Vou passar a discussão deste assunto para aqui porque já nada tem a ver com o novo "Blair Witch". E vamos lá ver se vais ter paciência para ler até ao fim a minha tentativa de explicação sobre este tema, porque eu, ao contrário de ti, tenho uma teoria sobre o assunto.JoséMiguel wrote:Walt, eu estou de acordo e compreendo a tua análise correcta dos estúdios de Hollywood do século XXI, conforme a descreveste no teu comentário anterior. Mas estes problemas actuais do século XXI, onde também faço minhas as palavras "esterco imundo" do outro comentador, não existiam no cinema norte-americano entre 1970-1985, posso apontar exemplos, mas ainda não tenho nenhuma teoria sobre o assunto.
Se pensares um pouco, se recuares cerca de 30 anos para trás (durante a década de 80), ou mesmo 40 anos (durante a década de 70), existiam na altura muitos mais filões e caminhos por explorar, e posso dar-te vários exemplos, que percorrem praticamente todos os tipos e géneros de filmes.
Já existem filmes de super-heróis há mais tempo mas foi durante o final da década de 80 que começaram a aparecer os primeiros "Blockbusters" de super-heróis, e foi aí que se percebeu que esse tipo de filmes resultava muito bem nas bilheteiras de cinema. Durante a década de 90 esse filão começou a ser explorado de forma exponencial, já que esse tipo de filmes, normalmente, conseguem quase sempre bilheteiras que os colocam como os filmes mais vistos do ano. E a partir do século XXI os filmes de super heróis têm sido um filão que tem vindo a massificar-se, todos os anos saem filmes de super-heróis cá para fora, e enquanto eles forem rentáveis, muitos mais irão sair.
Outro exemplo bem demonstrativo, é o "found-footage", inserido no género do terror. Ele já existia antes de 1999 mas foi a partir daí, e com o "The Blair Witch Project" de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, e com o sucesso tremendo desse pequeno filme, que o conceito começou a despertar o interesse de Hollywood (e não só), e daí para a frente vários filmes, mais do que seria desejável na minha opinião, usam e abusam do "found footage" para tentar obter, pelo menos, um pedaço do sucesso que o filme de 1999 obteve.
E posso prosseguir nos exemplos, indo aos filmes de ação, scifi, comédia, e por aí fora. Antigamente, e andando várias décadas para trás, Hollywood não era bem aquilo que é hoje porque nessa altura havia mais para mostrar, para explorar, do que há hoje. Mas já nessa altura muitos dos filmes que surgiam baseavam-se em filmes de décadas passadas, como por exemplo o "Indiana Jones" de Steven Spielberg, profundamente inspirado no cinema de aventura das décadas de 40 e 50. Nota que a partir desse filme de 1981 começam a sair cá para fora vários filmes similares, e estamos a falar da década de 80. Fenómenos brejeiros como "American Pie" não trouxeram de certeza nada de novo (e de aliciante) para a comédia mas a verdade é que a partir de "American Pie", além das inevitáveis sequelas, começaram a surgir um monte de comédias sexuais similares, tudo à procura de viver à conta do sucesso comercial do filme de 1999.
E é assim que Hollywood funciona, e sempre funcionou. Com algumas diferenças, entre diferentes épocas, é certo, mas a génese sempre foi a procura do lucro fácil, de obter um sucesso comercial e de tentar rentabiliza-lo. O que mudou para os dias de hoje é que começou a existir uma massificação, um certo abuso no explorar de certas fórmulas e filões, e ao mesmo tempo, começou a existir cada vez mais a falta de temas, a repetição e a recorrência começou a ser uma constante, em doses muito maiores. E isso acaba por saturar de certa forma, e começa aos poucos a existir um certo sentimento de vazio, por entre os cinéfilos um bocadinho mais exigentes. É verdade que nos últimos anos, e vai continuar a aumentar, tem havido um abuso no uso dos remakes e das sequelas mas isso é fruto da forma simplória como Hollywood olha para o cinema, o lucro para esta indústria é muito mais importante do que o conteúdo dos filmes que saem cá para fora. O que importa é que esses filmes vão tendo saída e espetadores. Isso basta-lhes.
E pelos vistos por isso é que, por exemplo, o JoãoMX5 não entende Hollywood. Ele mostra-me (pela sua permanente repetição nos seus comentários, a mesma repetição de que acusa Hollywood, é engraçado), de que não conhece Hollywood, ou que nunca a pretendeu conhecer. Se ele conhecesse minimamente Hollywood não estaria permanentemente a queixar-se do mesmo. E nem perderia muito tempo com isso. Eu se não gosto de sopa não vou estar para sempre a dizer que não gosto de sopa, ponho a sopa de lado e dedico-me a comer outras coisas. Até porque chega a uma certa altura e já toda a gente percebeu que eu não gosto de sopa. E com isto não quero insinuar de que o JoãoMX5 deixe de escrever neste fórum de cinema, nem por sombras, podia é tentar que os seus comentários fossem mais interessantes, menos repetitivos, estar sempre a dizer a mesma coisa. Já que ele não gosta de Hollywood (tal e qual como ela é) podia tentar comentar outro tipo de filmes, ou de cinema. Podia pelo menos tentar. Mas na volta o JoãoMX5 queixa-se mas não consegue deixar de ver filmes de Hollywood. Não sei, só ele o sabe. Como deve ser do teu conhecimento, apesar de Hollywood produzir um cinema comercial de alcance planetário, a sétima arte está muito longe de confinar-se apenas a Hollywood. Existem imensas cinematografias pelo mundo que se desviam nitidamente do modelo mais comercial norte-americano, do modelo das "fórmulas", e que nos presenteiam com imensos filmes de qualidade.
Em relação a Hollywood não há muita volta a dar(-lhe). Quem define o que Hollywood produz são os espetadores. E se estes querem mais filmes de super-heróis, pois é mais filmes de super-heróis que irão ter. É claro que Hollywood anda sempre à procura da última "Coca-Cola no deserto". As fórmulas que eles utilizam não crescem nas árvores. Existe assim um olhar atento por aquilo que os rodeia, por outros filmes de sucesso, de outras paragens, por outros realizadores, atores, e sempre que lhes convém, acabam por tomar (sempre) o caminho mais fácil, que é apropriarem-se dos direitos daquilo que lhes interessa, que é "raptar" realizadores ou atores de outras nacionalidades, sempre que existe uma forte possibilidade de lucro no horizonte.
That's Hollywood as We Know It... Like it, or Not...