Foi por volta de 2012 que descobri entre outros o blogue "O Rato Cinéfilo" iniciado 2 anos antes (pelo Jota Marques) do qual me tornei seguidor assíduo. "O rato cinéfilo" como fazia questão de ser tratado escrevia bem e de uma forma muito acessível, sobre filmes por vezes complexos (o seu texto sobre os mistérios do 2001 Odisseia no Espaço é das melhores coisas que já li sobre a controversa obra do genial Kubrick). E além do mais ilustrava os seus textos com belas fotos criteriosamente escolhidas e com excelente qualidade (eu que sou um vasculhador da web desde 1997 nunca descobri onde é que raio ele as arranja, nem com aquela ferramenta mágica da pesquisa por foto do Google). Ainda mais temos poucos anos de diferença e gostos cinéfilos bastante semelhantes. O Rato iniciou-se nos cinemas de Lourenço Marques/Maputo e Joanesburgo nos anos 60 e posteriormente veio para Lisboa e por cá continuou as suas actividades cinéfilas. E eu comecei nos cinemas "piolho" dos bairros lisboetas tendo como "base" no Alto de Santo Amaro onde vivi a minha infância e juventude.
A longo das minhas muitas visitas ao blogue fui ganhando admiração pelo trabalho do Rato que também tem muitos seguidores no Brasil (e um pouco por todo o mundo com um total de visitas desde 6/8/2010 de 2.313.165) e este ano fui surpreendido pela notícia da publicação do seu livro de memórias cinéfilas ao qual aderi de imediato.
O livro é composto por um conjunto de deliciosas "crónicas" (e não críticas como se possa pensar) dos mais significativos filmes que viu nesta sua actividade de cerca de 60 anos (?) como cinéfilo e só fala (com paixão contagiante) dos que gosta entre os muitos a que terá assistido (?). Lê-se muito bem de uma ponta à outra mas também de forma aleatória "picando" no índice que foi o que eu fiz com muito agrado. Deixo aqui um extrato do belo texto que fecha a obra, publicado (sem sua autorização mas penso que ele não se importará).
E um dia, algures no tempo, o "The End" desapareceu. Ninguém sabe muito bem quando ou porquê — num momento estava lá e noutro momento logo a seguir já não. No cinema do antigamente, "The End", "Fin", "Fine" ou "Ende" eram o toque de finados de qualquer filme. Hoje já não; hoje um filme pura e simplesmente não acaba; ou melhor dizendo, vai acabando sim, mas aos soluços. Podemos mesmo dividir a história do cinema em duas fases distintas: a antiga, a que continha o "The End" e uma mais moderna, a que já não o contém. Hoje somos contemplados com um rol de coisas quando um filme termina — os chamados créditos finais — mas perdemos o direito à mais simples e prosaica de todas, ao "The End" ...
... O desaparecimento do "Fim" evoluiu certamente após anos e anos de profundas reflexões e investigações por parte da indústria fílmica. E as chamadas audiências-piloto tiveram também a sua palavra a dizer — provavelmente consideraram o "The End" um conceito obsoleto e de grande negativismo. E ao fim e ao cabo teriam a sua razão. Na verdade, o que é que "The End" significava quando um feliz casal estava prestes a embarcar num futuro risonho a dois? E porquê "The End" quando de facto se anunciava o princípio de uma bela e grande amizade? Qualquer que tenha sido a justificação, a verdade é que "The End" foi banido de vez e nunca mais apareceu num écran de cinema. Pura e simplesmente desapareceu!