Godzilla (2014) - Gareth Edwards

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Samwise
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by Samwise »

Uma apreciação rápida: não é um mau filme, entretém q.b., e vê-se sem fastio, mas é completamente desprovido de emoções e empatia humana - e apesar de passar bastante tempo junto dos humanos, a sensação que passa é que nem se está particularmente a esforçar para acondicionar essa vertente; serem aqueles personagens ou outros quaisquer era igual ao litro. Como filme de monstros/bestas gigantes, também não se safa lá muito bem: é competente do ponto de vista técnico, mas os combates e os próprios bichos não entusiasmam por aí além, para além da tal questão dos "anti-climaxes" que não é resolvida com o "confronto final". O suspense é nulo, zero, nada, e uma comparação com um filme como o Jaws também me parece descabida, sob qualquer ponto de vista. Comparando com outros filmes recentes, achei o Pacific Rim muito mais envolvente e espectacular, não gostei particularmente do Cloverfield (que me parece um "save" de um jogo de computador passado para cinema, com o modo "piloto automático safa-se de todas" ligado) sendo que este Godzilla está para mim uns furitos acima, e ainda o que achei mais interessante de todos foi o The Host, de Joon-ho Bong, com uma mistura algo isólita entre humor e desgraça.
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waltsouza
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by waltsouza »

Argaroth01 wrote:O que é que faria um filme de "Godzilla", algo melhor ? Uma outra história podia ter sido feita, é certo mas quão investidas conseguem estar as pessoas no drama humano quando o chamariz é o personagem que dá nome ao filme ?
Eu não vi ainda todos os blockbusters que envolvam monstros ou desastres naturais mas já vi alguns e não me lembro de nenhum ter tido uma história paralela de drama humano que se possa considerar minimamente interessante ou diferente. Normalmente os humanos apenas estão lá para servirem de "carne para canhão", são descartáveis, as estrelas principais não são eles e não são por eles que uma pessoa vai ao cinema ver um filme destes. Se eu quiser ver um bom drama, uma boa história que envolva pessoas e as suas relações, não vou ver o Godzilla certamente.

É como dizes, se por um lado alguns de nós temos sempre a esperança de ver em filmes deste género algo que o torne mais rico em termos dramáticos, porque sabemos antecipadamente que o factor humano estará presente no filme, por outro lado sabemos como funciona a "máquina" de Hollywood e também sabemos quais os ingredientes que ela costuma misturar quando nos presenteia com estes blockbusters. The Day After Tomorrow, 2012, Pacific Rim, EarthQuake (1974), The Towering Inferno (1974), Dante's Peak (1997) são tudo filmes onde os efeitos especiais acabam por ser a atração principal. Porque no fundo é por eles que esses filmes são feitos, não é para contar dramas humanos. A palavra de ordem é «destruição», não é «coração».
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by THX »

A palavra de ordem é «destruição», não é «coração».
Nem mais waltsouza, essa é que é a verdade, e até adianto mais ao dizer que se num filme desses o pessoal começar a ver mais coração do que destruição vão sair da sala com aquela sensação de "publicidade enganosa" tal como aconteceu com "Monsters" em que muita gente se sentiu defraudada (perguntem ao Cabeças).
The Day After Tomorrow, 2012, Pacific Rim, EarthQuake (1974), The Towering Inferno (1974), Dante's Peak (1997) são tudo filmes onde os efeitos especiais acabam por ser a atração principal. Porque no fundo é por eles que esses filmes são feitos, não é para contar dramas humanos.
Concordo mas acho que tanto "O Pico de Dante" como "A Torre do Inferno" tem muito mais equilíbrio emocional entre o tal coração/destruição do que os outros blockbusters que apontas. Aliás, para completar aí a colecção Emmerich falta o "Godzilla" e o "Independence Day" mais dois em que os FX foram a atracção principal. Mas um desses raros filmes em que vi um pouco de destruição e coração (e até um pouco de alma) foi nos "King Kong", principalmente na versão do Peter Jackson.
Mas estou convicto que isso vai acabar um dia. Ao querer-se transformar-se tudo em Blockbusters vai dar raia um dia destes, não há duvida quanto a isso.
Acho que estás muito enganado Ludovico, pois se fores agora a um cinema garanto-te que não tens só blockbusters para veres, tens alternativas, incluindo comédias, filmes europeus e até alguns dramas humanos interessantes, muitos deles com vários prémios ganhos em festivais como Sundance e Cannes.

Estamos no séc.XXI, e a pergunta que te faço é :
Lembraste do teu primeiro telemóvel? E quantos mais tiveste desde então? Como é agora o teu actual?

O cinema começou a preto e branco, mudo e sem um argumento.
Veio o som, e depois a cor, e os guiões para os actores...e como vemos no filme "Hugo" de Scorsese a origem do primeiros efeitos especiais remontam a uma altura muito primordial do cinema e desde essa altura nunca mais os largaram. Depois em 1977 surgiu um filme que alterou a história do cinema no campo dos FX - "Star Wars", e nunca mais o cinema foi o mesmo.

Lembraste dos filmes em que o Tom Cruise entrava?
Ora vê lá agora o tipo de filmes em que ele entra actualmente.
E o Robert Redford que entrou no "The Winter Soldier", e a Glen Close que vai entrar nos "Guardians of Galaxy" ou o Jeremy Irons que vai ser o próximo mordomo no "Superman vs Batman"??
A verdade é que ou os actores acompanham a maré ou então são deixados na praia porque que manda é o publico e enquanto existir gente que consuma filmes desse tipo podes crer que dificilmente os blockbusters com muitos FX nunca irão dar raia, jamais irão acabar.
[...] e ainda o que achei mais interessante de todos foi o The Host, de Joon-ho Bong, com uma mistura algo isólita entre humor e desgraça.
Também gostei bastante desse filme, do qual tem uma cena que nunca mais me irei esquecer.
Samwise, acho que tanto tu como o Ludovico também iriam gostar do "Monsters" pela abordagem um pouco diferente que Gareth Edwards faz a um filme de sci-fi. É um filme que tem muito mais coração do que destruíção disso podem ter a certeza.
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by elfaria »

THX wrote:Depois em 1977 surgiu um filme que alterou a história do cinema no campo dos FX - "Star Wars", e nunca mais o cinema foi o mesmo.
Um pequena correção se me permites: Em 1969 surgiu um filme que alterou a história do cinema no campo dos FX - "2001 A Space Odissey" :mrgreen: e nunca mais o cinema foi o mesmo!
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by THX »

Sim, tens razão, mas o impacto dos FX de "Star Wars" foi muito maior do que os de "2001" e era esse ponto que eu queria realçar, o de um blockbuster com uns FX fora de série mas mais virado para a vertente de entretenimento. O filme "2001" fica muito longe disso, está num patamar completamente diferente.
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by TrinityA »

Vi o filme a semana passada, não foi no Imax mas foi com o Dolby Atmos do novo Saldanha Residence, que também proporciona uma experiência sonora jeitosa...

Quanto ao filme, eu ia completamente predisposto a ver um entretenimento espectacular, ainda por cima certamente bem realizado, pois alguma razão haveria para terem escolhido o autor do Monsters, de que tanto gostei. Isto não é o mesmo que dizer que ia com expectativas elevadas... na verdade não tinha ideia nenhuma da forma como esse entretenimento me ia ser apresentado, apenas estava receptivo ao mesmo.

Mas... passado alguns dias, a sensação com que saí do cinema confirmou-se... este Godzilla é um filme fraquito, que desaparece lentamente da memória sem deixar grandes marcas, ou pelo menos a sensação de esmagamento que esperaria ao contemplar forças daquela dimensão.
Os filmes de monstros gigantescos têm um problema intrínseco: por um lado não há nada mais espectacular do que uma criatura a destruir o Empire State, por outro essa escala é tão diferente da escala humana que se corre o risco de o espectador ficar sempre com o assombro de um boi a olhar para um palácio e nunca sentir aquele arrepio na espinha e suspense de quando algo está muito próximo de nós - convenhamos que é difícil a donzela virar-se de repente e dar de caras com o monstro de 150 metros de altura que se esgueirou sorrateiramente nas sombras por detrás dela... Alguns estúdios "resolvem" isso forçando a perspectiva, e por isso temos pérolas como tubarões que são grandes o suficiente para afundarem barcos, mas que de repente já são pequenos o suficiente para nadar pelos corredores dos mesmos e emboscar os protagonistas em meio metro de água. Outra solução é mudar de escala, e daí os parasitas de Cloverfield ou os bebés Godzilla no filme do Emmerich, que têm a função de causar aquele susto próximo que os gigantes não conseguiam causar.
Neste novo Godzilla, tenta-se por vezes criar essa proximidade directamente com os monstros gigantes (na sequência da ponte, na suposta vingança da mãe-Mothra sobre quem lhe queimou os filhos, nos monstros que surgem "de repente" na batalha final e que não se ouviram por causa do barulho das luzes) mas não resulta: a diferença de escala é demasiado grande, o distanciamento é muito grande. É tudo distante, não há empatia, frisson. Estamos perante um arranha-céus a cair, um barco que afunda, um iceberg que se desprende. Tudo gigante, catastrófico, mas que nos deixa estarrecidos. Se de repente uma aranha passasse no braço do herói saltaríamos mais depressa da cadeira do que quando a Mothra aparece entre 2 arranha-céus em colapso e ataca o Godzilla pelas costas.
Sendo assim, teria sido de facto importante que a história, os personagens, ou pelo menos as interpretações criassem essa empatia, mas longe disso. Não é preciso querer ver dramas humanos quando o tema são monstros gigantes para se exigir um pouco mais de espessura. Um exemplo: alguém aqueceu ou arrefeceu com aquele menino que se perde dos pais naquela espécie de metro suspenso? O metro é atacado, é salvo pelo herói, acaba a cena é devolvido aos pais, nada. Pff, acabou, next! Parece que há horror em guardar alguma coisa com a qual o espectador se possa ligar. Só assim se justifica, aliás, que se livrem tão cedo dos pais do protagonista, que tão bem começam o filme. Se a Juliette Binoche teria que morrer para justificar a obsessão do pai, porque é que ele foi logo atrás tão cedo no filme? A única excepção a esta regra do "mata-o, ou abandona-o antes que o espectador goste dele" é infelizmente o herói, sobre quem recai o peso de levar consigo a tal empatia do espectador até ao fim, e que, devido a um conjunto de factores como um casting errado, uns diálogos não propriamente memoráveis, e um personagem algo indefinido, se mostra completa e desastradamente incapaz de o fazer.
Nem tudo é mau, claro, a ausência de momentos confrangedores (gags desnecessários, explicações científicas fajutas, patriotismo americano, gritaria e overacting, etc) para o espectador já é de louvar. E nem sequer há aquelas incongruências gritantes que de repente nos lembram que já não devíamos ter idade para estar ali na sala a ver aquelas coisas, como aconteceu em tantos filmes... nesse campo só me lembro de ter achado bastante descabido aquela criatura gigantesca, que da última vez que foi vista levou com uma bomba atómica nossa para o tentarem matar, de repente, só porque respondeu ao sonar da Mothra, já ser considerada um amigo e irem todos, em comboio naval, juntinhos à caça... e aqui o problema é mesmo o "juntinhos"... um ser daquela dimensão não mereceria o respeito e a desconfiança de ser acompanhado a algumas milhas de distância? O facto de estar a descrever este pormenor tem uma intenção - existem algumas premissas fantasiosas que se aceitam (a existência dos monstros) mas toda a acção decorre num espaço, numa época, e num conjunto de regras realistas, tecnologica e organicamente contemporâneas. Não é um mundo simplificado e quase caricaturado a bem da aventura (como no Indiana Jones, por exemplo, em ninguém quer saber se é impossível um vagão de carvão saltar e aterrar exactamente nos trilhos 50 metros adiante)... Estes filmes são o espelho de uma época cínica, tecnológica e descrente, e são não rompem essas regras têm que jogar por elas. Por isso, quando há incongruências como essa, elas saltam à vista, mesmo que aceitemos premissas muito mais implausíveis de antemão.
Por isso também é tão estranho Godzilla ter quase o mesmo aspecto de quando era interpretado por um homem dentro de um fato: gordo, pesado, quase erecto, em vez das ágeis criaturas gigantes que nos habituámos a ver mais recentemente (Cloverfield, Godzilla 1998, The Host, Jurassic Park III, etc).
Por último, bom isto até poderia ter sido tudo assim como descrevi, e na verdade não haver problema, porque o importante, mesmo importante no filme, que são as batalhas entre estes monstros, este holocausto de semi-deuses, nos foram servida do princípio ao fim numa orgia apocalíptica.
Mas não foi isto que aconteceu, pois não?...
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by THX »

E nem sequer há aquelas incongruências gritantes que de repente nos lembram que já não devíamos ter idade para estar ali na sala a ver aquelas coisas, como aconteceu em tantos filmes...
Tens razão, sabes porquê??
Porque é sempre mais forte do que nós. Gostamos de cinema. P(r)onto!!

Estive à pouco a rever o tópico do filme "2012" e é engraçado como alguns dos comentários expostos lá parecem ter sido transcritos para aqui.
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by Samwise »

TrinityA wrote: Os filmes de monstros gigantescos têm um problema intrínseco: por um lado não há nada mais espectacular do que uma criatura a destruir o Empire State, por outro essa escala é tão diferente da escala humana que se corre o risco de o espectador ficar sempre com o assombro de um boi a olhar para um palácio e nunca sentir aquele arrepio na espinha e suspense de quando algo está muito próximo de nós - convenhamos que é difícil a donzela virar-se de repente e dar de caras com o monstro de 150 metros de altura que se esgueirou sorrateiramente nas sombras por detrás dela... Alguns estúdios "resolvem" isso forçando a perspectiva, e por isso temos pérolas como tubarões que são grandes o suficiente para afundarem barcos, mas que de repente já são pequenos o suficiente para nadar pelos corredores dos mesmos e emboscar os protagonistas em meio metro de água. Outra solução é mudar de escala, e daí os parasitas de Cloverfield ou os bebés Godzilla no filme do Emmerich, que têm a função de causar aquele susto próximo que os gigantes não conseguiam causar.
Neste novo Godzilla, tenta-se por vezes criar essa proximidade directamente com os monstros gigantes (na sequência da ponte, na suposta vingança da mãe-Mothra sobre quem lhe queimou os filhos, nos monstros que surgem "de repente" na batalha final e que não se ouviram por causa do barulho das luzes) mas não resulta: a diferença de escala é demasiado grande, o distanciamento é muito grande. É tudo distante, não há empatia, frisson. Estamos perante um arranha-céus a cair, um barco que afunda, um iceberg que se desprende. Tudo gigante, catastrófico, mas que nos deixa estarrecidos. Se de repente uma aranha passasse no braço do herói saltaríamos mais depressa da cadeira do que quando a Mothra aparece entre 2 arranha-céus em colapso e ataca o Godzilla pelas costas.
Tens toda a razão. É por isso que o Jurassic Park e o King Kong, por exemplo, resultam bem melhor nestes aspectos, uma vez que a diferença de escala para os humanos não é tão significativa, e a interação entre "sensibilidades" (criatura<->humano) possa ser expressa de forma mais impressiva — ou ser expressa de alguma forma...

Penso que há outra questão também a considerar: nada neste Godzilla é novidade para o espectador. Toda a porrada entre monstros, toda a proporção e escala de tamanho dos bichos, toda a destruição maciça citadina — não causa espanto ou entusiasmo porque já foi filmado e servido anteriormente de mil maneiras diferentes, e na maioria dos casos com mais garra e intensidade.
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by Argaroth01 »

TrinityA wrote:Neste novo Godzilla, tenta-se por vezes criar essa proximidade directamente com os monstros gigantes (na sequência da ponte, na suposta vingança da mãe-Mothra sobre quem lhe queimou os filhos, nos monstros que surgem "de repente" na batalha final e que não se ouviram por causa do barulho das luzes) mas não resulta: a diferença de escala é demasiado grande, o distanciamento é muito grande. É tudo distante, não há empatia, frisson. Estamos perante um arranha-céus a cair, um barco que afunda, um iceberg que se desprende. Tudo gigante, catastrófico, mas que nos deixa estarrecidos. Se de repente uma aranha passasse no braço do herói saltaríamos mais depressa da cadeira do que quando a Mothra aparece entre 2 arranha-céus em colapso e ataca o Godzilla pelas costas.
Vou dar numa de picuinhas :mrgreen: Os mauzões não são Mothras, são MUTOs (que também me serve a mim, que os chamei de MOTUs antes): Massive Unidentified Terrestrial Organisms. Se calhar a Mothra fica para uma sequela (ou o Ghidorah, quem sabe).
TrinityA wrote:Se a Juliette Binoche teria que morrer para justificar a obsessão do pai, porque é que ele foi logo atrás tão cedo no filme? A única excepção a esta regra do "mata-o, ou abandona-o antes que o espectador goste dele" é infelizmente o herói, sobre quem recai o peso de levar consigo a tal empatia do espectador até ao fim, e que, devido a um conjunto de factores como um casting errado, uns diálogos não propriamente memoráveis, e um personagem algo indefinido, se mostra completa e desastradamente incapaz de o fazer.
Eu preferia mesmo que o Bryan Cranston fosse o protagonista. O Aaron Taylor-Johnson parece ter a emotividade de um calhau. Quanto muito, podiam ter alterado o foco para a personagem da Elizabeth Olsen, que é muito boa actriz. Mas o realizador realmente tentou fazer do personagem do Bryan Cranston o protagonista:

http://www.empireonline.com/features/go ... th-edwards
“The decision was to kill Joe Brody, the character in the movie [not Bryan Cranston]. Then we were all, ‘Who’s going to play him?’ And you look around, and Bryan’s a phenomenal actor and we thought we’d be blessed if he did it. I’ll be honest with you: we tried versions in the screenplay where he survived. And in every one we did that with, there was nothing else that character could do without being silly. If he sticks with Ford, it becomes Indiana Jones And The Last Crusade, and the tone of the movie becomes fun, but not the tone we were trying to do. And if he sticks with the military guys, he’s like a fifth wheel. His job was done in the storyline there. And retrospectively, when you get to see the movie, I understand [why people are upset].

“We did try to make it work. It was “all ideas welcome”, even with Bryan. But as a story beat, he becomes redundant once he’s handed over the baton to the rest of the cast.

“I also wanted people to think, “Oh! They’re willing to do that… Wow, okay. Maybe this isn’t going to end how I think it will.” It throws people a bit. I like that in movies – when you stop thinking they’re going to everything you could predict.”
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by Cabeças »

Resumindo... faço o mea culpa relativamente ao meu post anterior... :-( E já percebo finalmente a biolência do post do Rui Sousa! Apoiado, Rui!

O filme é fraquinho e ficou bem abaixo das minhas expectativas. Relações humanas sem substância que consiga passar para o ecrã, incoerências que põem em causa a credibilidade do argumento

-a mulher do cientista estava ferida com o colega, liga-lhe a dizer que não ia conseguir, mal se podia mexer, e segundos depois estava ao pé da porta depois de fazer um sprint por um corredor de centenas de metros?! - Deve ter passado pela máquina regeneradora do Prometheus! :-)))

- Na cena no mar, quando o Godzilla se levanta, parecia que ia a andar em cima da água, ou então a água era mesmo baixa... mas nesse caso os barcos enormes não caberiam ali.

- A cena do Godzilla armado em golfinho ao pé dos barcos a acompanhá-lo é lacrimal.

- Os próprios Motus parecem muito maiores do que o Godzilla em certas cenas... e se o gordo lançava fogo pela boca, porque razão não usou isso quando estava a ser sovado inglóriamente? Estaria a usar a técnica do Rocky Balboa, defender tudo com a cara e levá-los à derrota pelo cansaço de lhe baterem?

O Gareth depois esta banhada que fez, merece apenas uma coisa. O OLHAR!

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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by waltsouza »

Eu gostei, quer dizer, em termos de história não é nada de especial, ou por outra, é mais ou menos aquilo que eu estaria à espera mas como blockbuster cumpriu os seus propósitos.

Ao contrário da maioria que escreveu neste tópico, e também por ter lido sobre o assunto antes de ver o filme, eu não ia à procura de ver uma história hiper dramática de fazer chorar as pedras da calçada e com as emoções ao rubro.

Entrei na sala IMAX com a expetativa de ver um filme de monstros. E foi isso que obtive. Os efeitos visuais e sonoros estão muito bons. São o melhor do filme, como eu já esperava. Filme esse que demora realmente um bocadinho a carburar mas a certa altura, quando aparece o primeiro monstro e começa a destruição, segue-se um espetáculo de efeitos especiais praticamente até ao fim. Também eu senti o poder do rugido de Godzilla, e que poder, vale (quase) o preço do bilhete.

Não existe comparação com a "aberração" do filme de 1998 de Roland Emmerich. Por todos os defeitos (e mais alguns) que se possa apontar a este filme não se pode negar que Gareth Edwards tentou (e conseguiu em boa parte) distanciar-se da visão quase anti-climax de certas cenas do filme de Emmerich. Este Godzilla é mesmo mau (ou mau para quem o cheteia) e é muito mais assustador que o Godzilla (ou será uma ela?) do filme de 1998.

Resumindo, Edwards pelo menos teve o dom de não inventar muito e de trazer um Godzilla bem mais fiel ás suas origens. Fez um trabalho de "tarefeiro" minimamente compentente. Um filme super previsível mas eficaz q.b.

Acho que tudo depende das expetativas que cada tem antes de ver o filme e as minhas estavam com o "chip" correto. :biggrin:

Não sei é se me apanham novamente na sequela. Já tive a minha dose de "Godzilla" e por agora sinto-me saciado. :-)))

Dou-lhe um 7 (0-10).
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by THX »

Ao contrário da maioria que escreveu neste tópico, e também por ter lido sobre o assunto antes de ver o filme, eu não ia à procura de ver uma história hiper dramática de fazer chorar as pedras da calçada e com as emoções ao rubro.
Vais ver que daqui a uns tempos vem para aí um blockbuster de tão má qualidade que de repente este "Godzilla" vai ser pintado com outras cores...tal como o "Pacific Rim" que agora parece um arco-íris.
Adiante.

Cabeças, desculpa lá mas explica-me o seguinte :

Não gostaste do "Monsters" porque te sentiste defraudado com o filme, e agora não gostaste deste "Godzilla" porque ele parece muito gordo...
Eu até acho que ele teve uma abordagem o mais sensata possível do bicharoco, visto ele ter tido a ingrata tarefa de se estrear logo com um blockbuster de um remake, de outros remakes. Acho que ele conseguiu agradar um pouco a gregos e a troianos.

Está visto que não vais com a cara do Gareth Edwards por te andar a gorar as expectativas, mas se calhar a culpa não é dele, mas nossa, por sermos homens feitos com 4 décadas em cima dos ombros e andarmos para aqui armados a ver filmes que foram feitos para os nossos filhos.
Não vai ser a tua critica, nem a minha, nem a de ninguém, que vão ditar o futuro da carreira deste realizador, mas sim o "box-office" que resultou do seu filme, que tal como o waltsouza já explicou é o que mais importa aos estúdios quando lançam projectos destes.

Já viste quantos de nós, só aqui neste cantinho, fomos a um cinema ver este "Godzilla"??
O valor do bilhete já está naquele lado, e isso é que importa.

E pessoalmente acho que Gareth Edwards ainda vai dar muitas cartas no futuro.
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by Paulo Sousa Dias »

Cabeças wrote: - Na cena no mar, quando o Godzilla se levanta, parecia que ia a andar em cima da água, ou então a água era mesmo baixa... mas nesse caso os barcos enormes não caberiam ali.
Cabeças, já na série de animação cometiam esse erro em todos os episódios, e mesmo em puto isso já me fazia confusão...

O meu filho até queria ir ver isto, mas convenci-o a deixar para depois. Vamos antes ao X-Men DOFP... :)
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by rui sousa »

Cabeças wrote:Resumindo... faço o mea culpa relativamente ao meu post anterior... :-( E já percebo finalmente a biolência do post do Rui Sousa! Apoiado, Rui!
A minha biolência tem sempre um motivo. :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:
THX wrote:
Ao contrário da maioria que escreveu neste tópico, e também por ter lido sobre o assunto antes de ver o filme, eu não ia à procura de ver uma história hiper dramática de fazer chorar as pedras da calçada e com as emoções ao rubro.
Vais ver que daqui a uns tempos vem para aí um blockbuster de tão má qualidade que de repente este "Godzilla" vai ser pintado com outras cores...tal como o "Pacific Rim" que agora parece um arco-íris.
Se não procuravam uma história hiper-dramática, se ela era completamente desnecessária... eu só tenho duas coisas a dizer:

1. - Então porque é que ela está incluída no filme?
2. - Mesmo que digam que ela não é a coisa essencial do filme... ela está lá. E não deixa de ser incomodativa.
Adiante.
Já viste quantos de nós, só aqui neste cantinho, fomos a um cinema ver este "Godzilla"??
O valor do bilhete já está naquele lado, e isso é que importa.
Pois, se formos por aí, também podemos dizer que o dinheiro gasto pelos mais de 300 000 espectadores do «7 Pecados Rurais» foi para aquele lado, e isso é o que importa... :mrgreen:
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Re: Godzilla (2014) - Gareth Edwards

Post by waltsouza »

rui sousa wrote: 1. - Então porque é que ela está incluída no filme?
2. - Mesmo que digam que ela não é a coisa essencial do filme... ela está lá. E não deixa de ser incomodativa.
Adiante.
Porque é que ela está lá? Porque os humanos estão lá. Tinham de pegar nesse ponto. Godzilla e seus "amigos" monstrecos não andam em "guerrilha" numa terra despovoada e desprovida de civilização. Os humanos fazem parte do "pacote" do filme. Não percebo qual é a grande novidade. Todos os blockbusters deste estilo, sejam mais de ação, ou mais a fugir para o scifi, trazem consigo uma história humana subjacente.

Sim, por vezes poderá ser um pedacito mais interessante, por vezes menos, mas desde War of The Worlds com Tom Cruise, passando por 2012, indo a Pacific Rim, e tantos outros, todos trazem uma história que envolve humanos e a forma como eles lidam com o problema que lhes é colocado. Por vezes dão-nos a vertente da história mais centralizada entre marido e mulher, em pai e filho (caso de War of The Words), e neste caso temos novamente a parte humana mais focada entre pai e filho. Mas tudo isso normalmente está lá apenas para servir de adorno. Para dar algum sentido ao filme porque como já disse é impossivel elimibar e dissociar a vertente humana deste tipo de filmes.

É natural que hajam pessoas com menos paciência que outras para levar com a parte mais humana da história onde se sabe que os humanos apenas são (quase sempre) meros elementos decorativos. Mas não é só neste filme, é algo que é transversal a muitos outros filmes.

Engraçado que no consenso do Rotten Tomatoes sobre este Godzilla pode ler-se:

With just enough human drama to anchor the sweeping spectacle of giant monsters smashing everything in sight, Gareth Edwards' Godzilla satisfyingly restores the franchise's fire-breathing glory.
O que indicia que a tal parte do "drama humano" não chateou assim tantos críticos, a ponto de se tornar um problema de poder afetar o filme no seu todo, e da parte que mais importa, os monstros. Como tenho dito, é tudo uma questão de expetativas e... sensibilidades. :-)

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