Samwise wrote: ↑December 26th, 2022, 12:00 pm
Dei uma primeira "passagem" ao
Tar, significando que o tenciono ver novamente, e não sei ainda o que foi que vi. Para já, a única certeza que tenho é que é um filme "esquisito", como alguém mencionou já não me lembro onde. Se há uma mensagem, ou mensagens que estarão implícitas na narrativa, parecem-me pouco claras para decifrar, ou pelo menos dispersas e disfarçadas/escondidas---é um filme algo hermético nesse sentido. O que é claro e imediato é que a intepretação da Blanchett ofusca tudo à volta, é um clarão intenso que faz arder a "vegetação" em redor nas zonas por onde passa, e isso ajuda a tornar o filme mais hermético, por estranho que pareça.
Não estou de acordo com o MEC em pelo menos uma aspecto: a personagem não me parece misógina---parece-me antes misantropa, embora não sejam atribuições mutuamente exclusivas---e não sei como é que ele "deduz" que o realizador também é misógino. Quanto o "bully", de acordo em relação à personagem, e fico também na dúvida sobre a atribuição de tal caracteristica ao realizador---creio que para sabermos isso teríamos de ouvir as gentes envolvidas na produção, e em particular os actores. Quanto ao "fascista", "bisbilhoteiro" e "cobarde", epá, isso já é um very looooong shot. Não me parece que sejam esses os elementos que caracterizem melhor o filme, ou que caracterizem de todo o filme.
Não sei se gostei. Tenho de digerir.
Dei uma segunda passagem neste senhor.
Valeu muito a pena, dado que captei uma série de pormenores essenciais para um mínimo de compreensão da personagem. E acabei por gostar muito mais do filme devido a esse processo de descodificação. Percebi também que o realizador não simplifica o trabalho do espectador. É daqueles filmes que exigem dedicação e foco total, para além de que ele "esconde" deliberadamente pormenores na edição do filme, ou mostra-os apenas parcialmente, ou rapidamente.
Em todo o caso, a temática principal é o abuso de poder por parte de uma personalidade pública de grande prestígio (a grande surpresa/"ofensa"
é que estas características são atribuídas a uma mulher). Compreendo parte das críticas erguidas sobre a vertente musical, que acaba por ser relegada para segundo plano de uma forma que é instrumental à psique e aos caprichos da personagem, mas isso a meu ver está relacionado com as expectativas (erradas) criadas antes de ver a obra. Este NÃO é um filme sobre música, nem sobre o prazer de a celebrar e ouvir. Quem for à procura disso vai ter uma surpresa.
Foi impressão minha, ou há ali uma componente humorística muito, muito negra?
E continuo sem vislumbrar uma boa parte daquilo que o MEC acusa o filme e o realizador de serem...
Para mim vale neste momento um 9/10.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71
in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
Talvez não lhe atribua um 10 (coisa que poderá mudar depois de alguma "maturação" e novas visualizações), mas menos do que um 9 seria faltar ao sentido de justiça perante mim mesmo. 