'The Village' de M. Night Shyamalan

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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DarkPhoenix
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Post by DarkPhoenix »

Eh pá, eu comprei isso no Jumbo há cerca de 4 meses numa promo com outros títulos, tais como : "Always", "Casino", "Last Temptation of Christ", "Cast Away" e muitos outros... A 11 Euros ou parecido.

Talvez ainda estejam por aí a esse preço.

Vocês tem é que andar mais atentos aos posts do Pedro Pereira de Carvalho... [;)][8D]



Luis.
"I am fire and life incarnate"

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Bogart
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Post by Bogart »

Olá pessoal

Como já referi noutro tópico, acho o Shyamalan um dos realizadores verdadeiramente interessantes da actualidade, ainda que a temática dos seus filmes gire sempre à volta dos temas sobrenaturais. Contudo, o que interessa, é a forma como a abordagem é feita.

Dos 3 filmes, acho de facto que o mais interessante é o Signs, que é de facto - para mim - uma obra prima, que virá fatalmente a ser muito apreciada como um clássico![:D] O crescendo ao longo do filme está perfeito, salientando a cena do video amador (*****) assim como a cena do E.T. fechado na dispensa, quanto a mim, de arrepiar. Esta última, no fundo, prende-se com o medo que temos de tudo o que não conhecemos, e que nesta cena é retratado de forma soberba. Chamo a atenção para o facto de dificilmente me assustar com um filme, mas na verdade o Shyamalan, quando quer, consegue![:D]

Um abraço a todos


Bogey
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Cabeças
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Post by Cabeças »

Vítor Melo, ainda há poucos dias estava o Angel Heart na FNAC do Chiado ainda em promoção.

Para mim, que sou apreciador de filmes de terror, este filme é excelente, aliando um bom argumento a muito boas interpretações, uma ambiência fantástica e algo que penso ainda ninguém falou, uma banda sonora extraordinária e que se casa perfeitamente com o filme, sendo dele indissociável.

Mickey Rourke no seu melhor. Não se percebe o que lhe aconteceu após este filme, tinha todas as condições para fazer uma grande carreira.

Cabeças
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mouto
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Post by mouto »

Depois do Resident Evil II-Apocalypse, este é o filme que aguardo ansiosamente.

Venham eles.[}:)]

...Rosebud...
alan_smithee
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Post by alan_smithee »

Sou um daqueles que acha que “Sinais” é o melhor filme de Shyamalan, e por já á ter falado do filme algures aqui nos fóruns, não me vou alongar no assunto. Quanto as abras anteriores, não partilho o entusiasmo.

Em relação ao Sexto Sentido, o problema está no exibicionismo de Shymalan. M. Night Shyamalan "mostra" mais, (muito mais) do que devia. Ou seja quando Shyamalan opta pela sugestão, o filme é realmente bastante interessante e verdadeiramente assustador. Quem não se assustou, quando Cole persegue, escada acima o balão vermelho, acabando depois trancado num pequeno compartimento?
Infelizmente, na maior parte dos casos, Shyamalan prefere mostrar tudo.
Lembram-se da cena da cozinha? nos poucos segundos em que a mãe do Cole está de costas, algo ou alguém, abre todos os armários e gavetas e quando ela se volta apanha um susto? (e nós também já agora) é terror de "primeira água". Aqui temos Shyamalan o sugestor em grande. Infelizmente, um pouco mais a frente, Cole encontra na cozinha "a responsável" por tal acontecimento, com direito a maquilhagem macabra e sangue coagulado. Aqui temos Shyamalan o exibicionista a estragar completamente o excelente momento que tinha criado. Ou por ex. quando Cole e sua mãe estão num engarrafamento causado por um acidente e Cole diz-lhe que morreu uma mulher, acrescentando depois que ela está junto a sua janela. É uma cena brilhante de Shyamalan o sugestor. Mas em seguida, vê-se uma mulher ensanguentada junto a janela de Cole, que logo depois vai embora. Por quê?????? É outra vez Shyamalan o exibicionista a estragar toda a atmosfera que tinha criado. Como a imagem das pessoas enforcadas na escola de Cole, imagem de puro exibicionismo sem qualquer função narrativa.
Mas há ainda outras fragilidades. Como a "menina da tenda" . De repente entramos numa história, dentro da história principal. Porquê? Para dizer que os mortos aparecem a Cole, porque querem que ele faça algo por eles?, mas porquê revelar tudo?, onde é que fica o mistério?

Quanto ao Protegido, o “meu problema” nem é com o filme em si, mas sim uma certa mensagem que este transmite.
Porque neste caso a "maneira" como Shyamalan nos conta a história, é no mínimo interessante. Por exemplo quando David (Bruce Willis) tem as suas "visões" , nós as vemos pelos seus olhos, de cima para baixo, como se fôssemos um espécie de "Deus" ou de um "Super-homem" acima da humanidade.
Por outro lado a maior parte dos cineastas teria mostrado o acidente do comboio de uma maneira "espectacular". Em o Protegido, nada é mostrado, tudo está implícito (e neste aspecto que diferença em relação ao Sexto Sentido).
E durante todo o filme os detalhes visuais de Shyamalan são uma "delícia": toda vez que Elijah é apresentado no filme , a filmagem é feita indirectamente, através de um espelho, ou da tela de TV, ou de uma das molduras de vidro de sua galeria, (dizendo-nos desde logo através deste detalhe) que Elijah é o "reflexo" do outro, David.

Infelizmente o Protegido também tem a sua dose de pontos fracos. Tem o "adormecimento" já típico de Shyamalan, que parece estabelecer um novo padrão de lentidão para o cinema americano. Shyamalan parece um cineasta "rápido", mas que acha “artístico” desacelerar tudo, através de movimentos de câmara, montagem e, especialmente, diálogos bem "lentos". No Protegido, todos falam como se estivessem, com o oxigénio nas últimas.
O relacionamento problemático entre David e sua esposa Audrey (Robin Wright Penn), é pouco explorado e não se percebe bem qual é a sua "função" no filme.
As legendas inúteis e fúteis no final do filme, explicando o que aconteceu com os dois personagens, tiram toda a magia da "revelação" final.

Mas pior do que isso, é tal como falei no início, uma certa mensagem que o Protegido nos transmite. Lembram-se da cena no estádio, onde praticamente todos os que passam perto de David (Bruce Willis) são drogados, ladrões, em suma "más" pessoas. O mundo que Shyamalan nos "mostra" é um mundo sujo e desumano, onde todas as pessoas são potencialmente criminosas; ou, seja uma descrença total na humanidade. E qual é a resposta a esta descrença? É a figura do herói, um homem que – é o próprio Elijah (Samuel L. Jackson) quem nos diz no filme – deve representar, defender e resguardar todos aqueles que são fracos e que não podem defender-se por si próprios. Ou seja, a necessidade de um superego masculino que deve proteger o homem comum das contingências da vida............. onde é que eu já "ouvi" isto?. :evil:



um abraço
Last edited by alan_smithee on July 19th, 2004, 9:41 pm, edited 1 time in total.
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Victor Melo
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Post by Victor Melo »

Embora tenha gostado das obras anteriores do Shyamalan, tal como referi alguns posts atrás, reconheço que tens ai óptimos pontos de vista Alan... :wink:


Mas afinal quando é que se sabe a data de estreia em Portugal do "The Village"? Estou a achar estranho a demora desta informação ... :?
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Frances
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Post by Frances »

Só estreia hoje nos Estados Unidos.

Em Portugal ainda não se sabe, mas tens aqui as datas de estreia em outros países... por exemplo, em Espanha só 17 de Setembro.

http://www.imdb.com/title/tt0368447/releaseinfo
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Post by runner »

Quanto ao Signs, que já vi 3 ou 4 vezes, de cada vez que o vejo, ou penso nas cenas do filme, fico com pele de galinha e já à muitos anos que um realizador não conseguia isso comigo. Para mim, sobre o realizador, isto reflecte a admiração que tenho por ele.
Quanto à questão dos ET's, penso que a maioria das análises quanto às intenções deles estão erradas.
Para mim eles vieram à merceearia. Eu quando vou à merceearia estou lá cinco minutos, levo o que quero e vou-me embora, no meu caso pagando, claro. Não, não se tratou de uma invasão, foi apenas encher a despensa.
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João Luís
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Post by João Luís »

Sou um dos muitos que aguarda ansiosamente a estreia deste filme de Shyamalan. Adorei o Sexto Sentido, O Protegido e o Signs, são todos excelentes filmes.

The Village tem tudo para ser um dos grandes deste ano e quase de certeza que não vai desiludir.
Thanatos
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Post by Thanatos »

Este Village é mais um daqueles filmes com o twist final que já se está à espera desde o início. Eu sei que é fácil ser ciníco agora e dizer que estou a inventar mas a verdade é que quando fui ver O Sexto Sentido percebi logo à légua o twist do filme. Aliás para quem tenha visto BZ- Viagem Alucinante, O Sexto Sentido não passa dum plágio, bem feito é verdade, mas ainda assim...

Neste The Village, qualquer espectador mais atento poderá perceber.... AVISO DE SPOILER






















--------------------------------------------------AVISO DE SPOILER-----------------------------------------
























-----------------------------------------------------------------------------AVISO DE SPOILER-----------------------------------













Bem eu avisei :-D

que embora o filme pareça ser localizado em 1897, de facto trata-se de uma comunidade actual que pretende fundar uma Utopia e os avisos para não sair da Vila devem-se meramente ao desejo dos Anciões de manterem o pulso firme na população. O problema dos filmes do Shyamalan é que às tantas já só os vamos ver para encontrar o twist e acabamos por não apreciar devidamente todo o conjunto.






















---------------------------------------- FIM DE SPOILER------------------------------------------------------------













---------------------------------------- FIM DE SPOILER------------------------------------------------------------






























---------------------------------------- FIM DE SPOILER------------------------------------------------------------
alan_smithee
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Post by alan_smithee »

Shyamalam tem um problema. Fui “carimbado” como o realizador dos Twist’s. E desta forma para bem ou para o mal, os seus filmes são analisados essencialmente pelos 10/15 minutos finais.
Se o filme é na sua globalidade medíocre, mas o final é bem conseguido, chovem os elogios de “grande” filme, obra-prima e por aí..., mas se o fim não vai ao encontro daquilo que o espectador espera (mesmo que todo o resto do filme seja excepcional) aí as palavras mais ouvidas, são palavras de “desilusão”.

Por outro lado Shyamalam também “sofre” de forma indirecta, de um problema, que praticamente todos os “novos” cineastas sofrem. A chamada “banalização da genialidade”, ou se quisermos a banalização da palavra génio.
Qualquer realizador que comece a sua carreira nos dias de hoje, e que "faça" um filme acima da média, é logo catalogado de "génio". Foi assim com Shyamalan, Sam Mendes, Paul Thomas Anderson, Spike Jonze, Alex Proyas, Sofia Coppola etc, etc,...
(Coitado do Hitchcock que só foi reconhecido como génio no final da sua carreira... :-? Hoje basta um filme com uns movimentos de câmara mais arrojados, com um visual um pouco diferente... e já temos génio :evil: ).

Ora ser apelidado de génio é um peso muito grande, ao qual muito poucos conseguem resistir. Será que Shyamalan resiste?
Isto porque as expectativas tornam-se muito altas e quem vai ao cinema está a espera (no mínimo) de um grande filme. Qualquer “coisa” abaixo dessa fasquia será sempre uma desilusão.
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Millor Fernandes
Shivers
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Post by Shivers »

Tirado da IMDB:

Movie Reviews: 'The Village'
The scariest thing about The Village may be some of the reviews that it's getting. Once the darling of critics following his The Sixth Sense, M. Night Shyamalan has been reduced to a whipping boy with this film. Indeed, New York Post critic Lou Lumenick remarks, "A gifted director and visual stylist, Shyamalan's scripts sadly have gotten progressively clunkier." Roger Ebert writes in the Chicago Sun-Times : "Critics were enjoined after the screening to avoid revealing the plot secrets. That is not because we would spoil the movie for you. It's because if you knew them, you wouldn't want to go." Discussing those plot twists, A.O. Scott in the New York Times remarks: "The last thing I want to do is spoil the fun, meager though it is." As for the surprise ending, Stephen Hunter in the Washington Post comments that it's "quite lame, quite tame and quite old. ... I figured it out plenty early, and the 75 percent of you who are smarter than I will get it even earlier." Jack Mathews in the New York Daily News refers to the movie as "a genuine clinker" and "a dreary mess." Joe Morgenstern writes in the Wall Street Journal: "Movies don't come much sillier, or slower, than The Village." On the other hand, Carrie Rickey in the Philadelphia Inquirer calls it a "hair-raising yarn ... Shyamalan deftly turns a familiar fairy tale into an eerie scary tale." And Eric Harrison in the Houston Chronicle calls it "Shyamalan's best film since The Sixth Sense."



Opiniões divididas, muitos até se arriscaram a chama-la de 'Obra-prima' do Shyamalan.
8)
Sérgio Rodrigues - shiverspt@gmail.com | @Twitter
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alan_smithee
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Post by alan_smithee »

Existe um comentário pertinente no post do Shivers
Tirado da IMDB:
Roger Ebert writes in the Chicago Sun-Times : "Critics were enjoined after the screening to avoid revealing the plot secrets. That is not because we would spoil the movie for you. It's because if you knew them, you wouldn't want to go."
A questão fundamental desta frase de Roger Ebert é que ela não se aplica só ao cinema de Shyamalan, mas sim ao cinema em geral.
Tenho a sensação que 75% das pessoas que vão ao cinema, se soubessem a priori o final do filme, não o iriam ver.
Ou seja, no filmes dos dias de hoje, a única coisa que parece interessar são os seus últimos 10/15 minutos. É em função destes que o filme é analisado, criticado, comentado.... daí a frase tantas vezes ouvida (mesmo aqui no fórum) quando alguém revela o final de um filme “Já me estragaste o filme”.
Afinal o cinema é apenas isso, uma brincadeirinha que quando sabemos o seu final perde a graça? uma espécie de caixinha de surpresa, que quando alguém conta o que esta lá dentro perde todo o interesse? Não é uma arte o cinema? :evil:

Penso que esta situação não acontece com nenhuma outra arte. Se alguém me mostrar um catálogo de pintura, de uma qualquer exposição, ao invés de eu me afastar da mesma, porque já sei o seu conteúdo, muito provavelmente ficarei com mais vontade de a ir ver (já agora nunca ouvi ninguém dizer, após ver o catalogo de uma qualquer exposição “já me estragaram a exposição”). :twisted:

O cinema como forma de arte que é, esta muito acima de finais, twist’s e outros derivados. Gosto, como quase toda a gente, de ser surpreendido. Mas entendo que no cinema, a surpresa esta sempre na forma como o realizador conta a história através das imagens e não no seu twist final.
Quanto a cena final, ela tem o mesmo valor que qualquer uma outra cena do filme.

Por ex. neste filme de Shyamalan, saber ou não saber a história do princípio ao fim, é para mim totalmente indiferente. Eu quero é saber a forma como Shyamalan vai trabalhar o argumento/história quem tem nas suas mãos. Como é que vai dar forma visual as palavras desse mesmo argumento.
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Post by Al-Pacinho »

Concordo como o essencial do que disse o Jaspers. Com uma diferença - Do 6º sentido para a frente foi sempre a piorar! No entanto é inegável que o homem tem talento.
Mas quem é que o manda fazer tudo? Escreve,produz, realiza etc. etc...
E de resto não conccordo nada com a afirmação do Alquimista
Para mim são todos obras primas do cinema comercial moderno
É mentira! À excepção do 6º sentido todo o resto são apenas filmes razoáveis!
Al-Pacinho,antes conhecido por AL!
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Post by Argaroth01 »

Eu por mim tenho "O Protegido", não só como o melhor filme do Shyamalan mas como o meu filme preferido. A exploração da BD como uma continuação das velhas tradições mitológicas e como a realidade é extrapolada para dar azo a situações sobre-humanas. Genial. O que me leva a discordar da seguinte afirmação (apesar de achar que é válida):
Mas pior do que isso, é tal como falei no início, uma certa mensagem que o Protegido nos transmite. Lembram-se da cena no estádio, onde praticamente todos os que passam perto de David (Bruce Willis) são drogados, ladrões, em suma "más" pessoas. O mundo que Shyamalan nos "mostra" é um mundo sujo e desumano, onde todas as pessoas são potencialmente criminosas; ou, seja uma descrença total na humanidade. E qual é a resposta a esta descrença? É a figura do herói, um homem que – é o próprio Elijah (Samuel L. Jackson) quem nos diz no filme – deve representar, defender e resguardar todos aqueles que são fracos e que não podem defender-se por si próprios. Ou seja, a necessidade de um superego masculino que deve proteger o homem comum das contingências da vida............. onde é que eu já "ouvi" isto?.
Creio que depende muito da forma como o espectador interpreta o que vê e a forma como isso é processado pelos seus quadros de referência. Se assim for, obedecendo a uma lógica interna formada pelo observador é válida, mas não deixa de ser questionável (tal como a minha é).
Já não vejo o filme à algum tempo, por isso vou tentar puxar pela memória para não tropeçar.

"Lembram-se da cena no estádio, onde praticamente todos os que passam perto de David (Bruce Willis) são drogados, ladrões, em suma "más" pessoas."

De facto até podiam ser todos drogados, ladrões, mas então como é que no meio da multidão, só dois são identificados: o sr. da arma e o sr. Shyamalan ? E isso tendo em conta que a percepção extra-sensorial de David só lhe permite avaliar uma pessoa que tenha cometido actos criminosos, porque é que não vimos então um desfile de flashback´s ? E se as "más pessoas" são só drogados e ladrões, então porque é que uma das pessoas que activa os sentidos de David é uma banal mulher com um filho ? E se conjuntamente com esta cena, nos lembrássemos da cena do metro: a mulher que rouba o colar ? o miúdo com os pais ? Muitos desfilam pelas mãos de David e não activam nada. Talvez por serem situações semelhantes, possam ser tão dispares: se no estádio, a maioria correspondia a algo que de imediato podia ser associado ao "mal", já no metro, a situação inverte-se. E isso espelha a dualidade bem e mal, assim como a ilusão das aparências.

"O mundo que Shyamalan nos "mostra" é um mundo sujo e desumano, onde todas as pessoas são potencialmente criminosas; ou, seja uma descrença total na humanidade."

Mas um mundo assim não é nem sujo, nem desumano, é real. A assumpção é feita em termos de potencial e não de manancial. Existe a capacidade para o bem e para o mal em todos, que predominam em certas alturas da vida (como diz uma quote de um utilizador aqui dos fóruns). Isso também pressupõe alguma relatividade (o que é bom para uns é mau para outros e vice-versa), que certamente permeará o funcionamento do dom de David. Por isso, não só o mal é aleatório como é relativo. O personagem a agir assim é intrinsecamente humano.

"qual é a resposta a esta descrença? É a figura do herói, um homem que – é o próprio Elijah (Samuel L. Jackson) quem nos diz no filme – deve representar, defender e resguardar todos aqueles que são fracos e que não podem defender-se por si próprios. Ou seja, a necessidade de um superego masculino que deve proteger o homem comum das contingências da vida"

Aqui a análise conclui bem o raciocinio, mas também pode ser vista de outra forma. É certo que se pode pegar por aqui, pela ideia do super-homem q se torna Deus, mas também se pode associar a um ideal humanista, de ajuda aos mais necessitados (talvez eco da influência cristã no mundo ocidental - não numa visão católica, mas ligada únicamente ao personagem de Cristo). Não são excepção as vezes em que uma pessoa, perante uma situação de perigo, desejaria ter ajuda, protecção. Agora aqui põe-se os limites de ambos os casos: se o zelo não acabará por ser tirânico, despótico ou se existe uma enorme dependência dessa protecção - querer e ser querido. A tomada de posição de Elijah é curiosamente, muito ligada às BD´s que colecciona (as que são mostradas, versões de revistas da DC Comics, que não deixou que fossem utilizadas as autênticas), originárias da Idade de Ouro dos comics americanos (os anos 40-50), onde os super-heróis eram deuses, que podiam fazer o impensável e não tinham fraquezas (regiam-se basicamente por duas directivas: 1) Dar cabo do vilão e 2) Proteger os fracos e oprimidos). Durante muito tempo (até surgir a Idade de Prata com os clássicos da Marvel nos anos 60, assentes na premissa de super-heróis com super-problemas) era isto que era um super-herói, era isto que se esperava dele.
O desafio está em conseguir dosear o protagonismo: ser protegido e saber tb proteger-se (aprender e ensinar - crescer, no fundo, que é o âmago da viagem de David - ele é um protegido, daí a adequação do título, e será um protector - daí, também, a força metafórica do filme). E isto verifica-se bem nos dois filmes de Spider-Man, por exemplo (no 1º, qdo as pessoas na ponte se põem a atacar o Duende Verde e no 2º, na parte final da cena do metro, qdo as pessoas protegem o herói do vilão e o miúdinho que deseja ser o Homem-Aranha).
Não podemos tb esquecer que a frase é proferida por um personagem que tem um esquema bem elaborado para criar um "super-herói" que seja a sua antítese, a sua némesis, pois ele extrapola essa assumpção de um conjunto de situações padrão que assimilou durante muito tempo, e que por acaso é o vilão e daí levar a pensar se não poderá essa ideia tutelária, estar ela conectada tb ao mal ?

Como disse, não questiono a tua posição, acho-a válida e coerente. Apenas quis dar a minha versão. Dá realmente que pensar.

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