É com carinho que descubro que algo como este forum existe na internet e que não sou o único a olhar com tristeza para a extinção de filmes nas grandes superfícies e uma falência do mercado em Portugal. Tenho 20 anos e a minha infância foi vivida a colecionar e vibrar com DVD's. Rodados infinitamente nos meus vários leitores em casa. Estudava meticulosamente todos os seus componentes, o seu funcionamento fascinava-me. Desde as sequências de menus, à alocação de legendas, até à lógica da divisão em capítulos. Violava todos os botões do comando e o meu vício estendia-se até a testes menos ortodoxos, como efetuar alguns riscos estratégicos em DVD's que me interessavam menos apenas para avaliar o impacto que os riscos localizados teriam na visualização (não culpemos uma criança de 7/8 anos por tal atividade - aprendi que era errado da melhor forma, ao riscar um DVD de um obviamente extinto clube de vídeo pelo qual o meu pai pagou uns maravilhosos 50€
). Eu gostava tanto dos filmes, como do conceitos dos DVD's em si, era isso que me movia. Esta paixão, ainda no campo de atividades pouco ortodoxas, estendia-se a obrigar os meus pais a levar um leque de filmes de feiras (naturalmente piratas) a 5€. Era sagrado. Não havia feira a que fossemos em que eu não obrigasse os meus pais a comprarem filmes naquelas caixinhas fininhas, com plásticos cheios de pó, capas falsas e mal arrumadas e um inconfundível cheirinho a plástico. Era um ritual chegar a casa e correr para o leitor para fazer, naturalmente, a avaliação da qualidades dos filmes que comprei. Era sempre fantástico averiguar o tipo de menu que os piratas construíram (se algum), as legendas que embutiram (pasmem-se, era raríssimo o caso em que vinha sem legendas em português, há que olhar ao cuidado que tinham num serviço a preço mínimo, sem devoluções 
) e a minha adorada divisão em capítulos. E claro. Se foi gravado numa sala de cinema e eu podia ter a experiência cinematográfica de ver as cabeças de pessoas aleatórias à frente da tela. Aconteceu-me com a Idade do Gelo 3! Nunca esquecerei, por mais o DVD tivesse ido para o lixo. A taxa de aproveitamento não era má, ainda assim. Era divertido para mim ver quais funcionavam e geralmente, dos 3 a 5 adquiridos, 1 a 2 não funcionavam bem, sendo que a minha escolha foi sendo mais apurada com o tempo e já tinha identificado o padrão de que filmes mais recentes tendiam a ter piores condições. Engraçado, hoje em dia pago legalmente por filmes aquilo que por vezes pagava nessas feiras, sendo que tenho as minhas dúvidas quanto à existência de venda de filmes ainda nessas feiras. Enfim, cheguei aos 11/12 anos, o hábito foi-se perdendo. Também deixei de ter, com o tempo, um leitor no meu quarto. Mas guardei praticamente todo o meu arquivo. Legalmente, o catálogo ultrapassa os 100 filmes. Os filmes piratas de feiras, que têm boa qualidade, devem andar entre 200 e 300. Também ocupam menos espaço
Cheguei aos 19 anos e, na faculdade, já com esta minha paixão deixada para trás, apenas tinha a noção de que se vendiam menos e eram baratos. Um amigo que fiz, ao qual por acaso falei desta minha paixão de infância, levou-me a um sítio para ele predileto: CashConverters. Desconhecia, e adorei. Passou a ser para nós um espaço a frequentar de quando em vez. O meu arquivo tem crescido, legalmente, e a preços da chuva, com descobertas maravilhosas. É exigente perder tempo a analisar minuciosamente os diferentes títulos no meio daquelas prateleiras infindáveis e aparentemente sem nada de interessante, para poder encontrar um título bem guardado, que me conquista, que estava escondido, e que custa 1€. Não trago grandes quantidades, mas comecei este ano, e este ano já adquiri em torno de 20 nestas condições. E o hábito está a renascer. Agora envolvendo uma busca mais minuciosa, um chegar a casa e abrilhantar a capa, se necessário limpar o disco, e distribuir a experiência durante alguns dias. São filmes também de uma época que me apaixona, os anos 2000.
Neste caso, o mercado está perfeito para mim. Preços baixíssimos, que vendem tesourinhos que aprecio, nos sítios onde procuro. E acredito que a falência dos DVD's demore mais a chegar aqui. Mas preocupa-me e entristece-me.
Apesar de novo, sou um velho do restelo quanto a Blu-Ray. Quando chegou em massa a Portugal, estava a deixar de consumir DVD's e nem havia interesse em pagar mais por filmes que tinhamos por preços mais baixos. Nunca comprei um filme Blu-Ray. Nunca usei um. Nunca tive um leitor. Nunca nada. Mas não me sinto mal por isso, os DVD's enchem-me bastante as medidas com a vibe 2000 que tanto aprecio.
Termino por dizer que, curiosamente, a minha última compra até foi no Intermarché da minha terrinha na zona oeste, por apenas 2,95€, em que comprei uma edição de 2 discos da Guerra dos Mundos com Tom Cruise.
Claro que na embalagem ainda vinha um "19,95€" que na caixa passava com o preço atualizado de 2,95€. Sim, aquele filme deverá estar nos armazéns do Intermarché desde 2005, com o preço original ainda na capa. E viu a luz do dia este ano, pois das últimas vezes que passei na única prateleira do armário destinada a DVD's, ou eram DVD's infantis ou documentários. De qualquer forma, isto é suposto ser uma pequena apresentação minha. Sou o Tiago e tenho 20 anos. E provavelmente vou dar uma exploradelazinha neste forum. Obrigado por existirem!