American Sniper (2014) - Clint Eastwood

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Hellz7
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by Hellz7 »

que os que os americanos gostam de invadir e um facto . invadiram a Italia , França , Alemanha , Japao , e nenhum destes paises tinha invadido os E.U. , sao uns sacanas , e o que e.
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Samwise
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by Samwise »

No Angel wrote:
Samwise wrote:Onde eu quero chegar, No Angel, é a situação em que a guerra, a meu ver, é como a aplicação do princípio da legítima defesa, mas por parte de uma nação. Um princípio em que tu aceitas o acto de matar, conforme afirmas mais atrás. Uma nação que se defende de uma força invasora através do uso da força (ou de uma guerra declarada) é um paralelo equivalente ao de uma pessoa que mata outra em legítima defesa, ou seja, quando não houve outra maneira de evitar um ataque com intenções também de matar.

É "bonito"? Desejável? Claro que não é. Mas é um princípio moralmente defensável. Neste contexto, os soldados que escolherem de livre vontade assumirem a defesa de uma nação frente a uma força opressora (com evidentes probabilidades de terem de vir a matar) não devem ser considerados criminosos. Não podem ser considerados criminosos - a salvaguarda do princípio da (legítima) defesa da nação exige que esta "regra" esteja bem patente, como aliás me parece óbvio.
Sim, mas a ideia de defesa só pode ser usada pelo pais invadido, e só no sentido de expulsar o agressor e não utilizar isso como desculpa pra fazer o mesmo a outros países. Por exemplo, se Portugal fosse invadido por um pais qualquer, nos tinhamos o direito de nos defendermos, mas nao tinhamos o direito de invadir o outro pais, fazendo-lhe o mesmo que nos fez a nos, e muito menos tinhamos o direito de matar civis desse pais, ou destuir as suas casas. Ou seja, a unica coisa moralmente correta seria a defesa, o expulsar do invasor, mais nada.


No Angel, duas coisas.

1 - Então admites que um soldao possa matar nessas condições sem ser considerado criminoso? Admites que possa ser treinado para matar, e para poder usar esse treino nessas condições?

2 - A tua ideia de defesa territorial/zonal sem uma respectiva resposta não existe. As coisas não se passam assim no mundo real. Para prevenir que não haja mais ataques ou tentativas de invasão, há que manietar as forças inimigas. Isto também me parece óbvio. Em relação a matar civis, concordo contigo mas apenas enquanto princípio orientador dos planeamento de acções ofensivas, já que na prática os "danos colaterais" são impossíveis de evitar. Ou seja, não planear ataques propositados contra alvos civis.
Mas isso não se aplica aos EUA, que nunca foram invadidos que eu saiba, foram sempre eles os invasores...


Pearl Harbour. Torres Gémeas. Dois casos simples de entender.
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No Angel
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by No Angel »

Samwise wrote:
No Angel wrote:
Samwise wrote:Onde eu quero chegar, No Angel, é a situação em que a guerra, a meu ver, é como a aplicação do princípio da legítima defesa, mas por parte de uma nação. Um princípio em que tu aceitas o acto de matar, conforme afirmas mais atrás. Uma nação que se defende de uma força invasora através do uso da força (ou de uma guerra declarada) é um paralelo equivalente ao de uma pessoa que mata outra em legítima defesa, ou seja, quando não houve outra maneira de evitar um ataque com intenções também de matar.

É "bonito"? Desejável? Claro que não é. Mas é um princípio moralmente defensável. Neste contexto, os soldados que escolherem de livre vontade assumirem a defesa de uma nação frente a uma força opressora (com evidentes probabilidades de terem de vir a matar) não devem ser considerados criminosos. Não podem ser considerados criminosos - a salvaguarda do princípio da (legítima) defesa da nação exige que esta "regra" esteja bem patente, como aliás me parece óbvio.
Sim, mas a ideia de defesa só pode ser usada pelo pais invadido, e só no sentido de expulsar o agressor e não utilizar isso como desculpa pra fazer o mesmo a outros países. Por exemplo, se Portugal fosse invadido por um pais qualquer, nos tinhamos o direito de nos defendermos, mas nao tinhamos o direito de invadir o outro pais, fazendo-lhe o mesmo que nos fez a nos, e muito menos tinhamos o direito de matar civis desse pais, ou destuir as suas casas. Ou seja, a unica coisa moralmente correta seria a defesa, o expulsar do invasor, mais nada.


No Angel, duas coisas.

1 - Então admites que um soldao possa matar nessas condições sem ser considerado criminoso? Admites que possa ser treinado para matar, e para poder usar esse treino nessas condições?

2 - A tua ideia de defesa territorial/zonal sem uma respectiva resposta não existe. As coisas não se passam assim no mundo real. Para prevenir que não haja mais ataques ou tentativas de invasão, há que manietar as forças inimigas. Isto também me parece óbvio. Em relação a matar civis, concordo contigo mas apenas enquanto princípio orientador dos planeamento de acções ofensivas, já que na prática os "danos colaterais" são impossíveis de evitar. Ou seja, não planear ataques propositados contra alvos civis.
Mas isso não se aplica aos EUA, que nunca foram invadidos que eu saiba, foram sempre eles os invasores...


Pearl Harbour. Torres Gémeas. Dois casos simples de entender.
Em relaçao ao primeiro ponto, não te sei responder com certeza... se estivesse especifico e muito claramente nas regras que apenas poderiam matar em legitima defesa, e apenas no caso de sermos invadidos, e apenas em situações limite ou por acidente, sim, talvez. Mas seria sempre uma coisa excepcional, o preferível seria prenderam a pessoa.

Em relação ao segundo ponto não concordo, de facto. Eu sei que as coisas não se passam como digo, infelizmente, mas isso não quer dizer que tenho que concordar, e que não possam mudar as coisas. Como disse, o único caso legitimo era na defesa, no caso de sermos invadidos, e apenas para expulsar o inimigo e com o mínimo de violência possível. Ir além disso parece-me imoral. Se fôssemos alvos de um ataque especifico, o que teríamos que fazer era capturar os responsáveis e leva-los a justiça, e não invadir países e sacrificar as suas populações.

Pearl Harbor e as Torres Gêmeas não foram invasões nenhumas, foram ataques, sim, mas não invasões. Além do mais, como disse, e errado invadir um pais, não interessa qual. Na guerra, a única posição legitima e a do pais invadido, e apenas pra se defender e expulsar o invasor.

Mas pronto, acho que não vale a pena irmos muito além disto, cada um tem a sua posição...
Samwise
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by Samwise »

No Angel wrote: Em relação ao segundo ponto não concordo, de facto. Eu sei que as coisas não se passam como digo, infelizmente, mas isso não quer dizer que tenho que concordar, e que não possam mudar as coisas. Como disse, o único caso legitimo era na defesa, no caso de sermos invadidos, e apenas para expulsar o inimigo e com o mínimo de violência possível. Ir além disso parece-me imoral. Se fôssemos alvos de um ataque especifico, o que teríamos que fazer era capturar os responsáveis e leva-los a justiça, e não invadir países e sacrificar as suas populações.
Isto é mais ou menos como dizer: "As tropas inimigas vêm aí com metralhadoras e tanques e bombardeiros, mas nós devemos responder com pontapés e tabefes e mandá-los de volta para casa com um aviso de reprimenda". As tuas intenções são moralmente louváveis mas os teus argumentos não são pura e simplesmente credíveis/verificáveis. E nesse capítulo apenas posso apontar-se a contradição.

Pearl Harbor e as Torres Gêmeas não foram invasões nenhumas, foram ataques, sim, mas não invasões. Além do mais, como disse, e errado invadir um pais, não interessa qual. Na guerra, a única posição legitima e a do pais invadido, e apenas pra se defender e expulsar o invasor.
:?:

Foram ataques precedidos de invasões territoriais (penso que é isso que se chama quando alguém entra em território alheio, de forma não autorizada, e com intenções violentas). Aconteceram em solo americano.

No Angel wrote:
PanterA wrote:Esse teu post faz lembrar uma pergunta que por vezes costumam fazer. Era algo deste tipo: "Se tivessem apenas uma oportunidade de ir a 20 Abril de 1889, nessa mesma data nem tirar nem pôr, e souberam que aquele bebé seria um dos maiores ditadores de sempre, teriam coragem de acabar ali com a sua vida visto que podiam poupar a vida no futuro a dezenas de milhões de pessoas em todo o Mundo e poupar este de uma 2º Guerra Mundial?"
Não, como disse um mal não justifica outro, isso pra mim não tem lógica. De resto, se não fosse ele seria outro qualquer... os alemães nos anos 30 estavam ansiosos por dar ouvidos a um ditador que prometessem resolver os seus problemas (assim como os portugueses, espanhóis, etc), portanto, se nao fosse o Hitler, seria outro qualquer, na minha opinião. No máximo, poderia falar com a mae do Hitler, de modo a que ela fizesse um aborto, mas isso teria que ser sempre a sua decisão e não a minha e o mais provável era internam-me num hospício :roll:
A pergunta do Pantera está incompleta. Falta uma parte que faz toda a diferença. É assim: "Se te dessem a oportunidade de matar de antemão o Hitler, sabendo que essa acção evitaria toda a 2ª Guerra Mundial, fá-lo-ias?" (quem diz o Hitler, diz o Hitler e todos aqueles que conspiraram em proximidade com ele para que a guerra fosse para a frente)
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by THX »

waltsouza wrote:Estás a insinuar que o THX é uma "Ilha" que se tenta afastar dos continentes, e que quando dá por ela pode dar-se o caso de olhar para o lado e só ver "mar"???? Uma coisa é certa, ele próprio admite que é teimoso portanto já é um primeiro passo para a sua "Ilha" poder aproximar-se devagarinho do continente mais próximo. Só depende dele, e da sua teimosia. :wink:
Pensa também se não estarás a ajudar a montar o motor no barco para alguém ir para uma ilha.
Não estarás a emprestar uns remos nem nada??
Mesmo isolado numa ilha ainda posso usar uns binóculos... :|

E já agora, eu adoro mar saint-) (sou peixes de signo).

E tu? -gostas de moscas :wink: ??

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Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by THX »

Samwise wrote:
THX wrote:Ainda não vi este filme,

(...)

1º- Ao que parece o filme não é somente sobre um homem, um herói.
O filme é sobre a GUERRA. Ponto!!
THX no seu melhor. :-))) :-))) :-)))

(já agora, o filme é sobre a guerra... e sobre um homem... e sobre politiquices... e sobre as consequências da exposição à violência... e... e... e... :wink: )

Àparte disso, gosto bastante de ler o teus contributos baseados na experiência efectiva de uso de armas.
Não é necessário ver o filme para saber do que se trata pois não?
O trailer diz muito sobre o que se trata. A tua critica também, assim como tudo o que tenho lido sobre toda a polémica à volta de "American Sniper".

O filme é sobre um militar (guerra) que usa uma arma militar (guerra) para matar pessoas (guerra) num teatro de...guerra. Isso é o importa saber para mim, que a temática a abordar é sobre homem vs GUERRA.
Que eu saiba ninguém vai assistir a "American Sniper" pensando ir ver uma comédia romântica pois não??

Para além do meu uso efectivo de armas (que foram várias) o que mais gostei no meu serviço militar foi o relacionamento efectivo que tive com cerca de 60 homens, homens esses que acompanhei quando lhes dei a instrução militar básica. Fui um sacana e simultâneamente um grande amigo de todos. Formei uma escola de cabos e consegui mandar para casa um homem que nunca deveria ter ido para a tropa (situação de amparo).

Podia contar-te histórias comoventes a que assisti, como quando um instruendo (aluno) do meu pelotão estava em sentido na parada e é chamado para atender uma chamada importante.
Pediu-me permissão para sair da formatura ao qual eu acedi.

Passado 10 minutos o homem regressa à formação comovido. Tinha sido pai.
Ele soube que naquele preciso momento tinha acabado de nascer o seu filho.
"Qual o sexo?" - pergunto eu. "É um rapaz meu furriel." - responde com os olhos vidrados.
Dei permissão para os seus camaradas o felicitarem. Decorre uma manifestação de abraços e de palavras amigas.

Nestes casos a unidade (quartel) emite uma licença de 48h para permitir que o pai vá conhecer o seu filho.

- "Tem permissão para ir à secretaria pedir a sua licença."
- "Não vale a pena meu Furriel...",
responde com muita tristeza.

A esposa deste homem estava a viver nos arredores de Paris...

Tempo e dinheiro não abundam na tropa.

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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by Samwise »

Opinião de Francisco Louçã, no blogue Tudo Menos Economia:
“The American Sniper”, de Clint Eastwood

Clint Eastwood, actor mediano de filmes medianos, mas cujo charme ingénuo (a “trilogia dos dólares” no western spaguetti de Sergio Leone, “Por um Punhado de Dólares”, 1964, “Por uns Dólares a mais”, 1965, e “O Bom, o Mau e o Vilão”, 1966) ou cuja violência policial num mundo sem lei (“Dirty Harry”, 1971, “Magnum Force”, 1973, “Harry, o Implacável”, 1976, “Impacto Súbito”, 1983, “Na Lista do Assassino”, 1988) lhe criou uma fama persistente, é hoje uma das figuras dominantes de Hollywood.

Como realizador, e por vezes como protagonista dos seus próprios filmes, Eastwood tornou-se mesmo um dos grandes da história do cinema. Teve aliás a elegância de tratar o seu próprio passado com humor (o justiceiro e a emigração em “Gran Torino”, 2008), em representar o seu próprio envelhecimento e em tratar temas difíceis como a eutanásia (“Million Dollar Baby”, 2004). Nada lhe era impossível.

A desilusão de “American Sniper” só pode ser medida em contraste com esta carreira notável. É certo que Eastwood, ele próprio republicano e com convicções radicais de direita, ficou incomodado com a leitura pró-guerra que foi feita sobre o seu filme, porventura quando uma figura como Todd Barnes, na televisão Fox, pediu a Jesus que agradecesse a Chris Kyle, o sniper, porque matou tantos muçulmanos. Howard Dean, ex-governador democrata de Vermont, pelo contrário, viu no filme as ideias do Tea Party. Eastwood, em resposta, quis descobrir aspectos anti-belicistas no filme. É pouco convincente.

Só que esse não é o problema do filme. É que, como filme de um confronto militar, “American Sniper” não tem espessura, porque a sua guerra é uma encenação sem pessoas. Chris Kyle é um herói sem arrependimentos, sem sobressaltos, que só conhece perturbações na sua vida familiar, mas nunca quando mata. Tudo lhe é indiferente, excepto os raros momentos de hesitação no gatilho. O verdadeiro Kyle nem era assim, achava que “it was fun” quando acertava nos seus alvos.

Eastwood radicaliza esta desumanidade, ao apresentar os árabes como seres grotescos e inanimados ou, pior ainda, ao filmar em slow motion a bala que mata o atirador sírio, o ex-campeão olímpico que era o seu antagonista misterioso. Ora, Eastwood já tinha filmado a guerra com pessoas, que sofrem, que estão ansiosas, que são excepcionais e medíocres na vertigem da morte: nas “Cartas de Iwo Jima” (2006) vimos os dois lados, os japoneses e os norte-americanos, e a humanidade era essa impossibilidade que a guerra escreve com sangue. Ele sabe fazer. Mas no caso do Iraque desistiu do seu cinema. Que pena.
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by Cabeças »

Samwise wrote:Opinião de Francisco Louçã, no blogue Tudo Menos Economia:
“The American Sniper”, de Clint Eastwood

Clint Eastwood, actor mediano de filmes medianos, mas cujo charme ingénuo (a “trilogia dos dólares” no western spaguetti de Sergio Leone, “Por um Punhado de Dólares”, 1964, “Por uns Dólares a mais”, 1965, e “O Bom, o Mau e o Vilão”, 1966) ou cuja violência policial num mundo sem lei (“Dirty Harry”, 1971, “Magnum Force”, 1973, “Harry, o Implacável”, 1976, “Impacto Súbito”, 1983, “Na Lista do Assassino”, 1988) lhe criou uma fama persistente, é hoje uma das figuras dominantes de Hollywood.

Como realizador, e por vezes como protagonista dos seus próprios filmes, Eastwood tornou-se mesmo um dos grandes da história do cinema. Teve aliás a elegância de tratar o seu próprio passado com humor (o justiceiro e a emigração em “Gran Torino”, 2008), em representar o seu próprio envelhecimento e em tratar temas difíceis como a eutanásia (“Million Dollar Baby”, 2004). Nada lhe era impossível.

A desilusão de “American Sniper” só pode ser medida em contraste com esta carreira notável. É certo que Eastwood, ele próprio republicano e com convicções radicais de direita, ficou incomodado com a leitura pró-guerra que foi feita sobre o seu filme, porventura quando uma figura como Todd Barnes, na televisão Fox, pediu a Jesus que agradecesse a Chris Kyle, o sniper, porque matou tantos muçulmanos. Howard Dean, ex-governador democrata de Vermont, pelo contrário, viu no filme as ideias do Tea Party. Eastwood, em resposta, quis descobrir aspectos anti-belicistas no filme. É pouco convincente.

Só que esse não é o problema do filme. É que, como filme de um confronto militar, “American Sniper” não tem espessura, porque a sua guerra é uma encenação sem pessoas. Chris Kyle é um herói sem arrependimentos, sem sobressaltos, que só conhece perturbações na sua vida familiar, mas nunca quando mata. Tudo lhe é indiferente, excepto os raros momentos de hesitação no gatilho. O verdadeiro Kyle nem era assim, achava que “it was fun” quando acertava nos seus alvos.

Eastwood radicaliza esta desumanidade, ao apresentar os árabes como seres grotescos e inanimados ou, pior ainda, ao filmar em slow motion a bala que mata o atirador sírio, o ex-campeão olímpico que era o seu antagonista misterioso. Ora, Eastwood já tinha filmado a guerra com pessoas, que sofrem, que estão ansiosas, que são excepcionais e medíocres na vertigem da morte: nas “Cartas de Iwo Jima” (2006) vimos os dois lados, os japoneses e os norte-americanos, e a humanidade era essa impossibilidade que a guerra escreve com sangue. Ele sabe fazer. Mas no caso do Iraque desistiu do seu cinema. Que pena.

Acho a opinião do Francisco Louçã mais política do que cinematográfica. Claro que o filme também tem uma interpretação política, mas sinceramente, gostei bastante do filme.
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by PanterA »

Nunca pensei viesse a concordar alguma vez com ele. Dammm... *.*

Claro, tirando aquele 1º paragrafo que me parece demasiado overkill.
Last edited by PanterA on March 7th, 2015, 7:25 pm, edited 1 time in total.
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by elfaria »

Não era minha intenção regressar a este tópico tão fracionante :mrgreen: aqui no fórum mas esta "crítica" do Louçã com a qual me identifico parcialmente (80%) interessou-me e como esta semana vi 2 filmes de "guerra" como?-) que são a antítese deste Snipper resolvi fazer um off-topic para os referir a quem possam interessar:

' 71 (2014) de Yann Demange http://www.imdb.com/title/tt2614684/ uma pequena produção independente mas com a chancela do BFI sobre o o conflito irlandês http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_n ... a_do_Norte que achei bastante interessante (gosto muito deste termo; não é carne nem é peixe -bullshit- )

Mi mejor enemigo (2005) de Alex Bowen http://www.imdb.com/title/tt0410316/ um simpático filme argentino sobre o patriotismo e o sentimento da posse do território.

E não fiquem admirados por estas sugestões tão descabidas (para alguns :wink:) porque senão coloco aqui o meu top 20 de filmes de guerra :twisted: e aí é que vão cair para o lado :lol: :lol: :lol:
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by waltsouza »

Box Office: American Sniper Is Officially the Biggest Movie of 2014


On what was the slowest weekend at the box office so far this year, American Sniper officially became the highest-grossing film of 2014, Box Office Mojo reports.

Sniper dropped out of the Top 10, landing in 11th place in its 11th weekend in theaters, but its $4.5 million weekend gross brought it up to $337.2 million overall.

Fall TV Scorecard: What's renewed? What's canceled?
Despite finishing the weekend in first place, Chappie had a disappointing debut with just $13.3 million. Last week's No. 1 movie, Focus, dropped to second place with $10 million.

The Second Best Exotic Marigold Hotel had a solid opening, landing in third place with $8.6 million. It edged out Kingsman: The Secret Service, which earned $8.3 million.

In fifth place was The SpongeBob Movie: Sponge Out of Water with $7 million.

Fifty Shades of Grey fell two spots to sixth place with $5.6 million, followed by McFarland, USA with $5.3 million.

The Lazarus Effect and The DUFF came in at Nos. 8 and 9, with $5.1 million and $4.8 million, respectively.

Rounding out the Top 10 was Unfinished Business, which bombed with just $4.8 million, making it the worst non-limited release debut for Vince Vaughn ever.

http://www.tvguide.com/news/box-office- ... eakingnews
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Post by Samwise »

elfaria wrote:E não fiquem admirados por estas sugestões tão descabidas (para alguns :wink:) porque senão coloco aqui o meu top 20 de filmes de guerra :twisted: e aí é que vão cair para o lado :lol: :lol: :lol:
Passando ao largo a questão da "admiração com as sugestões descabidas" ( :mrgreen: ), aguardo com expectiva essa lista que prevês muito pouco ortodoxa. yes-)
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Post by waltsouza »

Samwise wrote: Passando ao largo a questão da "admiração com as sugestões descabidas" ( :mrgreen: ), aguardo com expectiva essa lista que prevês muito pouco ortodoxa. yes-)
Somos 2. Venha de lá essa lista. :wink:
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Re: American Sniper (2014) - Clint Eastwood

Post by elfaria »

Eu sei que vocês os dois gostaram bastante do American Sniper e eu fiquei bastante desapontado o-( e suspeito estão à espera de um pretexto para me apanhar em contradição para me darem na carola (seus malandros) :wink: mas eu não importo yes-) por isso aqui vai a minha lista que representa apenas e somente o meu gosto pessoal que é o de um cinéfilo já velhote :-))) :


Apocalypse Now (1979) Francis Ford Coppola

Castle Keep (1969) Sydney Pollack

La 317ème section (1965) PierreSchoendoerffer

R.A.S. (1973) Yves Boisset

Idi i smotri (1985) Elem Klimov

Mediterrâneo (1991) Gabriele Salvatores

Talvisota (1989) Pekka Parikka

L'étoile du soldat (2006) Christophe de Ponfilly

The Thin Red Line (1998) Terrence Malick

Nefes: Vatan Sagolsun (2009) Levent Semerci

All Quiet on the Western Front (1930) Lewis Milestone

Paths of Glory (1957) Stanley Kubrick

La vaquilla (1985) Luis García Berlanga

Ballada o soldate (1959)  Grigoriy Chukhray

Platoon (1986) Oliver Stone

La battaglia di Algeri (1966) Gillo Pontecorvo

The Deer Hunter (1978) Michael Cimino

Bravo Two Zero (1999) Tom Clegg

Stalingrad (1993)  Joseph Vilsmaier

The Boys in Company (1978) Sidney J. Furie



e ainda... Das Boot, Der Untergang, The Bridge on the River Kwai, 9 rota, "Ivanovo detstvo, Voskhozhdenie, The Beast of War, "L'ennemi intime etc
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Post by Samwise »

No Público:
Sniper Americano é um filme anti-guerra, diz Clint Eastwood

Para o realizador, o filme campeão de bilheteiras de 2014 é sobre o impacto da guerra nas famílias dos soldados.

É o filme e o próprio realizador. Quem o diz é Clint Eastwood. Numa conversa com os alunos da Loyola Marymount University School of Film and Television, em Los Angeles, o realizador disse que o filme baseado na história real de Chris Kyle, o atirador de elite da guerra no Iraque, é anti-guerra, ao contrário do que a maioria das críticas apontaram.

Foi um sucesso de bilheteiras, somou seis nomeações aos Óscares, tendo conquistado a estatueta dourada na categoria de montagem de som, e reacendeu o debate sobre a guerra no Iraque. Um pouco por todo o mundo, os críticos, e o próprio público, apontaram a exaltação da guerra. Um filme bélico no seu todo. Mas afinal, não é bem assim. Para Clint Eastwood, Sniper Americano é um filme bom para veteranos. “Mostra o que é que eles estão a passar”, apontou o realizador, de 84 anos.

Para o realizador, o filme, que foi o mais rentável de 2014, é sobre o impacto que a guerra tem na família mais do que sobre o conflito em si. “Mostra as tensões a que estão sujeitas as mulheres e as famílias dos veteranos. Acho que isso faz com que a mensagem que se passe seja anti-guerra”, afirmou Eastwood.

Clint Eastwood, que já fez filmes de guerra no passado, explicou aos alunos da Loyola Marymount University School of Film and Television que actualmente é preciso pensar para se perceber se faz sentido fazer um filme assim. “É uma daquelas coisas que tem de ser feita com imenso pensamento.”

“Não fui um grande fã das guerras do Afeganistão e Iraque por várias razões”, continuou o realizador, para quem os Estados Unidos deviam ter olhado para o que estava a acontecer no Afeganistão antes de entrarem em guerra. “Os britânicos não foram bem-sucedidos lá, os russos estiveram dez anos e também não conseguiram”, explicou. Sobre o Iraque, Eastwood admite ser outra coisa: “Nunca soubemos como é que poderia acabar, fossemos a favor ou contra”.

O realizador admite que o filme glorifica o sniper Chris Kyle mas ao mesmo tempo mostra o arrependimento do atirador. “É como é e eu acho que é anti.”
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