Interstellar (2014) - Christopher Nolan
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Tentei não criar expectativas enormes, mesmo não sendo alguém que vá na onda delas, há sempre algo que por vezes nos mete as hormonas aos saltos nem que seja pela ansiedade do projecto (realizador, actores..) em si. Tal como aconteceu com o Boyhood, e depois a coisa não correu bem.
Em relação a este Interstellar acho que é digno dizer que gostei bastante dele. Foram 3 horas que passaram a brincar, e se não fosse pelo barulho do ar condicionado que vai-se lá saber porquê estava numas alturas brutais, o mexer da pipocas, o som das cadeiras a rangerem, nem me aperceberia que estava no cinema. A imersão foi brutal, desde o inicio ao fim.
Começando pela parte técnica, in Nolan we trust. Sinceramente há pouca coisa que uma pessoa possa criticar. Realização do Nolan como a fotografia do Hoytema, mesmo sendo menos magnífica ou imponente que as do Pfister, não se deixou ficar e criou planos visualmente loucos e de uma contemplação icónica. Juntamente com um trabalho de Efeitos Especiais vs CGI, onde a coerência teve o grande destaque e souberam trabalhar com as 2 vertentes. Era muito fácil recorrer tudo a green screen, que possivelmente as cenas até se tornavam mais fáceis de se executarem, mas foram pelo caminho que dá a verdadeira credibilidade ao filme (pelo menos nas que foram possíveis, obviamente).
Curiosamente, vejo a dizer mundos e fundos da OST, mas sinceramente passou-me completamente ao lado. Sim, até posso estar a dizer um disparate enorme porque, tirando aquela theme mais forte, nunca mais a senti nestes termos. Não sei se foi problema da sala, se era por estar tão imersivo no filme, ou simplesmente estar +/- farto da pouca imaginação do Zimmer nas suas composições, a verdade é que não a senti da maneira que muitos contam.
Indo agora ao verdadeiro core de todo o filme, uma pessoa quase tinha que trazer agarrado a si os Blurays do Cosmos se queria perceber alguma coisa daquilo. Ou pelo menos em certos conceitos ou definições que foram dado ao longo deste.
Não é que interferissem na sua racionalização ou entendimento na mensagem que passaria cá para fora, mas a sensação que dava é que aquilo por vezes era algo para professores de física avançada, engenheiros ou o simplesmente quem gostava destas temáticas. Faz-me ir buscar uma filosofia do Hitchcock que era adepto do "show, dont tell". Não estou a criminalizar por o Nolan ir ao detalhe, ainda bem que o fez, mas também tenho que admitir que metade dos conceitos passaram-me completamente ao lado. A mim, e a maior parte do pessoal que não se interessa por isso ou apenas tem umas noções ao de leve.
Mas mesmo no meio de tantas teorias, conceitos, simbolismos, sentimentos... há sempre algo que nos marca. No meu caso a parte do tempo e das suas timelines (sempre fui adepto disto), mais ainda quando envolve todo o tipo de paradoxos que essas viagem podem ou não criar, foi sem dúvida aquilo que me fez agarrar e apertar os cintos. Ver o conceito de tempo e a sua relatividade perante o seu humano foi como uma facada nas costas. É como fazer uma introspecção da nossa vida perante o nada. Ou seja, acaba por nos fazer reflectir de forma bastante melancólica, e ao mesmo tempo dolorosa, que o nosso tempo é apenas "tears in rain" (Blade Runner quote). Provavelmente o melhor momento do filme.
Agora, mesmo adorando esse momento, faltou ali mais qualquer coisa. Parece que o filme não quis ser algo mais. Abordou temas tão complexos, uma narrativa singular que nos impulsionava para algo megalómano, mas depois acabou por se destruir a ele mesmo, sem deixar aquele rasto existencialista para trás para uma pessoa apanhar as migalhas e sermos nós a construirmos a nossa própria reflexão. Acabou por acontecer, verdade, mas foi só a metade. Nem tudo tem que ser complexo ou intelectual, mas este era o filme claramente para o ser.
Para finalizar, que isto já vai longo, o filme sofreu de um character development um bocado para o desanimador. Tirando o McConaughey que foi claramente o grande arquitecto de toda a trama, tudo o resto até fez impressão de ver. A maneira como as personagens apareceram, umas caídas do céu, outras sem qualquer cabimento, merecia um melhor trabalho de casa.
PS: Aquela frase da (old) Murph um pouco antes do final, foi intencional para ser igual ao LOTR?
"No parent should have to bury their child."
8.5/10
Ah, só para responder à pergunta da praxe: Gravity all the way. :P
Em relação a este Interstellar acho que é digno dizer que gostei bastante dele. Foram 3 horas que passaram a brincar, e se não fosse pelo barulho do ar condicionado que vai-se lá saber porquê estava numas alturas brutais, o mexer da pipocas, o som das cadeiras a rangerem, nem me aperceberia que estava no cinema. A imersão foi brutal, desde o inicio ao fim.
Começando pela parte técnica, in Nolan we trust. Sinceramente há pouca coisa que uma pessoa possa criticar. Realização do Nolan como a fotografia do Hoytema, mesmo sendo menos magnífica ou imponente que as do Pfister, não se deixou ficar e criou planos visualmente loucos e de uma contemplação icónica. Juntamente com um trabalho de Efeitos Especiais vs CGI, onde a coerência teve o grande destaque e souberam trabalhar com as 2 vertentes. Era muito fácil recorrer tudo a green screen, que possivelmente as cenas até se tornavam mais fáceis de se executarem, mas foram pelo caminho que dá a verdadeira credibilidade ao filme (pelo menos nas que foram possíveis, obviamente).
Curiosamente, vejo a dizer mundos e fundos da OST, mas sinceramente passou-me completamente ao lado. Sim, até posso estar a dizer um disparate enorme porque, tirando aquela theme mais forte, nunca mais a senti nestes termos. Não sei se foi problema da sala, se era por estar tão imersivo no filme, ou simplesmente estar +/- farto da pouca imaginação do Zimmer nas suas composições, a verdade é que não a senti da maneira que muitos contam.
Indo agora ao verdadeiro core de todo o filme, uma pessoa quase tinha que trazer agarrado a si os Blurays do Cosmos se queria perceber alguma coisa daquilo. Ou pelo menos em certos conceitos ou definições que foram dado ao longo deste.
Não é que interferissem na sua racionalização ou entendimento na mensagem que passaria cá para fora, mas a sensação que dava é que aquilo por vezes era algo para professores de física avançada, engenheiros ou o simplesmente quem gostava destas temáticas. Faz-me ir buscar uma filosofia do Hitchcock que era adepto do "show, dont tell". Não estou a criminalizar por o Nolan ir ao detalhe, ainda bem que o fez, mas também tenho que admitir que metade dos conceitos passaram-me completamente ao lado. A mim, e a maior parte do pessoal que não se interessa por isso ou apenas tem umas noções ao de leve.
Mas mesmo no meio de tantas teorias, conceitos, simbolismos, sentimentos... há sempre algo que nos marca. No meu caso a parte do tempo e das suas timelines (sempre fui adepto disto), mais ainda quando envolve todo o tipo de paradoxos que essas viagem podem ou não criar, foi sem dúvida aquilo que me fez agarrar e apertar os cintos. Ver o conceito de tempo e a sua relatividade perante o seu humano foi como uma facada nas costas. É como fazer uma introspecção da nossa vida perante o nada. Ou seja, acaba por nos fazer reflectir de forma bastante melancólica, e ao mesmo tempo dolorosa, que o nosso tempo é apenas "tears in rain" (Blade Runner quote). Provavelmente o melhor momento do filme.
Agora, mesmo adorando esse momento, faltou ali mais qualquer coisa. Parece que o filme não quis ser algo mais. Abordou temas tão complexos, uma narrativa singular que nos impulsionava para algo megalómano, mas depois acabou por se destruir a ele mesmo, sem deixar aquele rasto existencialista para trás para uma pessoa apanhar as migalhas e sermos nós a construirmos a nossa própria reflexão. Acabou por acontecer, verdade, mas foi só a metade. Nem tudo tem que ser complexo ou intelectual, mas este era o filme claramente para o ser.
Para finalizar, que isto já vai longo, o filme sofreu de um character development um bocado para o desanimador. Tirando o McConaughey que foi claramente o grande arquitecto de toda a trama, tudo o resto até fez impressão de ver. A maneira como as personagens apareceram, umas caídas do céu, outras sem qualquer cabimento, merecia um melhor trabalho de casa.
PS: Aquela frase da (old) Murph um pouco antes do final, foi intencional para ser igual ao LOTR?
"No parent should have to bury their child."
8.5/10
Ah, só para responder à pergunta da praxe: Gravity all the way. :P
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Acabei de ver o filme agora. Chegue à uns minutos mesmo.
Pontos prévios:
Este era um dos filmes que mais aguardava ver este ano por "n" razões:
Tem uma temática atual e pertinente.
Foi um projeto de sonho de Steven Spielberg durante uns tempos, ele que é um dos meus heróis de Hollywood, por isso a minha expetativa neste filme foi sempre elevada.
Depois, quando o projeto foi para Nolan o meu interessa manteve-se porque ele é bom realizador se bem que não faz um filme decente à muito tempo.
Era um filme que me interessava em particular, porque adoro ficção cientifica.
Quando estreou vi que dividiu a critica e também o público.
Também fui lendo aqui as opiniões de outros users habituais e vi nesses mesmo divisão de opiniões.
Agora a minha opinião.
Bem, saí da sala DEFRAUDADO
.
Em termos de comparação partilho, em parte, das opiniões do Samwise e do THX.
O filme começa bem mas com o tempo vai ficando pior até ao final que é, para mim, completamente INSATISFATÓRIO.
Devo confessar que queria ter adorado o filme mas é IMPOSSIVEL gostei de uma forma apenas satisfatória.
Nolan fundiu, "Os Eleitos", "2001" e "Contato" e o resultado criou um filme que é uma pálida imagem dos três filmes que referi acima.
Pontos positivos:
Efeitos especiais, desempenhos dos atores(só alguns) e o ritmo.
Pontos Negativos: Argumento, Realização e ambição desmedida temática.
A meu ver, este filme é um filme palavroso até o tutano, explicativo até à náusea e isso tolhe-o de movimentos de inicio até ao fim. Um final ridículo, pretensioso e fantasioso até ao limite do razoável.
A meu ver, os irmãos Nolan queriam ser Kubrick e não tiveram estaleca, nem engenho nem inteligência para tal. O filme é quase, quase uma salganhada narrativa. Agora percebi totalmente o afastamento de Spielberg deste filme. Fez muito bem em fazê-lo de fato. Também devia ter-se afastado de "Lincoln" mas essa é outra questão.
Tudo muito exprimido e analisado o que fica é que tudo o que ele mostra já outros fizeram de uma forma assombrosa e definitiva antes. Eu também adoro as explicações cientificas que lhe estão por detrás dele. A questão é a FORMA como eles passaram para o ecrân as tais coisas cientificas.
Nisso são anti- Kubrick. Se Kubrick pouco explicava mas explicada de uma forma acutilante e acertiva, os Nolan fazem exatamente o contrário para pior, isto é, estão perto de 3 horas a EXPLICAR TUDO AO ESPETADOR AO PORMENOR. DÃO PRÁTICAMENTE TUDO AO ESPETADOR. ACHO ISSO INCRIVEL, SURPREENDENTE E MONÓTONO ao limite do exagero. Para mim, este filme tinha que ser estado MAIS TEMPO a carborar e a ser limado muito mais tempo no papel, acho mesmo mais uns anos a ser trabalhado. O filme tem perto de 3 horas e passam correr é verdade, tem ritmo e nesse aspeto é um bom espetáculo mas isso é ofuscado pelas explicações dadas de barato ao espetador.
É um filme excessivo nas explicações, em que há personagens completamente esquemáticos que só estão no filme por estar a fazer numero.
Bem tudo somado, é um 6/10.
Pontos prévios:
Este era um dos filmes que mais aguardava ver este ano por "n" razões:
Tem uma temática atual e pertinente.
Foi um projeto de sonho de Steven Spielberg durante uns tempos, ele que é um dos meus heróis de Hollywood, por isso a minha expetativa neste filme foi sempre elevada.
Depois, quando o projeto foi para Nolan o meu interessa manteve-se porque ele é bom realizador se bem que não faz um filme decente à muito tempo.
Era um filme que me interessava em particular, porque adoro ficção cientifica.
Quando estreou vi que dividiu a critica e também o público.
Também fui lendo aqui as opiniões de outros users habituais e vi nesses mesmo divisão de opiniões.
Agora a minha opinião.
Bem, saí da sala DEFRAUDADO

Em termos de comparação partilho, em parte, das opiniões do Samwise e do THX.
O filme começa bem mas com o tempo vai ficando pior até ao final que é, para mim, completamente INSATISFATÓRIO.
Devo confessar que queria ter adorado o filme mas é IMPOSSIVEL gostei de uma forma apenas satisfatória.
Nolan fundiu, "Os Eleitos", "2001" e "Contato" e o resultado criou um filme que é uma pálida imagem dos três filmes que referi acima.
Pontos positivos:
Efeitos especiais, desempenhos dos atores(só alguns) e o ritmo.
Pontos Negativos: Argumento, Realização e ambição desmedida temática.
A meu ver, este filme é um filme palavroso até o tutano, explicativo até à náusea e isso tolhe-o de movimentos de inicio até ao fim. Um final ridículo, pretensioso e fantasioso até ao limite do razoável.
A meu ver, os irmãos Nolan queriam ser Kubrick e não tiveram estaleca, nem engenho nem inteligência para tal. O filme é quase, quase uma salganhada narrativa. Agora percebi totalmente o afastamento de Spielberg deste filme. Fez muito bem em fazê-lo de fato. Também devia ter-se afastado de "Lincoln" mas essa é outra questão.
Tudo muito exprimido e analisado o que fica é que tudo o que ele mostra já outros fizeram de uma forma assombrosa e definitiva antes. Eu também adoro as explicações cientificas que lhe estão por detrás dele. A questão é a FORMA como eles passaram para o ecrân as tais coisas cientificas.
Nisso são anti- Kubrick. Se Kubrick pouco explicava mas explicada de uma forma acutilante e acertiva, os Nolan fazem exatamente o contrário para pior, isto é, estão perto de 3 horas a EXPLICAR TUDO AO ESPETADOR AO PORMENOR. DÃO PRÁTICAMENTE TUDO AO ESPETADOR. ACHO ISSO INCRIVEL, SURPREENDENTE E MONÓTONO ao limite do exagero. Para mim, este filme tinha que ser estado MAIS TEMPO a carborar e a ser limado muito mais tempo no papel, acho mesmo mais uns anos a ser trabalhado. O filme tem perto de 3 horas e passam correr é verdade, tem ritmo e nesse aspeto é um bom espetáculo mas isso é ofuscado pelas explicações dadas de barato ao espetador.
É um filme excessivo nas explicações, em que há personagens completamente esquemáticos que só estão no filme por estar a fazer numero.
Bem tudo somado, é um 6/10.
"Sempre as horas,as horas,as horas......"
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Posso não ter dado a ideia certa sobre o que achei do filme por conta da maior parcela dos meus comentários ter focado factores que considerei menos conseguidos, mas o facto é que adorei o Interstellar - superou as minhas (altas) expectativas em muitos aspectos. É um 9/10. Ainda o vou ver outra vez ao cinema para assimilar alguns pormenores que me faltam, mas sobretudo para fazer outra vez aquela viagem.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
CC - 174 MoC - 73 BFI - 21
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Alguém me pediu para colocar aqui o texto final que andava a escrever aos poucos sobre o Interstellar no blog, e hoje, finalmente, dou-o por concluído (fora erros e gralhas gramaticais). Havia uma série de pormenores que sabia que tencionava abordar, mas não pretendi estar a enfiar tudo a martelo rapidamente, de uma só vez, daí este período de cerca de 1 mês (desde que iniciei a escrita aqui mesmo neste tópico, mais lá para trás) para "reflexão, digestão e composição".
Nota prévia: o seguinte conjunto de apontamentos contém SPOILERS sobre partes fundamentais da trama narrativa do filme Interstellar.
A abordagem de Christopher Nolan a este Interstellar faz-me de certa forma lembrar a ambição desmedida de Michael Cimino quando idealizou Heaven's Gate, não em termos narrativos ou temáticos (neste ponto são opostos: um é optimista, o outro é fatalista; um celebra o espírito indomável do homem face à adversidade/perspectiva de extinção, e a esperança na continuidade da espécie pelo testemunho emocional geracional - em que o envelhecimento é entendido como um estado altruísta de ensinamento e preparação da nossa descendência; enquanto que o outro filma o desancanto do envelhecimento, o descrédito nas instituições e a irremediável falência social comunitária), mas na vontade dos seus criadores em construírem um monumento cinéfilo perfeito, minucioso, através da inclusão e conjugação de uma enorme quantidade de elementos, vertentes e pontos de vista sobre da vida do homem em sociedade.
Creio que num plano mais generalista, mais lato, tirando para fora os respectivos contextos históricos, os dois filmes tratam essencialmente de grandezas desta natureza, com o bem e o mal, o particular e o geral, a crença e o conhecimento, a emoção e a razão, a memória passada e o conhecimento presente, colocados em planos de equilíbrio precário, intermitentes, e expostos ao longo do arco completo de uma vida humana.
A determinada altura da história, parece-me também que Nolan presta uma homenagem velada a Greed, um opus magnum "maldito" da era silenciosa, realizado em 1924 por Erich Von Stroheim, e que foi prontamente desmembrado pelos produtores de forma a reduzir o seu espaço de duração prevista inicial, de 10 para 4 horas(!). Greed, esse, que também serviu de base comparativa quando Heaven's Gate, na sua versão castrada, foi assassinado nas bilheteiras por um coro de críticas pouco interessado na promoção do benefício da dúvida. Este momento de homenagem surge quando McConaughey e Matt Damon (um muito greedy e insano Damon) se envolvem num combate corpo-a-corpo na paisagem inóspita de um dos possíveis planetas destino para o novo berço da humanidade (com o gelo a substituir a areia quente do deserto). Um grito de protesto por parte de Nolan contra as limitações do meio comercial? Ou um simples artifício de derivação (necessidade?) narrativa?
Em Interstellar a coisa não resulta tão bem quando é necessário fechar o escopo sobre determinado assunto, simplesmente porque a dispersão é tanta que não há tempo para dedicar a todas as particularidades com a atenção que seria necessária, e em 3 horas de filme há que fazer escolhas. Estas escolhas implicam que determinados momentos não possam ser filmados, e que determinadas personagens não possam passar de elementos alegóricos - a mais das vezes verdadeiros na sua essência representativa, mas estereotipados, pouco complexos, e com reduzida margem/tempo para gerar empatia, como são os exemplos de Michael Caine, John Lithgow e Jessica Chastain, esta última a cair de paraquedas dentro de uma personagem moldada à força, a partir da imagem emocionalmente traída de uma criança (Wes Bentley e Casey Affleck não passam de meros figurantes). A alternativa é aquilo que foi tentado (e plenamente alcançado) nos 90 minutos cronometrados de Gravity, que é fechar logo esse escopo a partir do início, focando apenas uma personagem, e fazer do caso uma metáfora para o sofrimento recompensador da humanidade.
Cabe ao renascido Matthew McConaughey encher o ecrã com o seu carisma, não de forma tão determinante como noutros exemplos recentes (animalesco e dominador em Killer Joe, notavelmente contido em Mud, oscarizado e esquelético em Dallas Buyers Club, e transcendente na série True Detective), mas como o apoio necessário para que a câmara ofereça ao espectador um modelo de proximidade e confiança com o qual se possa identificar. Um modelo de determinação, coragem e alguma rebeldia, sem descorar o lado sensível essencial à condição de pai. McConaughey, um actor que se encontra a viver o momento mais alto da sua carreira, dá a sensação de poder carregar facilmente com o filme às costas, mas nem Interstellar necessita de tal esforço, nem a esquematização da personagem no guião permite aproveitar ao máximo o seu potencial (não por via da exuberância, mas por via da subtileza).
A escolha resulta numa aposta ganha, e no elenco todo apenas a pequena Mackenzie Foy se revela à altura de um confronto directo com o actor em frente das câmaras - o tempero certo para cozinhar o estado de melancolia alimentada pela culpa que atinge McConaughey ao longo da viagem. Por seu turno, calhou a Anne Hathaway uma personagem amorfa e apagada, de pouca ou nenhuma relevância narrativa, e que passa ao lado do sentido operático de transcendência pretendido por Nolan. Parece contudo ter havido uma escolha consciente por parte de Nolan em diminuir a sua importância enquanto "ser humano capaz de registar e transmitir emoções", favorecendo em contrapartida McConaughey. Só assim se explica a estranheza/falsidade do momento em que Chastain comunica friamente a morte de Cain aos viajantes, e que soa a uma mera desculpa para abordar o "prato principal": a acusação sobre a mentira da missão e a respectiva ocultação deliberada («Nunca houve um "Plano A"!»). Quem traiu foi Cain, o pai de Hathaway, agora morto, mas quem necessita de mais apoio afectivo é curiosamente McConaughey, por efeito da acusação da filha - ora, antes de tudo, seria Hathaway a sair mais arrasada com a ideia da traição.
Acaba por haver um desequilíbrio vincado entre a trepidante complexidade científica e narrativa de Interstellar (um bazar cheio de eventos, "aventuras" e de projecção de expectativas face ao desconhecido - sempre amparados em promessas sucessivamente concretizadas de oferecer o mais esplendoroso "sense of wonder" visual permitido pelas tecnologias actuais de efeitos especiais) e a simplicidade simplista das emoções das personagens (exacerbadas por Nolan) - verdadeiras na acepção que fazem da vida, certo, mas limitadas, e de fácil e superficial encenação (uma fórmula simples para "sacar" o sentimentalismo aos espectadores). Resulta, mas sabe a batota, deixa um sabor amargo na boca - porque é frustrante sentir debilidades numa estrutura grandiosa como esta, de outro modo tão bem erguida, tão cheia de virtudes e pormenores memoráveis. É talvez por aqui que não chega este filme ao estatuto de obra-prima.
Numa das rápidas panorâmicas que a câmara faz ao quarto de Murphy recheado de livros, é possível captar o título de The Stand, porventura a obra literária mais (re)conhecida de Stephen King, uma que lida precisamente com a queda da humanidade às mãos de um vírus assassino, e com o renascimento de pequenas comunidades humanas a partir do (quase) zero civilizacional. Não é um acaso que este título, como outros, seja visível nas prateleiras do quarto de Murphy - pequenas piscadelas de olho culturais inconsequentes, mas que ficam bem a adornar o embrulho. Só que em The Stand, após a queda da civilização, os sobreviventes da razia agrupam-se em torno de dois líderes espirituais com forte representatividade religiosa (o bem e o mal, deus e o diabo). Em Interstellar não há qualquer tentativa de abordagem do divino - diria até que há um cuidado muito particular em não mencionar o assunto (o eterno debate "religião versus ciência" está ausente deste filme, mas recorde-se que em Contact, há vinte anos atrás, o assunto serve de fonte de argumentação recorrente). O que há é um audacioso desvio do foco (da necessidade de conforto espiritual) para a importância dos laços familiares no que respeita à fé e à formulação de valores. Audacioso, mas não totalmente conseguido. A criança Murphy contraria os ensinamentos de História na escola, favorecendo uma versão mais "romântica" dos factos, narrada pelo pai, e entra em brigas com outras crianças que a marginalizam por conta dessa "diferença". Que uma criança idolatre um pai protector e carinhoso é um dado adquirido, mas Nolan pretende ir mais longe na demonstração dessa ideia, pretende provar esse amor inquestionável através das irreverências cúmplices entre pai e filha em relação à norma exterior instituída, e sobretudo firmar, nessa relação a dois (que parece excluir o outro irmão), o sustentáculo lógico (tanto quanto emocional) de todo o filme. Este elo estrutural verdadeiro, mas, mais uma vez, calculista (doseado com as quantidades certas de lágrimas e consequente exploração de um pathos para o resto da vida), acentua o impacto cénico obtido no momento da separação (primeiro) e da presumida traição da confiança (mais tarde, quando as comunicações bilaterais deixam de ser possíveis entre a terra e a missão, e Cain chega ao fim do seu período de vida).
A dúvida está em perceber se esta esquematização emocional é fruto do pouco tempo disponível para expor a relação sem recurso a "corta-mato", ou se é mais um indício das limitações de Nolan na representação realista dos traços humanos/afectivos/comunitários. Pelos filmes que realizou anteriormente, estou mais inclinado a acreditar na segunda hipótese. Em cima desta dúvida, surge uma outra de natureza mais pragmática e objectiva: num filme que aposta tantos créditos na força das relações entre pais e filhos, e em que se nota a preocupação extrema de fazer com que tudo bata certo, como pode a personagem do filho desaparecer dos últimos 10 minutos de filme, como se se tivessem esquecido dela? Nolan pode ter negligenciado este aspecto, mas poderá um pai alguma vez esquecer um filho amado?
Paralelamente, nada me tira da ideia que Nolan fez uma concesão grave à lógica narrativa, ao enviar McConaughey para o espaço com a "roupa que tinha no corpo" (em vez de acondicionar essa partida no período, pelo menos, de alguns dias, e em vez de explorar devidamente a origem das mensagens proféticas enviadas pelo enigmático "fantasma" - algo que poderia revelar-se problemático para o desenrolar do resto da história). Ao tomar esta opção deliberada, forçou ainda mais a artificialidade na construção emocional do momento da separação. Esse momento que é apenas a chave central de toda a sustentação afectiva de Interstellar.
Não estamos no mesmo nivel niilista de grosseirismo pateta de Prometheus, até porque as virtudes de Interstellar compensam largamente as suas debilidades, mas no final fica a ideia de que o filme resulta mais próximo de um Star-Trek mais "a sério" do que de um 2001 mais "emocional", ainda que Nolan tenha apostado seriamente na credibilidade científica da sua ficção (sacrificando com isso, em parte, a inteligência emocional e o respeito dos espectadores?). As duas descidas a terra, nos planetas desconhecidos, obedecem à lógica da resolução rápida de problemas "mecânicos" e dilemas cerebrais surgidos na hora (típicos de episódios televisivos de Star Trek), e não à exploração do mistério e da ressonância mitológica na colocação do homem face ao desconhecido - algo que vinha sendo de certa forma sugerido ao longo da viagem até aí .
Nolan não faz segredo do enorme conjunto de influências e exemplos a homenagear em Interstellar, aos quais o filme deve pequenas "apropriações" referenciais de saborosa recordação cultural que se manifestam um pouco ao longo de toda a narrativa. Em termos de tecnologia (e de "tecnologia de afectos"), Interstellar estabelece a reconciliação entre Homem e Máquina que se havia perdido desde que HAL, o super-computador inteligente, "enlouquecera" em 2001 - A Space Odyssey. A valsa do Danúbio Azul, que na segunda parte dessa obra fazia as vezes de marcha nupcial, musicando um casamento harmonioso entre a humanidade e os avanços e confortos permitidos pela tecnologia (o homem deslizando graciosamente no espaço, na plenitude da sua confiança depositada nas naves que construiu), dava lugar, na terceira parte, ao silenciamento da voz suplicante de HAL pelo único astronauta sobrevivente da missão, colocando uma pedra nessa aliança por tempo indeterminado. Em 2010, sequela de 2001, esboçou-se uma tentativa de recuperação da credibilidade da máquina, com a "reabilitação" de HAL, mas havia o problema da facilidade em esquecer esse filme, esmagado pela monumentalidade mística do seu predecessor, mesmo apesar de nos encontrarmos na presença de uma muito respeitável obra de FC.
Em Interstellar constrói-se então, de maneira mais firme, a ponte para essa reconciliação - as duas I.A. que por lá se passeiam (e que têm a forma do monólito de 2001), não serão bem aquilo que Isaac Asimov visionou ao estabelecer as 3 leis reguladoras do convívio entre robots e humanos, mas exibem toda a fiabilidade/submissão que se poderia exigir de uma Inteligência Artificial state-of-the-art - entenda-se: com risco zero para a hegemonia do Homem. Mais do que isso, estas máquinas foram "humanizadas", dotadas de caraterísticas que as tornam mais próximas do ser humano no que respeita à mobilidade, interacção física, parametrização, e partilha de um mesmo espaço de convívio. A própria voz destas I.A. soa a humana de uma forma muito natural (uma grata surpresa, depois das tentativas "maquilhadas" em Sunshine e Moon). Fora a "fisionomia paralelipípeda", nada faz pensar que ali estão máquinas, algo que contrasta com o tom pautado, monocórdico e destituído de emoções de HAL. Lembremo-nos que este computador não era um robot, não tinha "físico" - era um ser omnisciente, mas estava aprisionado dentro da estrutura de uma nave espacial; não conhecíamos a sua composição interna, nem a extensão ou o volume das componentes electrónicas que o formavam - a única face que nos era mostrada aparecia sob a forma de pequenos globos oculares que tudo registavam. A determinada altura, os robots de Interstellar são colocadas ao nível do seu criador enquanto organismos vivos a respeitar, seres com os quais se conseguem estabelecer laços afectivos. A perspectiva de sacrificar uma destas máquinas em prol da sobrevivência dos astronautas despoleta, da parte da personagem interpretada por Hathaway, uma reacção instintiva muito clara: revolta e tristeza.
E se 2001 é a obra de mais directa identificação como matriz estrutural/narrativa para essa influência cinéfila em Interstellar, pelo menos até certa altura na história (porque no lanço final, as duas fitas "discordam": uma observa com veneração o espaço e o infinito, o novo lar celestial, e a outra dobra-se sobre si própria, tornando a focar-se no ponto de origem, o Homem) , a lista estende-se depois a outros marcos significativos na história do cinema de Ficção Científica, exemplos de Metropolis, Star Wars, Alien, Blade Runner, Close Encounters of the 3rd Kind; mas também a obras de outros géneros menos prováveis: Reds, The Treasure of the Sierra Madre, Jaws, Zerkalo, e o saudoso e algo esquecido The Right Stuff.
Poderia referir outros tantos casos de provável fonte inspiracional; mencionei Greed mais acima, mas há também os planos no final do filme a mostrarem o interior da estação espacial Cooper, recuperando estrondosamente o nosso desejo de ver Rendezvous with Rama adaptado ao cinema por alguém que entenda o espectáculo implícito na complexidade e geometria cénica do projecto. Mesmo assim, à semelhança daquilo que sucedeu com Inception, o filme anterior de Nolan (os mundos virtuais de Philip K. Dick vêm num instante à memória), Interstellar permanece na sua essência uma obra fresca e original, poética e lírica a espaços, furiosa e ribombante noutros momentos (as composições musicais de Hans Zimmer bordam a insanidade sonora, mas encaixam que nem uma luva na monumentalidade do projecto), uma viagem empolgante recheada de "guloseimas tecnológicas" (o "sal" da Ficção Científica) e conceitos científicos complexos, tornados simples pela mão do cinema, à descoberta de possíveis realidades futuras, e que deve acima de tudo à capacidade criativa e concretizadora de Nolan, por esta altura um autor firmado por direito próprio.
Como último apontamento sobre a tecnologia utilizada para filmar Interstellar, gostaria de referir a escolha consciente pela não utilização de qualquer tecnologia de 3D, e pela opção de captura da luz em película (em alternativa ao formato digital, que praticamente domina o mercado), sendo que uma boa parte das sequências terá sido gravada com fita de 70mm IMAX. O poema de Dylan Thomas, Do Not Go Gentle Into That Good Night, frequentemente repetido ao longo do filme, ganha, atendendo a isto, uma dimensão extra-narrativa, e parece-me que também por aqui Nolan tenta comunicar subliminarmente com os powers that be do meio cinematográfico. Diz ele: Rage, rage against the Dying of the Light! Parece-vos uma mensagem suficientemente clara?
Nota final: num período em que a ESA acaba de conseguir fazer aterrar, pela primeira vez na história da humanidade, uma sonda num cometa, e em que o habitualmente mediático programa espacial Norte-Americano permanece desaparecido das bocas da opinião pública por falta de iniciativas (e de investimento), Interstellar resulta de forma ainda mais incisiva como um recado de alerta à NASA: temos de começar a olhar para novamente para as estrelas.
Nota prévia: o seguinte conjunto de apontamentos contém SPOILERS sobre partes fundamentais da trama narrativa do filme Interstellar.
A abordagem de Christopher Nolan a este Interstellar faz-me de certa forma lembrar a ambição desmedida de Michael Cimino quando idealizou Heaven's Gate, não em termos narrativos ou temáticos (neste ponto são opostos: um é optimista, o outro é fatalista; um celebra o espírito indomável do homem face à adversidade/perspectiva de extinção, e a esperança na continuidade da espécie pelo testemunho emocional geracional - em que o envelhecimento é entendido como um estado altruísta de ensinamento e preparação da nossa descendência; enquanto que o outro filma o desancanto do envelhecimento, o descrédito nas instituições e a irremediável falência social comunitária), mas na vontade dos seus criadores em construírem um monumento cinéfilo perfeito, minucioso, através da inclusão e conjugação de uma enorme quantidade de elementos, vertentes e pontos de vista sobre da vida do homem em sociedade.
Creio que num plano mais generalista, mais lato, tirando para fora os respectivos contextos históricos, os dois filmes tratam essencialmente de grandezas desta natureza, com o bem e o mal, o particular e o geral, a crença e o conhecimento, a emoção e a razão, a memória passada e o conhecimento presente, colocados em planos de equilíbrio precário, intermitentes, e expostos ao longo do arco completo de uma vida humana.
A determinada altura da história, parece-me também que Nolan presta uma homenagem velada a Greed, um opus magnum "maldito" da era silenciosa, realizado em 1924 por Erich Von Stroheim, e que foi prontamente desmembrado pelos produtores de forma a reduzir o seu espaço de duração prevista inicial, de 10 para 4 horas(!). Greed, esse, que também serviu de base comparativa quando Heaven's Gate, na sua versão castrada, foi assassinado nas bilheteiras por um coro de críticas pouco interessado na promoção do benefício da dúvida. Este momento de homenagem surge quando McConaughey e Matt Damon (um muito greedy e insano Damon) se envolvem num combate corpo-a-corpo na paisagem inóspita de um dos possíveis planetas destino para o novo berço da humanidade (com o gelo a substituir a areia quente do deserto). Um grito de protesto por parte de Nolan contra as limitações do meio comercial? Ou um simples artifício de derivação (necessidade?) narrativa?
Em Interstellar a coisa não resulta tão bem quando é necessário fechar o escopo sobre determinado assunto, simplesmente porque a dispersão é tanta que não há tempo para dedicar a todas as particularidades com a atenção que seria necessária, e em 3 horas de filme há que fazer escolhas. Estas escolhas implicam que determinados momentos não possam ser filmados, e que determinadas personagens não possam passar de elementos alegóricos - a mais das vezes verdadeiros na sua essência representativa, mas estereotipados, pouco complexos, e com reduzida margem/tempo para gerar empatia, como são os exemplos de Michael Caine, John Lithgow e Jessica Chastain, esta última a cair de paraquedas dentro de uma personagem moldada à força, a partir da imagem emocionalmente traída de uma criança (Wes Bentley e Casey Affleck não passam de meros figurantes). A alternativa é aquilo que foi tentado (e plenamente alcançado) nos 90 minutos cronometrados de Gravity, que é fechar logo esse escopo a partir do início, focando apenas uma personagem, e fazer do caso uma metáfora para o sofrimento recompensador da humanidade.
Cabe ao renascido Matthew McConaughey encher o ecrã com o seu carisma, não de forma tão determinante como noutros exemplos recentes (animalesco e dominador em Killer Joe, notavelmente contido em Mud, oscarizado e esquelético em Dallas Buyers Club, e transcendente na série True Detective), mas como o apoio necessário para que a câmara ofereça ao espectador um modelo de proximidade e confiança com o qual se possa identificar. Um modelo de determinação, coragem e alguma rebeldia, sem descorar o lado sensível essencial à condição de pai. McConaughey, um actor que se encontra a viver o momento mais alto da sua carreira, dá a sensação de poder carregar facilmente com o filme às costas, mas nem Interstellar necessita de tal esforço, nem a esquematização da personagem no guião permite aproveitar ao máximo o seu potencial (não por via da exuberância, mas por via da subtileza).
A escolha resulta numa aposta ganha, e no elenco todo apenas a pequena Mackenzie Foy se revela à altura de um confronto directo com o actor em frente das câmaras - o tempero certo para cozinhar o estado de melancolia alimentada pela culpa que atinge McConaughey ao longo da viagem. Por seu turno, calhou a Anne Hathaway uma personagem amorfa e apagada, de pouca ou nenhuma relevância narrativa, e que passa ao lado do sentido operático de transcendência pretendido por Nolan. Parece contudo ter havido uma escolha consciente por parte de Nolan em diminuir a sua importância enquanto "ser humano capaz de registar e transmitir emoções", favorecendo em contrapartida McConaughey. Só assim se explica a estranheza/falsidade do momento em que Chastain comunica friamente a morte de Cain aos viajantes, e que soa a uma mera desculpa para abordar o "prato principal": a acusação sobre a mentira da missão e a respectiva ocultação deliberada («Nunca houve um "Plano A"!»). Quem traiu foi Cain, o pai de Hathaway, agora morto, mas quem necessita de mais apoio afectivo é curiosamente McConaughey, por efeito da acusação da filha - ora, antes de tudo, seria Hathaway a sair mais arrasada com a ideia da traição.
Acaba por haver um desequilíbrio vincado entre a trepidante complexidade científica e narrativa de Interstellar (um bazar cheio de eventos, "aventuras" e de projecção de expectativas face ao desconhecido - sempre amparados em promessas sucessivamente concretizadas de oferecer o mais esplendoroso "sense of wonder" visual permitido pelas tecnologias actuais de efeitos especiais) e a simplicidade simplista das emoções das personagens (exacerbadas por Nolan) - verdadeiras na acepção que fazem da vida, certo, mas limitadas, e de fácil e superficial encenação (uma fórmula simples para "sacar" o sentimentalismo aos espectadores). Resulta, mas sabe a batota, deixa um sabor amargo na boca - porque é frustrante sentir debilidades numa estrutura grandiosa como esta, de outro modo tão bem erguida, tão cheia de virtudes e pormenores memoráveis. É talvez por aqui que não chega este filme ao estatuto de obra-prima.
Numa das rápidas panorâmicas que a câmara faz ao quarto de Murphy recheado de livros, é possível captar o título de The Stand, porventura a obra literária mais (re)conhecida de Stephen King, uma que lida precisamente com a queda da humanidade às mãos de um vírus assassino, e com o renascimento de pequenas comunidades humanas a partir do (quase) zero civilizacional. Não é um acaso que este título, como outros, seja visível nas prateleiras do quarto de Murphy - pequenas piscadelas de olho culturais inconsequentes, mas que ficam bem a adornar o embrulho. Só que em The Stand, após a queda da civilização, os sobreviventes da razia agrupam-se em torno de dois líderes espirituais com forte representatividade religiosa (o bem e o mal, deus e o diabo). Em Interstellar não há qualquer tentativa de abordagem do divino - diria até que há um cuidado muito particular em não mencionar o assunto (o eterno debate "religião versus ciência" está ausente deste filme, mas recorde-se que em Contact, há vinte anos atrás, o assunto serve de fonte de argumentação recorrente). O que há é um audacioso desvio do foco (da necessidade de conforto espiritual) para a importância dos laços familiares no que respeita à fé e à formulação de valores. Audacioso, mas não totalmente conseguido. A criança Murphy contraria os ensinamentos de História na escola, favorecendo uma versão mais "romântica" dos factos, narrada pelo pai, e entra em brigas com outras crianças que a marginalizam por conta dessa "diferença". Que uma criança idolatre um pai protector e carinhoso é um dado adquirido, mas Nolan pretende ir mais longe na demonstração dessa ideia, pretende provar esse amor inquestionável através das irreverências cúmplices entre pai e filha em relação à norma exterior instituída, e sobretudo firmar, nessa relação a dois (que parece excluir o outro irmão), o sustentáculo lógico (tanto quanto emocional) de todo o filme. Este elo estrutural verdadeiro, mas, mais uma vez, calculista (doseado com as quantidades certas de lágrimas e consequente exploração de um pathos para o resto da vida), acentua o impacto cénico obtido no momento da separação (primeiro) e da presumida traição da confiança (mais tarde, quando as comunicações bilaterais deixam de ser possíveis entre a terra e a missão, e Cain chega ao fim do seu período de vida).
A dúvida está em perceber se esta esquematização emocional é fruto do pouco tempo disponível para expor a relação sem recurso a "corta-mato", ou se é mais um indício das limitações de Nolan na representação realista dos traços humanos/afectivos/comunitários. Pelos filmes que realizou anteriormente, estou mais inclinado a acreditar na segunda hipótese. Em cima desta dúvida, surge uma outra de natureza mais pragmática e objectiva: num filme que aposta tantos créditos na força das relações entre pais e filhos, e em que se nota a preocupação extrema de fazer com que tudo bata certo, como pode a personagem do filho desaparecer dos últimos 10 minutos de filme, como se se tivessem esquecido dela? Nolan pode ter negligenciado este aspecto, mas poderá um pai alguma vez esquecer um filho amado?
Paralelamente, nada me tira da ideia que Nolan fez uma concesão grave à lógica narrativa, ao enviar McConaughey para o espaço com a "roupa que tinha no corpo" (em vez de acondicionar essa partida no período, pelo menos, de alguns dias, e em vez de explorar devidamente a origem das mensagens proféticas enviadas pelo enigmático "fantasma" - algo que poderia revelar-se problemático para o desenrolar do resto da história). Ao tomar esta opção deliberada, forçou ainda mais a artificialidade na construção emocional do momento da separação. Esse momento que é apenas a chave central de toda a sustentação afectiva de Interstellar.
Não estamos no mesmo nivel niilista de grosseirismo pateta de Prometheus, até porque as virtudes de Interstellar compensam largamente as suas debilidades, mas no final fica a ideia de que o filme resulta mais próximo de um Star-Trek mais "a sério" do que de um 2001 mais "emocional", ainda que Nolan tenha apostado seriamente na credibilidade científica da sua ficção (sacrificando com isso, em parte, a inteligência emocional e o respeito dos espectadores?). As duas descidas a terra, nos planetas desconhecidos, obedecem à lógica da resolução rápida de problemas "mecânicos" e dilemas cerebrais surgidos na hora (típicos de episódios televisivos de Star Trek), e não à exploração do mistério e da ressonância mitológica na colocação do homem face ao desconhecido - algo que vinha sendo de certa forma sugerido ao longo da viagem até aí .
Nolan não faz segredo do enorme conjunto de influências e exemplos a homenagear em Interstellar, aos quais o filme deve pequenas "apropriações" referenciais de saborosa recordação cultural que se manifestam um pouco ao longo de toda a narrativa. Em termos de tecnologia (e de "tecnologia de afectos"), Interstellar estabelece a reconciliação entre Homem e Máquina que se havia perdido desde que HAL, o super-computador inteligente, "enlouquecera" em 2001 - A Space Odyssey. A valsa do Danúbio Azul, que na segunda parte dessa obra fazia as vezes de marcha nupcial, musicando um casamento harmonioso entre a humanidade e os avanços e confortos permitidos pela tecnologia (o homem deslizando graciosamente no espaço, na plenitude da sua confiança depositada nas naves que construiu), dava lugar, na terceira parte, ao silenciamento da voz suplicante de HAL pelo único astronauta sobrevivente da missão, colocando uma pedra nessa aliança por tempo indeterminado. Em 2010, sequela de 2001, esboçou-se uma tentativa de recuperação da credibilidade da máquina, com a "reabilitação" de HAL, mas havia o problema da facilidade em esquecer esse filme, esmagado pela monumentalidade mística do seu predecessor, mesmo apesar de nos encontrarmos na presença de uma muito respeitável obra de FC.
Em Interstellar constrói-se então, de maneira mais firme, a ponte para essa reconciliação - as duas I.A. que por lá se passeiam (e que têm a forma do monólito de 2001), não serão bem aquilo que Isaac Asimov visionou ao estabelecer as 3 leis reguladoras do convívio entre robots e humanos, mas exibem toda a fiabilidade/submissão que se poderia exigir de uma Inteligência Artificial state-of-the-art - entenda-se: com risco zero para a hegemonia do Homem. Mais do que isso, estas máquinas foram "humanizadas", dotadas de caraterísticas que as tornam mais próximas do ser humano no que respeita à mobilidade, interacção física, parametrização, e partilha de um mesmo espaço de convívio. A própria voz destas I.A. soa a humana de uma forma muito natural (uma grata surpresa, depois das tentativas "maquilhadas" em Sunshine e Moon). Fora a "fisionomia paralelipípeda", nada faz pensar que ali estão máquinas, algo que contrasta com o tom pautado, monocórdico e destituído de emoções de HAL. Lembremo-nos que este computador não era um robot, não tinha "físico" - era um ser omnisciente, mas estava aprisionado dentro da estrutura de uma nave espacial; não conhecíamos a sua composição interna, nem a extensão ou o volume das componentes electrónicas que o formavam - a única face que nos era mostrada aparecia sob a forma de pequenos globos oculares que tudo registavam. A determinada altura, os robots de Interstellar são colocadas ao nível do seu criador enquanto organismos vivos a respeitar, seres com os quais se conseguem estabelecer laços afectivos. A perspectiva de sacrificar uma destas máquinas em prol da sobrevivência dos astronautas despoleta, da parte da personagem interpretada por Hathaway, uma reacção instintiva muito clara: revolta e tristeza.
E se 2001 é a obra de mais directa identificação como matriz estrutural/narrativa para essa influência cinéfila em Interstellar, pelo menos até certa altura na história (porque no lanço final, as duas fitas "discordam": uma observa com veneração o espaço e o infinito, o novo lar celestial, e a outra dobra-se sobre si própria, tornando a focar-se no ponto de origem, o Homem) , a lista estende-se depois a outros marcos significativos na história do cinema de Ficção Científica, exemplos de Metropolis, Star Wars, Alien, Blade Runner, Close Encounters of the 3rd Kind; mas também a obras de outros géneros menos prováveis: Reds, The Treasure of the Sierra Madre, Jaws, Zerkalo, e o saudoso e algo esquecido The Right Stuff.
Poderia referir outros tantos casos de provável fonte inspiracional; mencionei Greed mais acima, mas há também os planos no final do filme a mostrarem o interior da estação espacial Cooper, recuperando estrondosamente o nosso desejo de ver Rendezvous with Rama adaptado ao cinema por alguém que entenda o espectáculo implícito na complexidade e geometria cénica do projecto. Mesmo assim, à semelhança daquilo que sucedeu com Inception, o filme anterior de Nolan (os mundos virtuais de Philip K. Dick vêm num instante à memória), Interstellar permanece na sua essência uma obra fresca e original, poética e lírica a espaços, furiosa e ribombante noutros momentos (as composições musicais de Hans Zimmer bordam a insanidade sonora, mas encaixam que nem uma luva na monumentalidade do projecto), uma viagem empolgante recheada de "guloseimas tecnológicas" (o "sal" da Ficção Científica) e conceitos científicos complexos, tornados simples pela mão do cinema, à descoberta de possíveis realidades futuras, e que deve acima de tudo à capacidade criativa e concretizadora de Nolan, por esta altura um autor firmado por direito próprio.
Como último apontamento sobre a tecnologia utilizada para filmar Interstellar, gostaria de referir a escolha consciente pela não utilização de qualquer tecnologia de 3D, e pela opção de captura da luz em película (em alternativa ao formato digital, que praticamente domina o mercado), sendo que uma boa parte das sequências terá sido gravada com fita de 70mm IMAX. O poema de Dylan Thomas, Do Not Go Gentle Into That Good Night, frequentemente repetido ao longo do filme, ganha, atendendo a isto, uma dimensão extra-narrativa, e parece-me que também por aqui Nolan tenta comunicar subliminarmente com os powers that be do meio cinematográfico. Diz ele: Rage, rage against the Dying of the Light! Parece-vos uma mensagem suficientemente clara?
Nota final: num período em que a ESA acaba de conseguir fazer aterrar, pela primeira vez na história da humanidade, uma sonda num cometa, e em que o habitualmente mediático programa espacial Norte-Americano permanece desaparecido das bocas da opinião pública por falta de iniciativas (e de investimento), Interstellar resulta de forma ainda mais incisiva como um recado de alerta à NASA: temos de começar a olhar para novamente para as estrelas.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Uma ideia interessante e com bastante potencial mas bastante (pareceu-me) mal concretizada.
Tal como escreveu o Ludovico:
)
Até lá não me atrevo a dar-lhe uma nota.
P.S.: Obrigado PanterA pela indicação. Vi com atenção mas não era bem o que eu procurava.
Era mais isto: http://www.slate.com/articles/health_an ... ivity.html
ou isto: http://www.worldsciencefestival.com/201 ... erstellar/
Depois de escutar e ler... a minha nota: 7/10
Tal como escreveu o Ludovico:
Gostaria de poder ler a análise de um astrofísico a toda a verborreia do filme só para colmatar a minha própria lacuna de conhecimentos sobre o tema abordado. (Uma espécie de "Interstellar for Dummies"É um filme excessivo nas explicações, em que há personagens completamente esquemáticos que só estão no filme por estar a fazer numero.

Até lá não me atrevo a dar-lhe uma nota.
P.S.: Obrigado PanterA pela indicação. Vi com atenção mas não era bem o que eu procurava.
Era mais isto: http://www.slate.com/articles/health_an ... ivity.html
ou isto: http://www.worldsciencefestival.com/201 ... erstellar/
Depois de escutar e ler... a minha nota: 7/10
Last edited by elfaria on January 31st, 2015, 2:08 pm, edited 1 time in total.
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Pesquisa no youtube por deGrasse Tyson + Interstellar e tens aquilo que procuras.
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
elfaria wrote: Era mais isto: http://www.slate.com/articles/health_an ... ivity.html
ou isto: http://www.worldsciencefestival.com/201 ... erstellar/
Depois de escutar e ler... a minha nota: 7/10
One of the key plot points has to do with Professor Brand’s attempt to solve “the gravity equation.” Brand claims that if only he can solve gravity, he can create a new kind of spacecraft and literally save the world. At some point he says that if he has a few years, he’ll sort it out. When I heard that, I had to stop myself from blurting out, “What, by yourself?!” In science, nobody does that. Physicists don’t work like that. We talk to each other. We read the literature. We compare notes and work in teams and divide up problems amongst ourselves. We don’t sit in a room with a blackboard and maybe one assistant and just think it out. The character who drags Cooper kicking and screaming into the space program to leave Earth and maybe never come back apparently can’t even manage to find a single PhD student to talk through his equations? I know this is the apocalyptic future, but even so, physicists can’t be totally extinct. I think the trope of the “lone genius scientist” is actually kind of damaging for the way science is understood by the public, so seeing this kind of depiction is a sore point for me.
Todo este parágrafo não faz sentido... A mulher não prestou grande atenção ao filme, ou então esqueceu-se. Esqueceu-se do facto de que o Brand já resolveu a equação (sozinho ou não, não interessa, o que interessa é que resolveu) e como ele não concorda com um dos planos (posição moral), simplesmente esconde esse facto e diz que precisa de mais uns anos para resolver. Não anda à procura de pessoas com quem bater bolas ou trocar notas por duas razões muito fortes:
a) não precisa, pois já resolveu o problema mas esconde esse facto
b) não quer, pois não é do interesse dele que mais alguém o resolva
Acho que foi no outro link que ele menciona que o disco de acreção do buraco negro é mostrado parado, e não em movimento. Eu associo isso ao facto do tempo ser muito mais lento no limite do event horizon e a câmara está mais longe. Sempre que se fala do que aconteceria a uma pessoa ou objecto que mergulhasse num buraco negro, são precisas duas versões: a da pessoa e a do observador, pois os efeitos relativísticos são fortes de mais para serem ignorados. Logo, não há uma única versão do que "acontece". Descrições científicas teóricas do fenómeno existem e relatam ambos os lados. Sim, uma pessoa que caia num buraco negro, sofre "espaguetificação" até que as suas moléculas se desfaçam em átomos, mas um observador de longe, mesmo que uns poucos km, não verá isso acontecer por causa da dilatação do tempo. A diferença temporal torna-se tanta, que o observador simplesmente verá a pessoa que caiu ficar parada no tempo, ie, olhando de longe para o event horizon vemos apenas uma espécie de fotografia, vemos o tempo como que parado, pois a diferença de passagem do tempo torna-se enorme e seriam precisas décadas, séculos ou milénios para vermos o processo de espaguetificação a acontecer.
Efeitos relativísticos não fazem parte da realidade do dia a dia de ninguém e por isso torna-se difícil assimilar estes conceitos. A questão de simultaneidade (presente) deixa de existir e, por arrasto, a noção de passado e futuro. Por essa mesma razão também deixa de existir apenas uma versão para o que aconteceu, existem tantas versões como observadores e todas são válidas mesmo que contraditórias ao senso comum.
Eu sei que esses textos foram escritos por cientistas e não defendo que o filme seja 100% científico. Basta ver entrevistas com o Christopher Nolan e ouvimos ele dizer isso. O filme é de FC, usa ciência real como muleta até onde pode, mas depois entra a parte de FC. O Neil DeGrasse Tyson entende e aceita isso perfeitamente, outros membros da comunidade científica, mais obtusos, não. Na minha opinião o problema está neles e não no filme.
Falam da ausência do processo de espaguetificação, mas não mencionam o facto de haver um hipercubo que trata o tempo como uma dimensão física para lá do event horizon do buraco negro? Colocado lá pela humanidade de um futuro longínquo onde a gravidade quântica (ou outra teoria em que ainda nem pensámos) foi resolvida e ultrapassada de tal modo que a humanidade consegue criar wormholes e "domar" buracos negros. FC é isso!
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Vi este filme na semana passada, e talvez escreva uma análise aprofundada mais tarde noutra mensagem, mas eu tenho sérios problemas com a fórmula infanto-juvenil hollywoodesca, a começar logo pela cena de perseguição automóvel a um drone aéreo de espionagem militar, em que o protagonista coloca em perigo a vida dos seus filhos, em nome de ser cowboy John Wayne e de impôr propaganda política-social aos tele-espectadores.
O filme viola as leis da física, não pela relatividade geral, mas pela biologia, na total incapacidade de simular o comportamento lógico de um homo sapiens sapiens. Até parece que o filme foi feito por uma civilização extraterreste que desconhece a natureza do ser humano.
Eu não sou contra o filme, e até admiro o realizador. O filme contribuíu para o avanço da ciência, na medida em que o Kip Thorne faz tenções de fornecer o seu tratamento das equações do buraco negro de Kerr-Newman (o buraco negro tipo IV, com rotação e carga eléctrica, que permite travessia de matéria a velocidades inferiores à da luz) à indústria de videojogos, com o intuito do progamadores criarem um modelo gráfico ("graphic engine") que dê auxílio aos físicos teóricos.
Quem poderia vir aqui ao fórum comentar, era o meu antigo colega Vítor, que está nas luzes da ribalta:

http://observador.pt/2015/01/26/investi ... -de-euros/
Ele estava dois anos à minha frente, mas o gajo conseguiu acabar o curso de Física, enquanto eu desisti logo no 2ª ano e fugi para engenharia electrotécnica, tenho ideia de que ele era repetente de Física Computacional na minha turma, o professor era psicopata e eu sabia que era impossível para mim fazer aquela cadeira, por isso pirei-me do curso.

O problema do filme não reside na execução da Teoria da Relatividade de Einstein.
O problema do filme reside na fórmula cliché infanto-juvenil hollywoodesca, em que as personagens não se comportam de fórmula lógica e credível, e ponto final.

Nota: Leiam a notícia que coloquei sobre o cientista Vítor, porque ele recebeu milhões de euros em bolsa, oferecidos pela União Europeia, para "atacar" as equações da relatividade geral nas proximidades do buraco negro. Ele explica que o dinheiro serviu para comprar um super-computador que demora apenas um mês a fazer um cálculo, que se fosse feito nos nosso PC's demoraria anos.

O filme viola as leis da física, não pela relatividade geral, mas pela biologia, na total incapacidade de simular o comportamento lógico de um homo sapiens sapiens. Até parece que o filme foi feito por uma civilização extraterreste que desconhece a natureza do ser humano.
Eu não sou contra o filme, e até admiro o realizador. O filme contribuíu para o avanço da ciência, na medida em que o Kip Thorne faz tenções de fornecer o seu tratamento das equações do buraco negro de Kerr-Newman (o buraco negro tipo IV, com rotação e carga eléctrica, que permite travessia de matéria a velocidades inferiores à da luz) à indústria de videojogos, com o intuito do progamadores criarem um modelo gráfico ("graphic engine") que dê auxílio aos físicos teóricos.
Quem poderia vir aqui ao fórum comentar, era o meu antigo colega Vítor, que está nas luzes da ribalta:

http://observador.pt/2015/01/26/investi ... -de-euros/
Ele estava dois anos à minha frente, mas o gajo conseguiu acabar o curso de Física, enquanto eu desisti logo no 2ª ano e fugi para engenharia electrotécnica, tenho ideia de que ele era repetente de Física Computacional na minha turma, o professor era psicopata e eu sabia que era impossível para mim fazer aquela cadeira, por isso pirei-me do curso.


O problema do filme não reside na execução da Teoria da Relatividade de Einstein.
O problema do filme reside na fórmula cliché infanto-juvenil hollywoodesca, em que as personagens não se comportam de fórmula lógica e credível, e ponto final.




Nota: Leiam a notícia que coloquei sobre o cientista Vítor, porque ele recebeu milhões de euros em bolsa, oferecidos pela União Europeia, para "atacar" as equações da relatividade geral nas proximidades do buraco negro. Ele explica que o dinheiro serviu para comprar um super-computador que demora apenas um mês a fazer um cálculo, que se fosse feito nos nosso PC's demoraria anos.


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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Enviei agora um email ao Vítor Cardoso, na qualidade de ex-colega fugitivo
. Convidei-o para vir aqui comentar neste tópico.
Espero que ele aceite o meu convite, e caso o faça, deixo-lhe desde já as minhas boas-vindas.

Mas caso ele decida não perder tempo a comentar no fórum, também não faz mal visto que ele está a avançar os conhecimentos científicos da Humanidade, no seu trabalho de primeira linha que é mais importante do que ralhar (ou não) com um filme.



Espero que ele aceite o meu convite, e caso o faça, deixo-lhe desde já as minhas boas-vindas.


Mas caso ele decida não perder tempo a comentar no fórum, também não faz mal visto que ele está a avançar os conhecimentos científicos da Humanidade, no seu trabalho de primeira linha que é mais importante do que ralhar (ou não) com um filme.

Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Mas viste o filme tendo em conta que aquilo seria tudo possivel, ou que seria perto de 100% em lógica? Não precisas de chamar o Vítor Cardoso, o próprio deGrasse Tyson, penso que o deves ter em boa conta, explica todas as teorias que o filme apresenta e a sua probabilidade de ser verosímil nos seus factos.
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Pessoalmente fico a aguardar com muita expectativa o possível comentário de Vítor Cardoso à base científica deste muito elogiado filme.
No IMDB está com uma classificação de 8.8, mais 3 décimas que o 2001!!!! No way
E só a título de observação e complementando o já antes escrito pelo José Miguel gostaria de comparar o comportamento de Keir Dullea como astronauta em 2001 (formal/profissional/metódico) com o do Matthew McConaughey no Interstellar (????) E afinal o que tem o filme de bom para eu lhe ter atribuído 7/10? ? Tem uma visualização muito "satisfatória" duma matéria científica bastante obscura (para mim): Os buracos negros
(muito superior ao filme da Disney The Black Hole de 1979 sobre este tema), uma boa qualidade técnica e é divertido
Deixo aqui o comentário que acho pertinente de um espectador holandês que é mais exigente e observador
Enfim, mais um que Spielberg "abandonou" ...e não terá sido por falta de dinheiro...

No IMDB está com uma classificação de 8.8, mais 3 décimas que o 2001!!!! No way



Deixo aqui o comentário que acho pertinente de um espectador holandês que é mais exigente e observador
Last edited by elfaria on February 6th, 2015, 12:07 pm, edited 1 time in total.
Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
hehehe...
Concordo na generalidade com os comentários do José Miguel sobre a imaturidade e falta de lógica comportamental que pode (e deve
) ser criticada no argumento. Eu sofri bastante com essas questões, já que gostei muito do filme em geral - e isso custou-me a "engolir".
Ainda assim, há coisas divertidas lá para o meio, como a questão da "falsa" ida à Lua por parte dos Americanos, que por esses tempos era ensinada nos manuais escolares como um facto histórico. Um bom pedaço de sátira revisionista, muito ao jeito dos americanos...
Concordo na generalidade com os comentários do José Miguel sobre a imaturidade e falta de lógica comportamental que pode (e deve


Ainda assim, há coisas divertidas lá para o meio, como a questão da "falsa" ida à Lua por parte dos Americanos, que por esses tempos era ensinada nos manuais escolares como um facto histórico. Um bom pedaço de sátira revisionista, muito ao jeito dos americanos...

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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
elfaria wrote:No IMDB está com uma classificação de 8.8, mais 3 décimas que o 2001!!!! No way






Pelo que tenho lido por essa net fora muita gente está a chegar, aos poucos, à conclusão que eu, o elfaria e o Ludovico chegámos após termos visto o fim deste filme.
Continuo a dizer que cada vez mais gosto do "2001"...e agora mais AINDA quando tenho um filme recente para o comparar.
Uma coisa que salta à vista é a review detalhada e excessivamente extensa do Samwise, que tal como o filme, se torna maçadora à vista, de tal forma que até eu que tanto gosto de ler as suas criticas, desisti de ler depois do 1º parágrafo.
Não será difícil de constatar que um "2001" ou um "Gravity" são a verdadeira antítese do "Interstellar", e eu até tenho pena de ser obrigado a dizer isso, pois aguardei pelo filme com muita ansiedade e as expectativas saíram-me todas defraudadas.
Faz-me lembrar a diferença entre aquelas mulheres muito chatas e faladoras, e aquelas que "falam" com os olhos, com apenas algumas expressões...mas que dizem muito.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan
Zé, para variar, gostei muito dos teus comentários, embora não concorde em muitas coisas com o que dizes...
Mas sinto que aprendo ao ler-te, e a muitos colegas aqui do fórum, porque se nós vissemos filmes para apenas passar o tempo (e isso não tem nada de mal), seria um pouco...um desperdício de matéria cinzenta.
E ás vezes o lermos os comentários de alguém com quem não concordamos, leva-nos a pensar nas nossas próprias razões e argumentos para gostarmos de algo, é útil para as "little grey cells", como diz o Hercule Poirot (o que não gosto é do dizer mal por dizer, sem mais nada, por ser do contra, ou "velho do restelo").
Em relação à tua critíca, queria só fazer-te uma pergunta, mas em boa fé, sem nada de polémica...
.
Dá-me só alguns exemplos do que aqui referes, só para eu perceber melhor o teu argumento.
"O filme viola as leis da física, não pela relatividade geral, mas pela biologia, na total incapacidade de simular o comportamento lógico de um homo sapiens sapiens. Até parece que o filme foi feito por uma civilização extraterreste que desconhece a natureza do ser humano."
O Sam refere ali em cima o comportamento do Dave Bowman no 2001 e o do Conagúas, que são mesmo muito diferentes, mas por exemplo, no filme diz-se que ele há anos que não pilotava nenhum aparelho, era agricultor, mas ainda assim, refere-se que ele era muito competente (dos melhores pilotos), e no filme posteriormente ele é muito eficaz em tudo o que tenha a ver com situações de navegação e resolução de problemas, mas imagino que te estejas a referir a outras situações do filme.
Eu confesso que não gosto nada de nos filmes ver pessoas a comportarem-se de maneira artificial, ou completamente ilógica, mas por muito que puxe pela cabeça, não me lembro assim de nenhum exemplo flagrante de incongruências, ou que não possam ser explicadas no contexto do filme...

Mas sinto que aprendo ao ler-te, e a muitos colegas aqui do fórum, porque se nós vissemos filmes para apenas passar o tempo (e isso não tem nada de mal), seria um pouco...um desperdício de matéria cinzenta.
E ás vezes o lermos os comentários de alguém com quem não concordamos, leva-nos a pensar nas nossas próprias razões e argumentos para gostarmos de algo, é útil para as "little grey cells", como diz o Hercule Poirot (o que não gosto é do dizer mal por dizer, sem mais nada, por ser do contra, ou "velho do restelo").
Em relação à tua critíca, queria só fazer-te uma pergunta, mas em boa fé, sem nada de polémica...

Dá-me só alguns exemplos do que aqui referes, só para eu perceber melhor o teu argumento.
"O filme viola as leis da física, não pela relatividade geral, mas pela biologia, na total incapacidade de simular o comportamento lógico de um homo sapiens sapiens. Até parece que o filme foi feito por uma civilização extraterreste que desconhece a natureza do ser humano."
O Sam refere ali em cima o comportamento do Dave Bowman no 2001 e o do Conagúas, que são mesmo muito diferentes, mas por exemplo, no filme diz-se que ele há anos que não pilotava nenhum aparelho, era agricultor, mas ainda assim, refere-se que ele era muito competente (dos melhores pilotos), e no filme posteriormente ele é muito eficaz em tudo o que tenha a ver com situações de navegação e resolução de problemas, mas imagino que te estejas a referir a outras situações do filme.
Eu confesso que não gosto nada de nos filmes ver pessoas a comportarem-se de maneira artificial, ou completamente ilógica, mas por muito que puxe pela cabeça, não me lembro assim de nenhum exemplo flagrante de incongruências, ou que não possam ser explicadas no contexto do filme...
Na baliza Jackson, defesa com Scorsese, Coppola, Spielberg e Eastwood. No meio campo, Ridley Scott, Wes Anderson, Pollack e Carpenter. Avançados, Woody, e solto nas alas Tarkovsky. Suplentes: Bunuel, Fellini, Kurosawa, Visconti, Antonioni, Lynch e Burton.