Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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waltsouza
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Post by waltsouza »

Querem outro exemplo de grande longevidade de exibição de um filme em Portugal? O mega sucesso Os Deuses devem estar Loucos esteve por altura da sua estreia muitos meses em exibição (não sei precisar quantos).

E não esquecer também Dead Poets Society que também teve imenso tempo nas salas - explicada pela romaria ao cinema das turmas escolares na altura. A minha turma foi uma delas. :wink:
Gollum
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Post by Gollum »

Francesco Zappa wrote:
Gollum wrote:Sinceramente desde que ouvi aqui alguém dizer aqui no fórum que não consegue ver filmes a preto e branco tenho sempre a dúvida se a pessoa que está a opinar tem capacidade fílmica cultural necessária para que a sua opinião seja válida do ponto de vista de real cinema do qual eu a procuro analisar(atenção que eu próprio sou um cinéfilo em construcção).

Compreendo, de certa forma, o que queres dizer, tenho aliás o exemplo lá em casa, a minha Maria não vê/gosta de filmes a preto e branco, entre outros :mrgreen: , mas depois fazes a mesma coisa (ou quase) ao renegares o experimentalismo como forma válida de cinema.
O que seria do cinema hoje em dia sem todo o experimentalismo de um Buñuel, um Godard, um Resnais ou um Tarkovsky, entre tantos outros.
O cinema, como qualquer forma de criação, depende muito da experimentação para ir encontrando novos caminhos, para quebrar regras estabelecidas e tidas como intocáveis.

Concordo completamente com uma excepção: eu não neguei o experimentalismo como forma válida de cinema, é perfeitamente válida, louvável e até mesmo desejável por quem procura novo cinema que "brinque" de certa forma com a forma do cinema, especialmente numa altura em que(particularmente o cinema americano, mas não só) parece preso numa maneira de fazer cinema sem puxar limites e assim descobrir novas maneiras de mostrar algo com imagens. AGORA...o que eu disse acerca de este experimentalismo nunca se tornar numa obra-prima que muitos a pintam parece-me a mim uma ideia muito verdadeira, porque senão vejamos:
- um filme experimental(e atenção que é daqueles filmes em que tudo parece muito diferente e novo), é por vezes copiado de alguma(ou vários maneiras) e essa nova forma é reajustada e na maioria melhorada para criar um filme que não sendo tão experimental, usou por exemplo, uma maneira de filmar que o realizador viu e repensou para o seu filme. Filme esse que por ser menos "marginal", por usar apenas aquilo que se sabe funciona na manipulação de um público, é um filme bastante melhor que o experimentalista, por ser mais compreendido e por muitas vezes da combinação de novas e velhas formas de cinema nascer algo muito melhor.

Se não perceberam ainda pensem assim, para fazer um filme experimental é necessário usar a cabeça para alterar(inventar) a forma, quando num filme em que o realizador quer mostrar algo ao público, algo que para ele está bem definido, ele procura manipular o que tem para mostrá-lo usando a sua sensibilidade, criando um filme que será muito diferente de tudo porque para além de ser um filme com características diferentes, é também um filme que tem significado.

Os filmes experimentalistas podem ter significado, mas com alguns truques por vezes tão intelectualistas que falham na utilização do sentimento para a compreensão do filme.

Atenção que há excepções, Fellini, Kubrick e Welles todos eles mexeram na fórumula e criaram obras-primas do cinema, mas mesmo desses o mais influente terá que ser o de Orson Welles, até porque muitos poucos realizadores conseguiriam aplicar com sucesso as alterações de forma usada em 2001.

Editei isto só para terminar com um quote que explica melhor:

"I think that a preoccupation with originality of form is more or less a fruitless thing. A truly original person with a truly original mind will not be able to function in the old form and will simply do something different. Others had much better think of the form as being some sort of classical tradition and try to work within it." --Stanley Kubrick
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Francesco Zappa
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Post by Francesco Zappa »

Espero fazer-me entender pois até eu tive dificuldade em organizar o que penso :mrgreen:

Gollum wrote:Concordo completamente com uma excepção: eu não neguei o experimentalismo como forma válida de cinema, é perfeitamente válida, louvável e até mesmo desejável por quem procura novo cinema que "brinque" de certa forma com a forma do cinema, especialmente numa altura em que(particularmente o cinema americano, mas não só) parece preso numa maneira de fazer cinema sem puxar limites e assim descobrir novas maneiras de mostrar algo com imagens.
Disseste-o, de certa forma, no outro tópico:
Gollum wrote:Um filme deverá ser pelo menos interessante num primeiro visionamento para valer o trabalho de perceber para além do que é permitido num primeiro e SEGUNDO visionamento, porque se assim não for poderás estar com um perfeito exemplar à frente de algo que não é bem cinema, mas um filme experimental
:mrgreen:

Gollum wrote:AGORA...o que eu disse acerca de este experimentalismo nunca se tornar numa obra-prima que muitos a pintam parece-me a mim uma ideia muito verdadeira, porque senão vejamos:
- um filme experimental(e atenção que é daqueles filmes em que tudo parece muito diferente e novo), é por vezes copiado de alguma(ou vários maneiras) e essa nova forma é reajustada e na maioria melhorada para criar um filme que não sendo tão experimental, usou por exemplo, uma maneira de filmar que o realizador viu e repensou para o seu filme. Filme esse que por ser menos "marginal", por usar apenas aquilo que se sabe funciona na manipulação de um público, é um filme bastante melhor que o experimentalista, por ser mais compreendido e por muitas vezes da combinação de novas e velhas formas de cinema nascer algo muito melhor.
O ser mais compreendido não o torna necessáriamente em algo melhor. Também não estou a defender que um filme deve ser um objecto hermético, totalmente inacessível para outro que não o realizador. O ser sentido é tão (ou mais?) importante como o ser compreendido.

Gollum wrote:Se não perceberam ainda pensem assim, para fazer um filme experimental é necessário usar a cabeça para alterar(inventar) a forma, quando num filme em que o realizador quer mostrar algo ao público, algo que para ele está bem definido, ele procura manipular o que tem para mostrá-lo usando a sua sensibilidade, criando um filme que será muito diferente de tudo porque para além de ser um filme com características diferentes, é também um filme que tem significado.

Os filmes experimentalistas podem ter significado, mas com alguns truques por vezes tão intelectualistas que falham na utilização do sentimento para a compreensão do filme.

Atenção que há excepções, Fellini, Kubrick e Welles todos eles mexeram na fórumula e criaram obras-primas do cinema, mas mesmo desses o mais influente terá que ser o de Orson Welles, até porque muitos poucos realizadores conseguiriam aplicar com sucesso as alterações de forma usada em 2001.
Claro que um filme experimental não é sinónimo de ausência de sensibilidade e significado.
Nem todo o experimentalismo se resume a maneirismos formais e truques de câmara, como tu pareces querer dar a entender.
Ao longo dos anos a narrativa e estrutura de um filme também tem sido alvo de experimentação e mudança.

Depois não percebo. Dizes que não pode ser e a seguir vens dar exemplos, a título de excepção, de alguns que o fizeram (além desses existem outros que poderiam estar aí). É claro que eu não disse que todo o cinema experimental era uma obra-prima (ou sequer bom) mas isso também não o é o cinema "mais convencional".

Aquilo que apontas como razão principal para o cinema experimental não poder ser uma obra-prima, sendo algo novo nunca virá "completamente lapidado", é precisamente aquilo pelo qual, na minha opinião, muitas vezes esses filmes são considerados obras-primas, o facto de trazerem uma visão/leitura/algo de inovador e extremamente pessoal tranformando-o num objecto único. Claro que essa unicidade, por si só, não é garantia de qualidade.

Gollum wrote:Editei isto só para terminar com um quote que explica melhor:

"I think that a preoccupation with originality of form is more or less a fruitless thing. A truly original person with a truly original mind will not be able to function in the old form and will simply do something different. Others had much better think of the form as being some sort of classical tradition and try to work within it." --Stanley Kubrick
Eu também não estou a defender o ser diferente só por ser, que é do que Kubrick fala e, usando essa mesma citação, é normal que essa truly original mind vá experimentar, quebrar com o vigente, dada a sua natural aptência para simply do something different. :wink:
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Post by Gollum »

A conclusão a que chego é que temos apenas opiniões diferentes, o que não tem mal, mas de qualquer forma se dei a entender que todo o filme experimental é mau, é porque não consegui fazer-me entender.

Eu próprio adoro um filme que quebre convenções...MAS eu queria era fazer notar que a ideia de que um filme só por usar uma narrativa diferente, por ter planos ousados e uma história minimalista e supostamente muito sentimental e com muitas ideias escondidas que têm que ser pensadas e repensadas até nos aproximarmos delas, é errada e não faz necessariamente um bom filme.

Ufa, que este tópico desenvolveu-se...às vezes faz bem sermos questionados para moderarmos as nossas ideias e não nos julgarmos detentores de toda a verdade, não?
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Francesco Zappa
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Post by Francesco Zappa »

Gollum wrote:Eu próprio adoro um filme que quebre convenções...MAS eu queria era fazer notar que a ideia de que um filme só por usar uma narrativa diferente, por ter planos ousados e uma história minimalista e supostamente muito sentimental e com muitas ideias escondidas que têm que ser pensadas e repensadas até nos aproximarmos delas, é errada e não faz necessariamente um bom filme.
Completamente de acordo. :wink:

Gollum wrote:Ufa, que este tópico desenvolveu-se...às vezes faz bem sermos questionados para moderarmos as nossas ideias e não nos julgarmos detentores de toda a verdade, não?
yes-) Ainda bem que se desenvolveu como se desenvolveu pois dá gosto falar de cinema com pessoas que gostam de cinema, e sabe bem elaborar um pouco mais e não ficar pelo: gostei, concordo, etc (e contra mim falo pois normalmente sou muito preguiçoso para escrever tanto como fiz neste post :-))) )
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Rui Luís Lima
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"Laranja Mecânica"

Post by Rui Luís Lima »

Nunca pensei que o movie do Kubrick "Laranja Mecânica" fosse motivo de um debate tão alargado e de uma forma tão cordial, verdadeira troca de pontos de vista cinematográficos.

Estamos todos de parabéns! Quanto a mim vi o movie no cinema Quarteto nos anos setenta e fiquei fascinado não pela temática do filme a psiquiatria, ou mais concretamente a anti-psiquiatria da qual eram expoentes na época o Ronald Laing e o David Cooper. Mas dizia eu, que a minha memória ao falar do filme é a espantosa banda sonora do Walter Carlos, baseando-se em Purcell num dos temas que mais tarde seria o indicativo do "Em Orbita" (Barroco) do Jorge Gil. Esse mesmo compositor que seria descoberto por muitos de nós qundo o Peter Greenaway e o Michael Nyman criaram "O Contrato" e também através desse génio chamado Tony Palmer que realizou um filme sobre o compositor.

Porque essa moral de que todos os pecadores terão o seu castigo mais tarde ou mais cedo implícita no filme e através das suas próprias vítimas, não me oferece razões para amar este filme. A figura de rebelde do Malcolm McDowell já vinha desse "If" realizado pelo Lindsay Anderson que tinha visto na mesma época no grande écran e depois a pouco e pouco o actor foi-se apagando como a chama de uma vela.

Na cinematografia de Kubrick é o filme de que menos gosto, embora só conheça a sua obra a partir de "Um Roubo no Hipódromo" e na época em que o vi nem sabia quem era o cineasta, já que o vi numa daquelas sessões em que passavam dois filmes... Quanto aos meus favoritos são "Lolita" e "O Dr.Estranho Amor" em que o trabalho tanto de James Mason no primeiro e Peter Sellers no segundo são inesquecíveis. Quanto a "Eyes Wide Shut" foi uma boa surpresa.

Um Abraço para todos e Bons Filmes
RUI LUÍS LIMA
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wavey
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Re: "Laranja Mecânica"

Post by wavey »

Rui Luís Lima wrote:Nunca pensei que o movie do Kubrick "Laranja Mecânica" fosse motivo de um debate tão alargado e de uma forma tão cordial, verdadeira troca de pontos de vista cinematográficos.
Olá Rui 8)

De vez em quando, perdemos um pouco a cabeça quando defendemos os nossos pontos de vista, mas outras vezes a cordialidade domina as nossas respostas. É por isso que gosto de discutir e analisar a 7ª arte. é uma arte que desperta uma imensa paixão e que abrange muitos assuntos, o que é desafiante.
Para quem quer regressar ao esplendor do passado, visite:
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Rui Luís Lima
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Post by Rui Luís Lima »

Olá Wavey! 8)

Concordo plenamente contigo, não sou pessoa para grandes discussões e tenho aprendido imenso ao longo dos anos a escutar as opiniões alheias... curiosamente aprendi isso com uma pessoa muito mais velha que eu. Na época era adolescente e todas as noites ali estava na Cinemateca a ver os dois filmes da praxe... e um dia através de um amigo meu conheci essa tal pessoa, cujo nome não interessa e a quem fui dando as boas-noites ao longo dos meses, ele sentava-se sempre no mesmo lugar e por ali estava agarrado ao seu livro ou revista de cinema, comecei a falar com ele e aprendi a ter a minha opinião... com o passar dos anos assisti a grandes discussões sobre filmes e cineastas, (mas nunca quis participar nelas...eram demasiado radicais) assim como li imensas polémicas surgidas nos jornais entre críticos... com o tempo falaremos delas, mas o importante é defendermos sempre a nossa opinião mesmo que "todo o mundo" não concorde connosco... é uma forma de estar na vida e um direito que todos nós temos... mas se um dia verificarmos que estamos errados porque não dar a mão à palmatória... não custa absolutamente nada... eu foco aqui um caso concreto de um filme... "Encontro com o Amor"... aquando da sua estreia fui ve-lo e nas linhas que escrevi disse o pior possível dele.

Muitos anos depois num dia de Natal qualquer revi a película e acabei a olhar de uma forma diferente o filme... é certo que estamos perante um remake dessa obra-prima que é "Breve Encontro" do David Lean, mas ainda hoje gosto de rever aquele par Robert de Niro/Meryl Streep e aquela história hoje diz-me muito e no entanto não é nenhuma obra-prima... mas faz parte dos meus eleitos.

PS- Só uma pergunta para terminar...sabias que o o Robert James Waller autor de "As Pontes de Madison County" após ter escrito o livro e depois de as pessoas terem visto esse filme fabuloso de Clint Eastwood, foi invadido por correspondência das mais diversas origens para saber o que se tinha passado com os personagens e decidiu escrever uma continuação, cujo livro já foi editado por aqui? Chama-se "Regresso a Madison County" e está editado pela Asa.

Bons Filmes e Boas Escritas!
RUI LUÍS LIMA
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Re: "Laranja Mecânica"

Post by Gollum »

Rui Luís Lima wrote:Quanto aos meus favoritos são "Lolita" e "O Dr.Estranho Amor" em que o trabalho tanto de James Mason no primeiro e Peter Sellers no segundo são inesquecíveis. Quanto a "Eyes Wide Shut" foi uma boa surpresa.
Sim, é realmente díficil ficar indiferente a um dos maiores actores que já gracejou a 7º arte, mas é um actor que se queria livre, um actor do momento, do improviso. Talvez por isso tenha apenas sido completamente aproveitado apenas por 2 cineastas: Kubrick e Blake Edwards.
Tanto é que foi apenas a Sellers que Kubrick deu total liberdade durante as filmagens do Dr. Strangelove para improvisar. Diz-se mesmo que costumava colocar o máximo número de câmaras possível para poder apenas vê-lo a actuar.
E realmente faz sentido se notarmos no sentido de humor trabalhado e apreciado por ambos.

Sellers é daqueles actores que prende sempre a atenção, tal como o Marlon Brando pre-Apocalipse Now e Robert De Niro em "Ranging Bull". É díficil esquecer a famosa cena do táxi no "On the Waterfront", ou mesmo notar a cara da actriz Eva Marie Saint quando Brando apanha a luva que ela acidentalmente deixou cair no chão e começa a improvisar com ela.
Ou mesmo a cena do "Ranging Bull" em que De Niro grita com o vizinho, que era mesmo um vizinho chateado e não um actor, e continua a cena com Joe Pesci sempre a acompanhar.
É algo de muito único que une este tipo de actores, algo que infelizmente ultrapassa o trabalho árduo na construcção das personagens, algo que necessita de uma personalidade verdadeiramente cativante, seja ela weird(peter sellers) ou strong(Brando).

Em relação aos melhores filmes de Kubrick, como sou um fan enorme do seu trabalho posso apenas colocá-los em ordem de importância.Concordo com "Dr. Strangelove" mas, apesar de "Lolita" ser um filme muito importante na filmografia de Kubrick, penso que perde algo para os filmes que se seguiram como o já discutido "Clockwork Orange" e o único "2001". Estes 2 filmes mais o Dr. Strangelove constituem, na minha opinião o Kubrick fundamental, mas temos também o fantástico "Barry Lindon" com uma capacidade temporal tremenda na medida em que é um dos melhores filmes de época de sempre, e que mostra um infímo daquilo que poderia ser "Napoleão"(projecto que Kubrick foi obrigado a abandonar após o falhanço comercial do filme "Waterloo")-e que grande filme esse seria-.Temos um filme de "terror" muito interessante "The Shinning".
E depois o "Eyes Wide Shut" que tem que entrar no top de Kubrick, pois afasta-se de alguns dos elementos constantes nos filmes de Kubrick e fá-los com sucesso, como é o não usar da voz da personagem em voice-off(vo), e uma narrativa num periodo de tempo mais limitado. Talvez o filme em que Kubrick consegue com mais fidelidade aquilo que sempre achou que deveria ser um bom filme:
"A film is - or should be - more like music than like fiction. It should be a progression of moods and feelings. The theme, what's behind the emotion, the meaning, all that comes later."
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Post by Jim Jobim »

Rui Santos wrote:Vai a este site:
http://www.leituramania.com/Foruns/ e podes-te registrar nesse forum.
valeu Rui Santos pela dica.
Fica bem!
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Kubrick

Post by Rui Luís Lima »

Olá Gollum!

Subscrevo o teu texto àcerca do Kubrick se isso for permitido... a Wavey acertou no tema/autor para se falar um pouco desse homem que passava tardes a jogar xadrez... como o hobby perfeito para descansar dos seus futuros projectos cinematográficos
Citei como meus favoritos "A Lolita" e o "Dr.Estranho Amor" e, curiosamente, como sucede nestas "coisas" dos melhores nas listas pessoais, lá se foi o "2001-Odisseia na Espaço" que é sem dúvida alguma o meu favorito como se poderá ver na minha lista por géneros publicada aqui no dvdmania.
Kubrick era um génio e isso todos nós sabemos e era uma pessoa profundamente fascinada pelas tecnologias. Foi ele aliás que usou pela primeira vez a steadycam no "Shining" e depois há aqueles movies que só vistos em écran de cinema nos deixam sempre fascinados. Recentemente estive em Versailles, era Novembro e fazia um frio de morrer congelado e lá fui avançando por aquele cenário kubrickiano e durante todo o tempo que permaneci ali a andar com a minha mulher, éramos os únicos que nos aventurámos a seguir em frente... só me lembrava do "Barry Lyndon" e às tantas ali estava eu a falar do Kubrick... são estas "pequenas coisas" que deixam em nós as marcas dos grandes cineastas.
Quanto a "Eyes Wide Shut" foi uma verdadeira surpresa pela sua modernidade... só para terminar gostaria de falar de um outro filme que considero pertencer a Stanley Kubrick e Steven Spielberg...."A.I. - Inteligência Artificial", todos sabemos que o Stanley trabalhou durante anos nesta película e que desde cedo convidou o Steven para o realizar, ficando-se o Kubrick pela produção, mas como todos conhecemos um pouco o universo kubrickiano, é perfeitamente visível o que pertence a um e a outro e a forma como o universo do primeiro nos continua a fascinar e o do segundo quase sabemos o que vamos encontrar (embora "A Guerra dos Mundos" tenha sido para mim uma excelente surpresa)... Nos extras que acompanham o dvd de "A.I." vemos perfeitamente o que seria a película realizada por Kubrick, incluindo toda a sequência da Rouge City (os storyboards que nos são dados a ver falam por si) e a forma suavizada optada por Spielberg.

Quanto a esses grandes actores que mencionaste... o Marlon Brando e o Robert de Niro que tanto admiro... falarei contigo numa outra oportunidade...está prometido!

Um Abraço Cinéfilo e Bons Filmes!
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Post by Tojal City »

wavey wrote:
Quem foi a alma que disse que não consegue ver filme a preto e branco? :shock:
Um dos meus filmes favoritos é o Homem Elefante, do David Lynch, que todos nós sabemos é a preto e branco. E acho que o filme é perfeito apesar de não ter cores. E isso também se aplica ao Raging Bull do Scorcese, o Ed Wood do Tim Burton, O Barbeiro do Joel Coen, o mais recente Sin City do Robert Rodriguez, para nomear alguns exemplos.
Bem eu não disse isto, para mim o filme até pode ser todo amarelo, mas uma das coisas que disse à um tempo atrás foi, que tinha uma certa dificuldade em ver a maioria dos filmes feitos antes dos anos 60. E quando digo maioria, não digo todos, há grandes exepcões claro esta, Akira Kurosawa (mas este não realizava nos States), Alfred Hitchcock, etc.. e porque digo isto, pelo simples facto de achar que todos os filmes foram realizados pelo mesmo gajo; mais os actores, até aparecer o Marlon Brando, interpretavam todos da mesma maneira e sem qualquer tipo de contexto, o editing era secante (tínhamos que ver sempre um gajo a chegar de carro, a entrar no elevador, a falar com a secretária para a verdadeira acção começar), a forma como os actores beijavam era sempre a mesma (agarravam-se pelos braços, olhavam um para o outro uns 5 segundos e lá vem beijo), quando alguém levava um tiro, aquilo era mais dramatizado que uma novela mexicana e até o Hitchcock cometia estes erros, vale o seu “knack” para o suspense,
E claro o grande problema disto tudo é que era tudo muito “perfeito”, não digo no sentido dos personagens não terem defeitos, mas antes que faltava qualquer coisa ali nos filmes que nos desse um murro no estômago, algo que começou a aparecer nos anos 60 e especialmente nos anos 70, com esta nova vaga de realizadores que foi buscar influências aos filmes de outros países, e para mim o Kubrick é um excelente exemplo desta nova vaga que mudou o cinema americano para muito melhor.

Mas já agora, deixem-me disser que eu detesto o tão aclamado 2001, para mim o seu pior filme, não por causa do argumento, mas sim pela seca monumental que o filme é, aqueles planos todos da estação especial onde nada acontece com a musiquinha do Stauss é o suficiente para eu adormecer logo nos primeiros minutos. O filme simplesmente não condiz com a minha personalidade.
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Post by Gollum »

Rui, por acaso falaste num filme que tenho tendência para não relacionar com Kubrick, mas que merece muita atenção pelos seus fãns: "AI-Articial Intelligence". A verdade é que, por muitos filmes que compreendamos à primeira há sempre aquele que falhamos de perceber, tomando-o por um filme mau ou menos bom. O AI integra-se neste rol, porque eu fui um dos que fui erradamente levado a pensar(talvez por ser Realizado pelo Spielberg), que os seres que aparecem no fim são extra-terrestres, quando na realidade são robots, após anos de evolução constante que procuram descobrir de onde vêm(um acontecimento irónico e um final que, como é constante em filmes de Kubrick, parece estar sempre predestinado). A criação e a sua procura constante pelo criador, como David e os robots no fim procuram a sua origem. Tudo isto não é mais do que um retrato fiel do nosso infindável desejo de saber como e porquê aparecemos aqui.
Talvez o mais intrigante filme de Spielberg, com tão notáveis marcas Kubrick-a ver.
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Post by wavey »

Buenas 8)

Falaram do A.I. - Inteligência Artificial, e eu gostei da versão e do toque pessoal do Steven Spielberg. Mas na vossa opinião, como seria a versão do Kubrick? Mediante a vossa opinião acerca da carreira dele, como é que vocês acham que ele abordaria o tema deste filme? Este filme fala sobre a clonagem, a família.
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Post by Gollum »

Hey, wavey!

Antes de mais ajuda se seguires a ideia do Rui e deres uma espreitadela nos extras do dvd para poderes imaginar um pouco como seria se o filme começasse com "Stanley Kubrick's Artificial Intelligence".
Na minha opnião pessoal a grande diferença seria obviamente a tonalidade. Enquanto que Spielberg prefere a estilização dos cenários e a quase homogeneidade da cor para representar os centros urbanos, Kubrick penso que retrataria sempre o mundo com cores mais naturais, o que resultaria numa mais estranha, talvez até mais realista visão do que o futuro deverá ser. Talvez ele imaginaria que num mundo avançado não haveria grandes aglomerados urbanos, mas antes aquilo que representa natureza seria muito prezado e tentariam manter o máximo disso. Talvez mostraria que apesar de pertencer a uma sociedade mais bem organizada e preparada, o homem seria sempre homem e que não pode existir uma sociedade perfeita sobre bases humanas(ideia que Spielberg explora:os robots são perseguidos pelos homens quando já não precisam deles).
Em alguns pontos em que Spielberg prefere mostrar o visual o fantástico, o belo das situações, Kubrick incidiria nas questões humanas mais básicas, ligando-as a este mundo em que os humanos seriam supostamente melhores, mas não são. Isto tudo sempre numa forma muito diferente daquilo que possamos imaginar, uma forma muito Kubrick.

E acho que não erro ao dizer que Kubrick, quereria que os seus espectadores pensassem nos seres que aparecem no fim como robots de um futuro posterior ao futuro do sempre jovem david.

O filme de Spielberg é um filme fantástico e um gosto de ver e rever, o filme de Kubrick seria memorável e como todos os seus filmes, incomparáveis ao de qualquer outro cineasta além de ele próprio.

É sempre um bom exercício julgar filmes que poderiam ter existido, mas o filme que tenho mesmo muita pena de não ter sido feito é o filme com a personagem, na minha opinião, mais fascinante da história, Napoleão Bonaparte.
Tive em Waterloo nestas férias e posso garantir que é um local onde se sente verdadeiramente a história-->visita fundamental por quem passa perto. Já agora Waterloo é também uma verdadeira lição de preserva de monumentos e locais históricos, enquanto mantendo-o dirigido a turistas e aficcionados de história.
Também tive nas praias da Normandia, mas não sou muito fascinado pela 2º guerra.
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