Alarvidades dos críticos de cinema

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Samwise
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

Grande José Miguel. salut-) Gostei de ler! A tua reflexão explicativa abre portas para uma continuidade interessante no debate. Tentarie responder de acordo com as ideias que o teu texto levanta.

Cabeças wrote:
JoséMiguel wrote: A propósito, que brincadeira é esta que me apareceu agora, de se ter de pagar para ver o site do Público?
O aviso depois dá mesmo lugar a que deixe de se poder ler o que quer que seja. :-(
Acho estas estratégias miseráveis.

Já apaguei o Jornal Público dos meus links de jornais que costumo visitar.


A sério, Cabeças? o-(

A propósito deste mecanismo de pagamento, não estou de acordo com a tua noção. Mas depois explico melhor.

Em todo o caso, em relação aos limites de "consumo", aquilo dá para ler 20 artigos por mês. E se abrires o site num outro browser, dá-te mais vinte artigos... :-)))

O Público é o jornal que mais gosto de ler.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

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JoséMiguel
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by JoséMiguel »

Samwise wrote:Grande José Miguel. salut-) Gostei de ler! A tua reflexão explicativa abre portas para uma continuidade interessante no debate. Tentarie responder de acordo com as ideias que o teu texto levanta.
Obrigado, estava preocupado com poderes levar alguma coisa a mal... ainda bem que não levaste nada a mal.

Irei ler com interesse os comentários que fizeres quando tiveres mais calma e tempo, mas se levantares questões de difícil resposta, não sei se terei tempo para as comentar, mesmo que tenha eu todo o gosto e interesse pessoal em fazê-lo. :-)))

Tu és um "gajo tramado" e é preciso muito esforço para debater contigo... :lol:

Em relação ao Público, acho que o Cabeças ficou chateado por uma questão ética de princípios, independentemente de se poder limpar cookies, mudar de browser, etc. oops:)
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by THX »

Lá continuamos nós a falar de marés e de copos de água.
A água do mar vai continuar a molhar...sempre.

O copo está com água até meio - está 1/2 cheio ou está 1/2 vazio??
Ainda ninguém respondeu.

Não será mais importante falar sobre o copo de vidro do que propriamente andar a perder tempo a falar do seu conteúdo??

O mais engraçado é quando leio umas "criticas" sobre determinado filme e noto que muitos dos "criticos" falam muito sobre a cor da moldura esquecendo-se de escrever sobre o que realmente importa, ou seja, a pintura...a tela...o quadro.

Por exemplo, tenho lido umas criticas no IMDb sobre o "Birdman" de algumas pessoas que andam a apelidar de pretensioso tanto o filme, como o seu realizador.

Adorava dizer na cara desses "pseudo-criticos" de ego inflamado, que aparentemente escrevem tais alarvidades apenas para se sentirem diferentes e consequentemente mais notados entre a maré de reviews positivas, adorava como estava a dizer, explicar-lhes o significado de pretensão.

Quando um deles dá um bufo (aka peido) é nada mais nada menos do a pretensão do seu cu a tentar falar. Isso meus amigos é que é ser-se pretensioso.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by waltsouza »

THX wrote:Lá continuamos nós a falar de marés e de copos de água.
A água do mar vai continuar a molhar...sempre.

O copo está com água até meio - está 1/2 cheio ou está 1/2 vazio??
Ainda ninguém respondeu.

Não será mais importante falar sobre o copo de vidro do que propriamente andar a perder tempo a falar do seu conteúdo??

O mais engraçado é quando leio umas "criticas" sobre determinado filme e noto que muitos dos "criticos" falam muito sobre a cor da moldura esquecendo-se de escrever sobre o que realmente importa, ou seja, a pintura...a tela...o quadro.

Por exemplo, tenho lido umas criticas no IMDb sobre o "Birdman" de algumas pessoas que andam a apelidar de pretensioso tanto o filme, como o seu realizador.

Adorava dizer na cara desses "pseudo-criticos" de ego inflamado, que aparentemente escrevem tais alarvidades apenas para se sentirem diferentes e consequentemente mais notados entre a maré de reviews positivas, adorava como estava a dizer, explicar-lhes o significado de pretensão.

Quando um deles dá um bufo (aka peido) é nada mais nada menos do a pretensão do seu cu a tentar falar. Isso meus amigos é que é ser-se pretensioso.
Isto quase que parece que entramos no campo do Charlie Hebdo aka liberdade de expressão. :-)))
Qualquer critico que seja tem todo o direito escrever sobre o dito pretensiosismo de Birdman. Se eles sentiram o filme assim vão dizer o contrário? Alarvidades? Também só faltava dizer que eles não podem dizer o que pensam. Lá voltamos nós outra vez ao mundo by THX e o meu copo é que é o mais valioso e bonito de todos. como?-)

Seja como for, Birdman a nível de critica especializada tem sido quase levado ao colo, 92% no RT e 88% no MT. Não há-de haver muitos criticos que digam mal do filme, ou serão uma pequena minoria. E têm todo o direito de existir, e de dizer o que pensam. :wink:
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Rui Santos »

Não vou debater convosco a critica do jornal público. Não me sinto competente para o fazer convosco.

Vou apenas defender o Público, pois este é um jornal dos poucos com qualidade em Pt, e o ano passado tomou a decisão de deixar todo o conteudo do site e jornal disponível para leitura de todos, restringindo apenas a leitura a 30 artigos (facilmente torneável) Essa é a razão do que te aconteceu, e o facto de só o veres agora quer dizer que não lês muito o público.
Existe uma forma fácil de dar a volta ao assunto, é entrar no jornal sempre numa sessão privada (firefox), modo incógnito (Chroome)... assim o contador faz sempre reset. Mas pensem que o Público é um jornal ainda que mauzito dos diários é o único que se aproveita. Bem vindos ao Séc XXI :)
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by waltsouza »

Rui Santos wrote:Não vou debater convosco a critica do jornal público. Não me sinto competente para o fazer convosco.

Vou apenas defender o Público, pois este é um jornal dos poucos com qualidade em Pt, e o ano passado tomou a decisão de deixar todo o conteudo do site e jornal disponível para leitura de todos, restringindo apenas a leitura a 30 artigos (facilmente torneável) Essa é a razão do que te aconteceu, e o facto de só o veres agora quer dizer que não lês muito o público.
Existe uma forma fácil de dar a volta ao assunto, é entrar no jornal sempre numa sessão privada (firefox), modo incógnito (Chroome)... assim o contador faz sempre reset. Mas pensem que o Público é um jornal ainda que mauzito dos diários é o único que se aproveita. Bem vindos ao Séc XXI :)

Não desgosto do Diário de Noticias, no seu todo. Pensava que tinhas o DN em melhor conta. :wink:
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Rui Santos »

Offtopic
Gosto do Diário de Notícias! fica a correção, e acho que o salto que deu com este novo diretor é muito bom mesmo. Não gosto do site, e não gosto do ar clássico do jornal (visual gráfico). Mas o meu comentário é ao jornal todo e não à "secção cultural" do mesmo. Agora o I, Correio da Manhã, JN, jornais desportivos (acho que nem poderiam usar a palavra jornal e jornalistas)... tudo perdoem-me lixo. Compro muitas vezes o DN e sou assinante do público (e mais pq gostaria que a imprensa escrita subsistisse)
Um coisa que sempre me preocupa é ler os jornais em situações que sei um pouco mais do que o que se escreve... e leio cada anormalidade escrita com o tom de sabedoria... bem é só rir. Preocupa-me pq posso estar a acreditar no que leio em assuntos que desconheço. Mas como disse é o Séc. XXI onde a importância dos jornais bem escritos é uma cena do séc passado. (conversa de velho eu sei)
/Offtopic
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

Vou começar pela questão do Público e do modelo de negócio por que decidiram optar. José Miguel, eu penso que entendi a questão do Cabeças acerca da eventual falta de ética do "ser a pagantes" e é mesmo sobre essa questão que tenho uma opinião diferente da dele (Rui Santos, estou em perfeita sintonia com a tua opinião sobre a qualidade, diversidade e elevação do jornalismo ali praticado, e acrescento o design e estruturação únicas do site, . salut-) )

De entre os vários modelos de negócio que um jornal pode ter online, e considerando que necessita de alguma forma de fazer os seus leitores pagaram pelo seu conteúdo (ou então deixa de existir nesse formato), considero que a solução do Público é a melhor de todas. Disponibiliza na íntegra todos os artigos que publica na versão equivalente em papel, e dá a eventuais interessados que não são sócios a possibilidade de escolherem alguns que pretendam ler, sendo que ao final de x tempo, neste caso um mês, esse número de artigos volta a estar disponível. Não corta artigos a meio - como faz o Expresso - e não limita a informação a apenas uma parte do seu volume editorial. Para além disso, tem em arquivo tudo aquilo que se publicou para trás. Não sei que outra forma melhor haverá para disponibilizar informação jornalística profissional online com qualidade.

Há apenas a questão do preço, ou de outra forma, a questão do cobrarem ou não um valor pelo acesso à leitura, mas isso como pagar-se pelo jornal em papel se se quiser ler na íntrega. Se não se quiser, vai-se a um quiosque e folheia-se de passagem, que é basicamente o "modelo" físico equivalente aos artigos gratuitos que se podem ler online.
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

JoséMiguel wrote:
Samwise wrote:Grande José Miguel. salut-) Gostei de ler! A tua reflexão explicativa abre portas para uma continuidade interessante no debate. Tentarie responder de acordo com as ideias que o teu texto levanta.
Obrigado, estava preocupado com poderes levar alguma coisa a mal... ainda bem que não levaste nada a mal.
Nada a mal. Pelo contrário, quando comentas assuntos com elevação e com as justificações que te dás ao trabalho de elaborar, é um gosto debater assuntos contigo, mesmo que as nossas opiniões sejam tão diversas/opostas sobre um mesmo assunto.

Aliás, esta diferença vincada entre as nossas opiniões, o facto de as estarmos a manifestar sobre as críticas do Mourinha, é um ponto essencial sobre a questão fulcral deste assunto todo, e que tem a ver com aquilo que cada um espera obter a partir de uma crítica (ou de um filme, ou de uma música) e com a aquilo que depois retira de útil do seu consumo.

Antes de passar à minha fase da argumentação, queria só dizer que não fui buscar aqueles textos com o proposito de ter "dar trabalho" nem de te obrigar a ver o Shutter Island, mas gostei de saber da tua atitude ao decideres não comentar nada sem antes o teres feito. Isso só enriquece a discussão e possibilita que as tuas opiniões façam sentido. yes-)
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by No Angel »

waltsouza wrote:
Isto quase que parece que entramos no campo do Charlie Hebdo aka liberdade de expressão. :-)))
Qualquer critico que seja tem todo o direito escrever sobre o dito pretensiosismo de Birdman. Se eles sentiram o filme assim vão dizer o contrário? Alarvidades? Também só faltava dizer que eles não podem dizer o que pensam. Lá voltamos nós outra vez ao mundo by THX e o meu copo é que é o mais valioso e bonito de todos. como?-)
Segundo o THX... nao! Temos que nos vergar aos Factos ditos pelos Mestres :roll: :lol:
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by JoséMiguel »

Samwise, esqueci-me de dizer que não tenho nada contra os editoriais gerais de cinema do Mourinha, conforme aquele exemplo que colocaste, até porque aquele artigo sustenta o meu conceito de "Idade das Trevas" do cinema actual, quando refere que os filmes actuais (dos estúdios de Hollywood) são feitos para crianças e adolescentes. :twisted:

E a propósito da idade das trevas, espreita a crítica do Roger Ebert em 1999 ao Star Wars de 1977, em que ele dá nota máxima mas acusa o filme de ter causado a idade das trevas infanto-juvenil actual, pelo cheiro a dinheiro.

http://www.rogerebert.com/reviews/great ... -hope-1977

e a crítica original que ele escreveu em 1977, em que um dos comentadores escreve "Thank you for everything, and especially for often putting yourself in children's shoes during a movie. Over the years, I read a great deal many of your reviews. But I love this one the most, because it feels like I am back in 1977. ". Este comentador aprecia a qualidade do crítico em colocar-se na pele do público-alvo (crianças), que foi um dos pontos que referi dois tópicos atrás. :-D

http://www.rogerebert.com/reviews/star-wars-1977

Nota: O termo Idade das Trevas é apenas uma expressão que eu gosto de usar. :biggrin:
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

Voltemos à nossa conversa, José Miguel. :wink:

A pergunta com que terminei lá mais atrás a intervenção sobre o Shutter Island, em mais sobre os dois textos de Jorge Mourinha, não era, como podes imaginar inocente - queria saber se costumas ler de forma regular a crítica (e, se afirmativo, que nomes e em que espaços) para perceber a forma como estarias a relativizar e a ajuizar as "críticas" deste profissional. A tua resposta não me surpreende, antes confirma a minha suspeita: não lês quase nada de crítica profissional ou textos/ensaios acadêmicos, e o pouco que lês nests áreas é aleatório, a reboque da informação que alguém, também aleatoriamente, colocou em artigos da wiki.

E, sem conheceres nada do mundo da crítica profissional, nem sobre como funcionam as suas manifestações e publicações por essa Internet fora, decidiste dar tau-tau no Jorge pelo mau serviço que presta, ainda por cima recebendo ele dinheiro para escrever aquelas maldades. :mrgreen:

/um aparte: continuo a concordar que o texto sobre o Maleficent é muito pobrezito.

Estarei sempre em defesa das tuas opiniões, mesmo que contrárias à minha, quando manifestas um desagrado em relação às tuas expectativas, como fizeste nesta segunda intervenção, ao apontares as razões pelas quais consideras péssimo o (1º) texto sobre o Shutter Island, mas não posso concordar quando apontas esse mesmo texto como sendo um mau/péssimo exemplo de crítica - nota que separei os termos "texto" e "crítica", legitimando e respeitando ao tua opinião sobre o que leste.

O que eu penso, muito resumidamente, é que há uma infinidade de abordagens ao modo como se escrevem críticas, uma infinidade de estilos, uma infinidade níveis intelectuais e de capacidades de expressão, uma infinidade de modelos editoriais em que essas abordagens encontram depois pouso, e ainda uma infinidade de públicos para os ler, pelo que a ideia de bater num crítico porque este não escreve de acordo como o modelo que nós idealizamos está fundamentalmente errada. Ou seja, vale mais procurar um modelo adequado àquilo que esperamos - como tu fizeste com o Ebert (ainda que ele te tenha "enganado" depois com esse texto mais "informativo" :-))) )

Isto para dizer que o Mourinha não escreve para comunicar o eventual "conteúdo informativo" sobre o que se poderá encontrar dentro de um filme (para isso há as sinopses), nem está preocupado como o facto do leitor poder ainda não ter visto o mesmo. Não é essa a abordagem dele - nem dos outros críticos do Público. O que eles fazem é partilhar reflexões e pensamentos próprios sobre o que acabaram de ver - para um público que esteja adaptado ao seu modelo de escrita e dentro dos seus patamares culturais de conhecimento. É essa parte por acaso que me interessa a mim. Mais do que as estrelas que dá ou o rumo da história, importa-me percepcionar outras formas diferentes da minha de assimilar o que viram, importa-me ver "através de outros olhos", de preferência com um pouco de arte à mistura.

A propósito da pluralidade de formas de abordar de forma crítica um filme, deixo-te um conjunto de textos relativos a um outro filme o Escape from LA, de John Carpenter. Não quero que vás a correr ver o filme para depois poderes comentar (até porque penso que o irias destestar), mas é apenas para ilustrar o princípio da adaptação ideial entre autor e leitor. Destes textos todos, importa-me a abordagem iluminada do Benárd da Costa (a primeira). Os outros são-me relativamente indiferentes. A do Ebert é a última.

Crítica 1

Crítica 2

Crítica 3

Crítica 4

Crítica 5

----

Quanto à linguagem utilizada, não concordo muito com a tua análise ao parágrafo em questão, nem, neste caso, à "beleza literária da prosa", já que o texto e o excerto que escolheste me parecem bastante simples e directos.
"Scorsese filma como se houvesse sempre um detalhe inexplicavelmente fora do sítio, como se tudo isto fosse uma enorme alucinação, uma mistificação onde nunca sabemos o que é verdade e o que é mentira, sublinhada pela opressão da cenografia de Dante Ferretti e pela magnífica escolha de compositores contemporâneos feita por Robbie Robertson para a banda-sonora.

E essa mistificação faz parte do jogo de Scorsese, brincando com a arte do cinema como se nunca tivesse feito outra coisa na vida (e, na realidade, nunca fez)."
Isto para mim é atirar areia para os olhos, é preciso esta confusão toda para explicar que o Scorcese inseriu falhas de continuidade para simular "glitches" da realidade? :-?
Não é uma questão de "ser preciso esta confusão toda", é apenas a maneira de escrever do Mourinha, que, já agora, me parece bem mais perceptível para o "leitor comum" do que a tua frase ("o Scorcese inseriu falhas de continuidade para simular "glitches" da realidade?" :-))) ).
Samwise, eu pessoalmente até concordo com o que escreveste no parágrafo que citei, embora eu dê menos relevo ao domínio literário, mas discordo que neste exemplo o Mourinha cumpra a descrição que fizeste, pois tu explicaste que o domínio literário ajuda a clarificar a transmissão de ideias, e eu acho que o Mourinha utiliza-o para atirar areia para os olhos e dificultar a transmissão das ideias dele.
Achas que o Mourinha utiliza a linguagem para "atirar areia para os olhos" dos leitores, deliberadamente complicando os textos? Sinceramente, parece-me uma ideia algo absurda. Por que razão faria ele isso?

Não será antes que escreve para determinado público que está habituado a esse modo de tratamento estilístico/linguístico?
Em relação à tua dúvida se eu acompanho críticos, o que se passa é que eu utilizo muito o wikipédia (versão inglesa do texto), em certos casos eles citam e incluem links para críticas profissionais de diversos autores e eu às vezes vou espreitar. Até agora apenas o Ebert me chamou a atenção, por acaso só hoje andei a espreitar o site oficial, mantido pela equipa dele que continua a escrever críticas, gostava de sugerir a crítica do Aliens (1986) porque sempre me intrigou como se faria uma crítica profissional a esse filme (estava à espera que o Rui Sousa se chegasse à frente, mas ele ainda só vai no 1º filme).
Fico agradado com o teu esforço de pesquisa; tirou-me pelo menos uma dúvida de cima - uma que tinha a ver com o teu eventual desdém acerca de toda a crítica profissional. Afinal trata-se apenas de encontrares críticos que vão de encontro às tuas expectativas - e que é também o que eu faço. :-D (Já segui o Ebert com mais atenção, mas neste momento sinto-me puxado para outros lados um pouco mais desafiadores das convenções)

Rui, aguardamos a tua crítica ao Aliens. :twisted:
Para terminar eu admito que fui bruto e exagerado quando critiquei de forma destrutiva (e nada construtiva) a crítica que o Mourinha fez ao filme da Disney. Mas ele é um profissional pago para escrever críticas, e aparentemente nós temos de pagar para as ler, e nestes moldes eu sou mais duro e exigente, mas confesso que exagerei um bocado. :-D
Correcção: tendo nós opção de escolha, apenas temos de pagar para ler aquilo de que gostamos. De outra forma é que seria de "lhes bater"!!! :-)))
Last edited by Samwise on January 16th, 2015, 9:58 pm, edited 1 time in total.
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

JoséMiguel wrote:Samwise, esqueci-me de dizer que não tenho nada contra os editoriais gerais de cinema do Mourinha, conforme aquele exemplo que colocaste, até porque aquele artigo sustenta o meu conceito de "Idade das Trevas" do cinema actual, quando refere que os filmes actuais (dos estúdios de Hollywood) são feitos para crianças e adolescentes. :twisted:
Ahahaha! (estás a ver, sempre encontraste ponto de concordância... :lol: )
e a crítica original que ele escreveu em 1977, em que um dos comentadores escreve "Thank you for everything, and especially for often putting yourself in children's shoes during a movie. Over the years, I read a great deal many of your reviews. But I love this one the most, because it feels like I am back in 1977. ". Este comentador aprecia a qualidade do crítico em colocar-se na pele do público-alvo (crianças), que foi um dos pontos que referi dois tópicos atrás. :-D

http://www.rogerebert.com/reviews/star-wars-1977
Ah... mas o que ele faz no artigo não é bem isso. O entusiamo que ele descreve no texto, e a forma como o descreve, é que o fazem parecer como a criança maravilhada que ele um dia foi. O filme colocou-o novamente nessa "condição". Ele não está a ver o filme pelos olhos de outra pessoa, ele tornou-se foi outra pessoa ao ver o filme - regressou ao seu "eu" de infância.

Isso é diferente de olhar para um filme de um género de que se não gosta e imaginar como poderá ser avaliado por quem gosta desse género.
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by JoséMiguel »

Samwise, no fundo tu gostas de um modelo de crítica, eu gosto de outro e outra pessoa gostará de um terceiro. "You have made your point well", e não tenho alternativa senão dar-te razão. yes-)

Eu ainda tenho a cassete VHS da Fuga de Los Angeles (original com selo da direcção geral de espectáculos) que me ofereceram no Natal, há muito tempo. Conheço bem o filme, e não gosto muito dele (mas por exemplo continuo a gostar do "The Thing"). Acho que é um filme que não tem nada de errado e apenas há quem goste ou não do sub-género. Acho que o John Carpenter é um cineasta competente e gosto ou não gosto dos filmes dele conforme a história em que se baseiam. Vou ler com atenção as 5 críticas que linkaste, porque estou curioso. Depois digo alguma coisa. :-D
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Re: Alarvidades dos críticos de cinema

Post by Samwise »

JoséMiguel wrote:Samwise, no fundo tu gostas de um modelo de crítica, eu gosto de outro e outra pessoa gostará de um terceiro. "You have made your point well", e não tenho alternativa senão dar-te razão. yes-)
Viva José Miguel. O meu texto também foi uma forma de te dar razão a ti - e é por isso, por essa noção respeitadora de que cada um de nós está certo à sua maneira, mesmo diferindo na opinião final, que o considerei tão importante.

Ainda de outro modo, quando referes o seguinte:
No caso deste texto, isto não é mais do que conversa de café para amigos dele com os mesmos gostos. A crítica dele resume-se a estar a beber cerveja, acompanhada de tremoços na tasca a dizer aos amigos que o filme só vale pela boazona da Angelina.
... tens razão na ideia que estás a queres passar (embora o modo como o digas indique um ataque pejorativa). Ele está a escrever para quem tenha os "mesmos gostos", para quem partilhe dos mesmos círculos intelectuais, no fundo. Tens absoluta razão quanto a isto - mas eu não olho para a coisa como um factor negativo. É assim que todos nós funcionamos. A crítica do Ebert é exactamente a mesma coisa. Os textos que colocas aqui no fórum seguem o mesmo caminho. Por sua vez nós, os leitores, apenas temos de nos adaptar às nossas expectativas e desejos.

Eu prefiro estar a comer tremoços e a ouvir o Jorge versar na tasca, do que estar dentro de uma sala fechada a ouvir descrições técnicas detalhadas sobre as características produção do filme e sobre o modelo narrativo.

Da mesma forma, e fazendo um pequeno paralelo para o cinema, por que razão gostas tu tanto da perspectiva histórica exacta, militaremente maníaca no apego ao pormenor e na abrangência do escopo, mas destituida de emoções do Liberation, e a mim me deixa frio? Por que razão prefiro mil vezes a companhia ficionalizada dos militares no Saving Private Ryan, em que o que importa é acompanharmos "in loco" - fazermos parte de - os pequenos dramas humanos daquelas vidas que por efeito da guerra se juntaram para aquela missão? Estarei eu mais certo do que tu (ou vice versa) sobre o valor dos filmes? Haverá isso de um filme ser em termos absolutos melhor do que outro?

Absolutamente não! :-))) Há apenas formas diferentes de os apreciarmos.
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