The Company of Wolves (1984) - Neil Jordan

[JoséMiguel]

A Companhia dos Lobos



Sinopse (Wikipédia)

The Company of Wolves is a 1984 British Gothic fantasy-horror film directed by Neil Jordan, written by Angela Carter and Jordan, and starring Sarah Patterson, Angela Lansbury, Stephen Rea and David Warner.

The film is based on the werewolf story of the same name in Angela Carter's short story collection The Bloody Chamber.[4] Carter herself co-wrote the screenplay with Jordan, based on her own short story and her earlier adaptation of The Company of Wolves for radio.

Excerto HD recortado por mim

Segmento de uma história dentro da história dentro da história (terceiro nível de profundidade), em semelhança ao filme polaco "O Manuscrito de Saragoça", no qual se baseia a estrutura deste filme.



Wikipédia / IMDB

Curiosidades (1ª parte)

Estrutura narrativa do tipo boneca russa

Este filme possui uma estrutura narrativa, por vezes apelidada de "boneca russa", inspirada no filme mundialmente famoso O Manuscrito de Saragoça.

A boneca russa em questão chama-se "Matrioshka", mas a denominação oficial portuguesa é mesmo "boneca russa", eu tinha uma em criança, aqui está uma foto de uma Matrioshka desmantelada:



O famoso filme polaco em questão que, tal como eu, muitos consideram uma obra-prima do cinema já tem um tópico no fórum, e tenho muita pena que seja pouco conhecido no nosso país:

http://forum.dvdmania.org/viewtopic.php?f=11&t=47136

Citação (no wikipédia do filme) de uma entrevista com o realizador Neil Jordan, com referência à estrutura do filme polaco:

In an L.A. Weekly interview published to correspond with the film's US debut, Jordan said: "In a normal film you have a story with different movements that program, develop, go a little bit off the trunk, come back, and end. In this film, the different movements of the plot are actually separate stories. You start with an introduction and then move into different stories that relate to the main theme, all building to the fairy tale that everybody knows. The opening element of the dreamer gave us the freedom to move from story to story."[4] According to Jordan,[citation needed] it was he who suggested adding the frame story to the narrative: that of the dreaming girl Rosaleen in the modern day. This makes clear the story's focus on subconscious fears and desires. It also gives the film what Jordan called "a Chinese box structure."[5] This structure was supposedly[citation needed] based upon the structure of the film The Saragossa Manuscript, which both Jordan and Carter had seen.

Realizador


Neil Jordan no "Tribeca Film Festival" em 2010, com o póster do seu filme "Ondine" por detrás (por acaso tenho esse DVD que comprei em promoção no Jumbo há 2 anos atrás e ainda não tirei o plástico)


Wikipédia: https://en.wikipedia.org/wiki/Neil_Jordan

Este realizador é o mesmo indivíduo que realizou o filme "A entrevista com o vampiro", o qual eu aprecio por várias razões, e tal como este aborda temas sobrenaturais com qualidade, maturidade e seriedade. Pessoalmente só agora me apercebi que possuo dois filmes dele (Byzantium e Ondine) que ainda não vi porque não sabia que eram dele. Agora fiquei com vontade de os ver...

Não conheço os outros trabalhos do Neil Jordan, apresentados na lista do wikipédia anterior.


Observação: A segunda parte das curiosidades, a escrever noutra mensagem à parte, será sobre o livro e as intenções da escritora. Não sei quando terei tempo e inspiração para falar acerca do filme, mas pelo menos deixo já adiantada esta pseudo ficha técnica (é pseudo porque está minada de comentérios pessoais meus, mas paciência...). Quem quiser comentar o filme pode e deve fazê-lo. (podem até propor uma cena para um segundo excerto de vídeo).

[Cabeças]

A Companhia dos Lobos é já um pouco um filme de culto... e a edição nacional é muito difícil de encontrar.

A Entrevista com o Vampiro é para mim um dos melhores filmes de vampiros desde sempre.

Já o Ondine... foi das maiores decepções que apanhei ao ver um filme. Estava a pensar que ia ver algo especial e detestei o filme. Também é verdade que não aprecio nada o Colin Farrell, mas sinceramente nem foi por aí. Achei o filme muito mau, senti-me totalmente defraudado, sobretudo considerando que o realizador era o mesmo dos dois filmes que referi no início.

Tenho o Breakfast on Pluto, mas ainda não o vi.... fujo um bocado de dramas.

[Gaspar Garção]

Um dos meus filmes favoritos, tenho-o gravado a partir do original que uma amiga ofereceu ao pai, e que eu gravei, aí há uns 10 anos.

Que bela prenda!!!

Tenho memorias muito vivídas de o ir ver ao cinema, com 10 anos (quem foi o irresponsável que me deixou entrar, devia ser pior funcionário que eu, que agora, além de escolher filmes para cinema e cineclube, vendo os bilhetes, corto os bilhetes e levo as pessoas à sala, e ainda controlo as idades de quem entra!)... :)

Não vou falar aqui do simbolismo do filme, das metáfora e do erotismo latente, que os meus ilustres colegas sabem-no dizer melhor que eu, mas chamo a atenção para o livro em que o filme se baseou (mais concretamente num dos contos dessa coletânea), da grande, grande escritora que é a Angela Carter.

O meu amigo Cabeças sabe do qué qui eu estou a falar, de certeza que tem, como eu, a maioria da colecção Caminho azul e este magnifíco livro:



Para nota final, só quero dizer ao Cabeças que não concordo com a opinião dele do Ondine (alguma vez teríamos de discordar, não é), mas confesso também que fui influenciado e muito pela beleza da atriz principal (não consegui descolar os olhos dela), e por outra faceta do filme absolutamente enfeitiçante (talvez o melhor acessório de sempre num filme, o magnifíco pulover do Colin Farell!):

[Cabeças]

Caríssimo Gaspar,

Quanto ao Ondine, o que para mim destruíu o filme, pelo menos em relação às expectativas que eu tinha criado, foi...

...aquele final! Para mim a maior parte do encanto do filme voava à volta da possibilidade da rapariga ser mesmo uma sereia! (Por vezes preocupo-me por ainda acreditar nestas coisas, eu sei, mas por outro lado fico muito contente!). E afinal, a tipa era uma toxicodependente... senti-me profundamente enganado. Porque raio não fez o velho Neil um final fantástico com ela a nadar em direcção ao pôr-do-sol?!

Para os que não saibam, o conto A Companhia dos Lobos, está como referiu o Gaspar no livro O Quarto dos Horrores, iniciando-se na página 157.

Um abraço, Gaspar!

[Pedro Pereira de Carvalho]

Concordo com o Cabeças quanto ao Ondine, como aliás referi no tópico respectivo http://forum.dvdmania.org/viewtopic.php?f=11&t=46759

Quanto ao A Companhia dos Lobos, sou o possuidor da rara edição nacional deste DVD e vou ter de a rever qualquer dia. Lembro-me de um filme muito estilizado, onírico, até talvez surreal, fascinante. Tenho de o rever para ver se é apenas o aspecto visual que me marcou ou se há mais alguma coisa.

[Samwise]

Este realizador é o mesmo indivíduo que realizou o filme "A entrevista com o vampiro", o qual eu aprecio por várias razões, e tal como este aborda temas sobrenaturais com qualidade, maturidade e seriedade. Pessoalmente só agora me apercebi que possuo dois filmes dele (Byzantium e Ondine) que ainda não vi porque não sabia que eram dele. Agora fiquei com vontade de os ver...

Não conheço os outros trabalhos do Neil Jordan, apresentados na lista do wikipédia anterior.

Fora da onda do sobrenatural (mas muito dentro da temática "fidelidade aos impulsos naturais e impossíveis de contrariar que nos movem"), recomendo-te o Mona Lisa e o The Crying Game (com o Stephen Rea, o actor que no excerto que colocaste mais acima faz de bicho papão ). Este último é o melhor filme do Jordan, IMHO.

A respeito do The Company of Wolves - provavelmente o filme de lobisomens que me afectou mais quando era miúdo (porque, apesar de ser um "enfabulação", trata do assunto com uma seriedade que o torna muito real e perturbador, ao contrário de outros ilustres contemporâneos, realizados pelo Joe Dante e pelo John Landis) - é engraçado olhar para os posters do filme e ver de imediato a associação à história do Capuchinho Vermelho (onde de resto a escritora se baseou para escrever o conto).

[Evil_Djinn]

JoséMiguel, esse filme que referes "O Manuscrito de Saragoça" do realizador polaco Wojciech Has é do mesmo realizador de um outro filme que se chama "The Hourglass Sanatorium (1973)", já o viste? Se sim, que critica fazes?
Ao que parece o Petla (1958) também é considerado uma das obras primas do realizador.

[Gaspar Garção]

O "Manuscrito..." li-o e reli-o várias vezes, na saudosa Colecção Livro B da Editorial Estampa, nº6, aqueles pretos, é um livro fantástico, do melhor que já li em termos de histórias do sobrenatural e (pré) surrealistas, mas ainda não vi o filme...

Quanto ao Breakfast in Pluto, Cabeças, ofereceram-mo há uns anitos, de prenda de anos (2008, vi agora), edição dupla, e é um filme forte, de qualidade, com uma interpretação fabulosa do Cillian Murphy, e a parte mais "glamourosa" do filme, e o tema da homossexualidade, é tratado com interesse e sem clichés, talvez peque por ser um pouco longo, e com muitas variações de géneros, um bocado indeciso entre o Velvet Goldmine e o Em Nome do Pai (em grosso modo, vocês percebem-me). :)

Olhando ali para as estantes quase a desabar, e á parte dos filmes do Neil Jordan, acho que o Mona Lisa é uma obra-prima, sem dúvida, e queria também destacar dois excelentes filmes que acho que aqui ainda não foram referidos, o Michael Collins e O Fim da Aventura).

O "Entrevista..." é bem melhor do que se poderia ter esperado, ainda para mais com toda a campanha jornalística sobre o filme na altura, muito negativa (e tendo uma ex-namorada que devorava os livros da Anne Rice e me obrigou a ler uns quantos, posso dizer com segurança que é uma excelente adaptação).

The Crying Game é também brilhante, foi uma experiência "interessante" vê-lo em Coimbra no cinema, nos anos 90, com a sala cheia de gente, até se ouviu a respiração das pessoas e o engolir do ar no momento do grande SPOILER), já um dos mais fraquitos dele, à lá Bronson, é o A Estranha em Mim.

Não conheço o The Butcher Boy (97), o The Miracle (91) e o Angel, o primeiro (82), e dois dos filmes menores dele, dos anos 80, até gostaria de os rever, sem ser em VHS (We're no Angels e High Spirits).

Filme que tenho ali e ainda não vi, é o Bom Ladrão, e quanto ao Byzantium, tenho muita curiosidade em vê-lo (assim como ao último de vampiros do Jarmush, o "Only Lovers...").

Antes que o pessoal adormeça, só uma nota para o In Dreams, que levou porrada a torto e a direito, mas que considero um bom filme do género (filme com direitos de autor "estilo" Lorde X :)), e que na altura me surpreendeu, até porque foi na fase drogadistíca do Robert Downey Jr., não me importava de o rever, se não fosse impossível encontrar a edição portuguesa...

[No Angel]

Eu na altura que vi este e gostei, mas nao adorei, achei que pecou pelos cenarios "fake", se e que me entendem...

De resto, adoro o Entrevista com o Vampiro, o filme e o livro! Tambem gostei muito do In Dreams, apesar de ser bastante criticado eu gostei muito na altura, fez-me lembrar um pouco o Lynch. Tambem vi o The Brave One, que e um filme um pouco banal mas que se ve bem.

De resto, acho que nao vi mais nada do realizador, mas ha filmes dele que quero ver, como o Byzantium e o The End of an Affair.

[JoséMiguel]

JoséMiguel, esse filme que referes "O Manuscrito de Saragoça" do realizador polaco Wojciech Has é do mesmo realizador de um outro filme que se chama "The Hourglass Sanatorium (1973)", já o viste? Se sim, que critica fazes?
Ao que parece o Petla (1958) também é considerado uma das obras primas do realizador.

"O Manuscrito de Saragoça" e o "Petla" são filmes com excelente lógica e realismo. Já o "The Hourglass Sanatorium (1973)", que apenas aguentei a primeira meia hora e depois desisti, é um filme assumidamente da corrente intelectual (ou pseudo-intelectual, não sei distinguir) sem lógica, e eu nesta corrente não sei e não posso dar opiniões. Mas posso dizer que a estética e atmosfera são excelentes, e acredito que hajam pessoas no fórum que possam adorar o filme. Fica um excerto, legendado em inglês, do You Tube para terem uma ideia:

Quanto ao filme on-topic, gostei de ver tantos comentários que são sinal de que faltava uma ficha técnica no fórum, e por isso fiz bem em criá-la.

Eu já tenho uma ideia do que irei escrever na minha crítica/comentário, só falta o tempo e inspiração.

Eu não li o livro (ou livros) em que o filme se baseia, e gostaria de perguntar a quem os leu, que diga o que achou da transição das histórias para filme. A adaptação é fiel? É mais detalhada e mais extensa que as histórias ou é mais resumida e omite partes importantes? O filme capta o espírito e atmosfera dos livros? Etc.

[Samwise]

A Companhia dos Lobos

Este filme possui uma estrutura narrativa, por vezes apelidada de "boneca russa", inspirada no filme mundialmente famoso O Manuscrito de Saragoça.

A boneca russa em questão chama-se "Matrioshka", mas a denominação oficial portuguesa é mesmo "boneca russa", eu tinha uma em criança, aqui está uma foto de uma Matrioshka desmantelada:



Citação (no wikipédia do filme) de uma entrevista com o realizador Neil Jordan, com referência à estrutura do filme polaco:

In an L.A. Weekly interview published to correspond with the film's US debut, Jordan said: "In a normal film you have a story with different movements that program, develop, go a little bit off the trunk, come back, and end. In this film, the different movements of the plot are actually separate stories. You start with an introduction and then move into different stories that relate to the main theme, all building to the fairy tale that everybody knows. The opening element of the dreamer gave us the freedom to move from story to story."[4] According to Jordan,[citation needed] it was he who suggested adding the frame story to the narrative: that of the dreaming girl Rosaleen in the modern day. This makes clear the story's focus on subconscious fears and desires. It also gives the film what Jordan called "a Chinese box structure."[5] This structure was supposedly[citation needed] based upon the structure of the film The Saragossa Manuscript, which both Jordan and Carter had seen.

A propósito desta questão, penso que será relevante mencionar a obra Körkarlen - The Phantom Carriage, realizada em 1921 por Victor Sjöström. Não sei se não terá sido mesmo a primeira vez em que esta estrutura da "história-dentro-de-outra-história-dentro-de-outra-história" foi utilizada no cinema - neste caso com três níveis narrativos/temporais distintos, cada um deles inserido/decorrente do anterior, algo que não é nada comum, mesmo tendo em conta este tipo de mecanismo. Ainda não vi O Manuscrito de Saragoça (tenho alguma curiosidade), mas já vi o filme do Sjöström por duas vezes (há uma versão restaurada recentemente que é um mimo para os sentidos) e é um dos grandes clássicos dos primeiros anos do Cinema. Para além da estrutura narrativa em "matrioshka", tem uma sequência que seria repetida pelo Kubrick, muitos anos depois, em The Shining - a do assalto com o machado ao compartimento em que a mulher se encontra trancada ("Heeeere's Johnny!").

[paupau]

Nao tao elaborado como a estrutura do Carro Fantasma, o Caligari tambem tem um flashback dentro de uma flashback ( quando aparecem as palavras Deves tornar-te o Dr. Caligari.
O machado acho que vem do Griffith acho wue no Broken Blossoms.

[José]

Derreto-me com o labor artístico aqui envolvido, com o envolvente risco de transgressão que é aplicado à clássica história do Capuchinho Vermelho. Uma nota singular, e bem estimulante, para o facto de tudo ser atravessado por uma leve, subtil erotização. É um virar do avesso bem amanhado, não haja dúvida.

O charme que ressalta dos efeitos práticos também tem o seu quê de importância no todo, embora actualmente datadíssimos, como é natural. Acentuam com alguma elegância o lado onírico que está impregnado na narrativa. Não é que me tenha desvelado pelo filme, mas consigo ver nele bastantes qualidades. Em particular, considero que é uma muito interessante fábula feminista - a firmeza, estoicidade e verticalidade do feminino perante as mais ardilosas formas de predação masculina.

Quanto a Neil Jordan, "tremo" entre os esplendorosos The Crying Game - Jogo de Lágrimas (1992) e The End of the Affair - O Fim da Aventura (1999). Mas acho que, ainda assim, nutro uma inclinaçãozita muito especial para o filme de 1999.