FC didática com mensagem ambientalista e crítica social que não vai ficar na história como um "SCI-FI shining example", mas ainda assim resulta num filme simpático e divertido (o que talvez também possa ser apontado como ponto negativo), e razoavelmente inteligente na formulação do mundo faz de conta e das soluções que encontra para desenvolver a ideia central (para mim a parte mais estimulante e cativante). Não havia um filme sobre miniaturização desde aí o Innerspace do Joe Dante, ao qual se juntam o Fantastic Voyage e o The Incredible Shrinking Man que recordo de ver na minha infancia/adolescência. O Downsizing tem um escopo e um propósito bastante diversos dessas fitas, mas foi muito bom poder acompanhar novamente todo um processo técnico/científico, ainda que de forma superficial, e espreitar uma espécie de simulação realista de como seria um mundo em que miniaturizar seres humanos constituiria uma hipotética solução para reverter o processo de destruição do planeta e providenciar uma forma de melhorar a vida dos visados. Talvez que o filme peque mesmo por ser demasiado brando na crítica que apresenta (porque os vícios e problemas dos "pequenos" seriam no fundo uma réplica fiel daquilo que se passa no mundo dos "grandes"), mas ainda assim vale a pena uma espreitadela atenta, e não sem uma promessa de deslumbramento, a este "maravilhoso mundo novo". Os actores são como o resto, não desiludem, mas não esperem grandes rasgos interpretativos, até porque não há nem personagens, nem argumento para tal. Ou melhor, haver até há, mas o tom narrativo evita sempre cair nesses momentos - e nota-se que a assinatura do realizador, aquilo que o distingue em outras fitas anteriores, aparece aqui de forma também algo tímida e apagada, como se toda a temática da miniaturização e respectivo desenvolvimento acabasse por retirar tempo e impacto à exploração das idiossincrasias das personagens dentro dos contextos sociais. As situações e a matéria prima estão lá (veja-se a personagem do Christoph Waltz), mas faltou a insistência e a persistência do costume.
7/10
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Eu resumiria o filme como um filme de domingo (ou feriado) à tarde.
A história achei um bocado derivativa mas concordo com praticamente com tudo o que escreveste incluindo a nota.
Penso que tem pouco a ver com outros filmes do realizador.
Achei piada à vietnamita:
- Onde está a Gladys?
- Ela morreu.
- Não. Sinto muito.
- Acho que se calhar dei-lhe comprimidos a mais. Mas ela morrer muito feIiz, a sorrir.
Tem um elenco impecável (Hong Chau foi uma surpresa!) e uma premissa excelente, com algumas ideias mesmo muito boas, mas deita tudo a perder perto do final e fica muito aquém do potencial.
Os efeitos visuais estão no ponto, sem exageros, principalmente porque servem para apoiar, e bem, a história, e tem uma boa realização do Alexander Payne (se bem que este Downsizing fica longe dos seus melhores filmes).