Tópico sobre política

Qualquer assunto que não tenha nenhuma relação com as temáticas abordadas noutras secções do fórum.

Moderator: Rui Santos

Samwise
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

E uma notícia que aborda o tema da Eutanásia, colocando a perspectiva um pouco mais "à frente" do debate que se vem fazendo em Portugal, e que serve, entre outras coisas, para nos fazer pensar. É sobre um homem que não sofre de nenhuma doença que o coloque em "estado terminal", não está em estado de sofrimento agudo, mas deseja morrer mesmo assim e que toma essa decisão de forma lúcida e consciente. E é também sobre um estado que lhe oferece uma solução legalizada a quem faz essa escolha.

Pergunto eu: não devíamos todos poder ter esta liberdade de escolha? Não devíamos todos poder optar de livre consciência pelo momento da nossa morte sem termos de estar "em estado terminal e irreversível" e sob "sofrimento físico intenso"?

https://www.dn.pt/mundo/interior/cienti ... 25921.html
David Goodall está ″feliz″ por morrer hoje

David Goodall, de 104 anos, viajou até à Suíça para morrer esta quinta-feira, uma vez que no seu país, Austrália, a morte assistida é ilegal. "Não quero continuar a viver", disse

Aos 104 anos, o cientista australiano David Goodall decidiu morrer. A morte assistida é ilegal no seu país e, por isso, viajou para a Suíça, onde agendou para esta quinta-feira a sua morte. Uma viagem que se tornou notícia em todo o mundo.

"As minhas capacidades estão em declínio há um ou dois anos, a minha vista há seis. Não quero continuar a viver. Estou feliz por poder acabar com isto", disse ontem Goodall durante uma conferência de imprensa.

Está previsto que hoje, em Basileia, o cientista mais velho da Austrália, se dirija à agência que o vai ajudar a morrer, a Life Circle. ​​​​

O caso de Goodall reacendeu o debate sobre a eutanásia na Austrália. O cientista espera que com a sua decisão haja uma alteração na legislação sobre esta matéria.

A morte assistida é legal apenas num estado na Austrália, mas é necessário que a pessoa esteja em estado terminal, o que não é o caso deste professor universitário emérito, condecorado com a Ordem da Austrália.

A condição física e a qualidade de vida do cientista deterioram-se nos últimos anos e, por isso, decidiu morrer, explicou aos jornalistas. Uma opção que todos deveriam ter, defendeu. "Deve-se ser livre para escolher a morte, quando a morte surge no momento apropriado", afirmou.

Por ocasião do seu aniversário, no passado mês de abril, o reconhecido botânico disse que lamentava ter chegado aos 104 anos. "Não estou feliz. Eu quero morrer. Não é particularmente triste. O que é triste é ser impedido de fazer isso", disse à BBC.

De acordo com a Euronews, Goodhall disse que a sua morte vai ser consumada através de injeção letal e que alguns familiares vão estar com ele nos seus últimos momentos com vida.

Já em Perth, antes de entrar no avião rumo à Suíça, David Goodall despediu-se de alguns familiares. "É muito bom que eles estejam aqui para me ver partir", disse na altura David Goodall que cumpre hoje o desejo de morrer.

Eutanásia em Portugal vai ser discutida no parlamento

Em Portugal, vão ser discutidos e votados projetos sobre a morte medicamente assistida no próximo dia 29 de maio. Na Assembleia da República vão ser apresentados projetos do PS, BE, PEV e PAN.
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Re: Tópico sobre política

Post by No Angel »

Samwise wrote: May 10th, 2018, 12:38 pm E uma notícia que aborda o tema da Eutanásia, colocando a perspectiva um pouco mais "à frente" do debate que se vem fazendo em Portugal, e que serve, entre outras coisas, para nos fazer pensar. É sobre um homem que não sofre de nenhuma doença que o coloque em "estado terminal", não está em estado de sofrimento agudo, mas deseja morrer mesmo assim e que toma essa decisão de forma lúcida e consciente. E é também sobre um estado que lhe oferece uma solução legalizada a quem faz essa escolha.

Mas nesse caso para que seria necessária a eutanásia? A pessoa poderia se suicidar.

A eutanásia é usada em casos em que a pessoa está num estado de saúde muito debilitado (o tal estado terminal) e com dores, e que não tem meios para acabar com a sua vida.
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

No Angel wrote: May 10th, 2018, 2:57 pm
Samwise wrote: May 10th, 2018, 12:38 pm E uma notícia que aborda o tema da Eutanásia, colocando a perspectiva um pouco mais "à frente" do debate que se vem fazendo em Portugal, e que serve, entre outras coisas, para nos fazer pensar. É sobre um homem que não sofre de nenhuma doença que o coloque em "estado terminal", não está em estado de sofrimento agudo, mas deseja morrer mesmo assim e que toma essa decisão de forma lúcida e consciente. E é também sobre um estado que lhe oferece uma solução legalizada a quem faz essa escolha.

Mas nesse caso para que seria necessária a eutanásia? A pessoa poderia se suicidar.

Eu não quero restringir o debate sobre este assunto centrando-o apenas na definição do termo, mas creio que para responder à tua questão vou começar por me servir do dicionário.

Temos então que "Eutanásia" significa (https://www.priberam.pt/dlpo/eutan%c3%a1sia):
1. Morte sem dor nem sofrimento. ≠ CACOTANÁSIA
2. Teoria que defende o direito a uma morte sem dor nem sofrimento a doentes incuráveis.
3. Acção que põe em prática essa teoria.
Se olharmos para sentido indicado nos pontos 1 e 3, e nos casos em que "a pessoa poderia se suicidar" (pelos seus próprios meios, presumo), a legalização da morte assistida permitiria criar a infraestrutura (legal e institucional) necessária para garantir que era mesmo sem sofrimento, com o devido acompanhamento especializado (médico e legal), e com todo o "conforto" associado, quer para a pessoa, quer para os familiares.

Se este sujeito que decidiu morrer hoje quisesse colocar termo à vida e não tivesse acesso a opção que acabou por escolher, que hipóteses para uma morte sem sofrimento lhe restavam?
A eutanásia é usada em casos em que a pessoa está num estado de saúde muito debilitado (o tal estado terminal) e com dores, e que não tem meios para acabar com a sua vida.
Se é por uma questão de terminologia, substitua-se "eutanásia" por "morte assistida".

Aquilo a que te estás a referir é muito parecido o que se está em cima da mesa avançar para debate político cá em Portugal.
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

No Público:
Cientista australiano conseguiu morrer na Suíça

O Hino à Alegria, de Beethoven, foi a música escolhida por David Goodall para acompanhar a morte assistida numa clínica de Basileia.

O desejo de David Goodall concretizou-se finalmente. A morte do cientista australiano de 104 anos, que viajou para a Suíça para ter o direito a morrer com a ajuda de médicos, foi anunciada esta quinta-feira pela Exit International, a organização australiana sem fins lucrativos que defende a eutanásia e da qual era membro.

Foi em Basileia que o cientista morreu, por volta das 12h30, acompanhado pelos netos e ao som do Hino à Alegria, da 9.ª sinfonia de Beethoven. Segundo a nota de imprensa, David Goodall escolheu uma injecção letal como forma de morte. Depois de esta ser administrada, “caiu no sono em alguns minutos e pouco depois morreu”.

Na véspera, David Goodall tinha dito em conferência de imprensa que não tinha quaisquer dúvidas quanto ao que se preparava para fazer: “Não quero continuar e estou feliz por ter a oportunidade de pôr termo à vida amanhã”, afirmou.

Goodall doou o corpo à medicina, mas insistiu que se isso não for possível, deverá ser cremado e as suas cinzas espalhadas num local próximo, sem qualquer “enterro ou cerimonial”, porque “não acredita na vida após a morte”.
“Tive tempo de me despedir"

O cientista, que saiu de Perth, na Austrália, na semana passada, passou alguns dias em Bordéus (França) com a família, antes de viajar para a Suíça, onde a morte assistida é legal (assim como na Bélgica, Luxemburgo e Holanda). “Tive tempo de me despedir”, afirmou na conferência de imprensa de quarta-feira, onde também disse esperar que a sua viagem contribua para ajudar a posição das autoridades australianas face à eutanásia.
O melhor do Público no email

No próximo ano entrará em vigor uma nova lei para autorizar a morte medicamente assistida, mas apenas para pessoas com doenças em estado terminal e uma esperança de vida inferior a seis meses.
Recomendação

David Goodall não sofria de nenhuma doença incurável, mas a sua qualidade de vida deteriorou-se nos últimos anos, com a perda de visão e audição. Depois de uma queda que o deixou imobilizado no chão durante dois dias, o cientista, que esteve no activo até aos 102 anos, decidiu pedir ajuda a uma organização profissional, relata o jornal suíço Le Temps.

A Exit International organizou uma campanha de angariação de fundos que recolheu 21 mil dólares para lhe oferecer um voo em primeira classe até à Europa.
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Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Torturador da DGS (polícia política) espanhola em liberdade

Image

Os espanhóis traduzem tudo até o termo americano dos cowboys "Billy, the Kid". No primeiro episódio que eu vi em Espanha da série Cuéntame cómo pasó, aparecia lá um personagem da PIDE espanhola com a alcunha de Billy el Niño. Eu entretanto já vi a série toda em streaming, e sempre julguei que isso fosse alguma palhaçada da série. Mas não o era! mau-) Grr:-)

Notícia no site oficial YT do canal de TDT espanhol "La Sexta"



https://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_G ... ez_Pacheco

Notícia muito recente, com menos de uma semana, escrita em 13 de Maio de 2018 pela organização galega "EsCULcA", com o título:
"EN ATENCIÓN AOS SEUS MÉRITOS"
O torturador Billy el Niño recibe unha pensión vitalicia con aumento do 15%

13/05/2018
http://esculca.gal/o-torturador-billy-e ... nto-do-15/

EsCULcA é un Observatorio de ámbito galego que traballa na defensa dos direitos e liberdades públicas garantidos na Constitución e nos Tratados Internacionais. Por disposición estatutaria non acepta ningún tipo de financiamento dos poderes públicos.

Que pouca vergonha vem a ser esta a escassas centenas de quilómetros de Portugal? Grr:-)
El 18 de septiembre de 2013 la jueza argentina María Servini dictó orden internacional de búsqueda y captura contra él y otros cuatro antiguos miembros de las fuerzas de seguridad franquistas.7​ La justicia argentina le reclama por un delito de torturas cometido contra trece personas entre 1971 y 1975,9​ sobre la base de una querella realizada por antiguos opositores a la dictadura franquista. En vistas de una posible extradición, el 5 de diciembre la Audiencia Nacional le retiró el pasaporte y le ordenó presentarse cada semana en sede judicial.9​10​ En abril de 2014 la Audiencia Nacional rechazó la extradición de González Pacheco, argumentando que dichos delitos de torturas están «ampliamente prescritos», en oposición al razonamiento jurídico de la magistrada Servini.

Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_G ... ez_Pacheco
O torturador da PIDE espanhola agora recebe uma reforma por serviços prestados ao governo na década de 1970?

A meu ver, o problema aqui está na definição do ano em que Espanha ficou democrática, Portugal foi em 1974, mas em Espanha isso só aconteceu em 1982 aquando da tomada de posse do PSOE, após o partido de Esquerda com mais de 100 anos, ter comunicado que abandonou a ideologia do Marxismo.

Entre 1975 e 1982, houve umas eleições em Espanha, mas quem ganhou foram os mesmos tipos do governo fascista. Foi nesse período da "Transição", que este torturador continuou a trabalhar e foi medalhado pelo governo anterior ao PSOE, obviamente ele já não torturava pessoas durante o seu dia-a-dia do expediente profissional, mas que governo da UCD vem a ser este que permite que um animal psicopata deste género, em vez de estar preso, continue a trabalhar para a polícia do governo?

Testemunho recente de uma mulher do Partido Comunista Espanhol (PCE) que foi torturada por ele, e que diz que é uma vergonha para o povo espanhol, este animal psicopata estar à solta em Espanha. Ela no fim diz que ele era um "hijo da puta", em bom castelhano, eu próprio subscrevo a esta asneirada dita por ela, acho que ninguém aqui no fórum irá por em causa o depoimento desta senhora, ou a necessidade dela ficar revoltada e chamar de "hijo da puta" a esse malandro. :shock:



Existem mais vídeos no You Tube, com depoimentos de pessoas torturadas por ele.
Last edited by JoséMiguel on May 19th, 2018, 4:04 pm, edited 1 time in total.
JoséMiguel
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Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Documentário dobrado em espanhol: "Franco and Salazar - Iberian Brothers"

(Não sei a nacionalidade original do documentário.)



Eu ainda não vi isto, já topei nos comentários do You Tube a malta de extrema-direita com a sua retórica habitual, mas também achei graça aos seguintes comentários:
Jose Diaz Muñoz - Há 8 meses

Me cago en franco, me cago en la republica, me cago en los comunistas, me cago en la monarquia, me cago en la iglesia, me cago en la anarquia, me cago en los judios, me cago en america de norte a sur y me cago en todas las putas religiones y en los arabes.
É assim que eu gosto de ver um espanhol neutro a escrever, a mandar os extremismos todos à bela merda, em bom castelhano. yes-)

Também gostei deste:
Alex salazar rodriguez - Há 1 semana

1.Para todo el mundo , Franco fue un golpista asesino que se levantó contra un gobierno legítimo votado por el pueblo Español ,fue un asesino que masacró a mas de 300.000 personas ,no busquéis ni excusas ni legitimidad en su golpe.
2.La ayuda portuguesa fue insignificante frente a la ayuda nazi y alemana
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

À particular atenção do No Angel, e por uma questão de definição política (os sublinhados são meus).

No Observador:
Diz-me com quem acampas, dir-te-ei quem és.
José Manuel Fernandes
30/6/2018

Um workshop sobre “desconstrução da masculinidade tóxica”, Um debate sobre "a propriedade é o roubo: socialização dos meios de produção". Dava para rir se não fosse de chorar, pois eles mandam no país

Será o Bloco tão inofensivo como parece? Serão os seus arrufos com o PS apenas sinais de há diferenças de grau, mas não de fundo, nas políticas que propõe? E até onde é nos deixámos enfeitiçar pela aparente doçura de Catarina Martins?

Em 2011 o Bloco aprendeu uma lição: para ter sucesso tinha de se disfarçar de “PS de esquerda”, ma non troppo. É que nas eleições desse ano o castigo foi duro: depois de se ter recusado a reunir com a troika, assim vincando o seu lado radical e anti-sistema, o partido que ainda era de Francisco Louçã perdeu metade do seu grupo parlamentar. Um desastre. Mas agora, com Louçã transformado em mais um venerando senador do regime, o Bloco de Catarina e Mariana passou a ter a aparência de um partido do regime, bem comportado, ma non troppo. Ou seja, um pouco mais intransigente do que os outros, um pouco mais “de esquerda” que aquela parte do PS que até podia ser do Bloco, mas já sem grandes complexos sobre confundir-se com o PCP ou ser ultrapassado pela esquerda por Jerónimo de Sousa.

O Bloco tornou-se tão aparentemente civilizado que não só recuperou facilmente o seu grupo parlamentar em 2015 (numas eleições em que o PS se quis apresentar como a única forma de afastar Passos Coelho do poder), como o fez beneficiando da transferência de votos não só de eleitores socialistas, mas de eleitores que tinham votado antes no PSD e no CDS. Curiosamente, ou talvez não, como mostram estudos pós-eleitorais como aquele de que resultou o gráfico que reproduzo a seguir, quase não existe troca de votos entre o Bloco e o PCP.

Matriz de transferências de votos entre partidos e abstenção considerando as eleições de 2011 e 2015

Muitos ficarão surpreendidos com estes dados – eu não fico. O PCP é um partido comunista ortodoxo, clássico e previsível até na sua implantação social, muito assente numa ampla base sindical e que mantém (até onde é possível manter) as suas características de partido de classe, mesmo não sendo já o “partido operário” que quis ser no passado.

jà o Bloco é um animal político completamente diferente e muito mais dissimulado. Quase não tem base sindical e recolhe sobretudo um voto urbano, de classe média. O voto de muita gente que nem sabe muito bem o que é realmente o Bloco, qual o seu programa político, só lhe conhece as manifestações sobre temas mais fracturantes e não se assusta com o discurso de Catarina Martins, mesmo quando ela sobe o tom de voz. São lobos com pele de cordeiro.

É por isso uma delícia olhar para o programa do acampamento de Verão do Bloco, que vai ter lugar no final de Julho, e que é muito revelador do tipo de partido que realmente é. E do que representa. Não resisto por isso a comentá-lo.

A primeira originalidade que nos salta à vista é que, num programa arrumado em torno de 29 debates e 4 workshops (não exagero e nem sequer incluo os momentos mais políticos, como as intervenções de abertura e encerramento e os plenários para estudantes do Secundário e do Superior), apenas uma-sessão-uma tem alguma coisa a ver com trabalhadores, mas mesmo esta não foge à centralidade da precariedade, o único problema que para o Bloco parece existir no mundo do trabalho.

A segunda originalidade é só aparecerem identificados dois tipos de espaços: o Espaço Feminista e o Espaço Queer (para quem não souber, queer é a designação que se dá a todos os que não são heterossexuais normativos, o que significa que ´e um conceito pós-moderno que abrange ainda mais variedades que o de LGBTI e evita continuar a acrescentar indefinidamente à sigla as restantes letras do abedecedário). Quem for homem e heterossexual no acampamento do Bloco arrisca-se porventura a carregar o fardo da culpa da sua hétero dominância, tal como ser branco na Europa e nos Estados Unidos é, para os bloquistas, viver em permanente necessidade de expiação dos pecados daquilo a que no passado chamávamos “expansão” ou “descobertas”.

Entrando no detalhe da programação deparamo-nos com verdadeiros mimos.

Logo a abrir, para destrunfar, discutir-se-á “Saída do Euro: há outra saída?”, uma interrogação que é uma resposta mas que, estou certo, não terá tradução visível no programa eleitoral do Bloco, pois sair do euro é anátema para a esmagadora maioria dos que vão ao engano votar nas carinhas larocas das suas dirigentes, como um dia se queixou Jerónimo de Sousa.

Depois haverá muito por onde escolher – isto se aceitarmos escolher de entre as causas marginais que se tornaram o modo de vida destas novas esquerdas mais identificados com a vida dos bares nocturnos do que com os relógios de ponto de uma fábrica.

Alguns exemplos:

- Legalizar (e regulamentar!) todas as drogas. Isso mesmo: todas.

- Veganismo e Antiespecismo. Um dia destes ainda acabamos a comer sementes e raízes em nome da bondade da “dieta do paleolítico”.

- Trabalho sexual: o direito ao corpo. O que antes víamos como exploração sexual das mulheres, agora foi transformado em direito.

- Direito à boémia: necessidade de vida noturna para produção e radicalização cultural. Confesso que já tinha visto justificações menos sofisticadas para ir para os copos.

- Ciganofobia. O Bloco adora fobias, pois dão-lhe causas e indignações. Num acampamento ao ar livre só espero que tenham também tratamento para a aracnofobia, isto se porventura a defesa contra as aranhas não cair nos pecados do antiespecismo

- Boicote a Israel e celebração da Palestina. Será que para assistir terão de ir todos com aqueles lenços aos quadrados que tanto gostam de usar?

- Linguística e linguagem inclusiva. Ou seja, lições de politicamente correcto e de como o impor mesmo aos recalcitrantes.

- A propriedade é o roubo: socialização dos meios de produção. Ora aqui está uma pitada de marxismo puro e duro, à moda antiga. Só espero que, de caminho, não socializem o motão da Mariana Mortágua.

- Desobediência civil. Curioso este debate num partido que faz parte do acordo que suporta o Governo. Quererão desobedecer a eles próprios?

Quanto aos workshops, para além de um misteriosamente dedicado ao tema de “suporte básico de vida” (sonharão com entrar em Medicina ou estarão mais a treinar primeiros socorros para o caso de um dia terem a oportunidade de um “assalto ao Palácio de Inverno”, naturalmente que à nossa pequena escala?), há dois sobre “vídeo-activismo: teoria e prática”, o que até vai bem com a única abordagem prevista à cultura: falar de contracultura.

Mas a cereja em cima do bolo deverá mesmo ser o workshop sobre “desconstrução da masculinidade tóxica”, onde não sei se se falará de hormonas ou apenas das vantagens de os meninos vestirem cor-de-rosa e brincarem com bonecas, mas juro que gostava de saber.

No meu tempo chamava-se a estes acampamentos sessões de endoutrinação política, mas nos meus tempos os partidos de extrema-esquerda não andavam disfarçados a fingir que eram aquilo que não eram, como continuam a não ser mas querem que se saiba. De facto aquilo que o Bloco não é, não será, nem quer ser a ajuizar pelo programa deste acampamento, é um partido pacificamente integrado no nosso sistema democrático, com uma economia de mercado e vivendo pacificamente no seu espaço natural que é o da União Europeia.

O que o Bloco é, continua e continuará a ser, é um partido revolucionário que aprendeu com Gramsci que é ganhando as batalhas culturais que se conquista o poder. E isso eles estão a fazer e com competência, já não em nome dos trabalhadores, mas do seu desprezo pela vida tranquila e livre das odiadas sociedades burguesas, como são as sociedades ocidentais. Por isso tanto lhes faz o veganismo como a “masculinidade tóxica”, o que conta é ir destruindo o sistema de valores que nos tem permitido viver em concórdia.

E concórdia é mesmo o que não querem. Tanto que até já treinam primeiros socorros.

PS. Juro: gostava de ser mosca para assistir a alguns destes debates e workshops. Deve ser imensamente divertido, mesmo sendo trágica a nossa indiferença relativamente à verdadeira natureza do partido que se senta mais à esquerda no Parlamento.
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Re: Tópico sobre política

Post by Rui Santos »

Recomendo o interessantíssimo programa do Daniel Oliveira, disponível em Podcast, aqui: https://perguntarnaoofende.wordpress.com/
Em particular o mais recente programa com o Jaime Nogueira Pinto que por ser de direita radical teve um programa interessantíssimo para a compreensão do fenomeno Trump... Altamente recomendado.
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às vezes é maravilhoso ouvir alguém cuja opinião é o oposto da nossa. Aprendi algumas coisas pelo lado oposto...
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Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Sem querer tirar a importância ao comentário anterior do Rui Santos (ainda não o espreitei), ontem à noite deparei-me com um clip americano no You Tube, acerca do Marcelo Rebelo de Sousa, que deve estar a ponto de se tornar viral.



O nosso Presidente Marcelo, foi o primeiro chefe de estado a contra-atacar os violentos apertos de mão do caramelo do Trump.

Isto é apenas um interlúdio humorístico da minha parte, sem qualquer seriedade ou pertinência para este excelente tópico de política. :oops:
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Rui Santos wrote: July 11th, 2018, 12:01 am Recomendo o interessantíssimo programa do Daniel Oliveira, disponível em Podcast, aqui: https://perguntarnaoofende.wordpress.com/
Em particular o mais recente programa com o Jaime Nogueira Pinto que por ser de direita radical teve um programa interessantíssimo para a compreensão do fenomeno Trump... Altamente recomendado.
http://feedproxy.google.com/~r/Pergunta ... W2W_aRsxM/

às vezes é maravilhoso ouvir alguém cuja opinião é o oposto da nossa. Aprendi algumas coisas pelo lado oposto...
Vou ouvir. Já conhecia o programa, mas nem sempre ouço os "episódios".
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

De um ponto de vista estritamente cinéfilo, e colocando de parte todas as questões politicas e ideológicas, o Nogueira Pinto fala de vários filmes ao longo da conversa: o 1900 do Bertolucci, o Heaven's Gate e o The Deer Hunter do Cimino (a que ele chama de "notáveis") e a ainda "a mãe do Woody Allen", que eu identifico como a personagem da curta Oedipus Wrecks, no Histórias de Nova Yorque - a senhora que aparece no céu, à vista de toda a gente, sempre a chatear o filho (Woody) por tudo e mais alguma coisa...
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Re: Tópico sobre política

Post by Rui Santos »

Samwise wrote: July 12th, 2018, 11:44 am De um ponto de vista estritamente cinéfilo, e colocando de parte todas as questões politicas e ideológicas, o Nogueira Pinto fala de vários filmes ao longo da conversa: o 1900 do Bertolucci, o Heaven's Gate e o The Deer Hunter do Cimino (a que ele chama de "notáveis") e a ainda "a mãe do Woody Allen", que eu identifico como a personagem da curta Oedipus Wrecks, no Histórias de Nova Yorque - a senhora que aparece no céu, à vista de toda a gente, sempre a chatear o filho (Woody) por tudo e mais alguma coisa...
Acho que é uma entrevista inteligente, de alguém com uma visão oposta do normal, mas que merece ser ouvida. Podemos discordar dele, mas é sem dúvida uma perpectiva interessante, como por exemplo a do racismo da emigração...
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Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Entrevista ao Vladimir Putin, por uma gaja americana (Megyn Kelly)

Esta entrevista foi feita em dois dias, no primeiro dia foi filmada no Kremlin a 1 de Março de 2018, e no dia seguinte em Kaliningrad.

A jornalista norte-americana é imbecil, agressiva e possui uma agenda de propaganda política muito ofensiva para países como Portugal (Amerika Ubber Alles e nojices patrióticas do género).

O problema muito grave é que a NBC americana editou esta entrevista, de forma desonesta, para intrujar o povo norte-americano bem como o povo da União Europeia.

O vídeo que irei mostrar é a entrevista completa, sem manipulação política pelos EUA. Isto tem hora e meia de duração, mas foi a melhor hora e meia do meu tempo, que gastei nos últimos meses.

O Vladimir Putin é parecido com o Marcelo Rebelo de Sousa, no aspecto de serem ambos homens muito inteligentes, onde dá gosto ouvi-los falar. Eu pessoalmente sou contra as ideologias políticas de ambos os chefes de estado, mas sempre gostei de ouvir o Professor Marcelo Rebelo de Sousa a falar no telejornal aos domingos, tal como muitos portugueses de Esquerda que eu conheço pessoalmente. Mas o Marcelo Rebelo de Sousa tinha uma coisa que o Vladimir Putin não tem, que é o acesso livre pelo povo português ao homem a falar, sem interferências pelo governo norte-americano.

Seria impensável a Imprensa Portuguesa permitir o acesso a esta entrevista ao povo português, mas graças à Internet o povo português pode mandar a nossa Imprensa à fava. :-)

Pontos de destaque:

a) Novos mísseis nucleares intercontinentais balísticos, com maior raio de morte.
b) Novos métodos de detonar bombas nucleares russas nos EUA, não balísticos.
c) Interferência russa na eleição do Donald Trump.
d) Putin a dar na cabeça aos EUA e a defender o resto do mundo do bullying norte-americano.

Epá! Portugal foi humilhado pelo governo americano, quando obrigou o ministro de defesa Paulo Portas a violar as leis internacionais e impedir a aterragem do avião presidencial da Bolívia. Os EUA são um país vilão que obriga Portugal a quebrar leis internacionais a mando deles. Eu sinto vergonha, enquanto português, perante o povo boliviano que nunca fez mal nenhum a Portugal e que o nosso país humilhou e faltou ao respeito, ao não deixar um avião presidencial, protegido por leis diplomáticas (que nem sequer o psicopata do Adolfo Hitler violou, durante a 2ª Guerra Mundial), aterrar em Portugal.

Os EUA obrigaram o governo português a prostituir-se e a quebrar leis internacionais que nem sequer o Hitler quebrou (O Hitler não interceptava aviões saídos da Suíça).

Existe o velho ditado Inimigo do meu inimigo, meu amigo é!, a Rússia nunca fez mal a Portugal, mas os EUA obrigam Portugal a quebrar leis internacionais, que depois deixam o povo português envergonhado perante o resto do mundo, e a dever um pedido de desculpas ao povo boliviano. Eu não sou nacionalista e fiquei muito envergonhado por ser português, quando ocorreu o caso do Edward Snowden. Quem é que o Barrack Obama julga que é para me fazer ficar envergonhado de ser um cidadão português? Grr:-)

Samwise
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Para mim é simples: se queremos a protecção e o apoio militar dos EUA, temos de "baixar as calcinhas" de vez em quando.

Isto é melhor do que ter sempre as calças para baixo no caso de pretendermos, em alternativa, a opção do "apoio" Russo (que de qualquer forma não se coloca). Entre o Trump e o Putin, mil vezes o Trump, e eu não gosto nadinha dele. Considero o Putin 3 ou 4 vezes mais inteligente (o Putin deve estar farto de se rir da America desde que o Trump chegou ao poder). Do Obama gosto bastante mais, embora reconheça que ele também tem os seus podres.

O Putin nunca "nos fez mal" porque somos um país insignificante, fora de qualquer vantagem política de peso.
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Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Vi os primeiros trinta minutos da entrevista. Como seria de esperar, o Putin varre o chão com as perguntas da jornalista, está dentro do seu território, e responde como bem lhe convém - há duas situações em que se vê bom como goza lá do alto com as tentativas de o espicaçar e de o fazer responder às perguntas (a "das donas de casa" é mesmo muito boa...). Tal como no caso da intervenção nas eleições americanas, está claro que ele nunca vai assumir aquilo que não lhe convém.

Ainda assim, é importante que haja iniciativas destas. Servem para a posteridade. São essenciais para daqui a uns anos podermos perceber um pouco mais de como se joga o xadrez político.
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