John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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PanterA wrote:Exageradas? Estão no ponto. Este filme prima pelo realismo das lutas (atacar / imobilizar + tiro mortal), assim como o tipo de uso da arma baseado em parte no estilo Center Axis Relock, que não é "estiloso" mas sim realista e objectivo[...]a base está toda lá. Não fazem acrobacias, não saltam de um lado para o outro, não inventam, não arrastam as lutas para aquele show off apenas porque sim. Basicamente é ver, imobilizar e acabar logo com ele para passar ao próximo
Estas tuas (boas) observações fazem-me logo lembrar o Vincente no "Collateral" do Mann.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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Samwise wrote:Não sei - não vi nem um, nem outro. Depois dessa descrição, ainda fiquei com menos vontade de ver. :-)))

O "para muitos o melhor filme de " é algo que a mim me passa completamente ao lado, como já deves ter reparado. :wink:
A mim também não me diz muito, mas é a opinião generalizada em relação a esses filmes. Principalmente com o The Raid. Já agora a sua sequela está qualquer coisa.
Então vamos a factos
- 100% de eficácia nos tiros - acerta sempre em todos os alvos, nos sítios exactos, qualquer que seja a distância, e com qualquer arma que pegue, incluindo pistolas, metralhadoras, carabinas de sniper, e mais uma espécie de caçadeira de três canos que não sei como se chama.
- Rodeado por todos os lados e os atacantes atacam um de cada vez, em vez do mais lógico - todos ao mesmo tempo. A sequência da igreja é um bom exemplo disto: 5 oponentes armados, espalhadas pelo local, e ele consegue disparar mais rápido que todos e matar cada 1 à primeira. Na sequência da discoteca passa-se o mesmo, mas é mais diluída pelos recantos do local. É sempre 1 de cada vez a atacar.
- Acontece-lhe de tudo fisicamente, desde cair de um piso para o outro sobre as costas, a levar com um jipe em cima por atropelamento (aquela pancada partia a coluna a qualquer pessoa), e mais uns quantos "arranhões" espalhados pelo corpo. Mas é como se não tivesse nada. É sempre andar para a frente. Coxeia um bocado, e tal, mas "se estiver aflito, use estes comprimidos - os pontos são capazes de rasgar, mas o seu corpo vai responder ao que pretende"...
- Nas cenas de tiroteio à distância, quando ele se levanta para disparar, nunca ninguém lhe acerta, mas quando os outros se levantam para disparar, levam sempre tiros na cabeça - mais uma vez: à primeira.
- Estas proezas são por vezes conseguidas em sequências de duram vários minutos, com dezenas de oponentes distribuidos no espaço, e com coreografias tipo "ballet" em que ele "dança" enquanto vai despachando os bad-guys uns atrás dos outros. É tão irreal e repetitivo que aborrece. Pelos menos a mim faz-me isso...
Se vamos esmiuçar um filme dessa maneira, então podes-me dar já aí 4 ou 5 exemplos de filmes que tu aches que são grandes filmes de acção que eu também faço esse propósito. Eu sei que o filme tem o seu exagero, que mete o gajo num pedestal quase ao nível de um super-homem.. but hey, its a movie. Fazê-lo politicamente correcto se calhar não tinha nem metade da graça. O Rambo é o Rambo por matar uma carrada de gajos sem quase lhe tocarem, o Steven Seagal é o Steven Seagal por lutar contra uma dúzia de gajos e o seu penteado continuar o melhor de sempre etc etc.

Com isso não estou a procurar evitar os seus erros, porque nem tudo é desculpável e este também os tem daí o meu 7.5/10 e não um 8.5 ou um 9, ainda por cima eu que sou bastante critico nesse tipo de coisas, mas também há um patamar que sei se eles fizerem isto pelo livro de regras a piada e a adrenalina ia-se toda.
Por exemplo, se me contassem que o Yip Man na vida real, aparentemente, deu na boca a 10 cinturões negros ao mesmo tempo muito dificilmente acreditava.



E nesta cena também podemos esmiuçar porque é que o aquele gajo não o atacou quando ele estava a dar murros ao do chão, porque isto, por aquilo.

THX wrote:Estas tuas (boas) observações fazem-me logo lembrar o Vincente no "Collateral" do Mann.
Não podias ter dado melhor exemplo. Sim, aqui no John Wick o tipo de luta é +/- como na do Collateral, apenas com a diferença que o Tom Cruise mata menos gajos. pato-)
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by Samwise »

PanterA wrote:Se vamos esmiuçar um filme dessa maneira, então podes-me dar já aí 4 ou 5 exemplos de filmes que tu aches que são grandes filmes de acção que eu também faço esse propósito. Eu sei que o filme tem o seu exagero, que mete o gajo num pedestal quase ao nível de um super-homem.. but hey, its a movie.
PanterA, eu estou ciente disso, mesmo nos filmes que considero "grandes filmes de acção" - tu é que parecias não estar há uns posts mais atrás, conforme as quotes que transcrevo a seguir. Aquela lista esmiuçada de exageros que coloquei foi uma resposta a isto:
PanterA wrote:Exageradas? Estão no ponto. Este filme prima pelo realismo das lutas (atacar / imobilizar + tiro mortal), assim como o tipo de uso da arma baseado em parte no estilo Center Axis Relock, que não é "estiloso" mas sim realista e objectivo.
PanterA wrote:... a base está toda lá. Não fazem acrobacias, não saltam de um lado para o outro, não inventam, não arrastam as lutas para aquele show off apenas porque sim. Basicamente é ver, imobilizar e acabar logo com ele para passar ao próximo
Tudo aquilo que dizes que não sucede no filme nestas duas quotes, na prática sucede, e de uma forma extremamente exagerada.

Para além disso, é a tal questão da personagem sem espessura, sem desenvolvimento, sem carisma, e com a cara de pau que o Reeves nos habituou desde sempre. Tudo somado dá um grande desastre... mesmo que esteja encenado, filmado e editado de forma profissional, com muito estilo.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by PanterA »

Mas achas que fazerem cenas de acção dentro de um estilo de luta simples e directo, e pelo meio aplicarem um "exagero" para ser mais eye candy ao espectador é assim tão mau? Porque esse mesmo eye candy é que deu a adrenalina toda ao filme. Ele conseguir executar essa técnica de forma quase perfeita, tendo em conta que ele foi descrito como sendo o melhor dentro dos melhores. Claro que o exagero que falas está lá sempre, como está em qualquer filme do género, é quase inevitável. Mas já o exagero de ele conseguir fazer aquilo tudo como um campeão, foi apenas aquela hipérbole em forma de argumento de tornar um filme com um pace normal em algo que cole mais uma pessoa.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by Samwise »

PanterA wrote:Mas achas que fazerem cenas de acção dentro de um estilo de luta simples e directo, e pelo meio aplicarem um "exagero" para ser mais eye candy ao espectador é assim tão mau? Porque esse mesmo eye candy é que deu a adrenalina toda ao filme. Ele conseguir executar essa técnica de forma quase perfeita, tendo em conta que ele foi descrito como sendo o melhor dentro dos melhores.
Tu tens razão na ideia/conceito que estás a defender, e o que importa aqui serão sempre os critérios/exigências/gostos pessoas de cada espectador, muito concretamente quando confrontados com a delimitação de uma fronteira: "a partir de quando é que o exagero passa a ser demasiado para aquilo que nos agrada"?

E é nessa questão que somos todos diferentes.

Para o THX, aparentemente, é tudo igual - tudo o que seja porrada no-brainer é bom, e não deve ser criticado, porque cumpre na essência a função de entretém.

Para mim não funciona dessa maneira. Pegando nos exemplos que foram sendo mencionados, e não saíndo do "género" "cinema de acção/entretenimento sem pretensões de maior", deixo uma pequena escala explicativa:

Man On Fire (8/10) - Tem alguma porrada exagerada no final, mas dentro dos limites daquilo que considero possível na realidade (embora bastante improvável - porque opõe 1 homem contra um cartel inteiro de droga). O que torna este filme acima da média é contudo a construção psicológica da persongem, a confrontação com os seus fantasmas, e a forma como esse mundo choca/se aproxima com o da família que o contratou como guarda costas. Bom desenvolvimento narrativo, ainda que sem grandes surpresas.

The Equalizer (5/10) - Tem um actor carismático, capaz de transmitir credibilidade "só por estar lá" (o maior trunfo do filme), tem algumas referências culturais bem apanhadas, e uma sequência metafórica final que nunca esperei encontrar num filme destes. Fora isso, clássica história do bom da fita (que psicologicamente é imaculado) a castigar todos os maus sem sofrer um arranhão. Muito exagerado nesse aspecto. O desenvolvimento narrativo é fraco - limita-se a ser uma sequência de confrontos em grau crescente de pancadaria. Pelo meio mete a história da prostituta menina, mas é só para arranjar um pretexto para a porrada, já que não há interesse em explorar a psicologia da personagem.

John Wick (2/10) - Em termos de história e de personagens, este é o pior de todos. Personagens sem qualquer espessura (estão lá apenas para serem bons ou maus e para darem seguimento aos confrontos) e uma linnha narrativa sem espectaivas ou sobressaltos - é sequência de porrada/tiroteio atrás de sequência de porrada/tiroteio. A ideia é simple: "Mataram o cão que a minha falecida esposa me ofereceu, e roubaram-me o carro, portanto agora vou-vos matar a todos, e a quantos mais se tentarem meter no caminho. Podem tentar travar-me, mas é inútil, porque sou o melhor em tudo e vou ser bem sucedido." Keanu Reeves no seu melhor e no seu pior - uma interpretação cool a fazer sempre a mesma cara. O grau de realismo é zero - é muito mais exagerado que o The Equalizer, quer em termos de capacidade de tiro/porrada da personagem, quer em termos de resistência física à pancada que leva.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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Hã...e também adoro as coreografias de luta nos filmes do Jason Bourne.
Estava-me a esquecer deste.

Samwise,

Acredita que há gente neste mundo (mesmo) que é melhor uma pessoa não se meter com elas.
Principalmente se destruírem o pouco que ainda lhes dá prazer na sua solitária vida.
Principalmente se não tem muito a perder...

...e principalmente se são gajos peritos em matar, tarefa essa que devem ter feito muita vez nas suas vidas. Profissionais treinados para matar.
Podem ser ex-agentes da CIA ou do FBI (os chamados "ghosts" como o Denzel) ou ex-mercenários pagos a soldo, não é isso que interessa. O que interessa saber aqui é que essas pessoas são muito rápidas, extremamente observadoras, frias e calculistas, inteligentes e proporcionalmente muito perigosas.

É isso que vemos no "John Wick" e no "The Equalizer" - 2 gajos com objectivos bem definidos (podes-lhe chamar também de "missões de vingança individuais" se preferires) e apesar de toda a acção estar extrapolada nunca poderemos duvidar da frieza cerebral-mecânica com que este tipo de gente opera.

Se dizes que o Keanu é uma personagem frígida e insípida no papel que faz, para o filme em questão, então meu amigo posso-te dizer que o realizador não foi nada burro em tê-lo escolhido para um papel que perfeitamente se coaduna com essa falta de expressão e/ou profundidade sentimental.

Nada disso é preciso num filme destes - matam e roubam o que ele mais gosta, e ele apenas tem um objectivo, vingança, justiça, matar. Sente ódio, fúria, desgosto e tristeza, mas foca-se no principal.

Cada vez estou mais empolgado com o raio do filme...e tenho a certeza que a minha nota vai certamente passar de um mero e incompreendido 2/10.
Last edited by THX on February 13th, 2015, 4:01 pm, edited 1 time in total.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by Samwise »

THX wrote: Acredita que há gente neste mundo (mesmo) que é melhor uma pessoa não se meter com elas.
Principalmente se destruírem o pouco que ainda lhes dá prazer na sua solitária vida.
Principalmente se não tem muito a perder...

...e principalmente se são gajos peritos em matar, tarefa essa que devem ter feito muita vez nas suas vidas. Profissionais treinados para matar.
Podem ser ex-agentes da CIA ou do FBI (os chamados "ghosts" como o Denzel) ou ex-mercenários pagos a soldo, não é isso que interessa. O que interessa saber aqui é que essas pessoas são muito rápidas, extremamente observadoras, frias e calculistas, inteligentes e proporcionalmente muito perigosas.

É isso que vemos no "John Wick" e no "The Equalizer" - 2 gajos com objectivos bem definidos (podes-lhe chamar também de "missões de vingança individuais" se preferires) e apesar de toda a acção estar extrapolada nunca poderemos duvidar da frieza cerebral-mecânica com que este tipo de gente opera.
Até aqui, nada a apontar. Perfeitamente de acordo.
Se dizes que o Keanu é uma personagem frígida e insípida no papel que faz, para o filme em questão, então meu amigo posso-te dizer que o realizador não foi nada burro em tê-lo escolhido para um papel que perfeitamente se coaduna com essa falta de expressão e/ou profundidade sentimental.
Duas coisas: o Keanu é uma máquina de fazer dinheiro, quer faça um bom papel, quer não faça (o que sucede na mais das vezes), e logo por aí o realizador (ou o produtor) não foi burro nenhum na escolha. Mas o que eu digo é outra coisa ligeiramente diferente: é que nem para um papel desprovido de qualquer exigência dramática ou algo que se assemelhe à necessidade de representar ele serviu neste filme. Mas como ele tem o rótulo inabalável de "Neo - the One", há todo um séquito de fãs que nunca vão olhar para as debilidades que tem enquanto actor. :mrgreen: Podes à mesma ver o filme e dizer que gostaste da prestação dele. Eu não gostei - espero que me seja permitido manifestar esse meu desagrado. Espero também que repares que faço uma distinção clara em relação ao Denzel Washington, que mesmo quando o papel que tem para fazer não exige nada de especial, está sempre óptimo.
Nada disso é preciso num filme destes - matam e roubam o que ele mais gosta, e ele apenas quer um objectivo, vingança, justiça, matar. Sente ódio, fúria, desgosto e tristeza, mas foca-se no principal.
Também não tenho nada a contestar. Há muitas maneiras de contar uma história e apresentar as suas personagens, e as dos John Wick para mim foram desprezíveis.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by PanterA »

Samwise wrote:Tu tens razão na ideia/conceito que estás a defender, e o que importa aqui serão sempre os critérios/exigências/gostos pessoas de cada espectador, muito concretamente quando confrontados com a delimitação de uma fronteira: "a partir de quando é que o exagero passa a ser demasiado para aquilo que nos agrada"?

E é nessa questão que somos todos diferentes.

Para o THX, aparentemente, é tudo igual - tudo o que seja porrada no-brainer é bom, e não deve ser criticado, porque cumpre na essência a função de entretém.

Para mim não funciona dessa maneira. Pegando nos exemplos que foram sendo mencionados, e não saíndo do "género" "cinema de acção/entretenimento sem pretensões de maior", deixo uma pequena escala explicativa:
Acho que já percebi o teu problema neste género de filmes. Basicamente não aceitas tudo que eles possam fazer, quando passam a linha do exagerado a chegar ao irrealismo puro naquilo que executam. - Faz sentido. Também sempre fui apologista dessa opinião, além de termos consensos diferentes na sua finalidade.

Tal como disse para cima, eu divido esse exagero em 2 partes: o 1º é quando acrescentam cenas inúteis e só servem basicamente para o show off ou meter malabarismos e piruetas porque é bonito, depois temos o 2º tipo de exagero que vai ao encontro de tornar o ser humano um pouco mais hardcore nas suas acções. E é neste aqui que meto o John Wick. Pode ter uma acção hiperbolizada, sim, uma outra situação escusada, aceito, mas não vi ali nada do outro mundo. Basicamente temos um gajo que sabe da poda, com a tal técnica apurada que já referi, e que dá conta do recado.

E sim, eu gosto de um bom filme de acção, especialmente com lutas corpo-a-corpo bem coreografadas, mas também não papo tudo. E eu fui daqueles que cresci essencialmente com Stallone, Schwarzenegger, Chuck Norris, Van Damme, Lundgren e tantos outros. Por isso eu sei bem o que são filmes um bocado para o fracos, mas que serviam o seu propósito na altura. Hoje em dia já peço algo mais e consegui encontrar isso neste John Wick. Como encontrei nos filmes do Tony Jaa, Iko Uwais, Jet Li ou um Donnie Yen. (Não sei se já vistes alguns filmes deles, mas aconselho)

Btw, nem mesmo por acaso. Vi este vídeo pelo FB, e parece-me que vai ao encontro do que se está aqui a discutir por aqui. Ainda não o vi visto que já se faz tarde, mas amanha já o ponho em dia.

lud81
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

Post by lud81 »

Eu gosto de filmes de acção que considero bem feitos, e isso é subjectivo. Aquilo que gosto de ver num filme de acção é pessoal e há pessoas que não gostarão. Dito isso, há vários tipos de acção que gosto, gosto da real (Die Hard, por exemplo), gosto da hipérbole (John Woo, Robert Rodriguez) e muito do que há pelo meio. A cena tem é que ser bem feita e dentro da hipérbole há coisas bem feitas e coisas mal feitas. Não é uma questão de exagero, não sei bem distinguir o que é. Porque há coisas exageradas que gosto de ver e coisas exageradas que não gosto de ver... :-?

Exemplos, adoro a cena de abertura do Desperado. É super exagerada, mas muito cool e com uma grande aura de gozo. Ok, é uma história a ser contada pelo Steve Buscemi, que exagera de propósito, mas o que é engraçado é que quando o Banderas chega a esse mesmo bar mais tarde no filme, o que acontece não é muito diferente do exagero contado pelo Buscemi! :-)))

Já por exemplo os exageros dos filmes Transporter não gosto de ver. Ver o Jason Statham a dar porrada em 5 ou 6 gajos com uma mangueira numas escadas não me dá gozo nenhum e só me faz revirar os olhos. Não é problema do Jason Statham, pois eu gosto dele. Não é problema do exagero, pois eu gosto de exageros. Não sei bem explicar o que é, eu próprio acho que não percebo o que me faz não gostar dessa cena (e das outras desses filmes), simplesmente não gosto, não me faz click. O facto de ele saber exactamente o que fazer sem ter que pensar e nunca tropeçar na mangueira, parece-me estranho. Compare-se com as coreografias do Jackie Chan, por exemplo. Ele também usa peças do cenário para dar porrada, mas a forma como o Jackie Chan desenha a acção mostra o seu personagem a pensar, mesmo que seja apenas meio segundo. Dá para ver o gajo numa espécie de desespero a olhar em volta à procura de coisas para usar, e a forma como as usa é um bocado desajeitada. O personagem sabe o que está a fazer, mas não parece um robot a executar uma coreografia, parece mesmo alguém a improvisar no momento. E uma trademark do Jackie Chan é o seu personagem ter algum desequilíbrio e levar porrada também.

John Woo também é um mestre da hipérbole de acção, mas com uma coreografia que me agrada. Também mostra os personagens a fazer coisas impossíveis, mas cool e não de uma forma robótica. E acompanha com música dramática que dá um tom sério e épico aos exageros a que assistimos.


Quanto ao John Wick, eu vi o filme e até gostei, mas não se consegue elevar acima do "apenas porreiro". Não tenho problemas com as coreografias do filme nem com o Keanu Reeves. E o filme até é muito porreiro na construção de um universo próprio. Mas o meu problema principal com o John Wick é a música usada nas cenas de acção. Acho que a música cria um mau contraste com a boa coreografia. Dentro do universo do filme, a coreografia até está séria e bem filmada, mas aquelas músicas dão cabo da seriedade desse trabalho e transformam o filme numa espécie de jogo de video. Foi isso que me desagradou no John Wick, aí consegui identificar muito bem o que não gostei. E foi o facto da música sabotar o resto do trabalho, em vez de o complementar ou elevar.

Com uma banda sonora diferente, o John Wick seria mais agradável para mim, pois de resto não encontro nada de muito mau no filme. Tem um universo porreiro.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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Grande Guru wrote:Eu n gostei particularmente do filme mesmo q o analise sob diferentes perspectivas. A história n tem nada de original, mas até aqui tudo bem, n é fácil arranjar algo q não tenha sido já feito e refeito N vezes. O KR, na minha opinião, n tem perfil para este tipo de personagem. As cenas de acção estão exageradas, daquele tipo de "eu mato 200 de uma vez e nem com um arranhão fico". Sobra o entretenimento e pouco mais q isso. É mau? não, é bom? tb não.... Vê-se e esquece-se 30 segs depois...
Não foi isso que eu vi. Ele ficou muito mal tratado no fim do filme.
Basta ver a cena dele no duche ANTES de entrar na matança, e depois é vê-lo com cicatrizes na cara, feridas abertas, sacos de gelo nos ombros, e a derramar algum sangue, que por acaso também é vermelho igual ao comum dos mortais.

Também o vi a repousar numa cama com ligaduras e pensos, vi um homem chinês a suturar uma ferida aberta feita pelo rasgo de uma garrafa partida, vi-o a dar um valente tombo de costas no chão duro de uma discoteca, e ele a agonizar com dores físicas no seu tronco provocadas por disparos de balas que atingiram o seu colete-protector.

Eu vi a personagem de John Wick a sofrer ao longo de todo o filme como um ser humano de carne e osso como todos nós. Idem no factor psicológico.

Resumindo - não vi nenhum super-homem ou Wolverine...vi um homem normal a sofrer, a sangrar.

E já o vi por 2 vezes e ainda não me esqueci de nada sobre o filme.
Provavelmente um dia destes vou rever aquelas cenas de acção mais uma vez. Dão-me um gozo tremendo.
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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“Oh…”

Foi apenas com o som destas duas letras que um barão da máfia russa responde ao comunicado de um infeliz (muito infeliz mesmo note-se) episódio relatado por um seu colaborador.
Uma simples e curta expressão verbal que este homem poderoso deixa escapar ao bocal do seu telefone assim que percebe que o seu inconsciente e caprichoso filho acaba de abrir a caixa de “pandora”.

Viggo Tarasov é um mafioso russo que deve grande parte do seu status, respeito e fortuna a um homem – John Wick.

Mas quem é afinal John Wick?
Antes demais convém salientar que John Wick não é mais,…John Wick FOI. Deixou de ser por sua iniciativa e vontade. Há 5 anos atrás Wick foi um assassino de elite, de topo, o melhor dos melhores, alcançando uma posição invejada por muitos outros assassinos profissionais, chegando a fazer amizade com alguns deles. Pode-se chamar de ética do ramo.

Como estava a dizer, John FOI um hitman, uma autêntica máquina de matar, daquelas muito bem oleadas, que consegue fazer o que muitos outros nem sequer tentam, e isto porque enquanto que muitos outros tiveram de aprender a ser bons a matar, Wick já nasceu com esse dom.
Ele é um perito que jamais lamenta quem matou, não sentindo qualquer tipo de remorsos, até porque ele nem sequer sente. John ERA uma pessoa fria, uma rocha concentrada no seu trabalho…na sua arte.

Mas John apaixona-se e começa a sentir novamente. Começa a apreciar o gosto da vida e a cuspir o sabor da morte aos poucos.
É, novamente, um homem revigorado e feliz. Quer recomeçar uma nova vida com alguém, ao lado da mulher que ama incondicionalmente e com quem acaba por casar. John casou com a vida divorciando-se da morte. Simples.

John Wick estava farto de matar, de fazer a chamada limpeza concorrencial para o seu boss.
Jonh ficou cansado, quis inverter o rumo que a sua vida estava a levar.
John quis apenas ser um homem normal.

Mas a vida não deixou, no momento em que a ciumenta morte lhe levou a esposa, a sua adorada mulher.

Isolado, confuso, sem fé ou esperança, John tenta recuperar lentamente desta “facada”, percebendo que afinal o destino que pretendia pintar não passava de um mero esboço a carvão, preto e sujo, como por vezes a vida pode ser.

Aparece um novo alento em forma de uma cadelinha muito nova e amorosa.
Um verdadeiro doce de animal oferecido pela sua mulher, um presente pensado, uma recordação, uma companhia para o seu recém viúvo.
John apenas queria paz, queria viver de outra forma, só isso, mas mais uma vez o destino foi traiçoeiro e mesquinho.

Devido a um teimoso capricho de Iosef Tarasov, filho de Viggo, John é agredido em sua casa, a sua cadelinha é morta, numa altura em que a empatia começava a surgir entre os dois, e a sua outra paixão, um muscle car de 1969 (um belo e raro Mustang de coleção) é roubado.

Agora John tem de pegar numa pá para enterrar a sua cadela…e depois dessa penosa ação entende que é a vez de desenterrar algo.
Alguém tem de pagar!!!

Com um grande martelo na mão este homem azedo desce até à sua cave para desenterrar (literalmente) esse seu passado, que se encontrava bem escondido debaixo de um manto de cimento duro e frio.

Dura e fria também se encontra a alma de John Wick, a tal máquina de matar, rápida, calculista, implacável…
John começa assim, e sem demoras, a resolução de um assunto pessoal, onde a piedade tem o mesmo sabor do rebuçado da morte que começou a chupar novamente. ”The Boogieman” vai a caminho, vai armado…e furioso.

Image

Como filme de ação é um “must see” obrigatório.
Imagem e som do melhor que tenho visto. A história é simples mas tecnicamente muito bem elaborada.
A complexidade e/ou a profundidade do personagem não precisa de ser exageradamente trabalhada aqui. Para quê? - A premissa é simples, o filme é prático.
Não há espaço para lamechices da treta. Farto disso estou eu e já há algum tempo que sinceramente ansiava por um filme assim.

Opá, ele estava bem, veio alguém para lhe estragar a vida, e ele, sendo um gajo extremamente perigoso e sem nada a perder, vai fazer o quê??
Vai tudo à sua frente...mas atenção que no fim do filme o "Rambo" deste filme (como muitos parecem estar a rotulá-lo) também fica de rastos como alguém de carne e osso. Como disse, aqui não há tangas da carochinha. Não tentem demonstrar o contrário porque não vale a pena.

Depois dos filmes do 007, da trilogia do Jason Bourne, de Taken e do mais recente “The Equalizer” parece estar novamente na moda este género de filme. Já foi anunciada a sequela deste John Wick e acredito que farão o mesmo com o Denzel.
Se forem filmes deste calibre e com esta qualidade de entretenimento, venham eles.

7.5/10
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De que se deveu a subida de 0.5 na tua nota? :p
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THX wrote: Vai tudo à sua frente...mas atenção que no fim do filme o "Rambo" deste filme (como muitos parecem estar a rotulá-lo) também fica de rastos como alguém de carne e osso. Como disse, aqui não há tangas da carochinha. Não tentem demonstrar o contrário porque não vale a pena.
“Oh…”

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Os dois casos mais flagrantes - de entre muitos exemplos que podiam ser apontados a dedo, são os embates que sofre de carros. No primeiro caso ele leva literalmente com uma carrinha/jipe em cima, por atropelamento, e desmaia. Quando acorda é como se não lhe tivesse acontecido nada. Uma pacada daquelas matava qualquer pessoa em segundos. Desfazia carne e ossos. No segundo caso ele também leva com uma carrinha em cima, mas desta vez está dentro de um carro... só que... o impacto, mas uma vez brutal, é directamente do lado em que ele está. Nem desmaia, nem sai com mazelas, nem nada... :lol: :lol: :lol:

Como disse, podia ir buscar mais exemplos. Mas para quê? Argumentos concretos não te podem demover das histórias da carochinha/rambo em que acreditas. eh-)
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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PanterA wrote:De que se deveu a subida de 0.5 na tua nota? :p
A vontade de querer ver este filme mais e mais vezes num futuro próximo.
Acho que fui modesto na minha primeira apreciação.
O filme vale MESMO esses 0.5 a mais.
Venha é a sequela, e o mais rápido possível.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: John Wick (2014) - Chad Stahelski, David Leitch

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Samwise, podes apontar os teus 10 dedos se quiseres aos erros que achares no filme. Apenas te digo que a nossa biologia não é toda igual. Tanto pode morrer um gajo a cair de um simples banco em casa como 3 gajos se safarem de um aparatoso acidente de viação. Dá uma vista de olhos por essa net fora (nomeadamente no Youtube) e passados alguns videos acredita que vais ficar de boca aberta com o que vais presenciar.
Caso para dizer que existem mesmo coisas que só vendo mesmo, pois contadas ninguém acredita.
Ver para crer...já que ler o que escrevo não chega.
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