Qual foi o último filme que viram ?

[Samwise]

P_Alucinado, tudo bem que a amizade é um conceito vasto em que podemos englobar muitos "níveis de intensidade", mas o que o filme tente demonstrar é que as redes sociais desvirtuam (num sentido claramente pejorativo) a nossa própria noção sobre o valor dos sentimentos. Quando passamos de um momento para o outro a poder chamar "amigo" a uma quantidade enorme de pessoas que não conhecemos de lado nenhum, entramos numa pseudo-realidade que propicia um estado de alheamento em relação aos valores essenciais (não lhes chamaria de conservadores) da vida em sociedade. Podemos não conseguir lutar contra a evolução "natural" das coisas, mas vamos ter de lidar com as suas consequências mais cedo ou mais tarde. O filme explora esta questão muito bem. Vai até mais longe do que na amizade - o colega do Zuckerberg, às tantas, tem uma discussão completamente estupidificante com a "namorada", em que ela o desanca por não ter alterado o "estado de comprometido" no Facebook, e nem quer ouvir mais nada. O que lhe interessa, como prova de amor, é um símbolo numa página da net.

[p_alucinado]

Sam, não estão em causa os "níveis de intensidade" da amizade, até porque isso para mim não existe. Ou é amigo ou não é. Mas a própria definição de amigo depende muito de pessoa para pessoa. Para mim, chamar amigo a alguém que essa pessoa se estivesse disposta a atirar para a linha do comboio para me salvar. Isso para mim é um amigo. Se o é para toda a gente? Não sei.

Eu entendo as redes sociais de uma outra forma, mais como consequência do que como causa do estado em que a sociedade está actualmente. Os valores que encerras contigo aprende-los em casa, não nas redes sociais. Pelo menos os valores-base. E se é bem verdade que há muito miúdo pequeno com contas de facebook activas, parece-me ainda mais verdade que só o fazem porque os pais permitem, e os pais foram educados por uma geração que nem liberdade de expressão conhecia.

A verdade é que valores como amizade foram-se desgastando à medida que a competitividade das sociedades proporcionou um distanciamento entre as pessoas, quer por razões profissionais ("eu é que tenho de ser promovido, não tu"), quer pela falta de tempo. O mundo acelerou e o dia continuou a ter 24 horas. As redes sociais são a concretização dessa evolução (na minha perspectiva, errada) e permitem às pessoas um contacto mais imediato com as outras. Claro que também muito mais básico e inútil, mas pronto...

Como curiosidade, a atitude da miúda que se zanga com o namorado por este não ter alterado o seu estado civil no facebook não coloca em causa a rede social em si, de forma nenhuma. Coloca em causa os valores com que a miúda foi formada e a insegurança que ela, enquanto pessoa, sente relativamente à relação. Da mesma forma que agiu assim, também outras da geração anterior a ela reagiram com ataques de ciúmes extemporâneos motivados por outra coisa qualquer.

[CDT]

Chefes Intragáveis. Uma comédia que realmente vale a pena.

[TrinityA]

The Verdict, (1982), Sidney Lumet

Em boas mãos, um filme não precisa ter planos de 1/2 segundo para conseguir estimular a atenção do espectador; não precisa de ter gritos histriónicos ou reviravoltas implausíveis para ser um filme de tribunal; não precisa chocar gratuitamente para nos dar um ou outro murro no estômago lá pelo meio; e não precisa de ser lamechas para ser redentor mesmo no meio de tanta miséria pessoal e social. Claro que ter o Paul Newman ajuda, mas que grande Sidney Lumet! Vou ter muitas saudades destes dois.

[rui sousa]

Eu não achei grande filme o «The Social Network» porque, sim, apesar de fazer uma espécie de retrato desta nova geração (da qual eu faço parte), acho que acaba por não se tornar um filme muito memorável. As cenas finais dizem-me mais do que o filme todo. Mas este é daqueles filmes que pus na lista dos de «segunda oportunidade». Quem sabe, posso achar melhor... Já «O estranho caso de Benjamin Button» gostei muito quando o vi. Assim como o «Se7en», grande policial.

[Samwise]

Sam, não estão em causa os "níveis de intensidade" da amizade, até porque isso para mim não existe. Ou é amigo ou não é. Mas a própria definição de amigo depende muito de pessoa para pessoa. Para mim, chamar amigo a alguém que essa pessoa se estivesse disposta a atirar para a linha do comboio para me salvar. Isso para mim é um amigo. Se o é para toda a gente? Não sei.

Há amigos de quem me sinto mais próximo do que de outros, isto para além do serem ou não serem.

Eu entendo as redes sociais de uma outra forma, mais como consequência do que como causa do estado em que a sociedade está actualmente. Os valores que encerras contigo aprende-los em casa, não nas redes sociais. Pelo menos os valores-base. E se é bem verdade que há muito miúdo pequeno com contas de facebook activas, parece-me ainda mais verdade que só o fazem porque os pais permitem, e os pais foram educados por uma geração que nem liberdade de expressão conhecia.

Causas ou consequências, quanto ao "estatuto" das redes sociais, não sei. O que pretendi foi salientar que o filme aponta para as consequências da sua utilização de uma forma nada simpática. Independentemente daquilo que aprendes em casa e dos valores que cultivas, as redes sociais podem desvirtuar o modo como os usas de uma forma que não afecta apenas o individual. Toda a sociedade pode ser colocada em causa por esta via.

A verdade é que valores como amizade foram-se desgastando à medida que a competitividade das sociedades proporcionou um distanciamento entre as pessoas, quer por razões profissionais ("eu é que tenho de ser promovido, não tu"), quer pela falta de tempo. O mundo acelerou e o dia continuou a ter 24 horas. As redes sociais são a concretização dessa evolução (na minha perspectiva, errada) e permitem às pessoas um contacto mais imediato com as outras. Claro que também muito mais básico e inútil, mas pronto...

Não é isso. É pior. Não é apenas o ser superficial, é a capacidade que esse superficial tem em substituir o importante na nossa cadeia de valores e nas relações entre as pessoas. Esta é a grande questão do The Social Network - e o que torna o filme tão acutilante. A figura do criador do Napster é a personalização acaba desta ideia. E o Zuckerberg deixa-se contagiar por isso (deixando, pelo caminho, o seu melhor amigo, não sei se o único verdadeiro amigo).

Como curiosidade, a atitude da miúda que se zanga com o namorado por este não ter alterado o seu estado civil no facebook não coloca em causa a rede social em si, de forma nenhuma. Coloca em causa os valores com que a miúda foi formada e a insegurança que ela, enquanto pessoa, sente relativamente à relação. Da mesma forma que agiu assim, também outras da geração anterior a ela reagiram com ataques de ciúmes extemporâneos motivados por outra coisa qualquer.

Concordo com o que dizes, mas remeto para o que disse atrás: as redes sociais propiciam a perda de alguns valores essenciais.

[Samwise]

The Verdict, (1982), Sidney Lumet

Em boas mãos, um filme não precisa ter planos de 1/2 segundo para conseguir estimular a atenção do espectador; não precisa de ter gritos histriónicos ou reviravoltas implausíveis para ser um filme de tribunal; não precisa chocar gratuitamente para nos dar um ou outro murro no estômago lá pelo meio; e não precisa de ser lamechas para ser redentor mesmo no meio de tanta miséria pessoal e social. Claro que ter o Paul Newman ajuda, mas que grande Sidney Lumet! Vou ter muitas saudades destes dois.

X2 - Filme clássico (nos vários sentidos da palavra) e seria a interpretação de uma vida se o Newman não tivesse outras do mesmo calibre.

[inverso]

Só vi o Zodiac "velho", excecional, o novo ainda não vi...

Mas vou já tratar disso...

Amanhã tb de folga... para variar... :) :(

Desculpem ser contraditório

EDIT URGENTE: Marisa Tomei com o Director Kevin Bacon neste momento no canal 1 em a "Educação de Paul"

Afinal, peço desculpa, Zodiac só há este, já tinha visto há muito tempo, bom filme, custou 65 milhões, só teve um retorno de 84 milhões!!?

Nas cenas de assassinato foram usadas camaras de camara lenta, em algumas cenas camaras profissionais e muito sofisticadas (wikipedia), o filme foi um fracasso em termos financeiros.

[Ludovico]

Pois,para mim,os melhores filmes da carreira Fincher são "O Jogo" e "Seven" são ambos os nota 10 por razões diferentes,claro.
Depois está "Alien 3",é um soberbo alien filme que está exactamente ao nivel dos outros.
Já "Zodiac" é um filme menor na carreira dele:
É um filme ultra-denso,de uma densidade tão,tão elevada que o castra de ir mais além em termos narrativos.Depois,é um filme longuissimo de mais para o necessário,é lentissimo que se farta para o que se desejava e é um filme que não dá aquilo que promete.É um filme que vai numa direcção que não é a esperada.O filme acaba por ser um documentário do que se passou na vida dos personagens reais do que cinema.
Eu queria cinema não um documentário filmado.
Tudo bem,tem boas interpretações,claro,mas isso por si só não faz um bom filme.
A meu ver,é um filme totalmente falhado.Um nota 5.
Já "Benjamim Button" o problema é outro.
Este filme é o pior filme de toda a carreira dele,na minha opinião.
Assim é porque não era o realizador indicado,na minha opinião,para trabalhar nele.
É um filme claramente encomendado e forjado para ser feito por ele.
É um filme atrozmente,avassalodoramente académico e bem comportado,que nasce de uma ideia descabida e absurda e é desenvolvido de uma forma igualmente denunciada e confrangedora.É uma pseudo-fábula sem nexo,sem imaginação nem audácia.É um filme longuissimo,tremendamente mal escrito,nada bate certo no filme,é um amontoar de clichés.
Em suma,um desastre tremendo.Vale pelos efeitos especiais e mais nada.Nota 4.
Já a "A Rede Social" é um filme bem filmado,sem dúvida, e bem interpretado mas eu queria cinema e não um documentário de como se fez o Facebook.
Achei engraçado a troca de argumentos do Samwise e P-alucinado,dado que,para ter as opiniões que eles têm do filme,o filme teria que ser filmado de outra forma e não da maneira que Fincher o realizou.O filme entertém,diverte,foca como se criou e quem criou mas quanto mais não mostra mais.É mais um documentário do que cinema e eu desvalorizo esse tipo de filmes.É um nota 7,em suma.

[Samwise]

Achei engraçado a troca de argumentos do Samwise e P-alucinado,dado que,para ter as opiniões que eles têm do filme,o filme teria que ser filmado de outra forma e não da maneira que Fincher o realizou.O filme entertém,diverte,foca como se criou e quem criou mas quanto mais não mostra mais.É mais um documentário do que cinema e eu desvalorizo esse tipo de filmes.É um nota 7,em suma.

Ahhh, não percebeste o filme...

Eu entendo a tua questão da aproximação ao estilo documental (e até concordo em parte com a ideia), que julgo ser deliberada (mais no caso do Zodiac, do que no TSN) mas não considero que isso seja uma "fraqueza". No caso do Zodiac, penso que faz parte do desejo em recriar o ambiente da época o mais possível, não só nos cenários, como também nos costumes sociais e nos pormenores do caso em particular, mas há ali muito espaço para a ficção, e, noutra vertente, para a criatividade na filmagem - e este último aspecto afasta qualquer ideia de poder considerar o filme um documentário.

[p_alucinado]

Achei engraçado a troca de argumentos do Samwise e P-alucinado,dado que,para ter as opiniões que eles têm do filme,o filme teria que ser filmado de outra forma e não da maneira que Fincher o realizou.O filme entertém,diverte,foca como se criou e quem criou mas quanto mais não mostra mais.É mais um documentário do que cinema e eu desvalorizo esse tipo de filmes.É um nota 7,em suma.

Ahhh, não percebeste o filme...

Eu entendo a tua questão da aproximação ao estilo documental (e até concordo em parte com a ideia), que julgo ser deliberada (mais no caso do Zodiac, do que no TSN) mas não considero que isso seja uma "fraqueza". No caso do Zodiac, penso que faz parte do desejo em recriar o ambiente da época o mais possível, não só nos cenários, como também nos costumes sociais e nos pormenores do caso em particular, mas há ali muito espaço para a ficção, e, noutra vertente, para a criatividade na filmagem - e este último aspecto afasta qualquer ideia de poder considerar o filme um documentário.

Sem dúvida de acordo com o Samwise. O "problema" do Social Network é que é um filme com várias camadas e nenhuma delas está à vista desarmada. Eu, por exemplo, reparei em determinadas coisas por causa desta discussão com o Sam, mesmo não concordando com algumas das suas opiniões. De qualquer forma, apetece-me imenso rever o filme até para poder fazer evoluir a minha própria opinião sobre o filme.

Apesar de todas as obras-primas - e tenhamos aqui em conta que o David Fincher será actualmente o maior "fabricante" de obras-primas vivo - também considero o Zodiac o seu melhor filme.

[Ludovico]

Achei engraçado a troca de argumentos do Samwise e P-alucinado,dado que,para ter as opiniões que eles têm do filme,o filme teria que ser filmado de outra forma e não da maneira que Fincher o realizou.O filme entertém,diverte,foca como se criou e quem criou mas quanto mais não mostra mais.É mais um documentário do que cinema e eu desvalorizo esse tipo de filmes.É um nota 7,em suma.

Ahhh, não percebeste o filme...

Eu entendo a tua questão da aproximação ao estilo documental (e até concordo em parte com a ideia), que julgo ser deliberada (mais no caso do Zodiac, do que no TSN) mas não considero que isso seja uma "fraqueza". No caso do Zodiac, penso que faz parte do desejo em recriar o ambiente da época o mais possível, não só nos cenários, como também nos costumes sociais e nos pormenores do caso em particular, mas há ali muito espaço para a ficção, e, noutra vertente, para a criatividade na filmagem - e este último aspecto afasta qualquer ideia de poder considerar o filme um documentário.

Percebi bem ambos os filmes.
Para mim,em ambos os filmes,Fincher falhou.
Em "Zodiac" o exercicio é puramente documental e não vejo ficção nele,não vislumbro qualquer cratividade na filmagem.É um registo monótono,secante,é um amontoar de factos reais literais que são colocados lá de uma forma puramente demonstrativa.
As coisas são lá colocadas em bruto,não foram trabalhadas,foram metidas de uma forma literal.Não foram sujeitas a um apuro de um trabalho ficional.Tudo isto ao longo de 2 e meia de filme não fica fácil.É um filme falhado e muito.
Já em "A Rede Social" o caso muda de figura no conteudo mas na forma é o mesmo.
Um filme puramente documental que mostra aquilo que aconteceu de uma forma bem mais agradável do que no outro filme,de uma forma mais ligeira e com enorme relax,de uma forma cool mas,que como resultado final,representa o mesmo que o outro.Claro que acho que "A Rede Social" é bem melhor do "Zodiac" mas no fundo e em sintese parece-me que em ambos Fincher devia ter ficcionado mais as histórias e não ter trabalhado as obras de uma ilustrativa e documental.Em ambos teve muita minúcia em contar o que se passou do que em trabalhar de uma forma livre,criativa e dinâmica os filmes.
Assim,em ambos os filmes,vejo só uma camada de análise,exercicos documentais que se extraiem muito pouco em termos de cinema.Fincher já teve melhores dias no passado.Agora é um contador de histórias normal.Espero que o filme seguinte seja o retorno às obras primas da década passada.

[Samwise]

Percebi bem ambos os filmes.

Ludovico, quando disse aquilo era para espicaçar, não leves a sério.

O bom destas discussões, como o Alucinado diz, é que aprendemos sempre qualquer coisa com elas (ao contrário das puras descargas dos "gostei, nota X" vs "não gostei, nota Y"), mesmo ao tentarmos explicitar os porquês do nosso gosto. Nisso estou completamente de acordo - já aprendi qualquer coisa hoje acerca do Zodiac e do TSN.

[p_alucinado]

Ludovico,

não percebeste mesmo o(s) filme(s). Ilustrativos??? Ainda me hás-de dizer, por exemplo, em que é que o Se7en desperta mais a discussão que o Zodiac (a referência aos dois deve-se apenas ao facto de serem sobre serial-killers). Aliás, o Se7en - do qual gosto muito - acaba por ser muito mais ilustrativo no sentido em que prefere chocar-nos mas dá-nos a papinha toda feita, sem haver motivo para muitas discussões pós-filme, pelo menos no que directamente a ele diz respeito. Tanto Zodiac como Social Network tavez não sejam tão fáceis de ver a nível formal, mas a nível de sumo estão anos-luz à frente...

[Samwise]

Em relação ao Zodiac, não sei se haverá grande coisa para escarafunchar por debaixo daquele formalismo narrativo todo, mas no The Social Network sem dúvida que há. E é um filme bastante moralista (quer gostemos disso ou não).

Passando a outro assunto, que tal aquela filmagem da competição de remo o TSN? Foi captada (ou tratada em edição) com uma técnica fotográfica cuja intenção é fazer com que os motivos pareçam miniaturas (a focagem é curta, colocando em evidência o motivo principal e desfocando tudo o resto, quer atrás, que à frente...). Alguém se lembra disto?

Está aqui: