Land of Plenty (2004) - Wim Wenders

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Bruno Dias
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Land of Plenty (2004) - Wim Wenders

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Land of Plenty: 6/10

Há muito tempo que Wenders deixou de fazer filmes como Paris, Texas e Asas do Desejo mas mesmo assim este filme ainda tem algo de positivo.

É clararamente um filme de tese com personagens totalmente estereotipadas. Temos Paul (John Diehl) que considera cada árabe como um inimigo e têm como toque de telemóvel o hino americano; a jovem Lana (Michelle Williams) que está disposta a dedicar a sua vida aos marginais. No inicio do filme as suas histórias estão desligadas e obviamente acabam por se interligar.

Percebe-se desde o inicio que o propósito do filme é levar Paul (e o espectador) a perceber o irracionalismo da sua atitude. Na realidade este filme de Wenders pode ser colocado ao lado do "documentário" de Moore. é basicamente um filme de propaganda.

Mas o que me deixou perplexo é que no final, de alguma forma, Wenders salva o filme pois foge dos estereotipos. É verdade que Paul percebe que só tem estado a perder tempo com a sua atitude (como era previsivel desde o inicio) mas a verdade é que o arrependimento dele tocou-me. A melancolia das últimas imagens e os desabafos entre ele e Lana fazem lembrar o melhor de Wenders. As personagens adquirem no fim uma densidade que nunca tiveram durante o filme e fazem com que este não seja uma pura perda de tempo.

Spoiler
Quando Paul recebe a notícia de Jimmy (Richard Edson), sobre os autores da morte do paquistanês Hassan (Shaun Toub) fica siderado. Afinal foram dois jovens brancos que numa noite de bebedeira e droga decidiram matar um sem-abrigo. Tanta inconsciência e estupidez não se enquadravam nas teorias da conspiração de Paul. Afinal um branco era muito mais perigoso do que um muçulmano.

Youssef (Bernard White) o irmão de Hassan mostra o álbum de família e ai pode ver-se como eles eram uma família de bem que foi destruida com a imigração. Hassan era um sem-abrigo e Youssef vivia num bairro miserável. Mais uma vez tudo muito previsivel e óbvio.

Um dos melhores momentos deste filme passa-se entre Paul e uma idosa acamada interpretada por Gloria Stuart. Paul aparece lá todo camuflado à espera de encontrar arabes a conspirar mas em vez disso surge-lhe uma velhota. ela pensa que ele é um empregado da firma que lhe fornece o borax essencial ao tratamento da sua doença e queixa-se de só poder ver um canal na TV. A TV estava a passar uma mensagem de Bush (mais obvio não podia ser). Paul bate na TV e esta passa a funcionar, a idosa agradece-lhe. Esta história pretende mostrar que os problemas da nossa sociedade devem-se ao egoismo humano. Os funcionários recolhiam as caixas de borax (a sua função) e não se preocupavam com mais nada. A solidão da idosa era imensa e muito pior do que a doença de que padecia. Nunca poderemos compreender o outro se só virmos o mundo da nossa perspectiva. Nunca poderemos compreender os arabes se os virmos apenas como terroristas sem qualquer tipo de humanidade. é essa a moral do filme.


Para quem como eu abomina a doutrina de Bush e dos seus acólitos um filme destes é desnecessário. Em suma como cinema não é grande coisa e como propaganda é mais sisudo do que os "documentários" de Moore. Não recomendo a quem tiver de escolher um filme para ver, mas quem quiser arriscar e tiver tempo, pode ir tendo em conta que só o fim vale a pena.
Life is like arriving late for a movie, having to figure out what was going on without bothering everybody with a lot of questions, and then being unexpectedly called away before you find out how it ends.

Joseph CAMPBELL

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