O último filme que vi foi o Chaplin, de Richard Attenborough. Há anos que estava na minha "lista" e agora saiu dela finalmente. As minhas expectativas não poderiam ser mais altas. Chaplin, realizado pelo colosso Richard Attenborough, baseado na autobiografia de Chaplin, filme aprovado pela Geraldine Chaplin (a própria Geraldine Chaplin está no papel da mãe de Chaplin). O genérico inicial excelente, a primeira meia-hora/40minutos muito boa mas depois... desilusão total. Chega a ser sofrível. Como aceitar isto vindo do mesmo homem que fez o magistral Gandhi e tantos outros filmes excelentes? Depois de Gandhi, seguramente que trazer a vida de Chaplin para o grande écran seria
peanuts para Attenborough. Mas há expiação para este pecado. Já lá irei.
Na última vez que apareceu em público na televisão pouco tempo antes de morrer, Raúl Solnado disse "A minha vida foi muito louca e dura mas saborosíssima. Muito saborosa".
A vida de Chaplin também foi assim. Os triunfos foram triunfantes, os fracassos foram retumbantes, os amores foram arrebatados; o sorriso e o génio estava à vista de todos mas quanta amargura transparecia também naquele sorriso do The Tramp... foi o sofrimento, a desilusão - porque consequência da ilusão -, o sentimento de injustiça e de perseguição pelo mesmo país que caiu aos seus pés. Mas, no fim, Chaplin poderia ter dito, como escreveu Pablo Neruda, "Confesso que vivi". A vida - e que vida... - de Chaplin teve muitas vidas e foi muito complexa. No filme, são-nos dadas duas horas e meia dessa vida. É pouco. Muitíssimo pouco. Há demasiados saltos no filme. Saltos temporais e, com eles, passa-se à frente de tantas coisas marcantes na vida e na carreira de Chaplin. No final do filme, ainda se nota melhor o quão dolorosamente pouco é mostrado de uma vida em que não se pode excluir quase nada. Tudo está conjugado para que o filme seja um épico mas... a pólvora é seca. Uma pesquisa rápida na internet dá a resposta para tão rotundo falhanço. Inicialmente, o filme era de 4 horas mas o estúdio obrigou Attenborough a cortar e a editar para 2 horas e meia. Eis o motivo. 4 horas já permite contar a história da vida de Chaplin correctamente. Em 2 horas e meia não é possível. Porque Attenborough foi forçado a fazer cortes, os saltos temporais são mais que muitos, o que prejudica até o próprio ritmo narrativo. Que pena. Que crime. Hollywood cometeu vários crimes deste género ao longo da sua história.
Vale pelos altos valores de produção, pela performance extraordinária de Robert Downey Jr. no papel de Chaplin (acredita-se mesmo que Charlie Chaplin está ali) e pelo elenco em torno de Downey, Jr, em especial Anthony Hopkins no papel do biógrafo de Chaplin. Vale também pelo início e pelo final. Ah, e pela fotografia. Que um dia possam ser resgatadas essas horas que faltam e compor as 4 horas que é o filme na sua totalidade.
Chaplin, de 92:
https://www.imdb.com/title/tt0103939/