Filmes de Guerra

[Ricardo Ribeiro]

Hoje estava a ver um filmeco já com alguns anos, cujo nome nem sei, com Sean Connery e Meg Ryan, e ocorreu-me que os tristes do outro lado do oceano têm andado tão entretidos com o "eixo do mal", que até já se esqueceram do Vietnam. Nos últimos ano, talvez a partir de Saving Private Ryan, tem havido um revivalismo da produção dedicada à II Guerra Mundial... mas com isto o Vietname parece ter-se finado, pelo menos até que uma nova onda arranque.

[Enigma]

Chão que já deu (muitas) uvas... E para além de, actualmente, ter cessado a inspiração para os americanos voltarem a mostrar uma nova visão de uma das suas dolorosas derrotas (pelo menos moral), convenhamos que o Vietname em cinema é uma subcategoria que possui só 3 das maiores e intimidantes referências do Cinema, praticamente inultrapassáveis: Apocalypse Now, Platoon e The Deer Hunter.

[Gollum]

Chão que já deu (muitas) uvas... E para além de, actualmente, ter cessado a inspiração para os americanos voltarem a mostrar uma nova visão de uma das suas dolorosas derrotas (pelo menos moral), convenhamos que o Vietname em cinema é uma subcategoria que possui só 3 das maiores e intimidantes referências do Cinema, praticamente inultrapassáveis: Apocalypse Now, Platoon e The Deer Hunter.

*cogh*Full*cogh*Metal*cogh*Jacket*cogh*

[Enigma]

Também muito bom, sem dúvida, apesar de não ser para mim uma obra-prima como aqueles 3.

Mas ajuda a mostrar como é mesmo uma subcategoria tão cheia de qualidade, e que assusta os aventureiros actuais que queiram fazer algo sobre o Vietname, algo que não seja apenas "mais um"...

[Gollum]

Também muito bom, sem dúvida, apesar de não ser para mim uma obra-prima como aqueles 3.

Por muito que goste de Kubrick, tenho que concordar que a 2º parte é muito fraquinha. Mas continua a ser de visionamento obrigatório.

[Tojal City]

Também muito bom, sem dúvida, apesar de não ser para mim uma obra-prima como aqueles 3.

Por muito que goste de Kubrick, tenho que concordar que a 2º parte é muito fraquinha. Mas continua a ser de visionamento obrigatório.

E eu acho toda a primeira parte do Deer Hunter, o casamento, demasiado longo e enfadonho. Reduzindo em mais de metade esta parte e tinha para mim um filme brilhante, assim é só um filme menos brilhante, com um terço de filme desperdiçado.
Atenção, eu entendo o que realizador pretendeu passar com o primeiro terço do filme, a inocência, a felicidade e a amizade entre eles, mas havia formas bem mais dinâmicas do que filmar um casamento. Já não temos que aturar com o vídeo de casamento dos outros quando vêm cá a casa?

[siroco]

Para mim o Full Metal Jacket é o melhor dos 3, e digo 3 porque não acho que o Deer Hunter tenha lugar no pódio, o único mérito que tem foi ter sido o primeiro.

[Enigma]

Para mim, a 1ª parte Deer Hunter, com o casamento e a caçada, é propositadamente longa (não a considero enfadonha) precisamente para estabelecer a realidade da pequena localidade e suas rotinas e todas as relações e laços (principalmente do trio Michael, Nick e Linda) para que a 2ª parte (cativeiro) e 3ª parte (resgate de Nick) tenham muito mais impacto, quer em termos de emoção para com o destino das personagens, quer em termos de ritmo do filme.

Eu fui gostando cada vez mais e percebendo que para além de uma obra-prima se trata de um dos poucos filmes que retratam de uma forma poderosa as horríveis sequelas (não só com o Nick mas também com a personagem do John Savage), deterioração psicológica, a forma como isso afecta o circulo familiar e de amizade do(s) veterano(s) e a perda de humanidade da guerra em geral e do Vietname em particular.

A cena da roleta russa (apesar da do cativeiro também ser emocionante) entre Nick e o Michael é das melhores de sempre do cinema, e das mais trágicas também.

[Giribi]

Atendendo à vergonha que tem sido a presença Americana no Iraque, acho dificil neste momento alguém nos EUA arranjar financiamento para um filme sobre o Vietnam, outro conflito do qual os Americanos não têm boas memórias.
Quem quiser matar saudades pode sempre ver o novo Rambo. Não tem história, tem um vilão tão mau que até é pedófilo, mas é lá por perto e tem sangue e membros a saltar por todo o lado.

[Gollum]

Talvez porque não me entretenho muito com factos e história, sempre que vejo filmes de guerra baseados em uma qualquer guerra, acabo sempre por focar a minha atenção totalmente aos sentimentos e as provações pelas quais os militares passam e a maneira respondem a essas situações.
Acho que o único filme em que o cenário de guerra do vietname torna-se realmente uma "personagem", que toma o protagonismo, é em "Apocalipse Now".

[p_alucinado]

O filme a que te referes no início, Ricardo, é A Hora dos Heróis.

Vejam o Tigerland, do Joel Schumacher. Isso sim, grande filme, para além dos já citados.

[Von Paulus]

Talvez porque não me entretenho muito com factos e história, sempre que vejo filmes de guerra baseados em uma qualquer guerra, acabo sempre por focar a minha atenção totalmente aos sentimentos e as provações pelas quais os militares passam e a maneira respondem a essas situações.
Acho que o único filme em que o cenário de guerra do vietname torna-se realmente uma "personagem", que toma o protagonismo, é em "Apocalipse Now".

Nunca vi o Apocalypse Now sobre esse ponto de vista. Sempre achei a parte do Vietnam como mais um cenário do que como uma "personagem". Se fosse outra guerra ou mesmo só uma "simples" subida do rio Congo em busca do Kurtz o resultado seria o mesmo. Sendo adaptado, e razoavelmente bem na minha opinião, de uma obra literária (e que obra) do princípio de século XX, sempre achei que o facto do filme ser passado durante a guerra do Vietnam fez com que o sentido do filme fosse subvalorizado.

[DarkPhoenix]

Os derradeiros filmes acerca do Vietname são aqueles que colocam o dedo na ferida.

Nem considero que "Apocalypse Now" deve estar incluído nesse grupo, pois o Vietname nesse filme é apenas o pano de fundo para justificar a loucura que toma conta do ser humano quando lhe é entregue o poder de decidir a vida e a morte, o certo e o errado.
Qualquer outra guerra poderia ter servido para esse efeito, ou como acontece na obra original, nem precisava de nada disso para expôr a sua lógica retorcida.

Para mim, são 3 as grandes obras que focam as particularidades da guerra do Vietname e respectiva influência na sociedade USA.


"The Deer Hunter" é brilhante, e neste caso o todo é bem maior do que a soma das partes.
Como já aqui foi referido, a cena do casamento torna-se aborrecida e precisava de um corte enorme.
Também as artesanais cenas de combate deixam muito a desejar na sua simplicidade, e acho que todo o filme tem problemas a nível de ritmo narrativo.
No entanto, não há mais nenhum filme que capture a essência do zé-ninguém proveniente do cú dos USA, que coloca a sua vida desinteressante ao serviço do Tio Sam, acabando por perder até o pouco que tinha.
Amo as cenas iniciais na siderurgia, o fim de turno da última noite de trabalho antes da partida, o encontro no café para umas cervejas e um bilhar, é tudo tão honesto e tão realista que me faz perguntar se a realidade do trabalho é assim tão dura de aceitar no grande ecrã.
O elenco é inesquecível, saliento De Niro no seu melhor papel ( ao lado de "Taxi Driver" e "Raging Bull" ), Chistopher Walken em mais um desempenho notável e Merryl Streep numa interpretação tão doce e genuína que assusta.


"Born on the 4th July" é no meu entender milhões de vezes mais interessante do que "Platoon", também de Oliver Stone.
Tom Cruise no papel da sua vida, ao interpretar o papel de Ron Kovic, um all-american-golden-boy que vê a sua vida destruída ao regressar inválido do Vietname.
Um rapaz que à partida tinha o sucesso nas mãos, que era amado, adorado e protegido pela sua comunidade, regressa como mal-amado e uma lembrança incómoda dos horrores da guerra e da falsidade da propaganda governamental.
Fabulosa metáfora da desilusão e do desencanto, incarnada na caminhada dura de Kovic na recuperação do seu lugar no mundo.
O melhor filme de Oliver Stone ( a par com "Talk Radio" ).


"Full Metal Jacket" não é um grande Kubrick, mas merece um lugar nesta lista.
A descrição da brutalidade na recruta e suas consequências psicológicas não tem igual no cinema.
Infelizmente, a segunda parte é muito inferior e não é digna do trabalho habitual de Kubrick, perdendo-se em algumas cenas de guerra desinspiradas e banais.
Mesmo assim, o filme acaba por funcionar ao analisar o papel do grupo, desde a sua formação na recruta à convivência numa zona de guerra e no campo de batalha.

[Gollum]

Nunca vi o Apocalypse Now sobre esse ponto de vista. Sempre achei a parte do Vietnam como mais um cenário do que como uma "personagem". Se fosse outra guerra ou mesmo só uma "simples" subida do rio Congo em busca do Kurtz o resultado seria o mesmo. Sendo adaptado, e razoavelmente bem na minha opinião, de uma obra literária (e que obra) do princípio de século XX, sempre achei que o facto do filme ser passado durante a guerra do Vietnam fez com que o sentido do filme fosse subvalorizado.

Discutir este tipo de percepções que se tem dos filmes é complicado, mas como disse não sou agarrado a factos e não é a guerra do vietname, mas a forma como a guerra se descreve e é apresentada no filme. À medida que sobem o rio, a guerra desenrola os seus horrores e os personagens respondem às suas provocações, até chegarem ao horror que é Walter Kurtz que, de certa maneira, é uma vitima da guerra(a loucura e insensibilidade advêm das suas experiências na guerra).

Por outro lado, "Platoon" ou "Full Metal Jacket" a guerra nunca é apresentada daquela maneira, aí sim é apenas cenário para aquilo que vive e cresce nos homens. Nestes filmes o foco nunca deixa de ser os personagens, ao contrário do que Coppola faz com "Apocalypse Now" e as suas personagens.

Infelizmente, a segunda parte é muito inferior e não é digna do trabalho habitual de Kubrick, perdendo-se em algumas cenas de guerra desinspiradas e banais.

Full metal jacket só é um filme menor quando comparado às outras obras de Kubrick(e nem sequer todas, "Killer's Kiss" é menos bom), mas chamar às cenas de guerra desinspiradas ou banais...

[Ricardo Ribeiro]

Bem, já que a conversa caiu para a análise individual dos filmes já feitos... o meu favorito é Full Metal Jacket. É o mais brutal sem ser patético, sem cair no ultra-realismo que é em si uma antítese de realismo (se é ultra, não o é, por definição, ultrapassa-o, torna-o artificial).

O Caçador... nunca o considerei um filme de guerra, apesar de ser sobre uma guerra e o efeito que tem na vida de um grupo de pessoas. Gosto muito deste drama brutal (desculpem lá a repetição do termo, mas hoje estive duas horas na praia ao pé de um grupo de adolescentes a fazerem-se de adultos e parece que ouvi tantas vezes a palavra que não a consigo esquecer), condimentado com um tema sonoro que vale metade da sua cotação.

Platoon foi um filme de época, impressionante na altura, muito datado hoje. Há relativamente pouco tempo, digamos, uns cinco anos, revi-o e detestei... a arrogante injecção de valores morais, os lugares-comuns... nem pensar em colocá-lo na galeria de honra, a não ser pelo que foi quando nasceu.

Apocalypse Now foi provavelmente o filme que mais vezes vi, e isso diz tudo sobre o que penso dele. Vê-se hoje e poder-se-ia acreditar que foi rodado em 2008. É completamente à prova de tempo. O oposto de Platoon.

E depois, falaram ai no Nascido a 4 de Julho, que tal como O Caçador não é um filme de guerra. Nessa categoria adicionaria Jardins de Pedra.

E já que falam sobre os filmes rodados, há ainda o Casualties of War, outra injecção de moral que é coisa que tenho muita dificuldade em chupar em filmes. Para isso, para me passarem valores, estiveram cá os meus paizinhos.