Qual foi o último filme que viram ?

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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No Angel
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by No Angel »

My Name Was Sabina Spielrein (2002) - 10/10
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Este documentario e fantastico e recomendo vivamente em quem esteja interessado em psicanalise e/ou nas personalidades a ela associadas. Este documentário centra-se na complexa relaçao entre Sabina Spielrein, Jung e Freud e como eles marcaram e desenvolveram a psicanalise. O mesmo tema foi abordado no filme A Dangerous Method, mas este documentario e muito mais informativo e aborda questoes que o filme omitiu. Sao duas abordagens diferentes, claro, pois o Dangerous Method e um filme de ficçao, e portanto pretende essencialmente contar uma historia. No entanto, nao deixo de achar que este documentario conseguiu abordar muito mais que o filme em questao. Quem quiser saber sobre a vida real de Spielrein, Freud e Jung tem neste documentario uma otima ferramenta. Muito interessante mesmo.
rui sousa
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by rui sousa »

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A História da Europa, ao longo dos séculos, revelou-se propícia a ser usada e abusada pelas lides hollywoodianas (embora, mais nos últimos tempos, o alvo do entretenimento cinematográfico e televisivo americano tenha sido mais a badalhoquice das épocas que retratam do que os factos e acontecimentos mais interessantes e que marcaram a mesma), que desde os primórdios da Sétima Arte, tem abordado muitos episódios importantes (outros menos que outros, diga-se) em diversos filmes e séries de televisão.
Eu, sinceramente, nunca fui grande fã de filmes ou séries que se passassem muito atrás no tempo. Não sei porquê, mas nunca me pareceram interessantes o suficiente para ter pachorra para os acompanhar até ao fim. Casos como o dos grandes épicos bíblicos (que, na minha opinião, são constantemente alvo de sobrevalorização), ou as grandes produções como «Cleópatra» (um espectáculo visualmente deslumbrante, mas que falha em termos de qualidade e veracidade), passando pelas séries mais recentes «Os Tudors» (OK, este é o maior exemplo da badalhoquice com que a indústria do entretenimento trata a Idade Média e os séculos anteriores ao XIX) são algumas das provas do meu desgosto por este tipo de entretenimento, que pretende ser real ou, ao menos, «inspirado numa história verídica», mas esse epíteto não basta para substituir todo um trabalho de produção e argumento que, muitas vezes, é esquecido de ser trabalhado.
Contudo, há filmes/programas que se destacam (e que se tratam, verdadeiramente - no caso dos filmes-, dos que são unanimemente considerados como clássicos de visionamento obrigatório) por conseguirem ser, além de grandes peças de arte e de entretenimento, uma reconstituição da época que retratam que, apesar de não poder ser 100% fiel à realidade daqueles tempos tão antigos (como há menos registos e como não havia câmaras de filmar ou máquinas fotográficas para se registarem momentos para "mais tarde recordar", poderá haver certas dificuldades em retratar o que foi real), conseguem ser um verdadeiro luxo para a vista e um complemento diria que educacional, que nos faz relembrar certos pormenores e factos absorvidos em algumas aulas de História. Foi o que me aconteceu, a ver «Um Homem para a Eternidade», um filme que é realmente uma verdadeira jóia da coroa britânica e um filme que terá mesmo de durar para a Eternidade (e desculpem a ideia tão fatela e tão pouco criativa, do uso do título do filme para o elogiar, mas enfim, foi o que pensei que fazia sentido), quer pela dimensão da sua história e pelos pontos tão importantes que foca da História do Reino Unido (e da própria Europa) durante a época de mudança e inovação que foi a dos Descobrimentos, quer pela mensagem e pela moral que transmite, através do exemplo de Thomas More, um dos mais influentes pensadores de todos os tempos (e uma grande figura da época do filme) e cuja obra literária «A Utopia» revela-se como uma das mais célebres e estimadas obras da História da Filosofia
O filme é baseado na peça homónima de Robert Bolt (que se encarregou de transportar a sua obra teatral para um guião cinematográfico), e conseguiu reproduzir, além de muitos pormenores e factos da época retratados no filme (que, ao contrário de outros casos, não são inseridos na ação da fita de forma forçada, ou para lembrar aos espetadores que estão a ver uma obra histórica que fala de coisas que realmente aconteceram), a "teatralidade" da peça sem perder a mais ínfima parte de credibilidade e de qualidade do texto original. Apesar de terem sido feitas diversas alterações à história de «Um Homem para a Eternidade» (tornando, assim, possível a melhor maneira de se adaptar a história de Bolt ao grande ecrã), o filme funciona de uma forma excecional e inigualável, dando mesmo a sensação que fizemos uma viagem no tempo até ao século XVI (ou à ideia mais próxima e apurada que se possa ter sobre como foi esse século) e à vida de Thomas More. Este factor é também muito auxiliado pela realização sólida e preparada de Fred Zinnemann (responsável por muitos clássicos de Hollywood, incluindo «Até à Eternidade» e «Oklahoma», o primeiro filme a ser gravado em 35 mm) que venceu um Oscar (entre os seis que «Um Homem para a Eternidade» recebeu, incluindo melhor filme e melhor argumento adaptado), e também pelas poderosas atuações de um elenco de luxo que dispõe de diversos gigantes da arte de representar e da arte de fazer cinema: Paul Scofield (também vencedor de um Oscar pela sua prestação no filme) é um magnífico Thomas More, muito convincente e muito bem preparado para o seu papel (provavelmente por ter feito parte do elenco da primeira apresentação da peça de teatro) e é auxiliado por um bom leque de atores secundários que deixaram a sua marca neste clássico do cinema: John Hurt (no filme que lançou a sua carreira), Robert Shaw (como o excêntrico e estranho Henrique VIII), Orson Welles (um pequeníssimo papel, mas que marca uma forte presença da personagem clerical que o ator interpreta) entre muitos outros, que fazem de «Um Homem para a Eternidade» um filme fascinante e visualmente impressionante que mostra que podem os tempos e as vontades mudar, mas há coisas, problemas, situações, que não se alteram com o passar das gerações.

Nota: * * * * *
Samwise
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Post by Samwise »

Não posso vir ler este tópico... fico logo com vontade de assaltar um clube de vídeo...
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by Zoro »

"Amazing Grace"

Simplesmente adorei a história de William Wilberforce e da sua luta pela abolição do comércio de escravos na Inglaterra, fantástica, recomendo vivamente este filme a qualquer pessoa!
JoaoVieira
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by JoaoVieira »

Step Up Revolution

Gostei bastante do filme mas as histórias já começam a ser muita parecidas... :-?
JCVD_85
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by JCVD_85 »

VHS

Boas curtas-metragens.Gostei especialmente das duas últimas histórias.

6/10
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DarkPhoenix
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by DarkPhoenix »

Recentemente, vi o pedaço de esterco "Max Payne" e o fabuloso "John Carter Of Mars".
Impressões detalhadas, brevemente nos respectivos tópicos.
diesel
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by diesel »

DarkPhoenix referes-te ao John Carter , este novo da Disney que para mim foi uma desilusao vindo do realizador de um filmao como o wall-e ou de outro que nao conheça? hehe
rui sousa
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by rui sousa »

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Há alguns dias vi aquele que é considerado "o melhor filme independente de todos os tempos". Não posso concordar ou negar este título ganho por «Cães Danados», o filme que lançou o realizador e argumentista (com uma perninha de ator) Quentin Tarantino para as luzes "escuras" da ribalta (é que o filme teve sucesso, mas Tarantino só catapultou para o estrelato mundial com o hiper-sucesso «Pulp Fiction», tendo «Cães Danados», na altura da sua estreia, não ter recebido tantas críticas positivas como o vencedor da Palma de Ouro), porque precisaria de ver todas as produções feitas sem apoio de grandes estúdios que até hoje foram feitas em todos os cantos do globo, e daí é que poderia dar a minha opinião. Mas com ou sem grandes atribuições, tenho de dizer, absolutamente, que este se trata de um grande filme! Aliás, diria que é uma espécie de preparação para o que se avizinharia com a feitura de «Pulp Fiction», embora ambos os filmes sejam algo diferentes.
Posso afirmar também que Quentin Tarantino mostrou, pela primeira vez, quem é que era realmente. Teve espaço para, finalmente, dar asas à sua imaginação bizarra e pouco vulgar, produtora de ideias fora do comum que mudariam a forma de se ver Cinema e que tornariam o estilo do realizador muito próprio e peculiar. E dessa explosão criativa saiu «Cães Danados», um excelente thriller (com alguns toques de extravagante comédia) sobre um grupo de criminosos antes e depois de terem efetuado um assalto. A linha temporal da história é constantemente "danificada" (uma característica repetida repetida no «Pulp Fiction»), existindo cruzares entre o passado e o presente do filme que nos permitem conhecer as personagens daquele gangue mais em pormenor, e principalmente os motivos que levaram aquelas pessoas, completamente distintas (e cujos nomes de código são nomes de cores - sim, há o Mr. White, o Mr Orange, e por aí fora...) a juntarem-se para aquele assalto que se revelará menos proveitoso do que estavam à espera. A história está muito bem construída e com alguns pontos de grande originalidade e inovação por parte de Tarantino. Consegue, ao mesmo tempo, meter muitas influências pop no seu filme, mas inteligentemente soube obter uma receita cinematográfica muito conseguida e muito sua, sem precisar de dever muito às suas inspirações.
A cena inicial de «Cães Danados» já marcou o seu lugar nas mais marcantes e influentes da História do Cinema. A sequência é bastante simples, e baseia-se apenas numa conversa pré-assalto entre todos os bandidos "coloridos" sobre temas corriqueiros ou completamente idiotas. Quentin Tarantino faz uma pequena aparição nessa cena como um dos membros iniciais daquele gangue, onde tenta provar aos seus compinchas como a sua teoria sobre o verdadeiro significado de uma certa música de Madonna é verdadeira, numa cena hilariante e repleta de frases que ficam no ouvido e apetecem logo ser repetidas (e para conseguir-se isto é preciso ter-se aquela qualidade de se saber o que é que o público quer ver, que poucos cineastas têm, infelizmente...). E depois desta cena? Percebemos que o assalto correu mal e numa hora e meia que passa num instante, vamos descobrir o que se passou para o falhanço do gangue e muitos pormenores espetaculares e muito representativos do Cinema com C grande. Os atores cumprem na perfeição os seus papéis (com especial destaque para Steve Buscemi e Tim Roth, dois dos meus "atores-fora-do-circuito-tradicional-de-Hollywood" preferidos - e Tarantino poderia seguir representação, porque tem mesmo jeito!), a realização está competentíssima, muito bem ritmada e construída, e «Cães Danados» é um grande filme. Quer seja por ser independente ou não, caramba, é um estrondo de filme!

Nota: * * * * *
No Angel
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by No Angel »

Jezebel (1938) 10/10

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Vi hoje este filme, e foi o que me apresentou a grande Bette Davis. Ja a conhecia, claro, mas nuna tinha visto nenhum filme dela ate agora. Ela e sem duvida alguma uma atriz genial, daquelas que nos colam totalmente ao ecra de tao electrizantes que sao. Em termos atuaçoes ela e sem duvida a que se destaca, embora tambem esteja bem acompanhada pelos outros atores. A juntar a uma grande atuaçao temosgrande historia, uma uma fiel recreaçao historica do Antigo Sul, e uma boa cinematografia e banda sonora. E o segundo filme que vejo do realizador (sendo o outro o The Children’s Hour) e estou impressionado. E sem duvida um nome a reter. E claro, quero ver mais filmes da Bette Davis, da qual ja sou grande fa. O proximo vai ser o Of Human Bondage.
rui sousa
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by rui sousa »

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A justiça tem, como todos sabemos, os seus inúmeros e aparentemente insolucionáveis problemas. Tanto a corrupção de alguns dos elementos cruciais de cada julgamento, como a veracidade dos veredictos tomados quer pelo júri (no caso do sistema judicial norte-americano) quer pelo juiz (no caso português) são dois dos mais discutidos e problemáticos temas que rondam a ideia que cada um tem do que é a verdadeira justiça.
«O Veredicto», uma pérola assinada por Sidney Lumet e protagonizada por Paul Newman (um dos mais icónicos e míticos atores da História do Cinema) pega nestes dois temas e, com o inconfundível estilo Lumetiano, chega-nos uma história de lealdade aos princípios que cada um defende e o significado da Justiça... justa, e igual para todos.
«O Veredicto» é um grande filme cuja temática pode ser equiparável à situação da Justiça no presente e nos tempos que se avizinham. Abundam os casos que, em Portugal ou no estrangeiro, demonstram verdadeiras falhas jurídicas, quer o arguido seja culpado ou inocente. Há casos de situações que nenhum de nós consegue perceber onde acaba a realidade e quando inicia a ficção, dada a falta de profissionalismo e bom senso com que muitos casos jurídicos são tratados e abordados. E tal como no princípio dos anos 80, quando o filme estreou, como hoje, em finais do ano de 2012, uma coisa nunca mudou (e citando Padre António Vieira): os Grandes nunca deixaram de comer os Pequenos, quer pela corrupção, pela injustiça ou por outras medidas mais ou menos maldosas que põem a verdadeira Justiça de um lado e os interesses de um grupo económico de outro.
Sidney Lumet volta a filmar, como ninguém, as grandes preocupações sociais e políticas da Humanidade, com a história de um advogado posto de parte na sua profissão e que se vê a braços com um grande caso que poderá pôr em causa a viabilidade de uma grande Instituição, de diversas grandes empresas e de conceituados nomes da medicina e da sociedade americana. Frank Galvin, a personagem de Paul Newman, além de querer, a todo o custo, ganhar o caso (porque aliás, é esse o seu trabalho), consegue perceber, à medida que a investigação se desenvolve, que tem uma grande tarefa em mãos e que a sua ação é muito importante para levar de uma vez a Verdade ao de cima. Num thriller que passa num ápice e que nos deixa completamente agarrados à cadeira (ou ao sofá, à poltrona... seja o que for) seguimos as pistas que Galvin descobre e compreendemos também as emoções das personagens e das testemunhas que pretendem abordar para conseguirem levar a sua avante, e encaixamos todas as peças até chegarmos ao grande final, com o julgamento derradeiro e que põe, nas mãos do júri, a decisão final e que põe término a toda aquela história. Não estou a divulgar spoilers, porque provavelmente sabem que todos os grandes filmes envolvendo advogados acabam numa cena de tribunal, mas garanto-vos que não estou a estragar a hipotética experiência de verem «O Veredicto». O filme vale por cada minuto da sua duração. As interpretações de todo o elenco (com Paul Newman em estado de graça), o fantástico argumento da autoria do mítico David Mamet e a competente realização de Sidney Lumet dão a «O Veredicto» um filme com um grande poder social, capaz de mudar mentalidades e questionar-nos sobre o estado da justiça no Mundo.

Nota: * * * * 1/2
paupau
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by paupau »

Aurora
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Passou este fim de semana na RTP2, o último filme do realizador romeno responsável por A Morte do Sr. Lazarescu e onde atua como protagonista.
Não quero adiantar muito sobre a trama, pois o propósito do filme é durante muito tempo não percebemos as motivações da personagem, vemos os atos, mas apenas na cena final percebemos o motivo - isto num filme que 3h- pelo que andamos perdidos durante grande parte do tempo. Quem considerar este tipo de narrativa, em que acompanhamos a personagem em situações mundanas durante longos períodos de tempo, como uma dificuldade, dificilmente gostará deste filme.

A partir daqui há SPOILERS
A personagem é um alienado que acabará por matar diversas pessoas, o porquê só é explicado mesmo no fim.
Estamos perante uma pessoa completamente alheada da sociedade, não são raras as vezes que diversas pessoas estão a conversar, mesmo no interior da sua casa, e este mantém-se em silêncio ou reduz as interações ao mínimo possível. Mesmo a forma de filmar expressa isto, inúmeras cenas são filmadas numa divisão ações que decorrem noutra contígua, de soslaia, como uma criança que espreita uma discussão entre os pais. As pessoas atravessam o campo do protagonista e logo desaparecem, fazem parte da sua vida , mas de forma tangencial, literalmente.

É impossivel não nos recordarmos de Travis Bickle (Taxi Driver) à medida que o filme decorre, mas a forma minimalista e ascética de filmar lembra mais Bresson ou Dreyer, não há floreados com a câmara ou montagem, banda sonora só rádio ou tv - dois ou três momentos na duração inteira do filme. Mas a base é a mesma, passamos imenso tempo a ver a personagem a deambular por Bucareste sem rumo aparente, a conduzir, comer, etc....

É fácil pensar que a duração excessiva para tal história é pretenciosa - pensei o mesmo a ver o Santantango no fim de semana passado - mas gostei bastante do filme. Se Taxi Driver em câmara lenta fizer algum sentido, vejam o filme, senão esqueçam.
CC - 174 MoC - 73 BFI - 21
rui sousa
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by rui sousa »

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A pequena (mas espantosa) obra cinematográfica «O Circo», de Charlie Chaplin, é um dos maiores exemplos da versatilidade da arte "chaplinesca" de se fazer cinema, graças ao cuidado do autor em preparar minuciosamente cada plano, cada sequência, cada gag do filme. E de tão minuciosa que é a construção que Chaplin, habilmente, cria para os seus filmes, que é impossível uma pessoa ver diversas vezes, por exemplo, «O Grande Ditador» sem descobrir algum pormenor cómico de Chaplin que tinha passado despercebido no visionamento anterior (sei o que digo: já vi esse filme mais de dez vezes e de cada vez que o vejo é sempre como a primeira!). Penso que isso se sucederá com (espero eu) revisionamentos futuros deste «O Circo», porque é um filme espantosamente hilariante e que poderia aproximar muita gente do género mudo, dada a atualidade da maioria das piadas (apenas algumas mais "slapstick" que se perderam um pouco no tempo, mas que funcionam - apesar de não me terem feito rir, mas isso tem a ver com o gosto de cada um), da inteligência do simples e sóbrio argumento de Chaplin e das interpretações de um elenco que, apesar de marcar a sua forte presença ao longo dos sessenta e oito minutos de «O Circo», sabemos que é o "Little Tramp" a verdadeira estrela desta comédia.

Contudo, apesar de ser uma comédia que, na época, foi aclamadíssima (recebendo Chaplin um prémio especial da Academia pela genialidade do seu filme e a inovação que o mesmo trouxe), e que hoje em dia continua a ser um ponto de referência de comediantes e críticos, a feitura de «O Circo» trouxe más recordações de Chaplin, numa época conturbada da sua vida devido a um divórcio escandaloso com a segunda mulher, ao falecimento da sua Mãe (que, nos últimos anos de vida, mostrava grandes sinais de debilitação mental e física) e às próprias filmagens da película, que foi diversas vezes interrompida e numa delas devido a um incêndio nos estúdios. Embora as memórias tristes que rodeiam toda a produção de «O Circo», Charlie Chaplin decidiu-o (e bem!) repescá-lo em 1970, acrescentando uma (extraordinária e linda) banda sonora da sua autoria (que começa com uma pequena cantiga, de nome «Swing Little Girl», cantada pelo próprio Chaplin) e deu uma roupagem mais adequada e mais atual à sua criação cinematográfica. Mas com atualizações ou sem atualizações, Chaplin tem aqui mais uma grande pérola que marcou a sua carreira na Sétima Arte. Não diria que seja um dos meus filmes preferidos do autor, mas que é muito bom, é sim senhora! Consegue ter, em pouco mais de uma hora de duração, a qualidade que muitos filmes cómicos dos nossos dias não conseguem ter com duas horas. Penso que cada um se conseguirá rir de coisas diferentes, de gags diferentes, ao ver «O Circo» (daí a genialidade e a versatilidade da comédia "chapliniana") e todos ficarão sensibilizados com a (falhada) paixoneta do vagabundo Charlot pela artista do Circo onde, por um incidente que o torna uma atração, é contratado para trabalhar. A história é muito simples, e com um modelo que teve várias "imitações" ao longo das décadas, embora as cópias nunca tenham conseguido passar a genialidade do original (devido, em parte, por nunca - felizmente - terem conseguido imitar suficientemente bem o mesmo - assim poderia perder-se a magia de ver «O Circo» com a hipótese de apanhar com clichés de todo o tamanho...). Resumindo e concluindo, todos deveriam ver «O Circo» (e seria um filme obrigatório para o Plano Nacional de Cinema, divulgado há pouco tempo - quem é que quer ver "A saída dos operários da fábrica", pelamordedeus?!), é rápido, vê-se com delícia e acaba-se com uma sensação de alegria e boa disposição para a vida contagiantes. Está disponível no youtube, e não têm desculpas para não espreitarem. Invistam uma hora do vosso tempo livre e vão ver que não se vão arrepender!

Uma nota também, mais uma vez (como costumo fazer quando falo em filmes de Chaplin), para a edição DVD da MK2, de uma excelência sem igual, e que é pena que a Costa do Castelo, em reedições recentes do catálogo dos filmes de Charlie Chaplin, não tenha querido pôr os extras destas edições com uns anitos publicadas por cá pela Lusomundo (e assim, vendem edições simples dos grandes filmes de Chaplin ao módico preço de vinte euros ou mais...). A introdução do historiador David Robinson é sempre relevante para percebermos, após a visualização de um qualquer filme de Chaplin, a época e a vida de Chaplin na altura em que o fez. E sempre recheado com materiais de arquivo inéditos e documentários excelentes (em «O Circo» com um documentário da série «Chaplin Hoje» com a participação de Emir Kusturica) mostram que a MK2 é uma editora que se pautava pelo respeito dos filmes que editava e do não querer apenas lançá-los para o mercado sem mais nem menos. Muitas distribuidoras lusas também deveriam aprender assim a respeitar o consumidor...

Nota: * * * * 1/2
No Angel
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by No Angel »

Dolores Claiborne (1995) – 10/10
http://www.imdb.com/title/tt0109642/


Este e um excelente filme, com um conjunto de atuaçoes memoraveis. O destaque e a Kathy Bates, que da aqui uma daquelas grandes atuaçoes que da gosto ver pela sua mestria. Ela e sem duvida uma atriz genial, como tambem comprova a sua atuaçao como Annie Wilkes no Misery. Falando no Misery, acho este filme muito melhor. Eu gostei do Misery, mas foi uma adaptaçao muito fraca e nao consigo deixar de pensar do quao melhor poderia ter sido se tivesse seguido mais o livro e a sua atmosfera. A historia deste filme e fantastica, e tenho pena que o livro nao tenha ediçao portuguesa, porque gostava de le-lo. Muito recomendado.
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Re: Qual foi o último filme que viram ?

Post by Cabeças »

No Angel wrote:Falando no Misery...tenho pena que o livro nao tenha ediçao portuguesa, porque gostava de le-lo. Muito recomendado.
Mas há edição portuguesa: :-D

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http://www.fnac.pt/Misery-Stephen-King/ ... &Nu=1&Fr=0
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