Cinema Londres vai ser de ficar com os olhos em bico...

[Cabeças]

A crer nas últimas notícias, outro dos míticos Cinemas lisboetas vai cair. Em seu lugar, vai nascer mais uma magnífica loja chinesa!

Sou a favor da liberdade de mercado e completamente a favor da coexistência da diversidade cultural, mas sinceramente, penso também que caberia a quem de direito ter tido ou começar tardiamente a ter algum cuidado na preservação de espaços culturais e recreativos que já fazem/faziam parte da história da cidade e do imaginário de gerações, como eram o Cinema Império, que agora é uma igreja de um culto, do Quarteto, os Cinemas King... e agora o Londres.

É com grande desgosto que assisto à queda de espaços que contribuíram para o meu crescimento intelectual e cultural. Também é através destes indicadores que se vê a qualidade (ou falta dela) de um Povo e sobretudo dos seus err... governantes.

Bah!

Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/o-h ... 1618900#/0
Foto: (com a devida vénia à Wavey) http://4.bp.blogspot.com/-9na-81GtL8s/U ... es%2B1.jpg

[Helldr]

Mais uma noticia devastadora...
Estão a cair uns a seguir aos outros até não restar nenhum, mas provavelmente se tivesse publico não fechava, enfim... se calhar somos todos culpados!
Este cinema em particular deixa-me a bela recordação de lá ter visto "A Mosca" e de ter saìdo de lá arrepiadíssimo. Ah! Os bons anos 80...

[rui sousa]

Harry Potter e a Pedra Filosofal, Homem-Aranha, Madagáscar, Harry Potter e a Ordem da Fénix, Cisne Negro, Indomável. o Discurso do Rei... vi vários filmes no Londres, de momento só me recordo destes. Mas era um dos meus sítios de eleição na Avenida de Roma.

Estes foram todos os filmes que vi no Londres. E seria uma pena que esta magnífica sala e espaço de convívio do Cinema fosse destruído para uma loja dos 300. É degradante. É humilhante. É desastroso.

[kuala]

Há dois lados de ver a questão.

-Chineses e angolanos que estão aos poucos a comer a carne e a deixar os ossos em tudo o que tenha algum valor comercial.
-Flagelo cultural que tem invadido portugal. A cultura precisa de ser defendida sobre pena de estarmos a acabar com as nossas memorias, identidade e coesão social.

É uma vergonha não haver quem defenda a cultura, começando em nós e acabando na vergonha de governantes que temos. Uma desgraça.

[Grande Guru]

É mau? é, é evitável?, sejamos sinceros, não......

[Rui Santos]

Não resisto a colocar aqui um copy/paste do blog do Pedro Rolo Duarte

Chorar nos enterros é fácil

A notícia de que o espaço do cinema Londres vai virar Loja do Chinês incomoda e entristece qualquer pessoa que, como eu, viva há quase 50 anos entre a Avenida do Brasil e a Praça de Londres. Tenho autoridade redobrada para falar: o meu pai foi quem delineou a (bem sucedida) campanha de promoção e lançamento do cinema, no principio dos anos 70, com o filme “Morrer de Amor”; e até fechar, preterindo mesmo a qualidade técnica de outras salas, sempre que um filme que queria ver estava no Londres, era lá que eu o via. Por facilidade, proximidade, porque sim.
Dito isto, as noticias das petições para salvar o Londres, para não deixar que ali se instale a dita Loja do Chinês, para que a cultura não perca mais um espaço, também me incomodam. Muito. O suficiente para lembrar que:

- Conhecendo eu, nem que seja de vista, a esmagadora maioria dos lojistas daquele bairro (autores de uma das petições…), nunca vi qualquer deles frequentar o Cinema Londres (especialmente quando ele mais precisou de espectadores). Nem eles nem muitos dos cinéfilos que andam pelo bairro a queixar-se, mas “sacam” filmes da net, pirateiam DVD’s, ou preferem as pipocas de outras salas.
- Se o Cinema Londres fechou não foi seguramente por vontade de quem se viu confrontado com a falência. Foi porque as regras do livre mercado, a mudança de paradigma no negócio da informação e da cultura, e o famigerado “sistema” - que, convém sublinhar, a esmagadora maioria dos portugueses aprova quando vota nos partidos que o sustentam - assim o ditaram. Estive em dezenas, centenas de sessões do Londres com dois, três, cinco espectadores. Vi amigos que o frequentavam renderem-se à qualidade técnica do Corte Inglês ou de outras salas. Assisti à degradação do mercado com a ligeireza da pirataria. Estavam à espera de quê?

Acho sempre comovente esta união dos portugueses em torno daquilo que eles próprios mataram - e que, se não tivesse morrido ( e tal só sucederia à custa do Estado…), estaria agora a ser criticado como mais um esbanjamento injustificado…
Custa a crer, mas é verdade: a maioria quer isto que estamos a viver. Quer lojas do Chinês no lugar do Londres, boataria na net em vez de jornais, borla em vez de preço justo. Quer na medida em que promove, por negligência ou roubo ou simples ignorância. O resultado vai ser sempre o mesmo. E vai doer.

(Remédio? Não se queixem depois de ajudarem a matar, promovam a vida enquanto é tempo. Queriam o Londres vivo? Fossem lá ver filmes. Querem jornais? Comprem-nos, paguem-nos. Querem cinema de qualidade? Não pirateiem. É fácil. Basta querer. Chorar nos enterros é tão mais fácil.)

In: http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/352402.html

[Elliot]

Observação mais do que certeira do PRD.

[kuala]

Pois mas a questão não é assim tão linear. A diversidade cultural, protecção das minorias e da propria identidade nacional deve ser defendida mesmo que o capitalismo puxe para outro lado. Não fosse assim e qualquer dia fala-se uma lingua em todo todo mundo e coisas tão particulares como regionalismos iriam acabar.

Dizer não querem que acabe ? comprem! é uma visão tão, mas tão limitada no que aos bens culturais diz respeito.

E que tal se as sessões fossem à borla como forma de protecção cultural? será que não havia adesão? Que tal formar pessoas com maior aptidão pela cultura e arte? A cultura, saúde e educação nunca vão dar dinheiro, há é que preservar as minorias e quem quer ter acesso a esses bens essenciais. Sim, porque a cultura deveria ser vista como tal!

Deixar as regras do mercado funcionar muito bem, mas há casos e casos.

[JRibeiro]

Quem se queixa que isto agora vai ser uma loja chinesa não devia ter deixar o cinema ir à falência, eu no lugar dos donos faria exactamente a mesma coisa, vendia à melhor oferta.

[Cabeças]

Hum... não posso concordar com algumas das opiniões aqui deixadas. A culpa do fecho do Cinema Londres é dos expectadores por terem deixado de ir ao Cinema?... Algumas opiniões que li por aqui parecem-me não só extremamente redutoras, "simplex", como sinceramente pouco reflectidas. Todos são livres de ter opiniões diversas, mas penso que a maioria das pessoas não tenta pensar um pouco acerca do que está realmente por detrás das tiradas que colocam como se fossem donos da verdade e tudo fosse simplicíssimo.

Eu não culpo os expectadores, entre os quais me incluo. Têm uma pequena parte da responsabilidade, mas há questões de fundo que explicam o progressivo afastamento das pessoas das salas de Cinema.

1) O licenciamento selvagem das salas múltiplas nos grandes espaços comerciais, numa estratégia ligada ao capitalismo selvagem e sem regras, que tem como único fim a maximização do lucro e a concentração de oferta em apenas alguns operadores, cuja oferta é sempre mais ou menos a mesma, é um dos grandes responsáveis pela queda de receita dos Cinemas tradicionais de bairro. Os grandes operadores e os grandes espaços comerciais em termos financeiros estão ligados geralmente aos interesses políticos, e os favores pagam-se, em dinheiro, lugares ou favores.

2) O aumento de preços brutal que houve mais na última década, e que, como foi aqui referido, fazem com que uma ida ao cinema com a família adquira custos incomportáveis para a maioria das famílias, que ao mesmo tempo andam há anos a perder poder económico e desde há dois anos para cá viram ser roubados escandalosamente os ordenados, os subsídios, e viram as contribuições crescerem imenso para continuar a tapar buracos financeiros que concerteza não foram os cidadãos que fizeram.

3) A perda de qualidade ligada às novas regras e ao recente paradigma comportamental que começou a ser permitido nos cinemas é outro factor que a meu ver explica o declínio das percentagens dos expectadores. Telemóveis, pipocas, ausência de intervalos, ter que comprar os bilhetes onde se compram as pipocas, um nítido declínio em termos de comportamento nas salas, que foi não só permitido e incentivado pelas gestões dos Cinemas e que a meu ver afastou progressivamente (eu incluído) muita gente da ida ao Cinema, que dantes era um acontecimento social onde as pessoas pautavam pela boa educação e respeito e hoje faz sentir a algumas pessoas que estão no meio de uma manada de gado.

4) A responsabilidade também é dos políticos miseráveis que temos tido, sobretudo os que têm estado lligados à Cultura e Património, que podiam e deviam proteger espaços de culto que faziam parte da história da cidade em termos culturais, cinematográficos e constituíam faziam parte de uma cultura "imaterial" (agora está na moda este termo, bah!) que para além do seu espaço físico, habitavam e continuam a habitar no imaginário de muitas gerações, que infelizmente já delas não podem usufruir. Todos os antigos grandes cinemas que eram referência em Lisboa desapareceram. Dêem uma olhadela, os que ainda não o fizeram ao blogue da Wavey, a este propósito. No entanto, houve milhões de euros para estádios de futebol, pagos por todos nós, e continua a haver para tapar buracos fraudulentos de milhões na banca privada, com foi o caso do BPN e para dar milhões em juros aos especuladores financeiros internacionais.

E há mais razões, mas penso que estas bastam. A política ligada à Cultura devia estipular um limite de salas nos grandes espaços comerciais e apoiar o Cinema e os Cinemas tradicionais de bairro, preservando a sua continuação. A nova lei das rendas, por exemplo, foi mais uma barbaridade do governo miserável que temos, foi a responsável directa pelo fecho do Cinema King, além de ser mais uma fonte de desespero para muitas famílias e tornar incomportável, à semelhança do King, a continuidade do arrendamento de vários espaços devido aos aumentos brutais.

E a culpa é dos expectadores? Bah.

[JRibeiro]

Eu prefiro 1000xs os multiplexes do que este tipo de cinema, quando abriu aqui fiquei muito mais contente e passo a explicar: Este tipo de cinema de sala única só funciona em cidades como Lisboa e Porto, porque nas outras cidades eles limitam muito a oferta, houve casos em que os filmes estreavam aqui 15 dias depois das estreia nacional ( O Dia da Independência foi um deles), e alguns nem estreavam e só ficavam uma semana em cartaz, enquanto que nos multiplexes tenho muito mais oferta, estreias a horas e muito mais tempo em cartaz.