Nem de propósito! Ando a namorar esse livro há algum tempo mas tinha. Agora está decidido, é para comprar.
Também acho a nova capa muito apelativa, aliás foi isso que me chamou a atenção, apesar de ter alguns "azuis" da Caminho não conhecia esse.
Nem de propósito! Ando a namorar esse livro há algum tempo mas tinha. Agora está decidido, é para comprar.
Ficou bem enquadrado o título dentro da imagem da capa - presumo que o miúdo que aparece é o Lynch (a sonhar já com anões sentados em sofás, dentro de salas com cortinados tudo-à-volta, e uma qualquer cantora no centro, face a um microfone, a interpretar o Blue Velvet... )
Esse livro é muito giro, mas não está no lote das grande obras dele, a meu ver. É tipo um Saramago "light", não deixando de contar com as suas principais qualidades e características.
Ora... Saramago, Tchékov... hmmm... o que vou ler a seguir? Ah! já sei: King! (mas eu percebo-te, porque já fiz esse mesmo percurso, e o King deixa-se ler muito bem depois de parágrafos mais "densos" e "eruditos" ). O Misery, já agora, é um dos bons livros do homem. Top 10, IMO.E agora comecei algo completamente diferente: "Misery", do Stephen King!
Talvez por ter sido um dos últimos que li dele, a questão da perspectiva tenha desempenhado o natural papel de colocar as coisas no seu lugar. Eu gostei também muito do livro, mas por essa altura já tinha lido "os pesos pesados" do Saramago (O Memorial, o História do Cerco de Lisboa, O Evangelho, o Levantado do Chão - parábola comunista e fresco social-, o Ano da Morte de Ricardo Reis e até o Ensaio Sobre a Cegueira)... , mais intrincados em termos de corpo de texto, mais filosóficos no alcance social, mais acutilantes na crítica que fazem, no seu modelo de comentário constante extra-narrativo. Também por essa altura já tinha lido duas ou três coisas de Kafka, e este Todos os Nomes faz algumas tangentes às trágicas desventuras da personagem K, acorrentado ao sistema burocrático do local onde trabalha e do regime invisível que tudo comanda, ficando também um pouco aquém do desespero fatalista que nesses livros se pressente.
Quanto ao que acabei de ler, temos o autor a fazer uma serena homenagem a Kafka e mais ao poderio oprimente das instituições sobre o indivíduo. No caso, temos o Sr. José (um nome já de si kafkiano), que trabalha na Conservatória do Registo Civil, local onde estão arquivados os registos de nascimento e de óbito de TODAS as pessoas. Ora o Sr. José tem o hábito estranho de coleccionar recorte de jornal referentes a pessoas famosas. Todas as notícias ou "fofocas" que surgem na imprensa relativas a determinadas pessoas, o Sr. José recorta cuidadosamente e arquiva em pastas dedicadas ao assunto. Fá-lo em privado, às escondidas de toda a gente, porque junto dos recortes, o Sr. José resolve, a certa altura, colocar uma cópia das certidões de nascimento e morte (a havê-la) dessas pessoas, certidões essas que ele leva às escondidas da Conservatória onde trabalha. A estas acções não será alheia a situação de morar paredes meias com a Consevatória e de por acaso ter uma chave própria que abre uma porta de comunicação entre as duas estruturas (mais um lembrete kafkiano - a mescla indeterminada sobre onde termina o limite da vida privada e onde começa o da vida "pública"). Numa noite como todas as outras, e depois de mais uma excursão às escondidas aos registos do edifício estatal, o Sr. José repara que trouxe por engano, agarrado aos outros, o verbete de uma pessoa normal (não famosa, portanto). A partir daí resolve desenvolver uma investigação privada, obsessiva, para descobrir tudo sobre a vida dessa desconhecida pessoa...
A determinada altura da história, para nos mostrar que mesmo pensado que temos tudo controlado, afinal de contas é tudo uma ilusão, surge um personagem de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", que lança o personagem para o abismo da derradeira dúvida....
Onde Kafka mostrava a implacabilidade da engrenagem burocrática, sempre num estilo sério e pesaroso, nunca dando hipóteses sequer ao indivíduo para desenvolver uma vida própria autónoma, e nunca nos dando a conhecer as razões para determinadas absurdidades, Saramago opta, no seu estilo muito irónico e ligeiro, por permitir que as regras sejam conhecidas à partida e por permitir que o indivíduo goze de uma certa liberdade pessoal. Onde Kafka é inflexível, Saramago é benevolente.
O resultado é agradável, mas está vários furos abaixo daquilo que Saramago nos habituou no passado. Não deixa de ser ainda assim uma poderosa reflexão sobre a vida em sociedade, sobre o impacto/influência do factor trabalho sobre o indivíduo e sobre a solidão que regula e pauta as acções de muitas almas abandonadas...
Esse narrador saramaguesco é a razão de eu adorar o homem! Tal como o Samwise, o Saramago é o meu autor português preferido.
Completamente! Estou novamente a ler King também, desta vez Night Shift, a sua primeira colecção de short stories.
Muito curioso com este livro.
A ligação a Kafka é muito notória, sim - senti que estava a ler uma reinvenção da história d'O Processo, mas onde o processo burocrático é metido na narrativa de uma outra forma. Sinceramente, o ponto de vista saramaguesco neste e noutros assuntos fascinou-me mais do que a de Kafka - apesar de ter O Processo como uma das minhas grandes experiências literárias. Tal como n'O Homem Duplicado, a maneira acutilante do Saramago em descrever o acto mais "secante" do planeta: ver cassetes e picar as que têm o duplo do protagonista.Samwise wrote: ↑October 13th, 2018, 3:31 pmTambém por essa altura já tinha lido duas ou três coisas de Kafka, e este Todos os Nomes faz algumas tangentes às trágicas desventuras da personagem K, acorrentado ao sistema burocrático do local onde trabalha e do regime invisível que tudo comanda, ficando também um pouco aquém do desespero fatalista que nesses livros se pressente.
O "aquele gosto" é uma questão de ires experimentando autores, e conhecendo as respectivas "vozes", e ires coleccionando os melhores. Eu passei por vários: o Saramago , o Eça, o Cardoso Pires e o Lobo Antunes em português. O último estrangeiro por que me "apaixonei" foi o Philip Roth, de quem ainda tenho alguns romances por ler, felizmente.rui sousa wrote: ↑October 15th, 2018, 10:21 pmA ligação a Kafka é muito notória, sim - senti que estava a ler uma reinvenção da história d'O Processo, mas onde o processo burocrático é metido na narrativa de uma outra forma. Sinceramente, o ponto de vista saramaguesco neste e noutros assuntos fascinou-me mais do que a de Kafka - apesar de ter O Processo como uma das minhas grandes experiências literárias. Tal como n'O Homem Duplicado, a maneira acutilante do Saramago em descrever o acto mais "secante" do planeta: ver cassetes e picar as que têm o duplo do protagonista.Samwise wrote: ↑October 13th, 2018, 3:31 pmTambém por essa altura já tinha lido duas ou três coisas de Kafka, e este Todos os Nomes faz algumas tangentes às trágicas desventuras da personagem K, acorrentado ao sistema burocrático do local onde trabalha e do regime invisível que tudo comanda, ficando também um pouco aquém do desespero fatalista que nesses livros se pressente.
E apesar de estar a gostar de ler o King, e de ser muito mais fácil de captar, não me está a dar "aquele" gosto da leitura que encontrei no livro do Saramago - e que cada vez mais raramente encontro num livro. Talvez este ano, no que aos romances diz respeito, só voltei a ter essa sensação (de estar a ler algo que é mais do que um livro e que eleva a experiência de leitura àquele patamar mais especial) com O Nó do Problema, do Graham Greene - um grandesíssimo livro!