Desabafos... (Off-TopiC)

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Rui Santos
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Rui Santos »

Volta e meia quando meto um dvd no leitor... e levo com o vídeos dos roubos, e depois com as legendas coladas... acho que me dá vontade de...
Há coisa que são mesmo tão parvas que não dá para comentar... ao menos essa prática foi desaparecendo.... lol... até as legendas foram desaparecendo Grr:-)
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by PanterA »

O famoso: "você nunca roubaria um carro.":lol:
technicolor
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

Bom, não é disso que me queixo aqui :mrgreen: mau-)
É de que a edição é tão basica que já vi pirataria mais bem "conseguida" lol ; nem um menu básico, com os capítulos e a opção de subtitles on/off , nadinha. Ok custa 12 euros e daqui por 3 meses se sobrar parte da edição estará a 2 ou 3 , mas caramba não me parece uma boa prática editorial/comercial. Não posso garantir mas não me parece que os espanhóis façam o mesmo. Quanto à publicidade anti-pirataria, já só muito raramente me aparece, mas não deixou saudades nails-)
O filme até é bonzito ... :|
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

technicolor wrote: July 18th, 2019, 9:55 pm Hoje comprei o ...
Verão / "Leto" da Films4You (DVD)
Que edição tão pobrezinha :shock: nada de menus (mete-se o disco e começa logo o filme) e legendas hardcode ( pelo menos não encontrei meio de as desactivar) mau-)
É a prática agora recorrente da Films4You, que 4 ou 5 meses depois despeja esses filmes a 99 cêntimos nos Jumbos.

Eles até anunciam na contracapa a ausência de menus, como se fosse um feito tecnológico.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

rui sousa wrote: July 23rd, 2019, 1:01 am Eles até anunciam na contracapa a ausência de menus, como se fosse um feito tecnológico.
Não tinha reparado :o Bom pelo menos foram honestos :mrgreen:

Se calhar deveriam pensar em produzir em co-edição com outro país que tenha também um mercado da mesma dimensão ( sei lá, a Grécia por exemplo, imagino que lá as editoras pequenas tenham o mesmo problema de "tiragens" muito reduzidas), repartiam os custos (de produção) e era só acrescentarem um pequeno ficheiro (digo eu).
Não sei se contratualmente é viável mas nestes casos acredito que os cedentes (dos direitos) não se iriam importar muito...

De qualquer maneira admiro-lhes a coragem de porem no mercado um filme destes salut-)
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

Peço desculpa por meter-me na conversa mas queria só dizer que partilho totalmente do vosso descontentamento com a Films4You. O meu DVD do Amélie é a edição especial de 2 discos editada pela Films4You. Já aqui disse que sou muito esquisito com as capas. São a primeira coisa que vemos e que tocamos quando pegamos no DVD para o abrir. É o "cartão de visita", como as capas dos livros. Por isso, a edição que queria era a edição especial de 2 discos da Atalanta Filmes com o cartaz do filme mas na altura não estava à venda, por isso, mesmo odiando a capa da edição da Films4You que é horrível com aquele zoom enorme na cara da Audrey Tautou e o título escrito em cima, acabei por comprá-la porque queria mesmo ter o Amélie em DVD. Pelos vistos, como vocês estão a dizer, já nem menus fazem! É incrível realmente... No Amélie, o menu é a coisa mais "sem sal" e banal que há. É composto simplesmente por isto: um fundo verde, tal como o fundo verde do cartaz do Amélie e as várias palavras para se seleccionar "filme, capítulos" e os títulos dos extras tudo escarrapachado no fundo verde sem ordem nenhuma e sem o mínimo gosto. Não quiseram ter trabalho nenhum. Vá lá que acho que tem os mesmos extras da edição da Atalanta... Por enquanto continuo com esta edição mas, assim que puder, livro-me dela. Sempre que tiver alternativa melhor, nunca mais compro nada desta distribuidora. teimoso-) A dada altura, nao sei quando, a Atalanta reeditou o DVD do Amélie mas mudou a capa e, na minha opinião, estragou-a. Tiraram o fundo verde do cartaz e substituiram por um fundo negro, tiraram o tipo de letra do cartaz e fizeram isto:


Image


Com esta capa, não compro. mau-)

Esta sim:

yes-)

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Infelizmente, ainda tinha VHS quando a edição saiu em 2002... senão tinha-a comprado logo. o-( Tenho de comprá-la um dia no OLX ou assim.
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Rui Santos
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Rui Santos »

É uma excelente edição sem dúvida. É a que tenho. :)
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technicolor
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

Ah, então és tu o outro DVDmaníaco com problemas com as capas feias, eu sabia que não era o único :lol:
Compreendo-te perfeitamente pois também gosto do filme e odiei a k. por isso encomendei uma "custom" orgulho-)
A minha edição é a francesa, blu-ray.

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Não, não estou a gozar, mais pormenores sobre este assunto no tópico " Pancas de coleccionador " salut-)
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

technicolor wrote: July 23rd, 2019, 11:52 pm Ah, então és tu o outro DVDmaníaco com problemas com as capas feias, eu sabia que não era o único :lol:
Compreendo-te perfeitamente pois também gosto do filme e odiei a k. por isso encomendei uma "custom" orgulho-)
A minha edição é a francesa, blu-ray.

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Não, não estou a gozar, mais pormenores sobre este assunto no tópico " Pancas de coleccionador " salut-)


Join the club! :mrgreen:

Essa capa do Amélie é muito boa! yes-) Se a Atalanta queria mudar a capa, podiam ter feito algo nos moldes dessa. Uma montagem de frames do filme. Ao centro a Amélie, por cima a Amélie quando era miúda (uma das melhores frames do filme), ela com o Nino e o café des deux moulins em baixo. Uma montagem bem feita. Perfeito! Agora a da Atalanta com o fundo negro (uma cor que não associo e que ninguém associará ao ambiente do filme) e aqueles ramos e folhas coloridos atrás da Audrey Tautou. Para quê aquilo? Não estão ali a fazer nada aqueles ramos... e nem falo mais do título... todo alterado e encostado à esquerda... Foi uma decisão completamente estúpida e absurda.

Já agora mostro a capa horrível da edição da Films4You que comprei há uns 4 ou 5 anos:

Image


A frame da Amélie que está no cartaz com um zoom do caraças na cara... e nem puseram o acento no primeiro 'e' de Amélie... Isto nem parece que foi feito por um departamento gráfico de uma distribuidora, parece a capa de um bootleg...
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

technicolor wrote: July 23rd, 2019, 11:13 am
rui sousa wrote: July 23rd, 2019, 1:01 am Eles até anunciam na contracapa a ausência de menus, como se fosse um feito tecnológico.
Não tinha reparado :o Bom pelo menos foram honestos :mrgreen:

Se calhar deveriam pensar em produzir em co-edição com outro país que tenha também um mercado da mesma dimensão ( sei lá, a Grécia por exemplo, imagino que lá as editoras pequenas tenham o mesmo problema de "tiragens" muito reduzidas), repartiam os custos (de produção) e era só acrescentarem um pequeno ficheiro (digo eu).
Não sei se contratualmente é viável mas nestes casos acredito que os cedentes (dos direitos) não se iriam importar muito...

De qualquer maneira admiro-lhes a coragem de porem no mercado um filme destes salut-)
Creio que isso é possível, sim. Pelo menos acontece na edição de livros. A G Floy é uma editora de BD que existe cá e na Polónia, e eles fazem tiragens de livros que interessam a ambos os países, repartindo assim os custos de produção.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

Como é possivel "isto"? :shock: :twisted: grr-)

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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

O meu desabafo hoje é um desabafo longo. Vou tentar que não seja tão longo mas vou tentar sintetizar. Estou muito preocupado com o futuro do Cinema e a minha preocupação está ligada com o Netflix. A esmagadora maioria das pessoas no nosso país e no mundo está muito entusiasmada com o Netflix e com as coisas fantásticas que está a fazer, a facilidade e rapidez que traz no acesso aos filmes, o apoio a produções que talvez de outra forma não conseguissem ser feitas, a diversidade. Pessoalmente, não partilho desse entusiasmo. Tenho, pelo contrário, bastante receio. Não tenho Netflix. Sou extremamente céptico relativamente a ele. No geral, o facto de algo ser cómodo e rápido traz sempre mais tarde um custo e esse custo é muitíssimo maior do que o benefício e pode ser terrível. Fico aterrado quando vejo relatos de pessoas no Reino Unido que subscreveram o Netflix e venderam todos os DVDs e blu-rays que tinham. Um dia vão arrepender-se... O Netflix é instável e tem uma selecção de filmes limitada e a qualidade do streaming não é tão boa como a pintam... E se um dia querem ver ou rever um filme e a net vai abaixo? Não há Netflix para ninguém. Afinal ter os filmes em formato físico até não é mau, pois não?

Não acho que o Cinema vai acabar por causa do digital, não acho que vai acabar pelo monopólio dos grandes estúdios (refiro-me a Hollywood, o peso dos produtores dos grandes estúdios gera um problema muito grande mas de outra ordem). Oxalá eu me engane mas receio muito mas muito mesmo que o Cinema vá acabar por causa do Netflix. Vai destruir tudo. Vai destruir tudo e acho que as pessoas, cegas e fascinadas por tudo o que o Netflix oferece, ainda não perceberam isso. O Netflix distribui filmes só que, como se viu no caso do Roma do Cuarón, não quer que os filmes distribuídos por eles sejam exibidos nas salas de cinema. Quer que eles estreiem directamente (e só) na plataforma de streaming. Não pode ser. Houston, we have a problem. Só por isto deviam ter soado muito mais alertas vermelhos do que aqueles que soaram... Cannes percebeu o que se estava a passar e por isso impuseram-se ao Netflix e muito bem.

Mais: querem que os filmes que eles distribuem (e que não querem que vão para as salas) possam competir nos festivais de cinema em pé de igualdade com os filmes que estreiam nas salas. Não pode ser. Daí o conflito que houve entre o director de Cannes e o Netflix por causa do Roma. Felizmente há uma coisinha em todos os países chamada Lei do Cinema que o Netflix quer circundar ou prefere desconhecer e que são claras: os filmes têm de estrear nas salas de Cinema para serem vistos por toda a gente. Depois de fazerem o circuito das salas e deixarem de estar em exibição, as distribuidoras e os estúdios podem fazer o que quiserem com eles. Agora, para as salas têm de ir. Nem que seja uma semana (acho que em França o período mínimo de exibição é uma semana). O primeiro destinatário dos filmes são as salas de cinema. É lá que são projectados para toda a gente ver. Toda mesmo. Dir-me-ão: "ah mas nas salas de cinema paga-se bilhete para ver os filmes, não é gratuito". Pois é. Mas após os filmes sairem de exibição, são distribuidos em formatos físicos onde temos a liberdade de escolha de comprá-los ou não, caso queiramos ou não tê-los. Mas ficam acessíveis para todas as pessoas sem excepção. Todas. Sem restrições de cor de pele, idade, sexo, altura ou peso. Todos. Nas salas e nas lojas. O Netflix não quer nada disso com os filmes deles. O Netflix quer pôr os filmes directamente na plataforma e dali não saem. Só vê os filmes quem for subscritor. Quem não for e queira ver os filmes, não vê. Se quer ver, tem de subscrever de propósito só para ver o filme. Isto é absurdo e muitíssimo perigoso. O Cinema é uma arte, mesmo o que faz muito dinheiro, e a arte é pública. Após estar terminada, é disponibilizada ao público para ver e toda a gente tem a oportunidade de ver. Sublinho outra vez porque é muito importante. Toda a gente. Não é só para quem subscreve um serviço. Ah pois: é que o Netflix não quer lançar em formatos físicos os filmes que distribui. Nem em DVD nem em nenhum outro formato. Esta é a minha outra grande preocupação... Isto no fundo é uma privatização do Cinema. O Netflix está apostado em destruir o Cinema como ele é e sempre foi e quer destruir também a distribuição dos filmes em formato físico. Quer destruir o formato físico mesmo. Eu posso não querer ver alguns filmes no cinema mas se os quiser ter em formato físico, quero ter a possibilidade de comprá-los, de poder tê-los em formato físico. O Roma já saiu em algum formato físico? Da última vez que procurei, ainda não tinha saído, apesar dos milhentos pedidos que já houve. E vamos ver o que vai acontecer com o The Irishman do Scorsese... Quem subscreve o Netflix está a dar força a esta máquina. O Netflix só quer dinheiro, não quer saber do Cinema para nada. É um predador que quer destruir tudo à sua volta. Se isto pega, as salas de cinema vão fechar todas e será o fim do Cinema e dos formatos físicos todos. DVD, blu-ray, 4K. Tudo. Não vai sobrar nada. Com o caminho que isto leva, só vai haver um estúdio de cinema em Hollywood: a Disney. Pegando na frase do Lord of the Rings: One studio to rule them all. A Disney é como o tubarão do Jaws. Come tudo e todos. Se isto continua assim, no futuro só haverá a Disney e o Netflix.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Samwise »

Interessante reflexão e desabafo.

Mesmo não concordando contigo em muito daquilo que prevês que venha a ser o futuro do Cinema (ou melhor, a inexistência de um futuro para o Cinema), concordo que para certas pessoas mais puristas e mais exigentes o futuro não será tão agradável quanto poderia ter sido caso o formato físico e a experiência em sala não estivessem lentamente a ser engolidos pelas plataformas digitais.

Não partilho contudo da tua opinião de que a Netflix vai "destruir tudo". Penso que vai ser ao contrário - aliás, creio que as plataformas digitais farão a longo prazo muito mais pele preservação do Cinema do que sucederia sem elas. Imagina-te um cinéfilo há 40/50 anos anos (e mais para trás ainda). Que hipóteses de escolha tinhas ao teu dispor se quisesses ver um qualquer filme assim de repente? Nada, nenhuma. Ou o filme passava na televisão (com muitíssima sorte), ou então azar. Se quisesses muito ver e ter à disposição umas quantas centenas de títulos, a frustração era mesmo muito grande, durante muitos anos seguidos. O caminho que tem sido feito é o do acesso e da disponibilização de cada vez mais hipóteses de escolha a nível o indivíduo, e no momento do instante. A Netflix é apenas um player no mercado. Há outros, e hão de surgir muitos mais. O comum cidadão que não tem as exigências de um cinéfilo ou de um coleccionador passa bem com a menor qualidade do streaming, no conforto do lar, e com milhares de títulos instantaneamente à escolha (com séries pelo meio), mesmo que não haja um ou outro título "mais antigo" que não constam do catálogo.

Também não concordo com a tua ideia de que "os filmes devem ser lançados em sala para poderem ser vistos por toda a gente" - neste momento é quase o contrário disso - vão chegar a muito mais gente é através das plataformas digitais. O facto de um filme estar disponível em sala não significa que esteja disponível para toda a gente (pensa quem mora longe dos centros urbanos e quem não tem um cinema com várias salas por perto), nem sequer que a sala de cinema seja o formato mais apetecível para quem queira ver os filmes, mesmo morando perto. "Só vê filmes quem for subscritor", certo, tal como só vê filmes no cinema quem pagar bilhete, de entre as pessoas que morarem perto das salas E, mesmo essas, pagam se calhar tanto para ver 1 filme em sala como um subscritor de Netflix durante um mês inteiro em que pode ver tudo o que tem à disposição no catálogo. Qual destas realidades é mais democratizadora, e chega a mais gente?

Há ainda o problema do monopólio... mas há mesmo? A meu ver, não, não há. Há empresas mais poderosas que outras, algumas a crescer, outras a desaparecer - aquilo que me parecem flutuações normais num mercado livre e cada vez mais global (há umas décadas atrás eram 5 grande estúdios que tudo dominavam e devoravam - e desde aí já passámos por uma quantas fases "evolutivas" diferentes que parecem vir sempre matar tudo o que existia até então. A Disney vai crescer, e comprar e crescer,... até um dia deixar de o poder fazer. Mas não faltarão nunca milhares de alternativas de produção.

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«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by JRibeiro »

O futuro do entretenimento será dominado pela Disney (EUA) e Tencent (China). A Netflix está a começar a ter concorrência pesada (Amazon, HBO Max, NBC U, Warner, Hulu, etc) e vai perder grande parte da sua biblioteca de títulos, ficando quase só com aquilo que produz. Actualmente as séries mais vistas na Netflix (The Office e Friends) pertencem a outras produtoras que vão lançar os seus próprios serviços de streaming.
‎"You're not your Facebook status. You're not how many friends you have. You're not the smart phone you own. You're not the apps of your phone. You're not your fucking iPad. You're the all-planking, e-consuming crap of the world."
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

Samwise wrote: August 23rd, 2019, 2:39 am
Não partilho contudo da tua opinião de que a Netflix vai "destruir tudo". Penso que vai ser ao contrário - aliás, creio que as plataformas digitais farão a longo prazo muito mais pele preservação do Cinema do que sucederia sem elas. Imagina-te um cinéfilo há 40/50 anos anos (e mais para trás ainda). Que hipóteses de escolha tinhas ao teu dispor se quisesses ver um qualquer filme assim de repente? Nada, nenhuma. Ou o filme passava na televisão (com muitíssima sorte), ou então azar. Se quisesses muito ver e ter à disposição umas quantas centenas de títulos, a frustração era mesmo muito grande, durante muitos anos seguidos. O caminho que tem sido feito é o do acesso e da disponibilização de cada vez mais hipóteses de escolha a nível o indivíduo, e no momento do instante. A Netflix é apenas um player no mercado. Há outros, e hão de surgir muitos mais. O comum cidadão que não tem as exigências de um cinéfilo ou de um coleccionador passa bem com a menor qualidade do streaming, no conforto do lar, e com milhares de títulos instantaneamente à escolha (com séries pelo meio), mesmo que não haja um ou outro título "mais antigo" que não constam do catálogo.

Em que medida, no teu entender, as plataformas digitais farão pela preservação do Cinema?

Não preciso de imaginar. O meu pai, que não é nenhum cinéfilo, via filmes há 50 anos e ele contou-me como era, por isso tenho uma ideia bastante boa de como era. Salas de cinema? O meu pai só viu filmes pela primeira vez em salas de cinema quando foi trabalhar para Lisboa no final dos anos 70. Na vila da província os filmes eram projectados numa sociedade recreativa num écran que tinha falhas às vezes. A alternativa era um lençol estendido. A frustração era nenhuma. Não existia. Nessa altura nem se sonhava que seria um dia possível ver os filmes em casa. Nem cá nem nos Estados Unidos. As prioridades eram pôr a comida na mesa, cama e roupa lavada. Mas também... com a quantidade de filmes estrangeiros que foram censurados durante a Ditadura, seria muito difícil ser cinéfilo em Portugal nos anos 60. Sem falar de que muitos filmes que estavam em exibição em Lisboa não chegavam sequer aqui ao Alentejo ou se chegavam era tardíssimo. O que é que passava na vila onde o meu pai viveu, quer no "cinema", quer na televisão? As merdas das comédias portuguesas dos anos 40 como o Pátio das Cantigas, Westerns ou os grandes épicos em Technicolor como os Ten Commandments do Cecil B. DeMille ou o Ben-Hur. Nem toda a gente podia fugir da Ditadura, exilar-se em Paris e ir à Cinemathèque ver os Renoirs, os Carnés ou os Fellinis. Os primeiros formatos físicos de armazenamento de imagem só surgiram nos Estados Unidos no final dos anos 70/início dos anos 80.

Eu sei que a Netflix não é a única, o que torna a situação ainda pior. A escolha que a Netflix proporciona é limitada. Do que sei das minhas leituras, os filmes que eles têm são os óbvios (as novidades, os super-heróis, blockbusters, as comédias românticas da treta, filmes que ganharam óscares e pouco mais e tudo muito centrado em Hollywood). Pode haver milhares de filmes mas se só houver milhares de filmes dentro de um só segmento, de que é que isso serve? E parece que os filmes não ficam na plataforma para sempre. Li relatos de pessoas que foram rever no Netflix um filme que tinham visto lá anteriormente e que, na hora de seleccioná-lo, já lá não estava. A Netflix retirou-o do dia para a noite e não deu qualquer explicação para isso.




(pensa quem mora longe dos centros urbanos e quem não tem um cinema com várias salas por perto)

Pois penso. Eu até sou uma dessas pessoas. Vai ao meu perfil ver onde moro. Uma hora e meia de Lisboa. Há quem viva bem mais longe de Lisboa do que eu mas confesso que dava jeito que fosse ainda mais perto. :-P Por cá estivemos 8 anos sem cinema comercial, em virtude de ter fechado o único centro comercial da cidade (com 2 salas). Só há um ano e meio é que voltámos a ter cinema comercial quando finalmente abriu o único (e novo) shopping da cidade. Agora temos 10 salas. Nos últimos 8 anos só tivemos uma sala de cinema. Um auditório que passa exclusivamente cinema de autor e que, felizmente, ainda continua a resistir de portas abertas.



nem sequer que a sala de cinema seja o formato mais apetecível para quem queira ver os filmes, mesmo morando perto. "Só vê filmes quem for subscritor", certo, tal como só vê filmes no cinema quem pagar bilhete, de entre as pessoas que morarem perto das salas E, mesmo essas, pagam se calhar tanto para ver 1 filme em sala como um subscritor de Netflix durante um mês inteiro em que pode ver tudo o que tem à disposição no catálogo. Qual destas realidades é mais democratizadora, e chega a mais gente

Verdade. Por isso faço questão de comprar o DVD. Não quero é que me "obriguem" a subscrever um serviço só para ver um filme porque a Netflix não quer lançá-lo em formato físico. Há pessoas que sacam filmes da net mas depois quando gostam realmente deles e querem tê-los, compram-nos em formato físico. Há quem compre. Há quem faça questão de ter o filme consigo e não ser só um ficheiro no computador. Não vi o Roma no cinema, tinha muita curiosidade em ver mas esperei para quando estivesse em DVD. Só que quase de certeza que não vai sair em DVD nem em nenhum outro formato porque o Netflix só quer que o Roma esteja na plataforma. Não quero pagar um serviço mensal de vários filmes só para ver um. Era o que faltava. Isto é absurdo. Assim estou impedido de ver o Roma. Isto limita a minha liberdade, para além de ser um claro incentivo à pirataria. O fruto proibido é sempre o mais apetecido. É que se é assim, mais vale sacar da net ou ver num streaming gratuito. Posso ver à mesma no conforto do lar e a imagem tem qualidade de DVD. Nem preciso de legendas, o meu nível de Inglês é C2, percebo tudo o que os actores dizem. Para ter em DVD, pago. Agora pagar para ver um streaming, não. Repara: eu não defendo que a Netflix não ponha um filme deles na plataforma. Acho é que, em primeiro lugar, antes de ir para a plataforma, tem de ir para as salas. Depois de fazer as salas é que pode ir para a plataforma. E, tendo sido exibido nas salas, tem de ser lançado em formato físico. Um filme do Netflix pode perfeitamente sair em formatos físicos e, ao mesmo tempo, estar na plataforma. Assim não prejudica quem não quer subscrever o Netflix só para ver esse filme. E eles podem editar DVDs. Não é porque eles não possam, é porque não querem. Eles têm rios de dinheiro e podem fazer edições dos filmes que distribuem como qualquer distribuidora faz. Não fazem porque não querem. As subscrições ao nível mundial dão-lhes tanto dinheiro que podem dar-se ao luxo de nem sequer distribuírem os filmes em DVD, blu-ray, etc. E a produtora do Roma não tem uma palavra a dizer sobre isto? Não tem voto na matéria? Só o Netflix é que tem a faca e o queijo na mão? Distribuidora vem da palavra distribuir. Distribuir é dividir. Fazer vários exemplares de uma coisa e fornecer às pessoas. As pessoas depois fazem a sua escolha de comprar ou não mas o filme tem de estar cá fora, visível, palpável. Agora filmes exclusivos numa plataforma? Quero senti-lo. Ver uma caixa de DVD, mexer, tocá-la, ver os discos, saber que a obra está ali dentro. Comprá-lo. Saber que é meu. Se um filme só está numa plataforma de streaming, nunca o irei sentir como meu. Irei sempre encará-lo como sendo deles (Netflix). Não acho que seja uma evolução. Acho que é uma regressão porque eles querem transformar algo que é visto por todas as pessoas para algo que é visto só por algumas. As pessoas hoje só pensam no imediato, no curto prazo. Não querem coisas que ocupem espaço. As caixas de DVD e blu-ray de facto ocupam espaço mas o que está ali é para sempre. Fica connosco para sempre e pode-se recorrer a ele a qualquer altura na certeza de que está lá. Na Netflix não. Hoje está mas amanhã pode não estar. Sou adepto da tecnologia mas acho que actualmente já está a ficar demais. Está a faltar bom senso.


Para mim, a Netflix sõ tem uma vantagem. É uma alternativa ao sistema em circuito fechado de Hollywood e com muito dinheiro para financiar certos filmes que no sistema de Hollywood seriam impossíveis de serem feitos. Eles dão essa liberdade aos realizadores de fazerem o que querem e eles precisam de sentir essa liberdade para poderem criar. O Scorsese quis fazer o The Irishman pela Paramount. Foi à Paramount e disse que precisava de 200 ou 300 milhões de dólares para fazer o filme. Recusaram. Era muito dinheiro. Dão-me sempre vontade de rir estas atitudes dos presidentes dos estúdios e dos produtores de Hollywood. Como se fossem muito pobres e não pudessem dar o dinheiro e como se o Scorsese fosse um miúdo de 20 anos acabado de sair da escola de cinema e fosse fazer o primeiro filme. Eu sei porque é que recusaram e ele também... os filmes dele nunca ou muito raramente renderam de bilheteira mais do que o dinheiro que custaram a fazer e a Paramount não quis perder dinheiro como ficou a perder com o Silence. Para Hollywood, fazer box office é tudo, mesmo que o realizador seja genial e uma lenda viva com uma carreira que fala por si como o Scorsese. Se o filme não rende mais do que custa, escorraçam o realizador, seja quem for. É claro, depois ele foi à Netflix e disseram-lhe "200 milhões de dólares? é para já". Se a Netflix se comportar como no Roma do Cuarón e depois não lançarem no mínimo um DVD do The Irishman, vão haver revoltas... Scorsese, Robert de Niro, Al Pacino e Joe Pesci e isto não sair em formato físico? Vai ser bonito...



Há ainda o problema do monopólio... mas há mesmo? A meu ver, não, não há. Há empresas mais poderosas que outras, algumas a crescer, outras a desaparecer - aquilo que me parecem flutuações normais num mercado livre e cada vez mais global (há umas décadas atrás eram 5 grande estúdios que tudo dominavam e devoravam - e desde aí já passámos por uma quantas fases "evolutivas" diferentes que parecem vir sempre matar tudo o que existia até então. A Disney vai crescer, e comprar e crescer,... até um dia deixar de o poder fazer. Mas não faltarão nunca milhares de alternativas de produção.

São flutuações são... Daqui a uns anos vais ver. infelizmente, o tempo vai dar-me razão. Ora pois, quando já não houver mais estúdios para comprar, a Disney já não compra mais. Pudera! :-P Sendo que, tendencialmente, tudo o que a Disney compra, estraga. E entretanto a concorrência desaparece toda. Tudo para rivalizar com o Netflix. Eles ficam sempre bem, quem sofre somos nós.

Hollywood está a dar as últimas. Está numa fase extremamente parecida com aquela em que estava no final dos anos 60, em crise profunda devido à concorrência brutal da televisão e com uma profunda falta de ideias. Quase tudo o que punham cá para fora eram os mesmos temas reciclados. Está tudo igual com uma diferença. Agora são os filmes de super-heróis que dominam tudo. Isto tem de mudar e, a meu ver, passa pelos presidentes dos estúdios voltarem a dar os comandos aos realizadores como nos anos 70.
Last edited by Helder Fialho on August 24th, 2019, 3:12 am, edited 11 times in total.
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