Asteroid City (2023) - Wes Anderson

[neotheone]

- Data de estreia: 22 de Junho de 2023

"Asteroid City" decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955
O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.

[nimzabo]

Acabei de ver e até que gostei. Achei a parte visual espetacular.

[Samwise]

O melhor filme do Anderson desde o Grand Budapest Hotel, e mais um marco elevado na sua carreira.

Numa altura em que se estaria já a pensar no esgotamento de uma fórmula que é a essência, a matéria prima da sua arte, eis que surge este "passo em frente" seguríssimo - um aprimorar dessa essência que não se fica por aí. O cinema do Anderson sempre foi deliberadamente teatral, mas raramente terá sido tão teatral e tão emocional ao mesmo tempo na exploração das disfunções no seio de uma família (ou de várias "famílias", não necessariamente no sentido congénito do termo).

Algures situado num deserto nos EUA, poderia descrever o filme como um cruzamento entre o Close Encounters of the Third Kind com o Dogville com o Cars (da Pixar), encenado naquele formato estético tipo playmobil que por esta altura Anderson já refinou até um escopo microscópico (tem de se ver o filme várias vezes para se poder contemplar o feito artístico - é como olhar para vários quadros num museu, não dá para assimilar nada em poucos segundos), e que em cima desse invólucro coloca ainda uma camada efectivamente teatral (sabemos que tudo aquilo é a encenação de uma peça), mas em que as divisórias entre realidade e encenação se baralham e confundem, a ponto de as próprias personagens não saberem às tantas em que dimensão se encontram.

Para mim, uma obra-prima, e um dos melhores do Anderson.

P.S. - houve uma parte em que me lembrei o Woody Allen; também ele encena, num dos seus good-early-ones, um encontro com extra-terrestres a quem a sua personagem pergunta "Qual é o sentido da vida?", "O que é que isto tudo significa?"...

[José]

Vocês quase me estão a convencer a ver este Asteroid City.

Isto não é mesmo o Wes Anderson a picar o ponto uma vez mais, pois não?

Ele não está preso na sua rígida e quirky checklist, encurralado no seu próprio caderno de encargos, certo?

É que o último filme dele de que realmente gostei foi o Grand Budapest Hotel. Quase não suporto a obra do senhor.

Vocês vejam lá o que é que me fazem à vida e ao meu precioso tempo.

[Samwise]

Isto não é mesmo o Wes Anderson a picar o ponto uma vez mais, pois não?

Ele não está preso na sua rígida e quirky checklist, encurralado no seu próprio caderno de encargos, certo?

Para mim, não. Este filme, mesmo que em parte seja "mais do mesmo" de um ponto de vista estético e filosófico, é também uma tentativa consciente de evolução - sobretudo emocional, mas também na forma como elimina as fronteiras entre os compartimentos artísticos. Não que ele não tenha tentado isso no passado, mas não creio que tenha conseguido chegar a este resultado. No filme anterior notei já uma tentativa deliberada de "salto-em-frente", mas nesse caso acho que é uma fita mais fechada e hermética, e menos apelativa aos "não fãs" do senhor.

Claro que eu sou suspeito, porque adoro o Anderson. Ainda assim, em minha defesa ( ) posso dizer que não consegui apreciar o Isle of Dogs (acho que não o entendi de todo, nem como se insere nas suas temáticas habituais), e que, olhando para o passado, nem todos os filmes me parecem plenamente conseguidos.

É que o último filme dele de que realmente gostei foi o Grand Budapest Hotel. Quase não suporto a obra do senhor.

Este Asteroid City é um filme substancialmente diferente... portanto não sei.

Para facilitar (ou se calhar complicar) a tua escolha: há algo de fordiano no filme. Monument Valley all the way, incluindo o plano final - mesmo muito fordiano. Até no sentido de "família" que o autor criava com os seus actores dentro e fora do ecrã.

[Samwise]

Ainda vou dizer mais uma coisa: mesmo que eu não consiga definir o que é a Arte de uma forma precisa (e muito menos objectiva), este filme é a formulação acabada daquilo que para mim significa a Arte.

É a expressão (uma expressão sobre a vida humana) de uma visão pessoal única, colocada em prática através do domínio absoluto da técnica e das "ferramentas de produção".

[José]

Ainda vou dizer mais uma coisa: mesmo que eu não consiga definir o que é a Arte de uma forma precisa (e muito menos objectiva), este filme é a formulação acabada daquilo que para mim significa a Arte.

É a expressão (uma expressão sobre a vida humana) de uma visão pessoal única, colocada em prática através do domínio absoluto da técnica e das "ferramentas de produção".

Samwise,

Obrigado por todo o enquadramento.

Fiquei intrigado, vou ver o filme.

Obrigado.

[José]

Acabadinho de ver.

É bom, mas bom, mas bom. Nem acredito que estou a escrever isto sobre uma empreitada do Wes Anderson.

Um filme sobre a criação artística e o ímpeto de se seguir em frente, mesmo que não se saiba bem por onde ir e o que se pretende realmente dizer. Mas cumpre-se a vontade de dizer, dizer algo!

Um filme em camadas que funciona como autêntico jogo de espelhos - e com emoção verdadeira, sincera, algo que penso que já faltava na obra do cineasta há muito tempo.

Concordo com o Samwise na veia Fordiana do filme e confesso que me saltaram à cabeça alguns tons de Robert Altman e Peter Bogdanovich na questão da ruralidade, da nostalgia e melancolia e das peculiaridades das inúmeras personagens.

É belo em termos plásticos mas também pelo seu conteúdo e por aquilo que se presta a dizer.

Uau...

[Samwise]

... confesso que me saltaram à cabeça alguns tons de Robert Altman e Peter Bogdanovich na questão da ruralidade, da nostalgia e melancolia e das peculiaridades das inúmeras personagens.

Bem observado - os mosaicos humanos do Altman e a nostalgia interior do Bogdanovich, dos tempos do The Last Picture Show...!

É sempre bom poder contar com perspectivas que abrem mais janelas. Obrigado.

Ainda te vais converter "à causa Wandersoniana".

[José]

... confesso que me saltaram à cabeça alguns tons de Robert Altman e Peter Bogdanovich na questão da ruralidade, da nostalgia e melancolia e das peculiaridades das inúmeras personagens.

Bem observado - os mosaicos humanos do Altman e a nostalgia interior do Bogdanovich, dos tempos do The Last Picture Show...!

É sempre bom poder contar com perspectivas que abrem mais janelas. Obrigado.

Ainda te vais converter "à causa Wandersoniana".

No caso do Peter Bogdanovich, lembrei-me logo do seu The Last Picture Show - A Última Sessão; relativamente ao Robert Altman, surgiu-me em concreto a sua bela obra terminal, o A Prairie Home Companion - Os Bastidores da Rádio.

Obrigado, eu. Graças ao teu enquadramento, fiquei decidido a ver o filme.

Quanto à conversão à obra do senhor Anderson, quem sabe...