Rocky Balboa (2006) - Sylvester Stallone

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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Knoxville
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Post by Knoxville »

“Let me tell you something you already know. The world ain't all sunshine and rainbows. It is a very mean and nasty place and it will beat you to your knees and keep you there permanently if you let it. You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain't how hard you hit; it's about how hard you can get hit, and keep moving forward. How much you can take, and keep moving forward. That's how winning is done. Now, if you know what you're worth, then go out and get what you're worth. But you gotta be willing to take the hit, and not pointing fingers saying you ain't where you are because of him, or her, or anybody. Cowards do that and that ain't you. You're better than that!”

Vamos começar por deixar algo bem claro: “Rocky Balboa” é o melhor filme da saga desde a obra original, - que levou o Óscar para casa - e arrecada, com larga distância para qualquer outro, o estatuto de fita cinematográfica de Stallone com maior sensibilidade e coração. E este parágrafo de introdução é o esbanjar de uma vida. A vida de Stallone, a vida de Rocky. Porque um e outro são indissociáveis. Porque o inglês arranhado de Balboa não impede que aquele coração mole amanteigue também o nosso. Porque a pressão exterior do meio e da indústria não obstruiu Stallone de voltar a executar uma obra como nos velhos tempos, cheia de paixão e inocência. “Rocky Balboa” não é um filme de boxe, é sim um impulso auto-retratista, de um repentismo entusiasmante, instigado pela solidão, e que vem, de certa forma, pedir “desculpa” por todas as sequelas que apesar de cativantes, arruinaram por demasiadas vezes o próprio espiríto e lema de Rocky.

Cinematograficamente, “Rocky Balboa” tende para a mediania. Usa e abusa do formato “Televisão em Directo”, não se preocupa com a repetição de planos e desiquilibra as três fracções de qualquer filme de Rocky: a razão/sentimento, o treino e o combate final. Temos apenas cinco minutos de treino (cinco minutos bombásticos, acompanhados por um “Gonna Fly Now” em orquestra absolutamente delicioso) e o combate final é mediocremente mal aproveitado em termos físicos. Mas quem precisa de tudo isto, quando temos perante nós um filme carregado de sinceridade por parte de Stallone, que disfarçadamente faz a relação entre a situação de Rocky como “animal preso” e a sua própria vida real enquanto actor? Ninguém. “Rocky Balboa” é humano enquanto filme, e isso chega e sobra. Trata a vida como um bem precioso mas cruel, que golpeia-nos a todos mais tarde ou mais cedo e isso toca o espectador. Honestamente, não me lembro da última vez que fui ao cinema e vi uma sala cheia a bater palmas durante o filme, a cantar o seu tema principal, e a sair da sala com uma lágrima no canto do olho. Não me lembro, porque nunca tinha acontecido. “Rocky Balboa” foi, por tudo isso, uma experiência única.

Stallone agarra-nos como nunca com um coração enorme que esconde e desculpa todas as falhas enquanto realizador e mesmo, como actor. E Sylvester Stallone é, ele mesmo, uma história de vida com um “knock-out” vitorioso ao fim de alguns rounds. Nasceu com um nervo facial destruído, que lhe paralisou parte dos lábios, da língua e do queixo, deixando-o com aquele olhar e falar à pedrada que o transformaram num mito. Com pouco mais de 10 anos, a “escola para deficientes” que frequentava colocou na sua ficha que o seu desfecho mais provável seria a pena de morte. Ao fim de uma vida (já lá vão 60 anos), Stallone é o que é. E mais uma vez, remete-nos para o parágrafo inicial. Porque “You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain't how hard you hit; it's about how hard you can get hit, and keep moving forward. How much you can take, and keep moving forward. That's how winning is done.” Porque “Rocky Balboa” mais do que a própria história de Rocky Marciano, é a história de Stallone, Sylvester Stallone. E talvez tenha sido pela sua dedicação a Rocky, que Sly nunca conseguiu ser um actor aceite como tal. Porque, e citando Vasco Câmara, Stallone não o faz como nos anos 70, Stallone “é” os anos 70.

Em suma, “Rocky Balboa” é a despedida de um clássico que marcou gerações. É uma história de coragem e esperança, que apesar das diversas falhas, acaba por ser aplaudido pelos mesmos que o assobiaram aquando do seu aparecimento enquanto projecto. É um Rocky sincero e humilde que “encaixa” um forte gancho de direita em todos aquelas que o previam na lama. E um valente abraço a todos aqueles, que tal como eu, cresceram a respeitar e a adorar “Rocky/Sylvester” como símbolo de vitória e sucesso perante a mais díficil das adversidades. E é nesta altura que sinto a necessidade de retribuir aquela arrepio na espinha ao ouvir “Gonna Fly Now” - não se percebe a razão pela qual esta nova versão não constar nos nomeados da Academia para melhor canção – durante “Rocky Balboa”. Porque mesmo sem merecer enquanto filme solitário, estas cinco estrelas premeiam muito mais do que isso. Premeiam uma vida, uma geração, uma saga inesquecível. “Adrian... we did it!”.
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Edward Brock
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Post by Edward Brock »

Knoxville, esse primeiro parágrafo que citaste também achei o momento mais inspirado do filme.
Já agora, que cinema foi esse onde foste em que o pessoal aplaudiu? Isso só me aconteceu uma vez e não foi exclusivamente por causa do filme.
Psico_Mind
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Post by Psico_Mind »

Foi daqueles momentos mágicos.. Sylvester é um grande senhor.
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rtavares
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Post by rtavares »

e a qualidade de imagem no combate :shock: !

Foi filmado em câmaras de alta definição e, pelo menos no UCI, a imagem era de pasmar. Nunca vi tanta definição num cinema (mesmo não sendo "alta-definição" pelos parâmetros numéricos).
AMSA
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Post by AMSA »

rtavares wrote:e a qualidade de imagem no combate :shock: !

Foi filmado em câmaras de alta definição e, pelo menos no UCI, a imagem era de pasmar. Nunca vi tanta definição num cinema (mesmo não sendo "alta-definição" pelos parâmetros numéricos).
Será que tem a ver com o modo 1080p ?
brainX
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Post by brainX »

Eu subscrevo a maioria das opiniões...

Este filme é capaz de amolecer qualquer coração... E com uma linha de sinceridade que é arrebatadora.

Pessoalmente achei o filme simplesmente fantástico. Acho que o sentimento e honestidade que o Sly põe no filme é arrebatador e comove qualquer espectador que tenha um mínimo de carinho pela personagem do Rock.

E o final tinha que ser aquele.

SPOILER

O verdadeiro vencedor daquele combate, apesar da decisão técnica do juri, foi o Rocky e essa era a mensagem a passar...
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Ribeiro
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Post by Ribeiro »

rtavares wrote:e a qualidade de imagem no combate :shock: !
Sim. E acompanha o promenor das técnicas televisivas ou das transmissões normais de combates actuais de boxe...

... o que sinceramente desgostei um pouco. Continuo a preferir aquela montagem clássica (onde até às vezes se via claramente que eles não se atingiam) que mesmo assim era mais emocionante. Se calhar também é a nostalgia a falar...
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jgeiras
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Post by jgeiras »

Ribeiro wrote:
rtavares wrote:e a qualidade de imagem no combate :shock: !
Sim. E acompanha o promenor das técnicas televisivas ou das transmissões normais de combates actuais de boxe...

... o que sinceramente desgostei um pouco. Continuo a preferir aquela montagem clássica (onde até às vezes se via claramente que eles não se atingiam) que mesmo assim era mais emocionante. Se calhar também é a nostalgia a falar...
por acaso foi o que menos gostei neste filme.
gexplorer
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Post by gexplorer »

O que sempre achei exagerado nos filmes do Rocky são exactamente os combates em si! Sinceramente não sou grande adepto de boxe, mas já vi alguns combates no Eurosport, e de pesos pesados então, parece-me tudo muito lento, com poucos socos certeiros e muita postura defensiva, e sempre que há um soco certeiro, lá vai o socado ao tapete.

Ora, nos filmes Rocky os combates são sequências infindáveis de estrondosos socos certeiros na cara do adversário, quase sempre sem qualquer guarda defensiva por parte deste. Parece-me a mim que num combate verdadeiro um só soco certeiro desses era o suficiente para deitar quem o levava ao chão com KO, mas no mundo Rocky não, é porrada na cara de cada um até ao último round que os gajos não sentem (quase) nada e só mesmo nesse último round é que cai um deles (ou os dois).

Por mais que simpatise com a personagem Rocky, nunca consigo afastar este pensamento sempre que vejo algum filme dele.
Edward Brock
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Post by Edward Brock »

O próprio Stallone falou nisso na série de Q&A que fez no AICN. Enfim, também tem de se jogar para o espectáculo... :wink:
AMSA
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Post by AMSA »

gexplorer, é verdade o que disseste, mas mesmo também acontece noutros filmes de porrada! Nos asiáticos então... :-D

Esta sexta-feira vou dar um salto ao cinema para ver o Rocky :roll:
Enigma
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Post by Enigma »

gexplorer wrote:O que sempre achei exagerado nos filmes do Rocky são exactamente os combates em si! Sinceramente não sou grande adepto de boxe, mas já vi alguns combates no Eurosport, e de pesos pesados então, parece-me tudo muito lento, com poucos socos certeiros e muita postura defensiva, e sempre que há um soco certeiro, lá vai o socado ao tapete.
Nos tempos mais recentes, é assim de facto, tal como outros desportos o boxe também evoluiu e com mais lutadores bem preparados e semelhantes a nivel técnico a componente "táctica" dos combates passou a ter mais peso, com posturas mais defensivas e mais ataques pela certa. Um certo declinio e afastamento de publico (abordado também neste filme) tem muito a ver com isso (e na América se o espectáculo não está dentro do ringue, promove-se fora dele).

Mas em tempos não muitos distantes (combates por alturas da produção do 1º Rocky, com Frasier, Foreman, Ali etc e antes desses) os combates eram mais abertos e não era vulgar ver esse desfile de golpes, em que os homens pareciam de ferro e aguentavam verdadeiros enxertos antes de sucumbir. Mas mesmo assim não tão exagerados como alguns combates da saga, sim.


Sobre este filme, é uma aposta ganha, muito pessoal, do Stallone. Nunca como antes do filme original da saga, Stallone teve tanto tempo para pensar (agora não nas personagens) num argumento decente, sem cair nas modas, nos cenário politicos etc que condicionaram os outros filmes da saga.

Existe uma ruptura clara, quase como se só existisse o Rocky I (e o ter sido campeão no II), se esquecesse os restantes 4 filmes e agora este Rocky Balboa. Se essa ruptura foi óptima para encontrar o rumo certo para a história (nesse aspecto a morte da Adrian acaba também por ser um excelente empurrão), quem acompanhou o minimo da saga não pode ficar sem estranhar certos pormenores..

Por exemplo, dos anteriores filmes para este, Rocky perde toda a sofisticação que tanto trabalho lhe deu a ganhar, e não me refiro só à técnica de combate ensinada por Apollo pois agora está velho e isso disfarça (e à riqueza que agora não tem), mas todo aquele ar mais "Stallone" e menos "Rocky" que foi ganhando no avançar da saga e estava presente no final do Rocky V. Volta o Rocky langão, andar arrastado (ainda mais... velhice?), volta a ser por vezes pouco perspicaz (Jamaica... European?) mas com uma sinceridade e valores de vida na ponta da língua... o Rocky do 1º filme.

Também estranhei naquela parte da comissão aprovar o seu regresso e os testes fisicos estarem muito bem... ora se bem me lembro no Rocky 5 as sequelas de tantos combates revelavam-se devastadoras (os tremores etc)e o crónico problema do olho direito de Rocky parece também não estar lá...

Já o tema da despedida em grande (libertar a besta dentro dele) e o sempre presente desejo de um último combate (mais comum do que se pensa nos boxeurs e outros desportistas de alta competição no geral) até já tinha sido ligeiramente abordado no Rocky 4, com aquele trágica despedida do Apolo...

Um bom filme, muito sincero e a fechar bem esta longa caminhada.

8/10
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Psico_Mind
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Post by Psico_Mind »

Enigma, supostamente no 2º filme ele também não podia combater mais se não ficava cego daquela vista. Mesmo assim, levou de novo do Apollo, do Mr. T :lol: e por fim do russo com a força toda.

Já isso do estilo reparei que voltou ao mesmo e não desgostei. No 3º já não parecia o rocky de fato. :mrgreen:
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DarkAvenger
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Post by DarkAvenger »

Mas em tempos não muitos distantes (combates por alturas da produção do 1º Rocky, com Frasier, Foreman, Ali etc e antes desses) os combates eram mais abertos e não era vulgar ver esse desfile de golpes, em que os homens pareciam de ferro e aguentavam verdadeiros enxertos antes de sucumbir. Mas mesmo assim não tão exagerados como alguns combates da saga, sim.
Exactamente! Agora já nem existem os tradicionais K.O. o que para muitos lutadores é motivo para contestação. Os K.O. técnicos atribuidos pelos arbitros têm causado muita polémica.
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bisard
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Post by bisard »

Mas que grande filme é este Rocky Balboa. Adorei. É impossivel não sair comovido da sala de cinema. Vão ver!
Não me consigo lembrar de uma personagem que tenha igual relação com o espectador. Acabamos sempre por torcer e vibrar com cada soco e com cada vez que ele se levanta! ROCKY ROCKY ROCKY 9/10 :wink:

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