Qual foi o último filme que viram ?

[Luis.Manuel]

Quando referi a lealdade do miúdo não quis dizer que era a sua lealdade enquanto mensageiro.
A questão é que ele estranha que a mulher tenha dois namorados, tanto que quer deixar de dar os recados.
E a minha questão prendia-se com esse seu entendimento de que deveria haver um namorado único (lealdade na relação) versus a atitude mais liberal dos adultos, ou dito de outra forma, menos leal.

Bom, levando esta troca de impressões sobre o filme para um nível mais "profundo", eu tenho a certeza que o "mensageiro" era desconhecedor dos detalhes do fenómeno do amor, mas parece evidente que ele próprio também sentia uma forte atracção por Marian e não sabia como "processar" esse sentimento. O estranho mesmo, é sabermos no reencontro dos dois, muitos anos mais tarde, que ele, Leo, nunca casou. Porque é que isso terá sucedido e é referido por Lady Marian? Estaria ela consciente de ter usado os seus poderes de sedução com o então adolescente para o "utilizar" nos seus verdadeiros propósitos amorosos? E porquê recorrer a ele de novo para comunicar com o neto? The Go-between não será um filme assim tão linear quanto possa parecer à primeira vista.

[Luis.Manuel]

Les amants du Tage / Os Amantes do Tejo (1955) Henri Verneuil

É alegadamente (nitidamente digo eu) uma obra "encomendada" por Salazar através de José Manuel da Costa (sucessor de António Ferro que foi o especialista de propaganda do regime) como director do Secretariado Nacional de Informação (Ex-Secretariado de Propaganda) que incluia a comissão de censura exercida sobre tudo o que fosse informação e cultura, e que após a bem sucedida experiência da comédia nacional destinada a mostrar como eram felizes os portugueses sob o magno regime de Salazar

P.S.: Um dia escreverei qualquer coisa sobre outras destas "encomendas" da ditadura portuguesa:
Lisbon [1956] do britânico Ray Milland (actor e realizador) http://www.imdb.com/title/tt0049446/?ref_=fn_al_tt_1
ou sobre o ridículo Capitaine Singrid 1968 de Jean Leduc (visto no Coliseu de Lisboa, o "IMAX da altura ) http://www.imdb.com/title/tt0061446/?ref_=nm_flmg_wr_2
(que também já tinha feito outra bela trampa luso francesa Via Macau http://www.imdb.com/title/tt0061155/?ref_=nmbio_mbio)
enfim um pouco de "arqueologia" nas memórias de um velho cinéfilo que aborrecerão certamente a grande maioria dos foristas

Como o elfaria nunca mais cumpriu a promessa de voltar a este assunto, aqui fica então outra abordagem ao tema do cinema de propaganda em Portugal, durante o Estado Novo.

O império contra-ataca: a produção secreta de propaganda feita por estrangeiros para projecção internacional de “portugal do ultramar”
Autores
Maria do Carmo Piçarra

Quando se iniciou a contestação internacional à posse de colónias por Portugal, como é que o Estado Novo usou o cinema na projecção de uma retórica luso-tropical? A partir de 1965, vários documentários realizados pelos franceses Jean-Noel Pascal-Angot e Jean Leduc foram exibidos internacionalmente, no circuito comercial de distribuição cinematográfica, em festivais, nas televisões e mostrados às principais organizações não governamentais. O financiamento desta produção supostamente independente - em que o Brasil era apontado como o modelo social em recriação em Angola enquanto que o funcionamento da Commonwealth era assumidamente inspirador em Moçambique -, dando enfoque ao desenvolvimento económico e social, foi mantido confidencial. “Do Minho a Timor somos todos portugueses” era a “evidência” que este cinema encomendado queria impor. Através da análise de filmes de propaganda do colonialismo português realizados por realizadores franceses questiono, porém, se a afirmação do “orgulhosamente sós” foi uma declinação retórica, para afirmação da política colonial internamente, enquanto para o exterior se projectava, progressivamente e com maior intensidade durante o Marcelismo mas ainda durante o Salazarismo, a imagem de outro Portugal, menos espartilhado, em termos de costumes, e aberto ao capital estrangeiro.

Piçarra, M. do C. (2016). O império contra-ataca: a produção secreta de propaganda feita por estrangeiros para projecção internacional de “portugal do ultramar”. Media & Jornalismo, 16(29), 43-59. https://doi.org/10.14195/2183-5462_29_3

[José]

Kaibutsu - Monster - Culpado - Inocente - Monstro (2023), de Hirokazu Koreeda
https://www.imdb.com/title/tt23736044/
https://www.rottentomatoes.com/m/monster_2023

Tenho que dizer isto: acho o título nacional (Culpado - Inocente - Monstro) atroz. Retira a ambiguidade do título internacional, de certo modo revela a estrutura do filme, escancara os posicionamentos morais presentes na narrativa e que deveriam ser decifrados pelos espectadores e é de um esquematismo e determinismo psicológico de dar dó.

Posto isto, tenho de admitir que fiquei desiludido com esta mais recente obra de Koreeda. É um "filme de perspectiva", que quer jogar com as nossas percepções e intrigar-nos, só que, às tantas, demonstra tanta pressa em saltar de episódio para episódio que acaba por não nos dar matéria de análise suficiente. As personagens e as situações não vão ao seu limite de exploração e sentimo-nos defraudados e deixados à superfície.

[nimzabo]

https://www.imdb.com/title/tt12262116

Thirteen Lives, de Ron Howard, baseado, e seguindo fielmente (segundo consta) o caso do salvamento de 13 jovens que ficaram presos numa gruta na Tailandia, a várias centenas de metros de profundidade, após esta ter ficado submergida.

Um caso dramático, mediatizado "em tempo real" para o mundo inteiro, do qual todos nos recordamos de há uns anos, e uma daquelas situações em que mesmo com a informação que temos sobre o desfecho ficamos grudados à narrativa a vê-la desenrolar-se.

É território em que o Howard está como peixe na água (neste caso está como mergulhador especialista na água ) e não arrisca muito para lá do necessário para garantir que o êmbolo emocional funcione do início ao fim, com as oscilações controladas e largadas nos momentos certos. Tecnicamente é um portento, sobretudo pelas filmagens debaixo de água, mas fica a faltar a compontente de desenvolvimento e aprofundamento psicológico das duas ou três personagens principais - o traço grosso dá uma ideia, mas mais 5 ou 10 minutos de fita teriam provavelmente possibilitado outra envolvente.

A espectacularidade do caso real só por si vale meio filme, e o resto o Howard gere com competência e saber.

Há um documentário sobre o caso que vou ver a seguir.

8/10.

* já não me lembrava da solução encontrada, e fiquei

Impressionante esta história também https://www.theguardian.com/world/2024/ ... cle-rescue

[nimzabo]

Radical
https://www.imdb.com/title/tt14570440/
https://www.rottentomatoes.com/m/radical
É um daqueles filmes em que há um professor espetacular e nada ortodoxo, uma espécie de clube dos poetas mortos em versão mexicana.
O filme é engraçado e tem algumas músicas espetaculares.

[José]

All of Us Strangers (2023), de Andrew Haigh
https://www.imdb.com/title/tt21192142/
https://www.rottentomatoes.com/m/all_of_us_strangers

Li que as boas histórias não só permitem a suspensão de descrença, como a encorajam. Aplico esta máxima a este sublime filme. Que grande surpresa surrealista, dramática e intimista.

All of Us Strangers é daqueles objectos que, independentemente da identidade sexual retratada na narrativa, contam com tantos temas (e tão bem defendidos), que conseguem ter um apelo universal. Cada pessoa que o veja poderá rever-se num ou noutro aspecto. A mim, disse-me muito, mexeu comigo.

Depois, tem a seu favor o facto de poder dar asas para imensas interpretações. Debruça-se sobre a solidão, o amor incondicional, as clivagens geracionais, a perda que se torna em dor física e existencial, o apaziguamento com o passado mas o não se ficar preso nele, o auto-bloqueio emocional e relacional, o sair da zona de conforto e estar positivamente disponível para o presente e para o futuro e ainda aquela ideia do que se gostaria de ter dito ou ouvido relativamente às pessoas que amamos e que já cá não estão.

Lá está, a sua forma e conteúdo são mesmo susceptíveis de inúmeras leituras. Melancólico, tocante, terno e de recorte onírico (ou não), este novo filme de Haigh - baseado numa obra literária dos anos 80, de Taichi Yamada - contém superlativas composições de Andrew Scott, Paul Mescal, Jamie Bell e Claire Foy. E a banda-sonora é um must, sem dúvida. As canções escolhidas encaixam na perfeição no que está a acontecer.

É um filme lindo, que apesar de tudo até consegue ser reconfortante e ter uma certa dose de optimismo.

[nimzabo]

A Terra Prometida*
https://www.imdb.com/title/tt20561198/?ref_=ttls_li_tt
https://www.rottentomatoes.com/m/the_promised_land_2023
Filme dinamarquês que esteve na shortlist para melhor filme estrangeiro.
O Mads Mikkelsen é um colonizador na inóspita Jutlãndia (sec. XVIII).
Mais um filme jeitoso, pois claro.

* ou em dinamarquês no original 'Bastarden'

[nimzabo]

All of Us Strangers (2023), de Andrew Haigh
https://www.imdb.com/title/tt21192142/
https://www.rottentomatoes.com/m/all_of_us_strangers

Li que as boas histórias não só permitem a suspensão de descrença, como a encorajam. Aplico esta máxima a este sublime filme. Que grande surpresa surrealista, dramática e intimista.

All of Us Strangers é daqueles objectos que, independentemente da identidade sexual retratada na narrativa, contam com tantos temas (e tão bem defendidos), que conseguem ter um apelo universal. Cada pessoa que o veja poderá rever-se num ou noutro aspecto. A mim, disse-me muito, mexeu comigo.

Depois, tem a seu favor o facto de poder dar asas para imensas interpretações. Debruça-se sobre a solidão, o amor incondicional, as clivagens geracionais, a perda que se torna em dor física e existencial, o apaziguamento com o passado mas o não se ficar preso nele, o auto-bloqueio emocional e relacional, o sair da zona de conforto e estar positivamente disponível para o presente e para o futuro e ainda aquela ideia do que se gostaria de ter dito ou ouvido relativamente às pessoas que amamos e que já cá não estão.

Lá está, a sua forma e conteúdo são mesmo susceptíveis de inúmeras leituras. Melancólico, tocante, terno e de recorte onírico (ou não), este novo filme de Haigh - baseado numa obra literária dos anos 80, de Taichi Yamada - contém superlativas composições de Andrew Scott, Paul Mescal, Jamie Bell e Claire Foy. E a banda-sonora é um must, sem dúvida. As canções escolhidas encaixam na perfeição no que está a acontecer.

É um filme lindo, que apesar de tudo até consegue ser reconfortante e ter uma certa dose de optimismo.

Muito estranho.
Passada a primeira meia hora não estava a gostar nada e estava perplexo com a idade dos pais, sem perceber muito bem como era possível (um erro de casting?). Porém à medida que o filme se aproxima do fim foi fazendo sentido.
Reconheço tudo o que escreveste e admiro como o fizeste. Eu não seria capaz de expressá-lo dessa forma.
Mas penso que não gostei tanto do filme mesmo sendo óbvio que tem uma forma muito original de contar uma história.

[José]

All of Us Strangers (2023), de Andrew Haigh
https://www.imdb.com/title/tt21192142/
https://www.rottentomatoes.com/m/all_of_us_strangers

Li que as boas histórias não só permitem a suspensão de descrença, como a encorajam. Aplico esta máxima a este sublime filme. Que grande surpresa surrealista, dramática e intimista.

All of Us Strangers é daqueles objectos que, independentemente da identidade sexual retratada na narrativa, contam com tantos temas (e tão bem defendidos), que conseguem ter um apelo universal. Cada pessoa que o veja poderá rever-se num ou noutro aspecto. A mim, disse-me muito, mexeu comigo.

Depois, tem a seu favor o facto de poder dar asas para imensas interpretações. Debruça-se sobre a solidão, o amor incondicional, as clivagens geracionais, a perda que se torna em dor física e existencial, o apaziguamento com o passado mas o não se ficar preso nele, o auto-bloqueio emocional e relacional, o sair da zona de conforto e estar positivamente disponível para o presente e para o futuro e ainda aquela ideia do que se gostaria de ter dito ou ouvido relativamente às pessoas que amamos e que já cá não estão.

Lá está, a sua forma e conteúdo são mesmo susceptíveis de inúmeras leituras. Melancólico, tocante, terno e de recorte onírico (ou não), este novo filme de Haigh - baseado numa obra literária dos anos 80, de Taichi Yamada - contém superlativas composições de Andrew Scott, Paul Mescal, Jamie Bell e Claire Foy. E a banda-sonora é um must, sem dúvida. As canções escolhidas encaixam na perfeição no que está a acontecer.

É um filme lindo, que apesar de tudo até consegue ser reconfortante e ter uma certa dose de optimismo.

Muito estranho.
Passada a primeira meia hora não estava a gostar nada e estava perplexo com a idade dos pais, sem perceber muito bem como era possível (um erro de casting?). Porém à medida que o filme se aproxima do fim foi fazendo sentido.
Reconheço tudo o que escreveste e admiro como o fizeste. Eu não seria capaz de expressá-lo dessa forma.
Mas penso que não gostei tanto do filme mesmo sendo óbvio que tem uma forma muito original de contar uma história.

Obrigado pelas palavras, nimzabo.

Quanto ao filme, permite muitas leituras

ele pode estar morto por causa do incêndio no prédio ao início (daí as febres que ele tem) e estar ainda no limbo; pode estar a escrever, enquanto argumentista, a história do que se passou com os pais e a efabular como todos se dariam nos dias de hoje; ou então tem, pura e simplesmente, a capacidade de com os espíritos deles contactar, etc

Seja como for, pessoalmente, achei um filme impressionante, cheio de mensagens impactantes, com direito a twist na parte final e de travo Lynchiano.

[drakes]

Three Thousand Years of Longing
https://www.imdb.com/title/tt9198364/fullcredits

É um filme que apesar do diretor ser o George miller, ter no elenco Idris Elba e Tilda Swinton, efeitos visuais ótimos para filme, faltou mensagem, no fim a conclusão que é filme mediano.

[djm]

Dune: Part Two
https://www.imdb.com/title/tt15239678/
9/10 Candidato a filme do ano!

[nimzabo]

Styx
https://www.imdb.com/title/tt5942864/
https://www.rottentomatoes.com/m/styx_2019

[José]

Love Lies Bleeding - Amor em Sangue (2024), de Rose Glass
https://www.imdb.com/title/tt19637052/
https://www.rottentomatoes.com/m/love_l ... eding_2024

Filme bastante interessante, parente de obras como Bound - Sem Limites, A Simple Plan - O Plano (no sentido dos obstáculos atrás de obstáculos e de se ter que "limpar o rasto" que se deixa) e Thelma & Louise e que se pode associar, em tom e espírito, a autores como Oliver Stone, os irmãos Coen, Paul Schrader, David Lynch e David Cronenberg (no caso deste, em particular, lembrei-me do A History of Violence - Uma História de Violência).

Mesmo fraquejando um pouco na parte final, é um objecto irreverente, com garra e muito carismático. Kristen Stewart arrasa.

[nimzabo]

Stillwater
https://www.imdb.com/title/tt10696896/?ref_=ttls_li_tt
https://www.rottentomatoes.com/m/stillwater_2020
Não é um mau filme.

[nimzabo]

Vi o Independence Day talvez pela primeira vez, não tenho a certeza.