Blonde - Andrew Dominik - 2022
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Blonde - Andrew Dominik - 2022
Vi há pouco mais uma semana. Detestei - a experiência roçou o insuportável, pela exposição animalesca e obsessiva, próxima do pornográfico (e não me esto a referir ao sexo) com que Diminik enquadra Jean dentro da frame - como se a vida dele estivesse emparedada na tragédia e no sofrimento desde o primeiro momento. Parece exploração em cima de uma vida explorada. E não será que a denúncia da exploração tem de se prestar a isso. Incompreensão...?
Mas ficou. Desde então o filme não me sai da cabeça.
Semelhante ao que sucedeu com o The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - um western moderno, revisionista, seminal, a que torci inicialmente o nariz e que por esta altura considero o melhor desde Unforgiven. Um filme onde também há uma personagem bipartida entre a sua imagem mediática e o seu ser interior (como há em Norma/Marylin). Um filme onde a estética visual também é levada por caminhos experimentalistas para nos oferecer, ao mesmo tempo, a constelação -a grandeza do que está para lá de nós- e a subtileza das pequenas coisas que nos definem enquanto humanos.
Não sei ainda para já, mas acho que o Blonde vai crescer em mim enquanto peça de cinema. Revendo algumas partes avulso, dou por mim a admirar a subtileza como, no meio da brutalidade, Dominik capta a fragilidade. E Ana de Armas, sublime, sublime, sublime...
Mas ficou. Desde então o filme não me sai da cabeça.
Semelhante ao que sucedeu com o The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - um western moderno, revisionista, seminal, a que torci inicialmente o nariz e que por esta altura considero o melhor desde Unforgiven. Um filme onde também há uma personagem bipartida entre a sua imagem mediática e o seu ser interior (como há em Norma/Marylin). Um filme onde a estética visual também é levada por caminhos experimentalistas para nos oferecer, ao mesmo tempo, a constelação -a grandeza do que está para lá de nós- e a subtileza das pequenas coisas que nos definem enquanto humanos.
Não sei ainda para já, mas acho que o Blonde vai crescer em mim enquanto peça de cinema. Revendo algumas partes avulso, dou por mim a admirar a subtileza como, no meio da brutalidade, Dominik capta a fragilidade. E Ana de Armas, sublime, sublime, sublime...
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
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Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Amei o filme, cheguei a escrever sobre ele por aqui.Samwise wrote: ↑October 30th, 2022, 12:02 pm Vi há pouco mais uma semana. Detestei - a experiência roçou o insuportável, pela exposição animalesca e obsessiva, próxima do pornográfico (e não me esto a referir ao sexo) com que Diminik enquadra Jean dentro da frame - como se a vida dele estivesse emparedada na tragédia e no sofrimento desde o primeiro momento. Parece exploração em cima de uma vida explorada. E não será que a denúncia da exploração tem de se prestar a isso. Incompreensão...?
Mas ficou. Desde então o filme não me sai da cabeça.
Semelhante ao que sucedeu com o The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - um western moderno, revisionista, seminal, a que torci inicialmente o nariz e que por esta altura considero o melhor desde Unforgiven. Um filme onde também há uma personagem bipartida entre a sua imagem mediática e o seu ser interior (como há em Norma/Marylin). Um filme onde a estética visual também é levada por caminhos experimentalistas para nos oferecer, ao mesmo tempo, a constelação -a grandeza do que está para lá de nós- e a subtileza das pequenas coisas que nos definem enquanto humanos.
Não sei ainda para já, mas acho que o Blonde vai crescer em mim enquanto peça de cinema. Revendo algumas partes avulso, dou por mim a admirar a subtileza como, no meio da brutalidade, Dominik capta a fragilidade. E Ana de Armas, sublime, sublime, sublime...
Ana de Armas deu tudo e tudo e tudo, está fantástica.
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Vamos lá pescar esse texto:
É daquelas obras fracturantes - que agora e no futuro vai dividir opiniões. Para não se perder nas páginas do tempo, deixo aqui uma pequena lembrança daquilo que foi a recepção do filme pela crítica aqui em Portugal.José wrote: ↑October 1st, 2022, 4:08 pm Blonde (2022), de Andrew Dominik
https://www.imdb.com/title/tt1655389/
https://www.rottentomatoes.com/m/blonde
A poderosa e comovente Ana de Armas encabeça esta nova realização de Andrew Dominik, uma espécie de retrato imaginado/imaginário (?) da vida da icónica Norma Jeane/Marilyn Monroe - tendo por base o livro de Joyce Carol Oates, que também assenta nos mesmos pressupostos.
Deve ser difícil inovar num projecto cinematográfico dedicado à lendária actriz. Mas penso que este filme atinge esse feito. É transgressor e subversivo, com floreados artísticos e visuais, é certo. Tem partes a cores e outras a preto e branco, consoante o estado emocional da personagem ou a importância das situações que estão a ocorrer. Mesmo com queda para algum surrealismo e para o abstracto em determinados momentos, nunca perde de vista o foco da essência daquela pessoa.
O filme é espantoso em revelar a luta constante e solitária daquela mulher em insuflar vida à personagem "maior do que o Mundo" Marilyn, sem se esquecer de alimentar e nutrir a sua verdadeira identidade, a de Norma Jeane. Pelo meio desse processo, lida com questões de auto-estima, de pertença, com fragilidades de raiz freudiana e com as formas mais vulgares e cruéis de objetificação sexual, pessoal e mediática.
Um assombroso Filme, com uma assombrosa Actriz - dos melhores do ano, para mim.
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Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
A Ana de Armas tem um desempenho incrível mas o filme não me agradou nem um pouco
E para piorar o filme é baseado num livro que pouco tem de real sobre a vida da Marilyn Monroe... quase 3 horas a ver uma história deprimente e que podia ter outro nome qualquer associado
E para piorar o filme é baseado num livro que pouco tem de real sobre a vida da Marilyn Monroe... quase 3 horas a ver uma história deprimente e que podia ter outro nome qualquer associado
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Lembram-se de, ou viram, um brilhante filme chamado Fur? Em Portugal teve o subtítulo Um Retrato Imaginário de Diane Arbus. Era encabeçado pela Nicole Kidman e o Robert Downey Jr, ambos fora de série (no caso específico dele, um dos seus grandes papéis antes de ser engolido pela monotonia dos filmes de super-heróis, onde tem limitado o seu talento).
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Experimenta lá este https://www.imdb.com/title/tt8726116/?ref_=ttls_li_tt (A Land Imagined)José wrote: ↑October 30th, 2022, 10:50 pm Lembram-se de, ou viram, um brilhante filme chamado Fur? Em Portugal teve o subtítulo Um Retrato Imaginário de Diane Arbus. Era encabeçado pela Nicole Kidman e o Robert Downey Jr, ambos fora de série (no caso específico dele, um dos seus grandes papéis antes de ser engolido pela monotonia dos filmes de super-heróis, onde tem limitado o seu talento).
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Não quero que penses que estava a criticar a tua avaliação do filme, foi apenas a minha opinião!José wrote: ↑October 30th, 2022, 10:50 pm Lembram-se de, ou viram, um brilhante filme chamado Fur? Em Portugal teve o subtítulo Um Retrato Imaginário de Diane Arbus. Era encabeçado pela Nicole Kidman e o Robert Downey Jr, ambos fora de série (no caso específico dele, um dos seus grandes papéis antes de ser engolido pela monotonia dos filmes de super-heróis, onde tem limitado o seu talento).
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.
E já pus o Fur na lista
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Eu vi o Fur há uns anos. Não me lembro do "detalhe fino", mas sei que gostei bastante. Não tem o "azedume" do Blonde, nem de perto nem de longe.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
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Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Não, mansildv, de todo. Acredita, estava mesmo era a querer clarificar a minha posição perante este tipo de objectos cinematográficos, para que não restassem dúvidas. Não teve nada de pessoal.mansildv wrote: ↑November 2nd, 2022, 2:42 pmNão quero que penses que estava a criticar a tua avaliação do filme, foi apenas a minha opinião!José wrote: ↑October 30th, 2022, 10:50 pm Lembram-se de, ou viram, um brilhante filme chamado Fur? Em Portugal teve o subtítulo Um Retrato Imaginário de Diane Arbus. Era encabeçado pela Nicole Kidman e o Robert Downey Jr, ambos fora de série (no caso específico dele, um dos seus grandes papéis antes de ser engolido pela monotonia dos filmes de super-heróis, onde tem limitado o seu talento).
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.
E já pus o Fur na lista
Um abraço e espero que aprecies esse OVNI que é o Fur.
Re: Blonde - Andrew Dominik - 2022
Obrigado, Nimzabo. Também tenho gostado muito das tuas sugestões.nimzabo wrote: ↑November 2nd, 2022, 11:39 amExperimenta lá este https://www.imdb.com/title/tt8726116/?ref_=ttls_li_tt (A Land Imagined)José wrote: ↑October 30th, 2022, 10:50 pm Lembram-se de, ou viram, um brilhante filme chamado Fur? Em Portugal teve o subtítulo Um Retrato Imaginário de Diane Arbus. Era encabeçado pela Nicole Kidman e o Robert Downey Jr, ambos fora de série (no caso específico dele, um dos seus grandes papéis antes de ser engolido pela monotonia dos filmes de super-heróis, onde tem limitado o seu talento).
Esse filme de 2006 também teorizava sobre a personalidade e vida de Diane Arbus, a sua paixão pela exaltação da diferença através da sua arte e a compaixão com que incidia o foco sobre pessoas marginalizadas pela sociedade.
Refiro-o para apresentar a minha posição sobre este tipo de abordagens cinematográficas: não preciso que um filme siga a par e passo a vida da pessoa visada. Um filme é um ponto de vista artístico de um autor. Se seguir tudo a rigor, tudo bem, nada contra. Mas para isso também existem os documentários, convém dizer.
Para mim, num e noutro caso, biopic rigoroso ou efabulado, o que me seduz é o tratamento que se dá à essência do "objecto de estudo"; se a sua matéria humana ao longo das peripécias da sua vida passa para o lado de cá e, se possível, com um enquadramento sofisticado, original e elaborado. É o que acho que acontece com este Blonde, uma espécie de obra radical e maldita, divisiva até mais não.
Mas também acredito convictamente que poderá ser, daqui a alguns anos, alvo de reavaliação crítica. Ou, pelo menos, digno de outro olhar, de outro nível de consideração dos seus vários elementos, mesmo que continue a não ser amado.