Maurice (1987) - James Ivory

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No Angel
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Maurice (1987) - James Ivory

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https://www.imdb.com/title/tt0093512/

https://en.wikipedia.org/wiki/Maurice_(film)


Aqui fica o tópico do filme, para não andarmos a fazer off-topic no noutro tópico! yes-)

Vou aproveitar também para rever o filme, já que há várias coisas que já não me lembro bem.
No Angel
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by No Angel »

Revi hoje o filme, e resistiu ao teste do tempo, continua tão bom como quando o vi pela primeira vez! yes-)

Há alguns pormenores que achei piada, como na cena inicial do filme o Maurice dizer logo ao professor que não se iria casar, e assim foi :lol:
Samwise
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by Samwise »

Watching... (1 hour into, and so far, so good)
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by No Angel »

Samwise wrote: January 12th, 2019, 12:49 pm Watching... (1 hour into, and so far, so good)
Eu sabia que ias gostar yes-)

O final é muito bom (para mim pelo menos, não sei se tu vais gostar).
Samwise
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by Samwise »

No Angel wrote: January 12th, 2019, 1:03 pm
Samwise wrote: January 12th, 2019, 12:49 pm Watching... (1 hour into, and so far, so good)
Eu sabia que ias gostar yes-)

O final é muito bom (para mim pelo menos, não sei se tu vais gostar).
Terminei. Gostei do final e gostei do filme todo - achei mesmo muito bom (nota final 9/10). Do Ivory apenas tinha visto o Howards End e o The Remains of the Day, e tendo gostado de ambos, achei este Maurice uma obra superior.

Tenho uma pequena queixa a ver com a uma certa tendência para o filme servir de "ilustração", ou seja, dá-me ideia que o Merchant e o Ivory, que eram parceiros/amantes na vida real, e que viveram longe dos holofotes públicos durante a maior parte da sua vida comum, exactamente por causa da forte intolerância social, quiseram neste filme, e para a além do simples narrar de uma história de amor (ou várias), apresentar e denunciar as mais variadas formas de preconceito e intolerância que a homossexualidade origina em Inglaterra, amplificadas ainda pela época retratada, em que a prática da orientação era considerada crime e punida com prisão. Para alguém pertencente à aristocracia, tal "rótulo" significava a vergonha pública e praticamente a exclusão de todos os privilégios sociais que de outra forma estariam assegurados, bem como uma mancha a pairar também sobre a família do "acusado". No Maurice, a personagem principal sente na pele todas as formas de preconceito e passa por praticamente todos os obstáculos que a sociedade podia erguer. Não que ache que sejam irreais, mas acho que uma ou outra sequência era desnecessária e não acrescenta nada ao filme.

De resto, ultra-recomendado. Vindo de onde vem, parece-me um clássico algo à frente do seu tempo, e é um filme que tem o forte cunho autoral "de prestígio" e bom gosto por que é conhecida a dupla Merchant-Ivory. Aqui, pelo menos, resulta bem.
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by No Angel »

Samwise wrote: January 14th, 2019, 8:21 pm
No Angel wrote: January 12th, 2019, 1:03 pm
Samwise wrote: January 12th, 2019, 12:49 pm Watching... (1 hour into, and so far, so good)
Eu sabia que ias gostar yes-)

O final é muito bom (para mim pelo menos, não sei se tu vais gostar).
Terminei. Gostei do final e gostei do filme todo - achei mesmo muito bom (nota final 9/10). Do Ivory apenas tinha visto o Howards End e o The Remains of the Day, e tendo gostado de ambos, achei este Maurice uma obra superior.

Tenho uma pequena queixa a ver com a uma certa tendência para o filme servir de "ilustração", ou seja, dá-me ideia que o Merchant e o Ivory, que eram parceiros/amantes na vida real, e que viveram longe dos holofotes públicos durante a maior parte da sua vida comum, exactamente por causa da forte intolerância social, quiseram neste filme, e para a além do simples narrar de uma história de amor (ou várias), apresentar e denunciar as mais variadas formas de preconceito e intolerância que a homossexualidade origina em Inglaterra, amplificadas ainda pela época retratada, em que a prática da orientação era considerada crime e punida com prisão. Para alguém pertencente à aristocracia, tal "rótulo" significava a vergonha pública e praticamente a exclusão de todos os privilégios sociais que de outra forma estariam assegurados, bem como uma mancha a pairar também sobre a família do "acusado". No Maurice, a personagem principal sente na pele todas as formas de preconceito e passa por praticamente todos os obstáculos que a sociedade podia erguer. Não que ache que sejam irreais, mas acho que uma ou outra sequência era desnecessária e não acrescenta nada ao filme.

De resto, ultra-recomendado. Vindo de onde vem, parece-me um clássico algo à frente do seu tempo, e é um filme que tem o forte cunho autoral "de prestígio" e bom gosto por que é conhecida a dupla Merchant-Ivory. Aqui, pelo menos, resulta bem.
Mas essa ilustração era importante, pois a homossexualidade era crime e considerada uma doença mental, sem ilustrar isso muitos espectadores não iriam entender as reações ou os comportamentos das personagens.

Uma coisa que eu acho interessante, é que para além da sexualidade, o filme aborda a questão de classe. O romance do Maurice e do Alec quebra não só o tabu da homossexualidade como o da classe (que na aquela época era MUITO acentuado, tanto que ele no inicio até o tratava com um certo desprezo).

O filme foi adaptado de um livro (que não li), e foi inspirado numa história de um casal real, não tem a ver com o Ivory...

"Forster was close friends with the poet Edward Carpenter, and upon visiting his Derbyshire home in 1912, was motivated to write Maurice. The relationship between Carpenter and his partner, George Merrill, was the inspiration for that of Maurice and Alec Scudder"

https://en.wikipedia.org/wiki/Maurice_(novel)
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by Samwise »

Um artigo sobre o James Ivory que li na altura em que saiu o Call Me By Your Name (julguei que o tinha partilhado aqui, mas aparentemente não):

https://www.theguardian.com/film/2018/m ... ame-nudity
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by Samwise »

No Angel wrote: January 14th, 2019, 8:33 pm Mas essa ilustração era importante, pois a homossexualidade era crime e considerada uma doença mental, sem ilustrar isso muitos espectadores não iriam entender as reações ou os comportamentos das personagens.
Eu entendo a necessidade da ilustração neste filme, mas não aprecio os momentos em que esse sentido de ilustração não passa disso mesmo e em que as situações são retratada "a correr", com pouco ou nenhum desenvolvimento para lá da necessidade de colocar uma muleta explicativa para a audiência. Dou como exemplos o caso do psicanalista que ele consulta (mesmo correndo o risco de aumentar ainda mais a duração do filme, preferiria que aqueles encontros tivessem sido mais bem compostos em termos de conteúdo de debate entre os dois), e o reencontro com o professor, que foi tratado de forma muito displicente - mesmo a despachar (neste caso, perfeitamente dispensável). A relação entre o Maurice e o padrasto também sofre à conta desta questão - tanto que ele só aparece quando é para "ilustrar" determinado comportamento social. De resto não conhecemos a relação entre os dois.
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by No Angel »

Samwise wrote: January 15th, 2019, 11:38 am
No Angel wrote: January 14th, 2019, 8:33 pm Mas essa ilustração era importante, pois a homossexualidade era crime e considerada uma doença mental, sem ilustrar isso muitos espectadores não iriam entender as reações ou os comportamentos das personagens.
Eu entendo a necessidade da ilustração neste filme, mas não aprecio os momentos em que esse sentido de ilustração não passa disso mesmo e em que as situações são retratada "a correr", com pouco ou nenhum desenvolvimento para lá da necessidade de colocar uma muleta explicativa para a audiência. Dou como exemplos o caso do psicanalista que ele consulta (mesmo correndo o risco de aumentar ainda mais a duração do filme, preferiria que aqueles encontros tivessem sido mais bem compostos em termos de conteúdo de debate entre os dois), e o reencontro com o professor, que foi tratado de forma muito displicente - mesmo a despachar (neste caso, perfeitamente dispensável). A relação entre o Maurice e o padrasto também sofre à conta desta questão - tanto que ele só aparece quando é para "ilustrar" determinado comportamento social. De resto não conhecemos a relação entre os dois.
Por acaso não acho que valesse a pena repetir mais cenas com o psicanalista, as que estiveram no filme foram suficientes... aquilo basicamente foi uma tentativa do Maurice se "curar" mas visto que viu logo que não dava resultado algum deixou aquilo de lado e entregou-se ao Alec sem reservas.

Como referes, o filme iria ficar muito longo se fossem a abordar mais cada um desses aspectos.
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by Samwise »

Fui investigar um pouco mais sobre o "psicanalista", e parece-me bem enquadrado na época e nos temas abordados. Em concreto, o que ele está a fazer aparenta ser "hipnoterapia".

O Freud publicou estudos sobre o assunto uns anos antes do tempo narrativo indicado no filme, e tinha também textos publicados sobre a homossexualidade.

https://en.wikipedia.org/wiki/Sigmund_F ... osexuality

https://en.wikipedia.org/wiki/Hypnosis
Sigmund Freud (1856–1939), the founder of psychoanalysis, studied hypnotism at the Paris School and briefly visited the Nancy School.

At first, Freud was an enthusiastic proponent of hypnotherapy. He "initially hypnotised patients and pressed on their foreheads to help them concentrate while attempting to recover (supposedly) repressed memories",[61] and he soon began to emphasise hypnotic regression and ab reaction (catharsis) as therapeutic methods. He wrote a favorable encyclopedia article on hypnotism, translated one of Bernheim's works into German, and published an influential series of case studies with his colleague Joseph Breuer entitled Studies on Hysteria (1895). This became the founding text of the subsequent tradition known as "hypno-analysis" or "regression hypnotherapy".

However, Freud gradually abandoned hypnotism in favour of psychoanalysis, emphasizing free association and interpretation of the unconscious. Struggling with the great expense of time that psychoanalysis required, Freud later suggested that it might be combined with hypnotic suggestion to hasten the outcome of treatment, but that this would probably weaken the outcome: "It is very probable, too, that the application of our therapy to numbers will compel us to alloy the pure gold of analysis plentifully with the copper of direct [hypnotic] suggestion."[62]

Only a handful of Freud's followers, however, were sufficiently qualified in hypnosis to attempt the synthesis. Their work had a limited influence on the hypno-therapeutic approaches now known variously as "hypnotic regression", "hypnotic progression", and "hypnoanalysis".
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Re: Maurice (1987) - James Ivory

Post by No Angel »

Samwise wrote: January 15th, 2019, 5:43 pm Fui investigar um pouco mais sobre o "psicanalista", e parece-me bem enquadrado na época e nos temas abordados. Em concreto, o que ele está a fazer aparenta ser "hipnoterapia".

O Freud publicou estudos sobre o assunto uns anos antes do tempo narrativo indicado no filme, e tinha também textos publicados sobre a homossexualidade.

https://en.wikipedia.org/wiki/Sigmund_F ... osexuality

https://en.wikipedia.org/wiki/Hypnosis
Sigmund Freud (1856–1939), the founder of psychoanalysis, studied hypnotism at the Paris School and briefly visited the Nancy School.

At first, Freud was an enthusiastic proponent of hypnotherapy. He "initially hypnotised patients and pressed on their foreheads to help them concentrate while attempting to recover (supposedly) repressed memories",[61] and he soon began to emphasise hypnotic regression and ab reaction (catharsis) as therapeutic methods. He wrote a favorable encyclopedia article on hypnotism, translated one of Bernheim's works into German, and published an influential series of case studies with his colleague Joseph Breuer entitled Studies on Hysteria (1895). This became the founding text of the subsequent tradition known as "hypno-analysis" or "regression hypnotherapy".

However, Freud gradually abandoned hypnotism in favour of psychoanalysis, emphasizing free association and interpretation of the unconscious. Struggling with the great expense of time that psychoanalysis required, Freud later suggested that it might be combined with hypnotic suggestion to hasten the outcome of treatment, but that this would probably weaken the outcome: "It is very probable, too, that the application of our therapy to numbers will compel us to alloy the pure gold of analysis plentifully with the copper of direct [hypnotic] suggestion."[62]

Only a handful of Freud's followers, however, were sufficiently qualified in hypnosis to attempt the synthesis. Their work had a limited influence on the hypno-therapeutic approaches now known variously as "hypnotic regression", "hypnotic progression", and "hypnoanalysis".
Sim, era uma das supostas "curas" para a homossexualidade (que não curavam nada). Na verdade esse psicanalista foi o segundo médico que ele vê para se curar no filme, o primeiro também não percebeu nada :lol:

Mas isso são pormenores... curiosamente era mais coisa da elite, o Alec que era de uma classe social mais baixa não tinha problemas nenhuns e ia logo ao ponto.

A trajetória do filme basicamente é:

1 - Maurice e Clive: amizade que se transforma em amor platónico, que nunca é consumado, gerando frustração sexual e emocional no Maurice.

2 - Maurice e Alec: paixão fulminante, em que o Maurice finalmente tem o seu despertar sexual, e que depois se transforma num amor mais maduro (quando no final o Alec abandona tudo para ficar com o Maurice, e este também acaba por abandonar as convenções sociais e pseudo-curas). É esta a verdadeira história de amor do filme, e daí a "reviravolta", pois alguns poderiam pensar que seria com o Clive, e claramente não é.
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