A Paixão de Cristo (2004) - Mel Gibson

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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dawnfrost
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Post by dawnfrost »

Finalmente fui ver o filme de tanta controvérsia.
Gostei do filme. Uma fotografia magistral, interpretações excelentes, especialmente da Maia Morgenstern. A brutalidade do filme é, de facto, evidente mas não acho que seja o cerne do mesmo. O filme centra-se fundamentalmente na compaixão. Acho até que o filme deveria chamar-se "A compaixão de Cristo". Se deixarmos de lado a fé e a religião (sei que é dificil), o filme foca um homem que temeu, desesperou, sofreu mas acima de tudo nunca perdeu a compaixão, e essa foi talvez a maior mensagem do filme.
Quanto ao "timing" do filme que alguns acham que o torna monótono em alguns momentos, não senti isso. Teria sido dificil transmitir a ideia que acima referi se a dinamica do filme fosse mais rápida.
Quanto ao anti-semitismo, também não senti isso, senti que houve um cuidado de caracterizar as reacções mais a nivel individual do que a nivel étnico. Só talvez a frase que Cristo diz, acho que foi algo do tipo "mais culpa tem os que me trouxeram até ti", quando falava com o governador romano, é que pode induzir alguma controvérsia, mas sinceramente acho que é um pouco exagero considerar o filme anti-semita, quando muito, como já alguém aqui disse, anti-romano.

8/10

Cumprimentos

Ricardo Sendim, Coimbra, 32 anos.
BluePaulo
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Post by BluePaulo »

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote"><i>Originally posted by tialice</i>
<br />Na minha modesta opinião, acho que o papel do Mel Gibson no meio desta questão é tudo menos inocente e o seu interesse não é de todo artístico. Serão mesmo as suas ideias retrógadas e o seu ódio pelas outras confissões religiosas a falar mais alto do que o seu talento para o cinema.
Nem é tão difícil vislumbrar essa hipótese, quando no passado o mesmo já nos presenteou com o esteriotipado "Braveheart", filme em que ataca duramente a Inglaterra, bastião do cisma Anglicano, classificando os seus cidadãos como verdadeiros suínos ( na pior acessão da palavra ) .

falha redondamente logo na escolha do actor principal...
Desde quando é que o Jim Caviezel, branquinho até à raiz, poderia desempenhar o papel de Cristo, Judeu de nascença ??? [}:)]
<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">
Não podia discordar mais.
Primeiro porque o filme é um retrato histórico fiel do que se passou. Incomoda a alguém que se diga a verdade? Que foram os Judeus a entregar Jesus? E porque razao dizer isto é um atentado ao judaísmo? É crime relatar fielmente a história ?
Em relação à 2a parte..Desde quando os Judeus deixaram de ser brancos?
PS1:neste topic há tanto ódio contra a Igreja que assusta...
PS2: os ingleses como se sabe eram uns santinhos..........
Argaroth01
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Post by Argaroth01 »

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote">Primeiro porque o filme é um retrato histórico fiel do que se passou. Incomoda a alguém que se diga a verdade? Que foram os Judeus a entregar Jesus? E porque razao dizer isto é um atentado ao judaísmo? É crime relatar fielmente a história ?
<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">

Discordo em absoluto. O filme não é nenhum retrato histórico fiel, como se alguém pudesse dizer isso de acontecimentos que, supostamente, se sucederam há mais de 2000 anos. O que será mais correcto dizer é que se trata de um retrato fiél da forma como está descrito na Bíblia. E tendo em conta a carga metafórica e mistica que apresenta, não deve ser apresentada como facto, até porque isso é simplesmente perigoso. Tudo se perde de um escrito religioso quando se tenta alcançar algo para além da metáfora. Mas o filme é muito bom, gostei muito.

Qto a factos históricos em si, as últimas investigações demonstram que o relato da Bíblia alusivo à morte de Cristo, não corresponde bem à verdade. De facto, são unânimes em rectificar que quem condenou Cristo, foram os romanos. A perseguição aos judeus, para além de ter surgido numa onda de anti-semitismo que permeou a época, deriva de um equivoco entre acusação e condenação. A aristocracia judaica, os saduceus, foram os que o acusaram, ao contrário da maioria dos fariseus, que simpatizavam com a causa do Cristo. Esta aristocracia tinha, de certa forma, boas relações com o governador romano, Pilatos, e foi este que procedeu à sua condenação.
Muitos elementos da Biblia, na sua maioria de índole mitico-mágicos, apenas existem como forma de reforçar a crença de várias comunidades que foram surgindo. Outro exemplo da deturpação dos factos, consiste no facto de a Igreja Católica ter sido criada e difundida pelo Império Romano (logo seria mau estar a associar um funcionário romano à morte da figura central de uma nova religião).
Fidel
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Post by Fidel »

Asgaroth, umas correcções às correcções. A Igreja Católica nunca defendeu que a culpa era dos Judeus, mas sim directamente de Pilatos (daí aquela história do lavar das mãos não servir de desculpa), como se pode verificar pelo "Credo dos Apóstolos" na parte do "... crucificado SOB Pôncio Pilatos". Agora, também nunca propagandeou nesse sentido pelos motivos que indicaste.

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Argaroth01
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Post by Argaroth01 »

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote">A Igreja Católica nunca defendeu que a culpa era dos Judeus, mas sim directamente de Pilatos<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">

Por acaso defendeu (embora oficialmente condenasse práticas anti-semitas, apesar de muitos religiosos serem anti-semitas). Foi com o Concilio Vaticano Segundo que se acabou de vez com a acusação de deicidio por parte dos judeus (Jesus morrera para redimir os pecados da humanidade).

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote">The Second Vatican Council, or Vatican II, was a pastoral, non-dogmatic ecumenical council of the Catholic church opened under Pope John XXIII in 1962 and closed under Pope Paul VI in 1965. That the Council was pastoral and non-dogmatic is made clear by the Opening Address of the Second Vatican Council given by Pope John XXIII on October 11, 1962. It has often been cited as the most significant event in Catholicism in the 20th century.

For Catholics, the most visible results of various interpretations of the Council's sixteen documents were changes in how church sacraments were practiced, the use of vernacular languages for the Mass, <font color="red">and a revolutionary new attitude towards their relationship with Jews</font id="red">. Various interpretations of the council documents also brought less visible, but fundamental changes in how the Catholic church saw itself and its relationship with other faiths and the world. The outcome of the most commonly accepted interpretations of its documents has been widely accepted by Catholics worldwide, but not without opposition (see, for example, traditional Catholicism and sedevacantism).<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote">Christian theological anti-Judaism was originated in the New Testament's replacement theology, or supersessionism, which taught that with the coming of Jesus a new covenant has rendered obsolete and has superseded the religion of Judaism. It was believed that "the wicked Jews", as a people, were responsible for the death of Jesus Christ. A number of Christian preachers, particularly in the Middle Ages and Renaissance, additionally taught that religious Jews choose to follow a faith that they actually know is false out of a desire to offend God.

The Catholic Church is alleged by many anti-Catholics to have followed the "theology" until 1965. While there were many Catholics who were anti-semitic, this attitude toward the Jews was repeatedly condemned by the official Magesterium of the Church, was never a doctrine of the Catholic Church in which all the faithful were bound to believe. Rather, as part of Vatican II, which was a pastoral council and not a dogmatic council (it taught no new doctrine), <font color="red">the official condemnations of the deicide charge were reiterated</font id="red">. A small number of Protestant sects still teach it, however.
<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">

<blockquote id="quote"><font size="1" face="Verdana, Arial, Helvetica" id="quote">quote:<hr height="1" noshade id="quote">O catolicismo tradicionalista é o nome dado a um movimento separatista que rejeita o Concílio Vaticano Segundo – que inocentou os judeus da acusação de deicídio.<hr height="1" noshade id="quote"></blockquote id="quote"></font id="quote">

É por causa disto que o filme tem gerado tanta polémica. Mel Gibson é um católico tradicionalista, os quais recusam o Concílio. Bastou este pequeno pormenor para pôr a comunidade judaica em estado de alerta (apesar de achar um exagero e uma patetice as acusações de anti-semitismo por parte da comunidade judaica).
Fidel
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Post by Fidel »

Não é inteiramente verdade. O Concílio Vaticano II retirou, oficialmente, a culpa de cima dos Judeus (estilo, NÃO foram os Judeus). Mas a culpabilidade já tinha sido oficialmente atribuída a toda a humanidade no concílio de Trento, há 5 séculso atrás. Não falaram foi especifícamente dos Judeus.

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Argaroth01
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Post by Argaroth01 »

Mas se foi o Concilio Vaticano Segundo que teve de o retirar de vez, então é pq ainda fazia alguma ressonância. O facto de o Concilio de Trento ter referido que a morte de Cristo se devia à redenção do pecado original da humanidade, não significa que a morte fisica de Jesus não fosse apontada a uma entidade especifica. Enfim, má sorte Hercule Poirot não ser contemporaneo [:D].
Nuno Guerreiro
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Post by Nuno Guerreiro »

Ja agora, ao ter visto o filme e apenas me baseando no filme e acreditando q este filme está o mais proximo possivel ao q o tal apostolo escreveu, cada vez mais detesto os judeus, n todos obviamente mas sim aqueles q sempre tiveram o poder (tanto a 2 mil anos como agora), pela sua maneira de ser. Basta ver a pura arrogancia daqueles q condenaram jesus e aqueles q agora ocupam e fazem mais de trinta por uma linha por causa duns milhares de km2 q n valem um corno.

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Fidel
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Post by Fidel »

Nuno, digamos que ESSA posição não é das melhores! Os Judeus que acusaram Cristo (porque a condenação é romana) fizeram-no pelo motivo do costume: o gajo só armava confusão. Da mesma maneira que se "inventaram" bruxas uns séculos mais tarde, enimigos do estado and so on.

Em relação aos km2, estás-te a referir a quê?

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Nuno Guerreiro
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Post by Nuno Guerreiro »

Eu tentei apenas fazer uma anoligia com alguns judeus de a 2 mil anos e alguns judeus de agora. Para mim basicamente n mudaram muito, o essencial continua lá todo. E o resto vai para outros povos/religiões q tiveram/têm posiçoes identicas...

km2 = Kilometros quadrados, palestina...

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Fidel
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Post by Fidel »

Ò Nuno, mas isso não mudou ninguém. Agora em vez de assassinarem fisicamente, fazem os tão famosos "assassinatos políticos". A mentalidade é a mesma e é a de todo o ser humano.

Palestina, mas territórios ocupados ou tudo?

Oderint dum metuant
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alquimista
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Post by alquimista »

Parece milagre mas finalmente o filme estreou na minha terrinha.
Não li absolutamente nada deste tópico, portanto vou apenas dar a minha opinião sobre o filme do ponto de vista puramente ateu e sem entrar em qualquer discussão teológica.

Gostei muito do filme e devo dizer que não achei de modo algum a violência exagerada. Pela fama do filme e pelas criticas estava a espera de um verdadeiro banho de sangue naquele sentido mais gratuíto da violência só para chocar e devo dizer que não encontrei nada no filme que o possa tornar numa espécie de pornografia da violência como tem sido sugerido por alguns sectores mais criticos.

Acima de tudo achei que foi uma representação histórica realistica do tipo de processo de condenação e cruxificação comum naquele periodo. E mais quem se interessa pelo periodo e pela historia da conquista romana, sabe perfeitamente que aquele tipo de violência mostrada no filme até nem foi nada de extraordináriamente gráfica pois o tipo de castigos reais eram ainda muito mais crueis se é que isso é possivel de passar pela ideia de uma pessoa que não se interessa pelo tema.

Portanto, acho que o filme foi uma excelente representação/dramatização histórica do que provavelmente aconteceu e como tal toda a demonstração mais gráfica da violência acho-a perfeitamente adequada ao contexto do que se pretendeu reproduzir.
As pessoas é que estão muito mal habituadas, pois especialmente hoje em dia, parece que ninguem tem uma noção historicamente real do que seria um processo destes. As pessoas aprendem aquelas historias na catequese e parece que criam na ideia que Jusus, foi julgado condenado, pregado a cruz e pronto morreu e resuscitou. Acho que o homem moderno não tem a minima noção do que era um castigo daquele tipo que Jesus aparentemente sofreu.
Como tal nem sequer precisou de haver um filme com exagero de violência para as pessoas ficarem agora todas com uma ideia de que essa violência foi algo de horrivel. Bastou o Mel Gibson filmar os acontecimentos seguindo todos os preceitos históricos do processo e toda a gente parece que de repente ficou muito espantada porque Jesus afinal sofreu muito antes de ser pregado na cruz e parece que afinal não morreu porque lhe pregaram uns pregos nas mãos.
Portanto, para mim o filme está muito bom, acima de tudo está real e é um excelente acordar para muita gente que parece que até hoje sempre teve uma ideia de quase conto de fadas nesta história toda. As pessoas não ficam chocadas porque o filme exagera na violência, as pessoas ficam chocadas porque de repente aparece um filme que mostra o que é uma violência real e não como sempre foi representada nos filmes do género que pouco mais fizeram do que contribuir para a imagem de conto de fadas que toda a historia parece ter desde que andamos na Catequese.
Finalmente aparece um filme sobre o tema que o representa como um processo daqueles se processa e só por isso o filme tem todo o valor.

Tenho tido uma grande discussão sobre este filme com um amigo meu, que acha que o problema do filme é que não tem qualquer aspecto espiritual ou uma abordagem mais intelectual e analitica de toda a parte teológica que supostamente segundo ele o filme deveria ter tido para ser um bom filme sobre a Paixao de Cristo.
Na minha opinião, eu acho que nada pode estar mais longe da verdade. Acho que este filme é extremamente espiritual. Ha a tendência no mundo moderno para se analisar toda esta historia de um ponto de vista intelectual e teológico e aos poucos foi-se perdendo a essência da questão no meu ponto de vista. Ou seja, Cristo sofreu pela humanidade e qualquer filme que não mostre isso de uma maneira como foi mostrado no filme do Gibson, para mim é que é um filme falhado sobre o tema. Mil discussões teológicas nunca chegarão a lado nenhum quando a teologia se sobrepõe á essencia do facto de que aparentemente existiu uma pessoa que passou horrores para morrer por uma causa e uma crença como o Cristo deste filme demonstra.

Esse amigo meu acha que o filme não tem qualquer impacto emocional nem nunca converterá ninguém porque as pessoas não conseguem detectar qualquer conteudo mais intelectual que depois as possa levar a pensar no assunto. Para mim é exactamente o oposto. A crueza do ponto base de toda esta história como é contada no filme do Gibson é suficiente para fazer uma pessoa pensar muito mais sériamente no tema do que mil analises inteligentissimas de muito teologo ou critico de cinema.

Conheço pessoas que por causa deste filme, voltaram á Igreja. Pessoas que me disseram que nunca tinham sequer pensado que aquilo alguma vez pudesse ter sido assim porque nunca viram este tipo de imagens graficas apresentadas em lado nenhum. Ao verem o filme , de repente parece que compreenderam que afinal o sofrimento de Cristo poderá ter sido muito mais incrivel do que alguma vez alguém os fez pensar e como tal começaram a questionar uma coisa muito interessante.
Essas pessoas que conheço, de repente perguntaram-se se realmente existiu um Jesus assim, que passou por algo semelhante ao que é apresentado no filme, da forma como é mostrada no filme, então essa pessoa é alguém que se calhar merece realmente uma atenção especial e quanto mais não seja, merece ser venerado pelo sacrificio a que se submeteu. Estas pessoas voltaram a igreja por causa da tomada de consciência que tiveram apenas ao ver este filme e como tal para mim isto é a melhor prova de que afinal no meio de tanta polémica relativa a violencia na obra se calhar a parte realmente importante passou por debaixo de todas as criticas analiticas e teológicas. Portanto para mim o filme não é de modo nenhum o vazio espiritual que muitos querem fazer crer. A sua espiritualidade está não no argumento e no que é mostrado, mas sim naquilo que provoca no espectador moderno que apenas por ver uma realidade historica nua e crua de repente fica muito surpteendido e chocado. E muitos ficaram convertidos...de uma certa forma ou pelo menos estão a pensar duas vezes sobre o assunto e sobre coisas que nunca lhes tinha passado pela cabeça antes.
Eu sou de uma familia intensamente católica (nao fundamentalista, mas muito practicante) e no entanto não ha uma unica pessoa que não tenha ficado surpreendida pelo que viu. Ninguem fazia ideia mesmo depois de décadas de catolicismo practicante que as coisas alguma vez se poderiam ter passado assim. Não deixa de ser irónico nisto tudo que o unico ateu da familia, eu, tenha sido o unico que não se surpreendeu minimamente com o que vi, nem sequer achei algo extraordinariamente violento. Achei real.

Portanto, acho que enquanto filme sobre o tema, o Gibson acertou em cheio e este filme era o filme que faltava. Enquanto objecto de conversão, se quiserem, penso que a simplicidade converterá muito mais gente do que por exemplo um filme como a Ultima Tentação de Cristo que é em tudo intelectualmente superior ao filme do Gibson, mas se calhar é esse o seu grande problema enquanto objecto que tentaria captar a atenção do publico para a sua Fé. O filme do Gibson na sua simplicidade chegou a alma de muita gente e aqui não ha superioridade intelectual que possa bater o que este filme fez. Não conheço ninguem que se tenha alguma vez convertido ,ou voltasse a igreja por causa de um filme. Muito menos o do Scorcese. Neste filme do Gibson, das pessoas que conheço, pelo menos cinco começaram a ir regularmente á missa depois de o verem. Inclusive uma pessoa que se dizia ateia. O que não deixa de ser extraoridnário vindo de um filme que os seus mais ferozes criticos dizem ser um filme vazio, muito violento e nada espiritual.
Penso que quem pensa assim, tem é exactamente falta dessa espiritualidade. Se calhar mesmo sendo católico e portanto nunca irá se aperceber do valor real do que este filme do Gibson representa.
Enquanto cinema nem acho que seja um grande filme, mas não precisava de o ser para cumprir o que importava transmitir na historia que tenta representar e isso quanto a mim fe-lo melhor do que nunca e duvido que volte a haver um filme tão perfeito como este nesse aspecto.
Perde-se tempo a discutir coisas que não tem qualquer importancia no que se tenta passar da mensagem por detras do filme e mais uma vez esquece-se o que realmente importa.

A parte sobre a polémica a propósito dos Judeus, então parece uma verdadeira anedota. Não encontrei nada que pudesse ser ofensivo, pois é bem explicitamente demonstrado que os Judeus não são retratados como vilões. Gibson polvilhou o filme com exemplos perfeitos de que entre eles haviam tanto "maus" como "bons" e que acima de tudo a historia tinha de ser vista de um contexto da época.
Os "maus" do filme nem o são porque sim, são "maus" porque estão apenas a zelar pelo seu estatuto dentro do contexto social da época. Ha muito aquela visão infantil no povo de que a historia de Cristo está cheia de maus que fizeram mal ao Nosso Senhor, acontece que ninguém percebe que Jesus era apenas mais um revolucionário a abater portanto porque não ser tratado como todo e qualquer criminoso? O filme do Gibson explora e demonstra muito bem toda a parte politica do processo e portanto acho que qualquer critica negativa sobre isso é completamente irreal e só existe porque parece que andava toda a gente a dormir sobre este tema até o filme aparecer.

Eu por mim continuo na minha. Não me converteu pois não encontrei nada no filme que já não conhecesse e portanto não preciso de ver aqueles horrores no ecran para saber que eles existiram. Se existem pessoas que precisaram disso para chegar a uma conclusão sobre a sua propria crença, então só posso lamentar que essas pessoas tenham uma espiritualidade tão limitada apenas ao que lhes disseram ou fizeram crer e nunca tenham procurado aprofundar aquilo em que acreditam.
A mim, o conceito cristão de Deus não me diz absolutamente nada enquanto dentro desse contexto e como tal Jesus para mim foi apenas o protagonista de um facto historico onde ainda existe muito por ser descoberto. Terá ele sido realmente o filho de algum Deus ? Não faço ideia, por um lado espero que sim, por outro espero que não. Não faço ideia, portanto não comento. E o facto de não - acreditar - está apenas ligado ao facto de ainda estar a espera de saber mais sobre o assunto. Agora o facto de não ter qualquer ligação directa ao catolicismo ou a qualquer crença cristã, não significa que ache que o filme foi um mau filme. Acho um filme excelente , mais pelo que atinge do que pelo que representa enquanto cinema.
E por mim qualquer coisa que leve as pessoas a contemplarem o mundo de uma forma mais espiritual e aberta, para mim está optimo. Se precisarem de acreditar numa historia tao mal contada como esta e muitas outras da biblia, perfeito. Como no filme, o que para mim é importante é onde se chega e não aquilo em que se acredita como meio de lá chegar.

Cinco estrelas para o filme, em todos os aspectos.

Muita gente acusa o filme de ser fundamentalista cristão e para mim nada pode estar mais errado. Como habitualmente acho que esse tipo de análises demonstra mais sobre a pessoa que as faz do que sobre o objecto criticado.
Acho o filme apenas um excelente documento "real" - the next best thing - a ter assistido ao acontecimento.
É real e apesar da descrença de quem se recusa a aceitar, a verdade é que coloca muita gente a pensar apesar de á primeira vista parecer um filme vazio de conteudo. Acima de tudo acho que é um filme para o povo e não para as elites, isto intelectualmente falando.

A unica coisa que para mim está a mais lá é o Epilogo. Acho que deveria ter acabado logo na descida da cruz.
Por outro lado, se calhar era necessário um final feliz para fazer muita gente recuperar de ter visto algo em que supreendentemente parece nunca ter alguma vez pensado !!!

Venha o DVD.

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Francesco Zappa
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Post by Francesco Zappa »

Não sei se já viram. Se sim, esqueçam. [:D]

"It's like Mel Gibson's PASSION without all the hassle..."


http://www.jesus-action-figure.com/

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lemor
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Post by lemor »

Finalmente vi o filme ontem e gostei muito.
Sinceramente acho que a parte do flagelo foi um bocado exagerada, ninguém consegue suportar metade daquilo.
Quando cheguei a casa vi na Biblia da minha mulher algumas coisas que foram retratadas no filme.
Impressionante a fidelidade aos factos.
Cinco estrelas. Pena o filme não ter sido maior.



<b>Nunca discutas com um idiota: primeiro, arrasta-te até ao seu
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e_pog
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Post by e_pog »

O filme é fantástico...
creio que até é bastante espiritual sim. Quando Jesus revê mentalmente os seus ensinamentos. E diz algo assim: Amar quem nos ama é fácil, amar o inimigo é que é algo de surpreendente. Isso é que é por a prova uma filosofia.
Eu acho que espiritualmente nada pode ser mais bonito e que o Novo Testamento.
Creio que a nossa civilização se tem algo de humanizada deve-se muito a isso. Direitos humanos, as ajudas humanitarias...etc.
Eu falo dos Valores, há ateus que tem mais valores cristãos que alguns religiosos fervorosos...

Vejam so, é uma religião que fala da importancia da pureza de sentimentos, do não condenarjulgar ninguém (mesmo prostitutas, pobres, criminosos)... As pessoas mais simples eram as que apoiaram Jesus, a maioria dos discipulos eram analfabetos.
Segundo a teologia cristã o paraíso foi criado naquele dia e consequentemente o Inferno. O primeiro a pisar no paraiso foi um criminoso.
Não podemos pensar na Inquisição, nem dos abusos da Igreja. Pois isso vai exactamente contra a filosofia de Jesus. Quem condenou Jesus, quem foi alvo do maior senão o unico momento de sua ira foram os fariseus. Quem enriquecia e aproveitave-se da fé alheia.

Eu acho a historia sublime. Nem que seja so como filosofia.

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