Fazes bem em aproveitar! Dois álbuns fantásticos por uma bagatela!!! O meu encanto pelos Madredeus começou quando, sem saber para o que ia, acompanhei o meu irmão a um concerto que eles deram no Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos, Porto, integrado na digressão do 2º álbum deles, o "Existir". Fiquei fascinado…
Quanto aos álbuns deles, posso te dizer o seguinte:
Os Dias da Madredeus - Um álbum que apenas peca pela fraca qualidade sonora, já que foi gravado ao vivo na Igreja de Madre de Deus (e daí adveio o nome do grupo). Inovador e muito experimentalista. Nota-se que estavam à procura de um caminho musical e aventuraram-se a fazer experiências bem interessantes, das quais saíram obras primas como a Vaca de Fogo.
Existir - Para mim é a obra prima e marco maior deles! Todas as músicas são boas! Encontram o seu som e há equilíbrio entre todos os membros do grupo, não só quanto a composição, mas também ao espaço que cada instrumento assume. O meu álbum preferido deles!
O Espírito da Paz - ainda gosto muito deste álbum, mas quanto a mim a presença nas músicas de duas guitarras prejudicou o som do grupo pois tal levou a que as melodias do acordeão do Gabriel Gomes fossem relegadas para segundo plano, ficando menos audíveis. Por outro lado, eventualmente com fins comerciais, a sua sonoridade ficou mais calma e mais próxima do tradicional fado, perdendo muito do que os tornava tão característicos. Gostava que não tivessem perdido a paixão presente em músicas como a Vaca de Fogo e o Pastor. Ainda assim, este álbum tem excelentes músicas e é o que coloco em 2º lugar no patamar das minhas preferências.
Ainda - Músicas que sobraram das gravações do álbum Espírito da Paz e que foram usadas na banda sonora do filme Lisbon Story de Wim Wenders. Tem boas músicas.
O Paraíso - nova formação (sem o Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e o Francisco Ribeiro) e o último dos bons álbuns deles. 14 canções, ou seja, sem qualquer música instrumental e em que as músicas estão muito subordinadas à voz da Teresa Salgueiro. Por mim eliminaria 4 canções menos boas das 14. Nenhum dos novos membros faz sombra aos que saíram. O Carlos Maria Trindade não se compara ao Rodrigo Leão, ficando também o sintetizador com a função quase apenas de acompanhamento e de música de fundo...
A partir desta fase, os álbuns dos Madredeus passam a ter, unicamente, 2 ou 3 músicas boas, compostas pelo Pedro Ayres Magalhães. As compostas pelos novos membros roçam a medianidade e a mediocridade… passaram já por muitas metamorfoses, tendo a certa altura a Teresa Salgueiro saído do grupo. Não conheço bem os álbuns dessa fase, com a Banda Cósmica e duas diferentes cantoras pois, do que ouvi, não apreciei… Já o último álbum dos Madredeus, Capricho Sentimental, com a vocalista Beatriz Nunes, é bom, embora longe dos primeiros álbuns. Comprei-o mas ainda não tive oportunidade de o ouvir com cuidado.
Raramente na música os "astros se conjugam" e temos a felicidade da coexistência, no mesmo grupo, de mais do que um génio musical. Quanto tal sucede, os grupos entram na história da música (Beatles, Pink Floyd, etc). Nos Madredeus todos os 5 membros originais eram geniais com os seus instrumentos/voz e tínhamos dois compositores de eleição, o Rodrigo Leão e o Pedro Ayres Magalhães, sendo de realçar também as peças compostas pelos restantes membros do grupo.
Infelizmente, como muitas vezes sucede, houve jogos de força e divergências quanto às opções musicais e venceu o Pedro Ayres Magalhães (a ideia que tenho é que o Rodrigo Leão pretendia continuar a desbravar novos caminhos, tal como fez nos seus álbuns a solo)… Como também sempre sucede, o todo é maior do que a soma das partes e a meu ver nenhum dos álbuns dos Madredeus ou dos seus membros a solo se aproximam dos dos Madredeus da sua fase de ouro (exceção são os 3 primeiros álbuns do Rodrigo Leão, os quais são geniais e, não será coincidência, contam com a colaboração do Gabriel Gomes, Francisco Ribeiro e Teresa Salgueiro...). Se não conheces, ouve esses 3 álbuns, o CD Ave Mundi Luminar, o EP Mysterium e o CD Theatrum. Para mim são imprescindíveis!
E já agora outras duas sugestões!
V Império - Gosto imenso deste grupo que infelizmente só lançou um álbum (Mar de Folhas). Uma sonoridade épica com influência dos teclados do Rodrigo Leão e com a força dos primeiros tempos dos Madredeus.
https://www.fnac.pt/V-IMPERIO-Mar-De-Fo ... um/a535713
A Teresa Salgueiro, na sua carreira a solo, lançou muitos álbuns, todos eles diferentes. O único de que gostei (tenho na coleção e já o ouvi muitas vezes) e que "plagia" a sonoridade dos primeiros tempos dos Madredeus é: "O Mistério".