Django Unchained (2012) - Quentin Tarantino

[Emaster]

Apenas como nota inicial relativamente à originalidade como a capacidade de criar algo novo: tudo o que criamos tem influência nas nossas experiências e naquilo que fomos observando/absorvendo. Para mim a originalidade é a capacidade de extrair de nós a informação assimilada, reinventando-a.

Adiante...

O Tarantino já desmistificou essa do clude de video algumas vezes, ele conseguiu arranjar lá trabalho porque já tinha grande cultura cinematográfica.

O Tarantino tem um estilo muito vincado e reconhecível. Aqui falamos de originalidade porquê mesmo? Se calhar tem de realizar desenhos animados ou comédias românticas para ser diferente, mesmo assim continuamos a não falar de originalidade mas de versatilidade.

Agora se estamos a falar do argumento, a comparação com o Spielberg nesse caso não foi feliz já que este, embora tenha escrito alguns argumentos e tenha contribuído noutros, já não contribui num argumento de um filme há mais de 10 anos e não escreve um há quase 30.

Se a questão da originalidade se prende ao seu próprio estilo enquanto realizador:
Na minha opinião pouca originalidade num realizador é aquele que não tem estilo próprio, ou seja, que copiou o seu estilo de outro ou que tem um meramente académico, reproduz simplesmente aquilo que aprendeu sem lhe colocar um cunho pessoal.

Ele criou o seu muito a partir dos filmes exploitation, filmes do mais chunga que pode haver. É claro que não se limitou a copiar, senão teríamos à mesma filmes deploráveis com maior orçamento e melhores actores (ou melhor, apenas filmes deploráveis pois não teria chegado onde chegou para poder conseguir melhores orçamentos). E é aqui que chegamos à parte do "reinventar".
Há quem pegue num entulho de lixo e consiga criar arte a partir dali, mas a maioria das pessoas que pegasse num entulho de lixo, só conseguiria criar outro entulho de lixo. Depois há aqueles que se inspiram no estilo dos grandes mestres do cinema e só conseguem criar um entulho de lixo.
Uma coisa é certa, ele tem o seu estilo e eu pelo menos não quero que mude, assim como quando vou ver um filme de Spielberg, ele também tem o seu estilo e também não quero que ele o mude.

Mas até percebo o teu ponto de vista. É inevitável que um estilo mais exuberante canse mais depressa. Eu se pintar uma parede de cor-de-laranja, mesmo que o ache muito bonito, vou-me cansar mais depressa do que a pintar de creme claro Eu só acho que a originalidade não é para aqui chamada.
Relativamente a este filme e o estilo do Tarantino, eu até acho que ele desde o Inglourious Basterds tem vindo a desenvolver um estilo muito mais refinado e controlado, para o bem e para o mal, pois até gosto do seu estilo quase psicadélico do Pulp Fiction e Kill Bills

Cumprimentos.

[THX]

Concordo contigo Emaster quanto a isso da versatilidade versus originalidade.
O exemplo que deste da parede laranja foi o mais acertado. De vez em quando á que mudar a mobília da sala, alterar a pintura do quarto, comprar um carro de outra cor...
Eu tenho um livro que se chama "Viver todos os dias cansa" e penso que este titulo exprime a minha opinião sobre os temas recalcados de Tarantino.

Eu descubro muito mais depressa essa originalidade nos filmes independentes que nesses tais filmes de grande orçamento, independentemente de quem os realiza.

Há quem pegue num entulho de lixo e consiga criar arte a partir dali, mas a maioria das pessoas que pegasse num entulho de lixo, só conseguiria criar outro entulho de lixo. Depois há aqueles que se inspiram no estilo dos grandes mestres do cinema e só conseguem criar um entulho de lixo.

Aqui concordo também contigo. Aliás eu até dei um exemplo parecido com o teu num outro tópico em que eu posso dar uma palete com várias tintas de alta qualidade a 10 pintores artisticos e pedir para pintarem a paisagem que tem á sua frente, e chegar ao fim e saber muito bem qual é a melhor tela. No meio das 10 telas decerto muitos até fazem borrada.
Estámos fartos de ver exemplos desses no cinema.

Mas engraçado que ainda ontem ouvi o Miguel Sousa Tavares a dizer uma coisa muito interessante sobre o conceito do que é a Arte. Dizia ele :

- "O que é Arte?"
- "A Arte é o que o artista define."
- "E quem define o artista?"


Cumprimentos.

[diesel]

Desculpa. Eu sou defensor do Tarantino, espero até morrer pq oxalá continue a fazer filmes com a qualidade que tem feito ate agora e se borrife se tem violencia a mais, sexo a mais, palavroes a mais. Ele que faça o filme que QUER!!!

Mas eu estou de acordo com o Emaster. So para frisar: oque é que distingue o ser original do nao ser original e aí o Emaster tem razao que o exemplo do Spielberg nao tem nada a ver com o assunto, pelo menos no periodo de tempo que ele indica.

Todos os realizadores chamados autores ou que escrevem os seus proprios filmes e que caem na categoria de "originais" apenas significa que nao é uma adaptaçao de algo ja publicado,feito anteriormente. Todos os realizadores escitores, sem excepçao pq é impossivel, vao buscar influencias ás suas vivencias, a coisas que passam na tv ou qq outra coisa que exista no mundo. á natureza, bla bla...etc. O Tarantino como bem disseram comoeçou a ver filmes desde que nasceu praticamente pq a mae nao tinha dinheiro para contartar uma babysitter e levava-o a ver todo o tipo de filmes. Daí a paixao do tarantino pelo cinema e as suas influencias para a sua "originalidade" advirem em grande parte do que adora: cinema!
Eu adoro o Kubrick e nao foi nem com uma ponta de menosprezo que disse que nada veio absolutamente da "cabeçinha" dele. è um realizador magnifico.

Por isso estou em desacordo com quase tudo o que o THX disse. Originalidade: Atrevo-me a perguntar quem inventa os dialogos fabulosos que sao a imagem de marca do Tarantino? isso vem de que filme? Isso vem de onde? Isso para mim é com um grande comediante inventar um stand up brutal. Vem do talento dele.

Sao os my 2 cents. Podem discordar ou concordar como é obvio.

So quero que o Tarantino faça sempre aquilo que lhe der na real gana como acho que tem feito.

[THX]

Também eu, só gostava era de o ver a "pintar com outra tinta", nem que fosse por uma única vez.
As histórias dele são todas originais, mas depois aparentemente só muda o factor espaço-tempo e as personagens, mas a tal obsessão por vingança e o mar de sangue estão sempre lá presentes.

Contem os filmes dele que não metam vingança e violência (fisica e psicológica) a rodos.

Gostava por ex. de o ver a realizar um filme de sci-fi, ou um filme simples sobre o romance entre um homem e uma mulher, no fundo outras coisas que não mostrassem rios de sangue e violência.
Ele até já anda a ser confrontado pelos media com essa sua obsessão.
Anda para aí uma entrevista na net onde podem comprovar isso.

[Elliot]

Eu prefiro a minhoca....

Novidade do caraças ó amiga!

[paupau]

Desde quando é preciso ter uma carreira eclética para ser considerado um bom autor? Já para não falar de realizadores, como o Kubrik, que trabalham um pouco de todos os géneros, mas as obsessões principais são sempre a(s) mesma(s). Aliás, alguns dos maiores realizadores de sempre encaixam nesta última categoria: o mesmo tema base trabalhado de inúmeras formas: Murnau, Hitchcock, Ozu, Mizoguchi, etc, etc

E tem lógica que seja assim, imprimem o cunho pessoal que referiram em cima, estamos a falar da base do cinema de autor. Eu considero muito meritória a evolução do Tarantino, alguém que vem do trash da Troma quase e que já cita Wagner e os Nibelungos. Continue assim por muitos e bons anos. O Inglorious foi um ponto de viragem acho, para uma fase mais madura da carreira.

[Samwise]

O Tarantino é daqueles autores que, não abdicando de uma série de características vincadas que compõem o seu cunho pessoal (muito em particular a nível estilístico - com os diálogos obsessivos, cheios de "impropérios", e a construção de personagens maníacas no topo da lista), consegue reinventar-se de filme para filme sem cair na repetição.

A nível temático, já passou pelo menos por três fases. A fase "teenage-angst" ( ), com o Reservoir Dogs e Pulp Fiction, a fase "chick-power" (Jackie Brown, Kill Bill, Death Proof), e a fase "revisionismo histórico dos grandes ultrajes da história recente" (Inglorious Basterds, Django Unchained).

Para mim tem sido um prazer acompanhar o seu percurso, e cada novo filme é sempre um acontecimento vincadamente cinéfilo que aguardo com grande expectativa. É um autor singular, que soubre encontrar e firmar o seu espaço no cinema contemporâneo.

[Enigma]

Eu olho para o Tarantino como um compilador de uma certa pop culture.

Cada filme seu é uma viagem por n referências e uma sensação de dejá vu seja em planos, sequências, conceitos, figurinos etc, mas misturados e temperados com as idiossincrasias do Tarantino-cinéfilo.

Basicamente é como dar milhões para um cinema-lover, que passou horas no videoclube a ver fitas mainstream de subgéneros especificos e a criar personagens e diálogos na sua cabeça, para este poder fazer os seus filmes...

Tarantino é um estilo próprio. Pode-se aceitar ou não, gostar ou não. Não se pode é esperar é que ele se subverta a algo que não é.

[diesel]

mainstream cinema? Desde quando Sergio corbucci, spaggeti westerns ,blaxploitations, ozploitation, tudo o que seja exploitation é mainstream?

Desde quando é que a vouvelle vague francesa é mainstream? Desde Quando é que o cinema de acçao de hong Kong dos anos 60,70,80,90's e até mesmo agora é mainstream?

Cinema designado de autor? è mainstream?


Mainstream por definiçao é tudo o que é consumido em massa. Que faz parte da corrente(stream) da massas(Main). Ora toda a abrangencia de filmes que disse em cima na sua grande maioria nao é mainstream. Que dinheiro fizeram ou fazem esse tipo de filmes na altura o umesmo agora no boxoffice ou em receitas?

[Ribeiro]

mainstream cinema? Desde quando Sergio corbucci, spaggeti westerns ,blaxploitations, ozploitation, tudo o que seja exploitation é mainstream?

Desde quando é que a vouvelle vague francesa é mainstream? Desde Quando é que o cinema de acçao de hong Kong dos anos 60,70,80,90's e até mesmo agora é mainstream?

Cinema designado de autor? è mainstream?

Concordo. Embora haja filmes (Jackie Chan) que são claramente apreciados por muito publico.

[DarkPhoenix]

Tarantino, o intocável!

lol


Numa simples analogia, é como um cozinheiro que ( re ) inventa pratos, baseados em inúmeras influências, mas aos quais adiciona também o seu tempero especial.
O único filme dele que não suporto é o intragável, auto-indulgente "Inglorious Basterds".
"Death Proof", "Django Unchained" e "Kill Bill pt2" são medianos.
"Reservoir Dogs", "Pulp Fiction", "Jackie Brown" e "Kill Bill pt1" são ( na minha opinião obras primas ) incontornáveis do cinema contemporâneo.

[Enigma]

@diesel, atenção que está ali escrito "fitas mainstream de subgéneros especificos".

Spaghetti westerns, exploitations, filmes de artes marciais etc são géneros undergroud, mas têm filmes que são bastante reconhecidos e divulgados, quer entre o público alvo - filmes de culto - quer no público em geral, que os ia/vai alugar religiosamente aos videoclubes. E Tarantino como apreciador e empregado de um videoclube, sabia isso bem.

Estamos aqui entre amantes de cinema informados e é nessa condição que está ali essa definição do Tarantino.

[THX]

Dark, aqui estamos em sintonia.
Tenho exatamente esses mesmos gostos pelos filmes dele, tal como tu os apresentas nessa ordem.

O trunfo do Tarantino é só um :

A sua paixão pelo cinema, aliada a uma fértil imaginação e a uma memória fotográfica.

Soube fazer o que todos nós, apreciadores deste universo que é o cinema, fazemos - ver filmes, e muitos de preferência.
A sua "paprika" foi introduzir umas conversas sobre a música "Like a Virgin" de Madonna no inicio de "Reservoir Dogs", ou a aquela conversa sobre "croissants" e hamburgers do McDonald's no inicio de "Pulp Fiction", entre outras.
No fundo coisas muito simples mas que suscitaram curiosidade no público e que surpreenderam muita gente, incluindo os criticos.

Ele teve a sua oportunidade e soube aproveitá-la muito bem, e aí é que merece todo o mérito e toda a minha admiração.
Mas todos os seus 9 filmes são realmente um sortido de sentimentos e emoções pessoais que ele colecionou ao longo de muitos anos enquanto via os filmes originais que desencadiaram em si uma enorme vontade de se exprimir enquanto amante de cinema.

E aqui é onde está claramente vincado o cerne da questão - para mim ele será sempre mais amante de cinema do que propriamente realizador ou produtor.

Sei que o seu filme favorito de sempre é o "The Wrath of Khan," seguido de "Rio Bravo".
Quem viu "A Ira de Khan" decerto que sabe qual é o tema central desse filme.
Pois...é mesmo a "cara" de Tarantino.

http://www.imdb.com/title/tt0084726/?ref_=fn_al_tt_2
http://pt.wikipedia.org/wiki/Star_trek_ ... th_of_khan

[diesel]

Nop. O seu filme preferido é o the good the bad and the ugly.

Just for the record.

Acho bem haver pluralidade de opinioes. Acho que nao ha ninguem que seja idolatrado, ou tb odiado, por toda a gente.

[THX]

Just for the record - estás enganado...

O Passos Coelho neste momento deve estar a ser odiado por todos os portugueses .