eslavo com uma saca de laranjas às costas a perguntar ao oficial das S.S. se podia oferecer as laranjas aos judeus do comboio.
Neste filme de 2011, os pescadores italianos tentavam ajudar os refugiados e foram penalizados por o fazer, pela polícia marítima, que confiscou um barco de pesca que era ganha-pão de uma família. O velho código do mar de salvar uma vida mudou, e já não podem socorrer náufragos, quando a cor de pele é escura e são muçulmanos.
O medo das coimas é tal, que até dão com o remo na cabeça aos refugiados, cujos cadáveres dão à costa no dia seguinte.
Eu fico muito triste com este paralelismo entre as leis comunitárias actuais sobre o salvamento de refugiados, e os seus respectivos castigos aos povo europeu, que é parecido com as leis nazis do 3ª Reich que castigavam o povo decente que tentava salvar judeus.
Parabéns à RTP 2 por passar um filme de intervenção, para pensar e reflectir.

Re: Terraferma (2011) - Emanuele Crialese
Vi este filme no mês passado mas não disse nada pois não achei que estivesse muito bem feito, apesar de ter alguns aspetos positivos.
Sobre o que escreveu o Zé Miguel que só agora li, estou de acordo, e fez-me lembrar de um outro filme que vi, francês, sobre um rapaz que queria treinar para atravessar o Canal da Mancha a nado. Não me lembro do nome mas depois hei de ver na minha lista e meto aqui o nome. Nesse filme também mostram a proibição existente de cidadãos comuns ajudarem estrangeiros migrantes.
Em relação ao Terraferma o que me disse mais, ainda foi a história da mulher que a família de pescadores acolheu. Em busca do marido que há anos já chegou à Europa transporta com ela uma menina pequena, nascida de uma violação sofrida durante a viagem. Essa menina é mal aceite pelo filho mais velho que também viaja com ela e quanto ao marido ainda não sabe da existência da menina.
São histórias e situações horríveis as que vivem estas pessoas e quando as pessoas empreendem tais viagens por exemplo a pensar no bem estar dos filhos, por exemplo mulheres sozinhas, então é mesmo heroísmo.
Em relação ao filme propriamente tem 6,8 que me parece uma nota justa para o filme que é.
A razão porque vim agora aqui escrever é por ter acabado de ver o Fuocoammare (Fire at Sea).
http://www.imdb.com/title/tt3652526/?ref_=nv_sr_1
https://www.rottentomatoes.com/m/fire_at_sea_2016
É um documentário filmado em Lampedusa (aparece no mapa do Zé Miguel) que mostra imagens de emigrantes e de salvamentos no mar mas também mostra o dia a dia de alguns habitantes italianos da ilha, principalmente um rapaz de 12 anos que gosta de brincar com uma fisga.
O documentário tem assim alguns tempos meio parados enquanto o rapaz vai brincar com a fisga ou está com a família, entremeados com outras partes que têm a ver com os refugiados e com o auxilio que lhes é prestado.
Sendo um documentário em que o mais importante é a questão dos refugiados, causa-me alguma estranheza a opção de olhar também sobre o dia a dia do rapaz italiano. Seja como for pareceu-me tudo bem filmado e realizado e está bem feito.
Há o contraste entre uma criança que cresce livremente e a sorte de outras pessoas que lutam pela vida ou que morrem.
E é aqui que queria chegar: na parte final tem algumas cenas verdadeiramente horripilantes. Lembrou-me logo das camaras de gás nazis.
E aqui não é filme, é mesmo a sério.
P.s. pergunto-me se será licito fazer arte com realidades assim. Refiro-me à competência técnica e artística do realizador.
Penso que há coisa que deviam ser mais filmadas como reportagem do que inseridas numa obra cinematográfica.
E, não sei como é, mas acho que todas e quaisquer lucros e prémios arrecadados por um documentário assim deviam ir apara ajudar aquelas pessoas
Sobre o que escreveu o Zé Miguel que só agora li, estou de acordo, e fez-me lembrar de um outro filme que vi, francês, sobre um rapaz que queria treinar para atravessar o Canal da Mancha a nado. Não me lembro do nome mas depois hei de ver na minha lista e meto aqui o nome. Nesse filme também mostram a proibição existente de cidadãos comuns ajudarem estrangeiros migrantes.
Em relação ao Terraferma o que me disse mais, ainda foi a história da mulher que a família de pescadores acolheu. Em busca do marido que há anos já chegou à Europa transporta com ela uma menina pequena, nascida de uma violação sofrida durante a viagem. Essa menina é mal aceite pelo filho mais velho que também viaja com ela e quanto ao marido ainda não sabe da existência da menina.
São histórias e situações horríveis as que vivem estas pessoas e quando as pessoas empreendem tais viagens por exemplo a pensar no bem estar dos filhos, por exemplo mulheres sozinhas, então é mesmo heroísmo.
Em relação ao filme propriamente tem 6,8 que me parece uma nota justa para o filme que é.
A razão porque vim agora aqui escrever é por ter acabado de ver o Fuocoammare (Fire at Sea).
http://www.imdb.com/title/tt3652526/?ref_=nv_sr_1
https://www.rottentomatoes.com/m/fire_at_sea_2016
É um documentário filmado em Lampedusa (aparece no mapa do Zé Miguel) que mostra imagens de emigrantes e de salvamentos no mar mas também mostra o dia a dia de alguns habitantes italianos da ilha, principalmente um rapaz de 12 anos que gosta de brincar com uma fisga.
O documentário tem assim alguns tempos meio parados enquanto o rapaz vai brincar com a fisga ou está com a família, entremeados com outras partes que têm a ver com os refugiados e com o auxilio que lhes é prestado.
Sendo um documentário em que o mais importante é a questão dos refugiados, causa-me alguma estranheza a opção de olhar também sobre o dia a dia do rapaz italiano. Seja como for pareceu-me tudo bem filmado e realizado e está bem feito.
Há o contraste entre uma criança que cresce livremente e a sorte de outras pessoas que lutam pela vida ou que morrem.
E é aqui que queria chegar: na parte final tem algumas cenas verdadeiramente horripilantes. Lembrou-me logo das camaras de gás nazis.
E aqui não é filme, é mesmo a sério.
P.s. pergunto-me se será licito fazer arte com realidades assim. Refiro-me à competência técnica e artística do realizador.
Penso que há coisa que deviam ser mais filmadas como reportagem do que inseridas numa obra cinematográfica.
E, não sei como é, mas acho que todas e quaisquer lucros e prémios arrecadados por um documentário assim deviam ir apara ajudar aquelas pessoas
Last edited by nimzabo on August 16th, 2016, 10:12 am, edited 1 time in total.
Re: Terraferma (2011) - Emanuele Crialese
O filme francês que referi acima é o Welcome:
http://www.imdb.com/title/tt1314280/
Mas há outros filmes bons (e melhores) sobre migrantes clandestinos como sejam o 'Journey of Hope', o 'La Jaula de Oro' ou o 'In This World'.
http://www.imdb.com/title/tt1314280/
Mas há outros filmes bons (e melhores) sobre migrantes clandestinos como sejam o 'Journey of Hope', o 'La Jaula de Oro' ou o 'In This World'.