Depois de uns quantos textos a elogiar um "filme de acção puro e duro", resolvi arriscar.
Desilusão tremenda.
As comparações entre este Dredd e o Robocop do Veroevhen fazem para mim todo o sentido, já que a ideia de um super-polícia com funções de "juiz e carrasco" built-in, que não tem de dar satisfações a ninguém para impor a lei directamente no terreno, na hora, face a cada situação prática, é comum às duas personagens, e que até a nível gráfico são os dois bastante semelhante. Contudo, o Robocop é um filme infinitamente mais incomodativo e emocionante, com a noção exacta de como deve ser construída uma personagem de um ponto de vista emocional, bem contextualizada em termos de humanos, e capaz de canalizar nesse "pessoa" as ideias narrativas da história. Em Dredd não temos nada disso. Temos basicamente um jogo de computador passado a filme. Desculpem-me este cliché intepretativo, mas não tenho expressão melhor para definir o que achei do filme. É engraçado pensar que no Robocop temos um robot que parece humano, e que no Dredd temos um humano que parece um robot. Não está em causa a intepretação do Karl Urban, está em causa a ausência de uma personagem com substância.
Esta questão (mas não só), faz logo toda a diferença. As numerosas sequências de acção estão tecnicamente bem filmadas, e expõem uma violência estilizada com níveis de brutalidade e detalhe invulgar, mas são emocionalmente estéreis. Impressionam pelo aparato, mas são um bocejo emocional. Devolvem a mesma indiferença perante a morte que um shoot-em-up do género do Doom. E depois há a questão das concessões narrativas, e voltamos então à questão do "jogo de computador". Ao longo do filme temos inúmeras situações que são forçosamente inverosímeis apenas para que a história possa continuar, como por exemplo a exposição espacial a que se sujeitam frequentemente os grupos de "baddies" e que os tornam alvos fáceis para as armas sofisticadas do Dredd. Ou a questão do medicamento milagroso que recupera uma pessoa baleada nos pulmões, quase a desfalecer, para os níveis de stamina normais daí para a frente (tipo, mala de prontos-socorros nos videogames). Ou a concentração de fogo apenas nas áreas onde os heróis não estão, quando já não há mais nada para destruir nessa zona. E os clichés habituais deste género de abordagem: o dar uma palavrita final antes de avançar para o golpe de misericórdia, que permitem à ultima da salvar o herói, ou a arma que dispara para trás porque o vilão é demasiado burro para pensar que pode ter esse mecanismo de fail-safe.
São demasiadas concessões num filme que se pretende puro e duro, e que acabam por deitar por terra essa premissa - e é pena, porque ao inicio as coisas parecem bem encaminhadas noutro sentido.
5/10
Dredd (2012) - Pete Travis
Moderators: waltsouza, mansildv
Re: Dredd (2012) - Pete Travis
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
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Re: Dredd (2012) - Pete Travis
Eu queria-te ver a viver numa metrópole futurista, de milhões de pessoas confinadas a prédios enormérrimos, a lutar no seu dia a dia para sobreviverem dos gangues que controlam essas torres, e para controlar essa massa humana tivesses escassos recursos e quase nenhum tempo (como é bem explicado no filme)...e depois para controlar esse fenómeno social ainda tivesses tempo para andares a rebuscar no teu baú de emoções as mais apropriadas para ficares emocionalmente chocado ou sensível por teres de mandar um balázio no meio dos olhos de um gajo que de tudo fez para te mandar para anjinhos que estão a tocar harpa á beira do teu pai criador...As numerosas sequências de acção estão tecnicamente bem filmadas, e expõem uma violência estilizada com níveis de brutalidade e detalhe invulgar, mas são emocionalmente estéreis.
De certeza que sabias que estavas a ver este filme??
É que da maneira que falas mais parecia que estavas a falar do filme - "Salvem o Willy".
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: Dredd (2012) - Pete Travis
Não me fiz explicar bem. Quando falo de "emoções estéreis" é da perspectiva do espectador. O filme deixou-me completamente indiferente perante a violência, tal como um vulgar shoot'em up me deixa perante os adversários que vão caindo, feridos e mortos. A agravante aqui é que é notório o esforço para que tal violência impressione. Mas não sucede. É tudo fogo de artifício sem sustentáculo psicológico. Porque o filme não tem um pingo de sentido do trágico. Como tem por exemplo o Robocop.
Até a droga slo-mo, que encerra um paradoxo muito interessante (o tempo passa-se a duas velocidades - a de quem está "dopado" e de que não está) é totalmente desaproveitada, refém dessa vontade de ilustrar a violência - serve para criar "efeitos bonitos", para podermos ver os fotogramas todos nos momentos em que as balas rebentam os dentes aos vilões - "Ena, tão giro!" Pensando melhor, já vi isto tudo no Max Payne, versão "interactiva"...
Até a droga slo-mo, que encerra um paradoxo muito interessante (o tempo passa-se a duas velocidades - a de quem está "dopado" e de que não está) é totalmente desaproveitada, refém dessa vontade de ilustrar a violência - serve para criar "efeitos bonitos", para podermos ver os fotogramas todos nos momentos em que as balas rebentam os dentes aos vilões - "Ena, tão giro!" Pensando melhor, já vi isto tudo no Max Payne, versão "interactiva"...
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Re: Dredd (2012) - Pete Travis
Acho que nem tinha de ter necessáriamente esse sentido trágico, até porque eu acho que a idéia que Pete Travis quis transmitir foi exactamente o contrário - total privação de qualquer sentimento mais emocional que não o prazer de ver alguém a fazer justiça sem grandes ondas.Porque o filme não tem um pingo de sentido do trágico. Como tem por exemplo o Robocop.
Apesar de podermos comparar este filme a "RoboCop", por ambos terem uns agentes da lei a combater o crime, as suas histórias de base são completamente diferentes.
Enquanto que Murphy é assassinado violentamente e, tal como Darth Vader, é aprisionado num corpo metálico e revive as suas memórias numa réstea de humanidade, Dredd é um homem de carne e osso mas com um cérebro frio (cabeça fria se quiserem), calculista, prático, objectivo, disciplinador e desprovido de qualquer tipo de humanidade relativamente a quem desobedece a LEI.
Ele personifica a ordem no meio do caos e é a única alternativa que um sistema quase em colapso tem para tentar manter a ordem numa sociedade multi-complexa. "Mega City One" precisa de muita limpeza, de uma "vassourada" constante mas isso demonstra ser uma tarefa inglória quando existem muitas poucas vassouras disponivéis para esse efeito.
Quando aluguei este DVD fiz um "mind set" para me preparar para o que iria ver, e o que me fez mais alugar este filme foi o facto de saber que iria ver muita acção e violência sem estar á espera de histórias melodramáticas e analepses sugerindo futuras compaixões.
Este Dredd é como eu gosto - seco, frio e duro como o aço, e não se pode num filme destes dizer que a violência é gratuíta. Agora o impacto que dá a cada espectador será sempre muito relativo, está claro, mas como disse é preciso fazer o tal "mind set" e tentar não fazer comparações com outras personagens, que apesar de similares no aspecto fisico, pouco tem a ver com o outro aspecto - o da alma.
Não existe tempo, espaço ou dinheiro para gastar em burocracias em "Mega City One", por isso todos os julgamentos são feitos na hora. Nesse futuro fictício também não existem grandes recursos para sustentarem cadeias apilhadas de assassinos por isso a única solução para contrariar esta anarquia reside nos "Judges" que antes terão de passar num teste, tal como a recruta feminina telepata que acompanha Dredd, e para mim foi aqui que o filme marcou ainda mais pontos. Esta personagem foi habilmente colocada no enredo para vermos como se analisa uma pessoa que se quer altamente profissional e implacável no terreno e que precisa, acima de tudo, saber controlar as suas emoções ao ponto de matar alguém sem piedade.
Vemos uma frágil novata a entrar no mega-prédio e vemos sair uma mulher muito mais forte e segura do que quer.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: Dredd (2012) - Pete Travis
a 2000 AD lançou uma petição online oficial para se pedir uma sequela.
o filme tem feito muitos bons numeros no mercado doméstico e várias fontes já afirmaram que deverá haver uma sequela se o publico fizer barulho suficiente.
http://www.tinyurl.com/dreddsequel
o filme tem feito muitos bons numeros no mercado doméstico e várias fontes já afirmaram que deverá haver uma sequela se o publico fizer barulho suficiente.
http://www.tinyurl.com/dreddsequel
"If given the choice to be the shepherd or the sheep... be the wolf"
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Re: Dredd (2012) - Pete Travis
Bem, ainda não existem confirmações oficiais mas se calhar alguém por aqui vai ficar contente ao saber disto:
http://www.sensacine.com/noticias/cine/ ... -18517740/
Karl Urban não desiste de Dredd, apesar destes resultados: http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=dredd.htm
Bem, uma coisa é certa, persistência é coisa que não falta a Karl Urban.
http://www.sensacine.com/noticias/cine/ ... -18517740/
Karl Urban não desiste de Dredd, apesar destes resultados: http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=dredd.htm
Bem, uma coisa é certa, persistência é coisa que não falta a Karl Urban.
Re: Dredd (2012) - Pete Travis
Tanto remakezinho de shit que se tem feito por aí, e não se dá uma oportunidade a quem a merece...
"Hope and faith" são 2 palavras muito fortes.
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