Onde Anda o Cinema Alemão?

[Samwise]

Em jeito de preparação para a abordagem ao Fassbinder, vi o "The Damned - Os Malditos", de Luchino Visconti (que consta ter sido o filme favorito do Fassbinder).

É uma produção italiana, mas aborda a Alemanha no período de ascensão do nazismo (1934-1939) - e espelha, através do retrato de uma família aristocrata, detentora de uma industria capaz de produzir armamento em larga escala, a decadência e a podridão do regime comandado por Hitler. A ganância, a sede de poder e a capacidade implacável para os membros desta família se atraiçoarem mutuamente em vagas sucessivas são o prato do dia narrativo. Visconti deixa os filtros morais de lado (como convém) e não poupa nada nem ninguém, tendo o filme acabado por ser censurado numa série de países por conta de conteúdos "sensíveis" (violação, incesto, pedofilia). De um ponto de vista histórico, podemos acompanhar alguns marcos conhecidos da caminhada no Nacional Socialismo até ao poder, como o Incêndio do Reichstag, o anúncio dos autores "malditos" de que os livros seriam queimados em fogueiras públicas gigantescas, e ainda a "noite das facas longas", e que as SA foram dizimadas pelos opositores internos do regime.

É muito bom. 9/10

[Samwise]

Os primeiros, sem ter visto todos, tratam os temas típicos do autor mas são brutos como as portas e esteticamente algo frios e feios.

Vi já as primeiras três obras do Fassbinder para o cinema, todas de 1969:
- Love is Colder than Death
- Katzelmacher
- Gods of Plague

Podem ser "brutos como as portas" (o próprio Fassbinder, que entra como actor, parece ser um bruto grosseiro ), em particular os dois primeiros, mas é cinema que me fascina. Por todo o contexto em que foram filmados, pela mescla de formalismos que os une ao teatro, e pela camada de influências que os torna, de certa forma, homenagens artísticas estilizas à Nouvelle Vague e ao cinema Noir americano. O terceiro filme já é um salto notório, significativo, para um patamar artístico mais ambicioso, mesmo que permaneça na génese um bom bocado grosseiro e agreste. O segundo filme, quase uma peça de teatro de câmara, podia ter sido filmado hoje em dia numa série de países europeus (mesmo em Portugal), dada a intemporalidade dos assuntos que aborda (com destaque para a questão da xenofobia perante a emigração).

Estou a gostar. Vai ser uma viagem muito interessante.

[paupau]

Ainda bem que estás a gostar!
Eu por puro acaso, estou a ver alguns polizioteschi do Fernando di Leo onde entra o Ardof, colaborador do Fassbinder na fase mais final, sobretudo.
Este ator tem um estilo de bon vivant como poucos conseguem transmitir.
Lembro muitas vezes da personagem dele no Lola.

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