O Poder (cultural) do Metal

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shadow_phoenix
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O Poder (cultural) do Metal

Post by shadow_phoenix »

Quando se fala de metal (o género musical, entenda-se) o que vem à mente da maioria das pessoas é o Glam Metal dos anos oitenta ou a imagem de cabeludos vestidos de negro a propagar ideais satânicos (ou talvez uma ou outra banda da vaga de nü metal da viragem do milénio). Porém, esta é uma imagem extremamente redutora do género. O metal é um género musical vastíssimo, quer a nível temático, quer a nível da sonoridade, e que contribui grandemente para a cultura geral do ouvinte.

Pensemos, por exemplo, em quantas pessoas nunca teriam ouvido falar na Batalha de Wizna se não fosse a música 40:1 dos Sabaton, ou na de Paschendale se não fosse a música homónima dos Iron Maiden, ou até nas viagens dos vikings pela europa oriental se não fosse o album dos Sabaton "Varangian Way". A quantas pessoas não terão estas (e muitas outras músicas) despertado um interesse pela história?

Enquanto a história, em especial a vertente bélica, é uma temática popular, o metal não se fica por aí. As referências literárias são também bastante comuns, de Tolkien e Lovecraft a Dickens e Shakspeare, encontramos um pouco de tudo. Iron Maiden, Blind Guardian, Battlelore, Bal Sagoth e Nightwish são apenas algumas das muitas bandas que fazem referência á literatura ou foram claramente influenciados por ela. Como escreveu Fernando Ribeiro (vocalista dos Moonspell) na revista Bang! n.º11 "... os [Iron] Maiden tiveram o condão de pôr milhares a saber de cor extensas partes deste poema [The rhyme of the ancient mariner], conseguindo, pelo talento do seu metal, o que a maior parte dos programas absurdos de educação, pensada por tecnocratas durante férias caribenhas pagas pelos contribuintes, não conseguiram".

Nem mesmo os escândalos políticos e económicos escapam às bandas de metal, como prova a música "Be Quick or Be Dead" dos Iron Maiden, cuja letra nos fala de vários escândalos passados no início dos anos oitenta.

E estes são apenas alguns exemplos da inúmeras temáticas abordadas no género e que contribuem para a cultura geral do ouvinte. Existem muitos mais, desde a mitologia à crítica social, e basta fazer uma rápida busca na internet para os encontrar.

Mas não é só a nível lírico que o metal contribui para a cultura dos seus fãs, também o consegue a nível sonoro. O metal tem, à partida, e apesar de encontrar as suas raízes na música popular, nomeadamente no Rock and Roll, influências advindas da música clássica que qualquer pessoa com um ouvido mais ou menos apurado consegue descortinar. Porém, é tendência do metal se misturar com outros géneros musicais (e existem combinações de metal com praticamente tudo) que mais ajuda a alargar o horizonte musical dos ouvintes do género. Basta ler algumas entradas em certos forums na Internet para perceber que bandas de metal sinfónico como Rhapsody of Fire, Nightwish e Epica levaram várias pessoas à música clássica, e que bandas de folk metal como Cruachan, Finntroll e Elvenking fizeram o mesmo pela música celta, a polka e a música folk no geral. Novamente, estes são apenas alguns exemplo. Poderá ser dito algo semelhante de muitos outros géneros e bandas.

Em conclusão, o metal é um género musical muito mais rico do que a maior parte das pessoas parece pensar. E se compreendo que nem toda a gente goste da sua sonoridade agressiva, penso que é um erro crasso simplesmente relegá-lo ao estatuto de barulho sem qualquer valor cultural.
Publicado originalmente no meu blogue.
Evil_Djinn
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Re: O Poder (cultural) do Metal

Post by Evil_Djinn »

shadow_phoenix, concordo com o teu discurso e até te deixo a minha experiência com esse tal poder cultural, quando ainda era um jovem imberbe, estava muito na berra bandas como Cradle Of Filth, não posso dizer que fosse fã da banda, mas lá que eles chamavam atenção lá isso chamavam com o seu metal extremo e lembro-me muito bem de um álbum que eles lançaram que se chama "Cruelty and the Beast" e que me deu a conhecer uma personagem histórica que até a altura nunca tinha ouvido, não esquecer que nesse ano 1998, ter Net ainda não era para qualquer um. A senhora de que fala o álbum é a Condessa Elizabeth Báthory, conhecida com a Condessa Sangrenta e ainda hoje deve ser a Serial Killer com mais mortes no currículo.
Foram feitos muitos filmes em redor desta senhora, mas desconheço qual o melhor e ficaria feliz se alguém opina-se sobre isto.
Por isso o Shadow_phoenix tem razão no que diz o metal pode não agradar a todos na sua sonoridade, mas que contem muita sabedoria lá isso contém e um outro pormenor que eu gosto muito no mundo do metal, são as capas e o artwork, existem conceitos magníficos

Fica aqui um exemplo de uma capa que só podia fazer parte do universo Metal:

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BTW bom tópico.
No Angel
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Re: O Poder (cultural) do Metal

Post by No Angel »

Evil_Djinn wrote:shadow_phoenix, concordo com o teu discurso e até te deixo a minha experiência com esse tal poder cultural, quando ainda era um jovem imberbe, estava muito na berra bandas como Cradle Of Filth, não posso dizer que fosse fã da banda, mas lá que eles chamavam atenção lá isso chamavam com o seu metal extremo e lembro-me muito bem de um álbum que eles lançaram que se chama "Cruelty and the Beast" e que me deu a conhecer uma personagem histórica que até a altura nunca tinha ouvido, não esquecer que nesse ano 1998, ter Net ainda não era para qualquer um. A senhora de que fala o álbum é a Condessa Elizabeth Báthory, conhecida com a Condessa Sangrenta e ainda hoje deve ser a Serial Killer com mais mortes no currículo.
Foram feitos muitos filmes em redor desta senhora, mas desconheço qual o melhor e ficaria feliz se alguém opina-se sobre isto.
Por isso o Shadow_phoenix tem razão no que diz o metal pode não agradar a todos na sua sonoridade, mas que contem muita sabedoria lá isso contém e um outro pormenor que eu gosto muito no mundo do metal, são as capas e o artwork, existem conceitos magníficos

Fica aqui um exemplo de uma capa que só podia fazer parte do universo Metal:

Image


BTW bom tópico.
Eu vi dois sobre ela:

The Countess
http://www.imdb.com/title/tt0496634/

e

Bathory
http://www.imdb.com/title/tt0469640/

Gostei mais do The Countess. Achei o Bathory confuso, mas tem uma cinematografia bonita yes-)
lud81
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Re: O Poder (cultural) do Metal

Post by lud81 »

Eu ouço metal há quase 20 anos e Maiden foi a banda que me deu a conhecer o metal. Claro que concordo com tudo o que escreveste, mas é tão difícil convencer alguém cujo horizonte só alcança 1 metro ou pouco mais... Já nem me dou ao trabalho, mas há-de sempre fazer-me comichão.

O metal tem inúmeros subgéneros, mas os mais conhecidos do público geral e principais contribuintes para o imagem que esse público tem do metal serão talvez o death metal e o black metal. Dizes a palavra "metal" a alguém que não conhece e a primeira coisa que lhes vem à cabeça é death e black. E como dizes, talvez o nu. E começam logo a grunhir se forem assim um pouco mais gozões.

Grunhir? Há tanta gente que desconhece as maravilhosas vozes de cantores excepcionais como Bruce Dickinson (Iron Maiden), Eric Adams (Manowar), Rob Halford (Judas Priest), Matt Barlow (Iced Earth), Joey Belladonna (Anthrax), Ronnie James Dio (Dio, Black Sabbath, Heaven & Hell), Biff Byford (Saxon), Dave Godfrey (Heathen), John Cyriis e Bruce Hall (Agent Steel), Mikael Åkerfeldt (Opeth) e o nosso próprio Fernando Ribeiro (Moonspell), entre dezenas ou centenas de outros.
Posso ainda referir uns que eu considero excepcionais também mas que podem não ser para todos os gostos, como Kai Hansen (Gamma Ray) e King Diamond (Mercyful Fate & King Diamond). Eu adoro a voz do Kai, prefiro a voz dele à do Michael Kiske, por exemplo. O King Diamond tem um falseto que pode soar ridículo a quem ouve pela primeira vez, mas é um acquired taste. :-)

Depois há também as máquinas da guitarra ritmo que povoam o universo do thrash metal. O público que não conhece metal não tem a noção da precisão rítmica e técnica necessária para tocar os riffs intricadíssimos deste género do metal (e também compô-los, os riffs não caem do céu!). O thrash metal também é onde encontramos mais os temas de crítica social e política.

Só barulho, o tanas! Há ali muito talento por trás daquilo. Desde os referidos riffs, os tempos incomuns usados e mudanças de tempo dentro da mesma música, estruturas de música que fogem à regra pop/radio verso-refrão-verso-refrão (há músicas sem refrão, Hallowed Be Thy Name dos Maiden, por exemplo) e durações que em muito ultrapassam os 3 ou 4 minutos habituais, músicas de 10, 15 ou 20 minutos abundam em certos géneros e bandas. O album Light of Day, Day of Darkness dos Green Carnation, por exemplo, consiste em apenas uma música de 60 minutos. A banda Moonsorrow também tem um album (V:Havitetti) com apenas duas músicas, uma com 30 minutos e outra com 26. Isto deixam de ser "músicas" ou "canções" e passam a ser peças quase escritas em movimentos, referência à música clássica que também fizeste.

Opá, o metal é tão mais do que a imagem que se tem dele. E diga-se também que alguns metaleiros (uma minoria, é certo) não contribuem em nada para uma boa imagem do metal.
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No Angel
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Re: O Poder (cultural) do Metal

Post by No Angel »

O unico metal que eu gosto e o sinfonico (Nightwish e Within Temptation) :-P
Evil_Djinn
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Re: O Poder (cultural) do Metal

Post by Evil_Djinn »

lud81 wrote:Eu ouço metal há quase 20 anos e Maiden foi a banda que me deu a conhecer o metal. Claro que concordo com tudo o que escreveste, mas é tão difícil convencer alguém cujo horizonte só alcança 1 metro ou pouco mais... Já nem me dou ao trabalho, mas há-de sempre fazer-me comichão.

O metal tem inúmeros subgéneros, mas os mais conhecidos do público geral e principais contribuintes para o imagem que esse público tem do metal serão talvez o death metal e o black metal. Dizes a palavra "metal" a alguém que não conhece e a primeira coisa que lhes vem à cabeça é death e black. E como dizes, talvez o nu. E começam logo a grunhir se forem assim um pouco mais gozões.

Grunhir? Há tanta gente que desconhece as maravilhosas vozes de cantores excepcionais como Bruce Dickinson (Iron Maiden), Eric Adams (Manowar), Rob Halford (Judas Priest), Matt Barlow (Iced Earth), Joey Belladonna (Anthrax), Ronnie James Dio (Dio, Black Sabbath, Heaven & Hell), Biff Byford (Saxon), Dave Godfrey (Heathen), John Cyriis e Bruce Hall (Agent Steel), Mikael Åkerfeldt (Opeth) e o nosso próprio Fernando Ribeiro (Moonspell), entre dezenas ou centenas de outros.
Posso ainda referir uns que eu considero excepcionais também mas que podem não ser para todos os gostos, como Kai Hansen (Gamma Ray) e King Diamond (Mercyful Fate & King Diamond). Eu adoro a voz do Kai, prefiro a voz dele à do Michael Kiske, por exemplo. O King Diamond tem um falseto que pode soar ridículo a quem ouve pela primeira vez, mas é um acquired taste. :-)

Depois há também as máquinas da guitarra ritmo que povoam o universo do thrash metal. O público que não conhece metal não tem a noção da precisão rítmica e técnica necessária para tocar os riffs intricadíssimos deste género do metal (e também compô-los, os riffs não caem do céu!). O thrash metal também é onde encontramos mais os temas de crítica social e política.

Só barulho, o tanas! Há ali muito talento por trás daquilo. Desde os referidos riffs, os tempos incomuns usados e mudanças de tempo dentro da mesma música, estruturas de música que fogem à regra pop/radio verso-refrão-verso-refrão (há músicas sem refrão, Hallowed Be Thy Name dos Maiden, por exemplo) e durações que em muito ultrapassam os 3 ou 4 minutos habituais, músicas de 10, 15 ou 20 minutos abundam em certos géneros e bandas. O album Light of Day, Day of Darkness dos Green Carnation, por exemplo, consiste em apenas uma música de 60 minutos. A banda Moonsorrow também tem um album (V:Havitetti) com apenas duas músicas, uma com 30 minutos e outra com 26. Isto deixam de ser "músicas" ou "canções" e passam a ser peças quase escritas em movimentos, referência à música clássica que também fizeste.

Opá, o metal é tão mais do que a imagem que se tem dele. E diga-se também que alguns metaleiros (uma minoria, é certo) não contribuem em nada para uma boa imagem do metal.
Sim, o Metal na cultura popular é visto ou melhor dizendo, ouvido, como barulho/ruído e essa associação ao Black/Death Metal é a mais comum porque trás logo à memoria algo extremo, mas a verdade é que existe tantos sub-géneros de Metal que até eu fico baralhado.
Eu pessoalmente gosto do metal pelo conceito por detrás das próprias músicas, posso dizer que gosto de Bandas como por ex: To/Die/For (Gothic Metal), Rammstein (Industrial Metal) ou mesmo Corvus Corax (Medieval Metal), são tudo géneros diferentes, mas que eu adoro e até perguntava aqui aos mais entendidos só conhecem mais bandas que se assemelhem a estas que acabei de mencionar, mas estas que falei são as que gosto mesmo de ouvir, depois há aquelas bandas que em termos de sonoridade não me cativam, mas gosto da mensagem que está associada à criação do álbum.
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