Filme que retrata o Auto da Paixao que ha muito vem sendo encenada na aldeia fluviense de Curalha. Alem do alto valor etnografico e de memoria do mais genuino que as nossas gentes possuem e um filme de alta qualidade que mete no bolso algumas das versoes vindas de hollywwod. A primeira surpresa surge na parte inicial, em que o Auto começa de forma absolutamente inesperada e poetica, com a sequencia seguinte a misturar documentario com filme numa estrutura interessante. Vemos a gente da aldeia a ocupar o seu lugar, os forasteiros da cidade a chegar (incluindo uns hippies a chegar de chevrolet
) e a equipa tecnica a verificar o material. So depois temos a recriacao propriamente dita. o grande merito do filme e o que o distingue e a sua genuinidade: os atores sao obviamente amadores, que se nota logo pela cadencia com que dizem os textos, quase que a ditar ladainhas e subindo o tom nas ultimas palavras, transformando tudo em perguntas. Estranhamente, mesmo irritando um bocado, acaba por ser apropriado ao tema.
E notorio o esforço daquela gente nesta recriacao, no cuidado com os fatos e com os poucos cenarios. Por muito simples que sejam, comparado com as imagens de maltrapilhos que vemos na abertura e algo de louvar. E contudo, temos algumas originalidades, como o Diabo a tentar Judas vestido com um fato de treino
A nivel tecnico o filme e excelente. A realizacao tem grandes apontamentos quando necessarios e a fotografia e cores sao verdadeiramente assombrossas e de top mundial, com enquadramentos autenticamente saidos de uma qualquer pintura de idolos da epoca medieval ou renascentista.
O desenlace do filme e altamente simbolico e surpreendente.
Um filme belissimo, facilmente entra po top dos melhores filmes portugueses.
Vi numa copia imaculada no nos play, para quem estiver interessado.