Ou...
"Dissecação de o cadáver de um matrimónio em estado avançado de putrefação."
Ou...
"Como fazer uma adaptação moderna de um clássico, conseguir que seja excelente, e mesmo assim não chegar aos pés do original".
Ok, ok, admito que estou a falar antes do tempo, porque só vi um episódio da nova versão até agora. Esta:
https://en.wikipedia.org/wiki/Scenes_fr ... iniseries)
que é fortemente baseada nesta:
https://en.wikipedia.org/wiki/Scenes_from_a_Marriage
mas a verdade é que, a julgar por este primeiro episódio, o nível de perfuração e observação na análise ao cadáver é bem distinto entre as duas versões. Apesar de tudo, esta nova versão parece coisa para levar uma nota 9 ou 10. O texto é bom e os actores cabem nos papeís com aparente à vontade, capacidade de entrega e intensidade (a Chastain dá uns ares da Ullmann ). O original é dilacerante a vários níveis - e de formas como até agora nenhum outro filme ou série acerca de um casamento conseguiu ser. Vamos ver. Prognósticos só no fim.
Scenes from a Marriage
Moderator: JRibeiro
Scenes from a Marriage
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
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Re: Scenes from a Marriage
Segundo episódio. Down the emotional rabbit hole a little further...
Mantenho a opinião. Bom (!), em alguns momentos excelente, mas a milhas da destruição massiva da obra de Bergan. Os campos de "combate" são exactamente o mesmos: o diálogo (a dois) com a palavra em primeiro plano, na tentativa de abrir as feridas e as incompreensões pela força, pela insistência, pelo desenvolvimento de qualquer ponta por onde uma conversa possa levar a um novo patamar de exploração. Mas também a gestão dos silêncios, e a incorporção do estar presencial físico, do gesto e do posicionamento entre aproximações e afastamentos.
Podia dizer que a diferença essencial está no tempo e no espaço (america actual VS Suécia de há umas décadas atrás), mas isso seria apontar apenas uma evidência simplista. A diferença determinante permanece na capacidade "escavatória" de desenvolvimento dos diálogos - é muito complicado encontrar talento ao nível do de Bergman. Complicado? Não... Impossível.
Ainda assim, é apenas o segundo episódio - espero que as camadas emocionais ainda venham a ser rasgadas muito mais fundo.
Quanto aos actores - escolha perfeita. Daqui só levam elogios.
Mantenho a opinião. Bom (!), em alguns momentos excelente, mas a milhas da destruição massiva da obra de Bergan. Os campos de "combate" são exactamente o mesmos: o diálogo (a dois) com a palavra em primeiro plano, na tentativa de abrir as feridas e as incompreensões pela força, pela insistência, pelo desenvolvimento de qualquer ponta por onde uma conversa possa levar a um novo patamar de exploração. Mas também a gestão dos silêncios, e a incorporção do estar presencial físico, do gesto e do posicionamento entre aproximações e afastamentos.
Podia dizer que a diferença essencial está no tempo e no espaço (america actual VS Suécia de há umas décadas atrás), mas isso seria apontar apenas uma evidência simplista. A diferença determinante permanece na capacidade "escavatória" de desenvolvimento dos diálogos - é muito complicado encontrar talento ao nível do de Bergman. Complicado? Não... Impossível.
Ainda assim, é apenas o segundo episódio - espero que as camadas emocionais ainda venham a ser rasgadas muito mais fundo.
Quanto aos actores - escolha perfeita. Daqui só levam elogios.
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- Rui Santos
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Re: Scenes from a Marriage
Continua a escrever... antes que penses que ninguém te está a ler eu estou a ler muito atentamente...
Devido a motivos pessoais, não ando a pensar ver esta série nesta fase.... mas penso que no HBO tem o filme e a série neste momento.
O que permite a visualização quase sequencial das duas obras. Estou a pensar fazer isso, mas até lá irei lendo muito atentamente o que escreves.
Devido a motivos pessoais, não ando a pensar ver esta série nesta fase.... mas penso que no HBO tem o filme e a série neste momento.
O que permite a visualização quase sequencial das duas obras. Estou a pensar fazer isso, mas até lá irei lendo muito atentamente o que escreves.
Rui Santos - 54 Anos | 22 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
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Re: Scenes from a Marriage
Só me falta ver o último.
A opinião mantém-se relativamente aos aspectos já mencionados.
O 4 épisódio foi talvez o mais duro de assistir, mas ainda assim é bastante mais soft do que a implacável batalha campal da versão do Bergman.
Talvez esta versão americana esteja também mais adaptada às audiências de agora, mesmo que não esteja a imaginar grande interesse nas camadas dos 30 para baixo, e talvez que os diálogos e os seus contextos estejam em boa medida simplificados - e atenuados emocionalmente - atendendo às personagens em questão. A obra do Bergman é por isso também bastante mais teatral na utilização da palavra - porque vai mesmo ao limite na exploração de cada tema, e na elaboração maquiavélica de cada posição e emoção.
Não estou a ver esta série ter algum impacto que seja em qualquer comunidade, local ou faixa etária neste momento, tal como sucedeu com original na Suécia - mas eram mesmo outros tempos e outras mentalidades. Ainda assim, creio que a versão do Bergman tem ainda hoje capacidade para pertubar e muito maior grau qualquer audiência do que a nova - aquilo que é falado, e a forma como é falado são intemporais - a um ponto que a versão moderna nunca poderá ser.
Neste quarto episódio uma das coisas que é óbvia é o nível de conhecimento "do outro" que ambos os protagonistas têm presente (foram muitos anos de vida partilhada) e como usam esse conhecimento como arma no combate de posições - quer a atacar, quer a percepcionar o que o outro está a pensar e a não dizer. Continuam também os turbilhões emotivos, com mudanças súbitas e drásticas de postura, de vontade, de atitude e de abordagem perante o outro - turbilhões esses que moldam momentos a ponto de tornar que decisões determinantes sejam tomadas em segundos. Tudo muito realista, portanto.
Estou curioso para ver o que o último episódio tem para mostrar - mas fiquei com bastante vontade de voltar a ver a série original, não só para poder comparar ambas com mais volume de memória disponível, mas porque entretanto já experienciei mais vida, e já passei os olhos em algumas outras boas obras que abordam o tema - como o terceiro filme da trilogia Before Sunrise, e o Marriage Story (ambos citam influências determinantes da série do Bergman)
A opinião mantém-se relativamente aos aspectos já mencionados.
O 4 épisódio foi talvez o mais duro de assistir, mas ainda assim é bastante mais soft do que a implacável batalha campal da versão do Bergman.
Talvez esta versão americana esteja também mais adaptada às audiências de agora, mesmo que não esteja a imaginar grande interesse nas camadas dos 30 para baixo, e talvez que os diálogos e os seus contextos estejam em boa medida simplificados - e atenuados emocionalmente - atendendo às personagens em questão. A obra do Bergman é por isso também bastante mais teatral na utilização da palavra - porque vai mesmo ao limite na exploração de cada tema, e na elaboração maquiavélica de cada posição e emoção.
Não estou a ver esta série ter algum impacto que seja em qualquer comunidade, local ou faixa etária neste momento, tal como sucedeu com original na Suécia - mas eram mesmo outros tempos e outras mentalidades. Ainda assim, creio que a versão do Bergman tem ainda hoje capacidade para pertubar e muito maior grau qualquer audiência do que a nova - aquilo que é falado, e a forma como é falado são intemporais - a um ponto que a versão moderna nunca poderá ser.
Neste quarto episódio uma das coisas que é óbvia é o nível de conhecimento "do outro" que ambos os protagonistas têm presente (foram muitos anos de vida partilhada) e como usam esse conhecimento como arma no combate de posições - quer a atacar, quer a percepcionar o que o outro está a pensar e a não dizer. Continuam também os turbilhões emotivos, com mudanças súbitas e drásticas de postura, de vontade, de atitude e de abordagem perante o outro - turbilhões esses que moldam momentos a ponto de tornar que decisões determinantes sejam tomadas em segundos. Tudo muito realista, portanto.
Estou curioso para ver o que o último episódio tem para mostrar - mas fiquei com bastante vontade de voltar a ver a série original, não só para poder comparar ambas com mais volume de memória disponível, mas porque entretanto já experienciei mais vida, e já passei os olhos em algumas outras boas obras que abordam o tema - como o terceiro filme da trilogia Before Sunrise, e o Marriage Story (ambos citam influências determinantes da série do Bergman)
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Re: Scenes from a Marriage
Ainda não terminei a série nova (não vi o último episódio), mas comecei a rever a série do Bergman. O primeiro episódio tem uma estrutura narrativa muito semelhante na original e no remake.
Pedro Mexia fala sobre a série nova aqui, a partir do minuto 5:
https://expresso.pt/podcasts/pbx/2021-1 ... d-2f96f3f8
Pedro Mexia fala sobre a série nova aqui, a partir do minuto 5:
https://expresso.pt/podcasts/pbx/2021-1 ... d-2f96f3f8
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