nimzabo wrote: ↑February 19th, 2018, 4:31 pm
Muito bem numas coisas, mediocre noutras
Pronto, agora fizeste-me lembrar do 'Silêncio'.
Só a primeira parte da frase é que não estou certo de que corresponda.
* e já agora também do 'A Cidade Perdida de Z'
Pois, só que eu achei tudo excelente no
Silence, e tudo quase excelente no
Z...
Em relação ao
Three Billboards, devo dizer em primeiro lugar que me entreteve bastante. Não sendo a obra-prima ou o grande filme que eventualmente preencheria as minhas expectativas mais altas (dado o destaque mediático e crítico que tem recebido), é um filme que de certa forma apela ao nosso sentido de cinefilia - é indulgente para com esse prazer. Desde logo porque evoca fortemente o universo temático e caricatural dos irmãos Coen - através das personages e do aproveitmento dos seus traços de personalidade mais "weird", através dos diálogos (afiados, irónicos, demolidores nalguns casos) e até na escolha da personagem principal (esposa de um dos Coen e actriz destacada, pelos melhores motivos, em alguns dos seus filmes mais mediáticos)-, e depois porque a escolha do elenco foi feliz, dando azo a pelo menos três óptimos registos interpretativos - Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell.
Pelo lado negativo, e contrariando algumas opiniões expressas acima, não consegui vislumbrar grande densidade emocional ou sequer tentativa de explorar em profundidade essa vertente nas personagens. Dá-me ideia que o argumentista e realizador se interessou muito mais por tentar filmar o maior número de "cenas engraçadas" (as tais que exploram as idiossincracias mais weird e teimosas em cada personagem, e que decorrem do choque de mentalidades e opiniões entre as ditas), enchendo para isso o filme com uma série de irrelevâncias práticas, que não interessam em nada para a intriga ou para a definição humana, e só lá estão para ter graça (e têm de facto graça). O mesmo se passa com algumas personagens secundárias, que não entendo o que interessam para a história, mas que arrancam aqui e ali gargalhadas enfiadas cirurgicamente para parecerem muito cool. Isto num filme em que o mote é altamente trágico e penoso - mas que quase nunca é explorado por essa via. Não consigo, em resumo, entender uma série de "trade-offs" em que é previlegiado o humor e descartada a densidade humana que havia, e até muita, para desenvolver. o resultado é que o filme não avança - não se passa nada, começa depois do "início", termina antes do "fim", e pelo meio é um dia-a-dia num registo que não se decide se pretende ser sério ou hilariante.
7/10