Les Parapluies de Cherbourg (1964) - Jacques Demy

[paupau]

http://www.imdb.com/title/tt0058450/?ref_=nv_sr_1




Este filme conseguiu algo que quase certamente não terá paralelo na história do Cinema: um filme musical inteiramente cantado. Jacques Demy atreveu-se a criar uma homenagens aos musicais de Hollywood e contudo, único na sua abordagem. Aqui não há números musicais, aliás não há basicamente dança de nenhuma espécie e qualquer palavra é dita a cantar. Não há letras propriamente ditas, mas diálogos absolutamente normais totalmente cantados.
Com esta audácia, é eliminado aquele que considero o principal problema de muitos musicais: a transição entre os diálogos e os momentos musicais que por vezes é confrangedor e arruína o suspension of disbeleif. Obviamente, o contrário pode acontecer: temos que aceitar esta realidade alternativa para entrar no filme. Parece-me impossível que tal aconteça, mas ainda assim fica o alerta para quem não costuma apreciar musicais. Como alternativa, uma homenagem mais clássica surgiu a seguir com As Donzelas de Rochefort, outra delícia de Demy onde surgem mesmo, em papeis secundários, Gene Kelly e George Chakiris (West Side Story).
A primeira surpresa surge logo nos créditos iniciais: mise en musique de Michel Legrand, algo que nunca tinha visto. Isto implica que a estrutura invulgar do filme implicou uma atenção especial à "coreografia" da música, esta teve que ser "realizada". Em termos de coreografia normal de movimento, apenas temos os movimentos dos atores e da câmara, é o mais próximo que temos de uma dança no filme. Foi necessário, isso sim, criar uma banda sonora construída à volta dos "diálogos". Isto exigiu algo que o Leone faria uns anos mais tarde no Aconteceu no Oeste: a música estava já completamente gravada e os atores fizeram lip synch (julgo que só um canta com a sua própria voz).
A OST é fenomenal, essencialmente de jazz, pontuada por temas mais calmos ao piano. O tema principal é comovente, terno e tornou-se um standard ainda hoje cantado por muitos artistas, e possui um efeito emocional muito poderoso. Basta relembrar esta também famosa cena do Futurama:

A história trata do amor de um mecânico de automóveis por uma vendedora de uma loja de guarda chuvas. Quando juram amor eterno, o rapaz é chamado para combater na guerra da Argélia, onde ficará por dois anos. Quando voltar, tudo estará diferente nas suas vidas. O tema principal é universal, pois já todos tomamos decisões em que ficamos a pensar quão diferente seria a nossa vida se a escolha fosse outra. É mostrada nostalgia, arrependimentos e como é fácil serem as diferentes circunstâncias da vida que não controlamos que vão determinar o nosso destino.
Não pensem contudo que é um filme melancólico, pois a que efetivamente existe é contrabalançada por momentos de puro êxtase.
A destacar além da música ( desempenhos, realização, uma Catherine Deneuve absolutamente deslumbrante a ser catapultada para o estrelado) temos o design da produção. Filmado na própria cidade de Cherburgo, o filme possui ainda assim um visual muito artificial (no bom sentido), criado pelas cores, roupas e adereços. Muitas casas foram pintadas de cores berrantes e muito saturadas, os vários papeis de parede a combinar com as roupas das personagens, tudo a transmitir as personalidades e os sentimentos destas.
Vi este filme como quem lê uma fábula em criança, tudo é magico e maior do que a vida, somos transportados para um outro mundo, até batermos de frente com um dos mais comoventes e dilacerantes finais.
Adorei este filme, revi-o no dia a seguir sem legendas para ficar imerso naquele mundo sem qualquer distração.
Imprescindível verem.

[JoséMiguel]

Há uns 10 anos atrás emprestaram-me os 4 dvd's da Futurama, e passei-me com essa canção do cãozinho. Liguei os comentários aúdio do DVD, e o criador explicava que os avós dele tocavam essa música no piano e que a versão do Futurama era protagonizada pela Connie Francis. Por sua vez a música era a banda sonora deste filme.

Há 3 anos atrás tropecei no filme completo no You Tube e gostei muito dele. Não era esta versão restaurada.

É incrível que eu nem me lembro do filme ser musical, e o que retive foi uma boa história estilo o neo-realismo italiano, porque eu devia estar atento ao factor histórico do dia-a-dia das pessoas no antigamente.

Agora fiquei com vontade de rever o filme.

[paupau]

Esse aspeto das personagens serem pessoas o mais normal possivel com vidas e situacoes retratadas serem mundanas vira certamente do neo realismo italiano. O filme tem e o condao de elevar esse material a uma verdadeira opera.

E este filme merece ser visto neste ultimo restauro. Fantastico.

[JoséMiguel]

Surgiu agora nas minhas sugestões do You Tube, uma preciosidade em que podemos ver o conceituado compositor Michel Legrand, ao piano, a tocar a banda sonora em Dezembro de 2014. Destaque também para a intensidade emocional da cantora Marie Oppert:



https://en.wikipedia.org/wiki/Michel_Legrand

Michel Legrand (born 24 February 1932) is a French musical composer, arranger, conductor, and pianist. Legrand is a prolific composer, having written over 200 film and television scores in addition to many memorable songs.[1] He is best known for his often haunting film music and scores, such as The Umbrellas of Cherbourg (1964) and The Thomas Crown Affair (1968) featuring the song "The Windmills of Your Mind" for which he won his first Academy Award.[2]