Melhor filme do Brian De Palma?

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Melhor filme do Brian De Palma?

Hi, Mom! (1970)
0
No votes
Sisters (1972)
0
No votes
Phantom of the Paradise (1974)
1
2%
Obsession (1976)
0
No votes
Carrie (1976)
0
No votes
The Fury (1978)
0
No votes
Dressed to Kill (1980)
5
12%
Blow Out (1981)
5
12%
Scarface (1983)
11
26%
Body Double (1984)
3
7%
The Untouchables (1987)
8
19%
Casualties of War (1989)
0
No votes
The Bonfire of the Vanities (1990)
0
No votes
Raising Cain (1992)
0
No votes
Carlito's Way (1993)
6
14%
Mission: Impossible (1996)
2
5%
Snake Eyes (1998)
0
No votes
Mission to Mars (2000)
1
2%
The Black Dahlia (2006)
0
No votes
Passion (2012)
0
No votes
Outro
1
2%
Não aprecio os seus filmes
0
No votes
 
Total votes: 43
José
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by José »

Samwise wrote: September 12th, 2018, 3:49 pm
mansildv wrote: February 28th, 2018, 4:22 pm
José wrote: February 27th, 2018, 1:20 pm

Eu aconselho sempre o Femme Fatale, é que tem mesmo um bocadinho de tudo o que faz parte do cinema de De Palma. :-D Rebecca Romjin arrasadora e magnetizante, eu que nem dava nada por ela enquanto actriz. Chega a dar ares de Mulholland Drive do Lynch e mais não digo.
Já estou a tratar de juntar o Femme Fatale à colecção :-)))
Já viste o Femme Fatale entretanto?

Por acaso partilho da opinião do José, apesar de não ser o meu filme favorito do realizador, como é para ele. Ao que ele referiu, devo acrescentar que volta a ser um De Palma com sabor a homenagem a Hitchcock, como foram alguns no passado. salut-)
Aleluia! :-D Finalmente conheço alguém que não só viu o "Femme Fatale", como o apreciou... É, de facto, um "De Palma Hitchcockiano" muito bem feito, como já não víamos há algum tempo; o "Femme Fatale" sempre me trouxe à memória aqueles tempos em que eu era miúdo e via aquele tipo de filmes, série B, de madrugada, nas "Últimas Sessões" do saudoso Canal1... Já agora, para matar um pouco as saudades deste tipo de filme com travo Hitchcokiano, permitam-me recordar um outro filme de De Palma, bastante recente até: chama-se "Passion - Paixão", é um remake de um filme francês e conta com a Noomi Rapace e a Rachel McAdams - é um duelo no feminino, um thriller psico-sexual absolutamente fascinante. :-D
Samwise
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

Ao Passion já não achei tanta graça. A narrativa pareceu-me prometedora, mas depois mete água em alguns detalhes que acabam por minar a consistência/solidez da história. Mas achei sobretudo que a vertente "sensual" deixou muito a desejar, passo o pleonasmo. :-))) O De Palma tem momentos de cinema que ficaram na história, de forma permanente, também por causa da ousadia na utilização da violência e agressividade, mas aqui pareceu-me algo soft face à sua própria obra e àquilo a que por esta altura já estamos habituados a ver - quer dizer, o Basic Instinct leva quase 30 anos.

A minha relação com o De Palma é "complexa"... :lol: Gosto muito de alguns, gosto muito pouco de outos (o Carrie, o Dressed to Kill e o Blow Out, por exemplo ainda não me "tocaram" onde deviam...)
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

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José
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by José »

Comigo passa-se o mesmo, Samwise. Eu gosto muito dele e da filmografia dele, mas admito que há um ou outro título que não me diz nada (por exemplo, o Body Double, que detesto, e o Raising Cain, que acho muito fraquito). Nunca cheguei a ver A Fogueira das Vaidades, apesar de saber que é um dos títulos menos amados dele. Já o Dressed to Kill, adoro... yes-) O Blow Out gosto muito mas não se me cola à pele, acho que o admiro mais a nível intelectual e de construção narrativa do que a nível emocional...
Samwise
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

O The Bonfire of the Vanities comete dois erros grandes, a meu ver (hehe) - adapta mal uma enormérrima obra do Tom Wolfe (que também é responsável por essa outra maravilha chamada The Right Stuff, sobre a corrida ao espaço visto da perspectiva americana, e com muita auto-crítica à mistura), e consegue ser um filme completamente desinteressante. Acho que desinteressante, no caso do De Palma, é pior do que mau. :-?
--
Voltando um pouco atrás, e porque já não me recordava em condições do Femme Fatale, tive de o ir "alarvar" novamente. Maravilha de filme. Maravilha! Maravilha! Maravilha!

E vou concordar novamente com algo que disseste mais atrás:
tem mesmo um bocadinho de tudo o que faz parte do cinema de De Palma
É talvez o filme mais representativo que ele tem. Está lá tudo o que ele é enquanto cineasta, em estilo (os lentos e elegantes travellings da câmara, o split-screen, a first person perspective, as sequências em câmara lenta, os planso "picados", e a "vista de cima"), em temas (com o voyeurismo em primeiro plano) e em personagens. E a história é mesmo muito janada (acima, só o insanamente kitsch e over the top Phantom of the Paradise)

Só à conta das homenagens ao Hitch, conto quatro filmes: o Vertigo (que é o principal focado), o Rear Window (que aqui é mais um "Front Window" :lol: ), o Marnie e o North by Northwest.

O título remete logo para o cinema noir, a nomear um dos arquétipos do género, e é engraçado que os primeiros planos pertencem ao Double Indemnity (uma das referências máximas do noir, e aquele que tem a melhor/pior de todas as mulheres fatais). A Rebecca Romjin dá muito bem conta do recado, num papel com alguma complexidade, herdeira de uma longa linha de mulheres fatais, mas aqui com um fundo moral bastante invulgar...

Cinco estrelas para a forma como somos manipulados. Somos largado no meio de uma narrativa de que não conhecemos os detalhes, e quando achamos que estamos a conseguir decifrar o que se está a passar, o De Palma puxa-nos o tapete debaixo dos pés. E faz isto várias vezes durante o filme. Em termos de twists narrativos, este filme é rei e senhor. E faz isto com uma pinta e com um descaramento.... muito apetitosos.

Nota máxima ainda para a "gestão dos espaços físicos", e da acção que decorre nesses espaços, na dinâmica de movimentos da câmara para nos mostrar o cenário, os pormenores que interessam, e depois a acção a decorrer. É um campo que o De Palma domina melhor do que ninguém. Ao longo da sua filmografia, há inúmeros exemplos da sua mestria. Este filme está recheado de sequências virtuosas. Para quem gosta de admirar(-se) e "olhar para os filmes" também dessa perspectiva - eis um grande festim.

---

EDIT - Como nota final, o cúmulo da cumplicidade com o espectador: a personagem de António Banderas, somos nós. Manipulados até à medula, mas com imenso desejo e prazer (nos vários sentidos dos termos).

EDIT 2 - Uma cena "tórrida" na casa de banho das instalações do Festival de Cinema de Cannes??? Brilhante. Isto é o De Palma a divertir-se à grande e a minar subversivamente "as instituições"...

EDIT 3 - Lembrava-me de ter escrito qualquer coisa a propósito do filme quando o vi, só que não encontrei aqui no fórum - foi antes no BBdE, em 2010:
Vi um filme que me deixou de cara à banda: Femme Fatale, de Brian De Palma

Cada vez aprecio mais o estilo e a perfeição técnica deste realizador, que coloca tudo ao serviço da expressão e da fluidez narrativa.

O filme, que serve também de homenagem (mais uma) a Hitchcock e ao seu Vertigo, dá voltas e mais voltas em torno de um processo de ocultação de identidade e, quando finalmente a poeira assenta e julgamos que temos a história revelada e controlada... algo de insólito acontece... :mrgreen:

Coloquem de parte o ambiente rasca e sórdido das abordagens eróticas (algo que também é um imagem de marca de De Palma) e têm aqui um dos mais interessantes thrillers da década.

+

O filme tem uma série de pormenores muito bem engendrados e farta-se de brincar com o nosso sentido de crença naquilo que estamos a observar. É um puzzle complexo que vamos construindo devagar na cabeça e que de um momento para o outro volta à estaca zero.

+

o personagem do Banderas, um paparazzi, tinha a mania de construir cenários/paisagens fotográficos à conta da junção de centenas de fotografias que ia tirando (e que depois usava como papel de parede, em casa). Vejo um pouco jogo de colagem meia imperfeita das fotos como um paralelo à história do próprio filme - é um jogo de ilusões e perspectivas que se via conjugando mas que encerra muitos enigmas privados - e que de vez em quando resolve baralhar as fotos entre si dando origem a um cenário alternativo.

Mas o filme é estranho mais por causa de outras coisas (o momento de estranheza absoluta que ocorre quando ela acorda em casa da "outra", e claro, a cena em que tudo...hhhmm... não posso revelar... )

Além de tudo, o filme começa com imagens do Double Indemnity a passar numa televisão... que melhor mote existirá para começar um thriller destes?
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Samwise
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

Alguém viu o documentário (sort of) De Palma? (wiki)

Julgando pelos primeiros 10 minutos, é um must absoluto, para fãs dele e para apreciadores de cinema em geral.

Começa com ... o Vertigo...

E é basicamente ele a falar sobre a sua história no cinema - uma história que se confunde e é também parte importante da História do Cinema. O Robert de Niro começou com ele - praticamente foi revelado nos primeiros filmes do De Palma. Isto é só um pormenor, mas parece-me o tipo de conversa capaz de rivalizar, no bom sentido, com a conversa do Scorsese nos documentários que ele filmou na primeira pessoa.
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Ludovico
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Ludovico »

Qualquer dia mando banir o José e o Samwise :oops: :-))) :lol: :lol: :oops: .
Simplesmente conseguiram dizer que adoraram um filme que eu pensava só eu ter adorado e depois eles terem tão bem explicado PALAVRA POR PALAVRA TUDO O QUE EU PENSO SOBRE "MULHER FATAL". Assim não vale :-))) .
Eu amo o trabalho de Brian De Palma em geral e,à muitos anos atrás,mal vi este filme FUI LOGO COMPRÁ-LO EM DVD que nessa altura estava no inicio.
De tudo o que li deles os 2 sobre Mulher Fatal assino de cruz.
Só discordo do José num ponto:
O Blow-out e "O Testemunha de um Crime-Body Doble" são ambos Obras Primas absolutas, para mim, mas não favoritos meus. Já "Vestido para Matar" é unicamente um bom filme.
Os meus favoritos de DePalma são:
MIssão:Impossivel- I
Os Intocáveis
Mulher Fatal
Gosto tanto do missão Impossível dele que todos os anos o revejo.Não sei explicar porquê mas a minha vontade de o rever não me cansa. De resto, partilho em quase tudo o que o Samwise fala sobre DePalma.
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José
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by José »

Samwise wrote: September 13th, 2018, 7:38 pm O The Bonfire of the Vanities comete dois erros grandes, a meu ver (hehe) - adapta mal uma enormérrima obra do Tom Wolfe (que também é responsável por essa outra maravilha chamada The Right Stuff, sobre a corrida ao espaço visto da perspectiva americana, e com muita auto-crítica à mistura), e consegue ser um filme completamente desinteressante. Acho que desinteressante, no caso do De Palma, é pior do que mau. :-?
--
Voltando um pouco atrás, e porque já não me recordava em condições do Femme Fatale, tive de o ir "alarvar" novamente. Maravilha de filme. Maravilha! Maravilha! Maravilha!

E vou concordar novamente com algo que disseste mais atrás:
tem mesmo um bocadinho de tudo o que faz parte do cinema de De Palma
É talvez o filme mais representativo que ele tem. Está lá tudo o que ele é enquanto cineasta, em estilo (os lentos e elegantes travellings da câmara, o split-screen, a first person perspective, as sequências em câmara lenta, os planso "picados", e a "vista de cima"), em temas (com o voyeurismo em primeiro plano) e em personagens. E a história é mesmo muito janada (acima, só o insanamente kitsch e over the top Phantom of the Paradise)

Só à conta das homenagens ao Hitch, conto quatro filmes: o Vertigo (que é o principal focado), o Rear Window (que aqui é mais um "Front Window" :lol: ), o Marnie e o North by Northwest.

O título remete logo para o cinema noir, a nomear um dos arquétipos do género, e é engraçado que os primeiros planos pertencem ao Double Indemnity (uma das referências máximas do noir, e aquele que tem a melhor/pior de todas as mulheres fatais). A Rebecca Romjin dá muito bem conta do recado, num papel com alguma complexidade, herdeira de uma longa linha de mulheres fatais, mas aqui com um fundo moral bastante invulgar...

Cinco estrelas para a forma como somos manipulados. Somos largado no meio de uma narrativa de que não conhecemos os detalhes, e quando achamos que estamos a conseguir decifrar o que se está a passar, o De Palma puxa-nos o tapete debaixo dos pés. E faz isto várias vezes durante o filme. Em termos de twists narrativos, este filme é rei e senhor. E faz isto com uma pinta e com um descaramento.... muito apetitosos.

Nota máxima ainda para a "gestão dos espaços físicos", e da acção que decorre nesses espaços, na dinâmica de movimentos da câmara para nos mostrar o cenário, os pormenores que interessam, e depois a acção a decorrer. É um campo que o De Palma domina melhor do que ninguém. Ao longo da sua filmografia, há inúmeros exemplos da sua mestria. Este filme está recheado de sequências virtuosas. Para quem gosta de admirar(-se) e "olhar para os filmes" também dessa perspectiva - eis um grande festim.

---

EDIT - Como nota final, o cúmulo da cumplicidade com o espectador: a personagem de António Banderas, somos nós. Manipulados até à medula, mas com imenso desejo e prazer (nos vários sentidos dos termos).

EDIT 2 - Uma cena "tórrida" na casa de banho das instalações do Festival de Cinema de Cannes??? Brilhante. Isto é o De Palma a divertir-se à grande e a minar subversivamente "as instituições"...

EDIT 3 - Lembrava-me de ter escrito qualquer coisa a propósito do filme quando o vi, só que não encontrei aqui no fórum - foi antes no BBdE, em 2010:
Vi um filme que me deixou de cara à banda: Femme Fatale, de Brian De Palma

Cada vez aprecio mais o estilo e a perfeição técnica deste realizador, que coloca tudo ao serviço da expressão e da fluidez narrativa.

O filme, que serve também de homenagem (mais uma) a Hitchcock e ao seu Vertigo, dá voltas e mais voltas em torno de um processo de ocultação de identidade e, quando finalmente a poeira assenta e julgamos que temos a história revelada e controlada... algo de insólito acontece... :mrgreen:

Coloquem de parte o ambiente rasca e sórdido das abordagens eróticas (algo que também é um imagem de marca de De Palma) e têm aqui um dos mais interessantes thrillers da década.

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O filme tem uma série de pormenores muito bem engendrados e farta-se de brincar com o nosso sentido de crença naquilo que estamos a observar. É um puzzle complexo que vamos construindo devagar na cabeça e que de um momento para o outro volta à estaca zero.

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o personagem do Banderas, um paparazzi, tinha a mania de construir cenários/paisagens fotográficos à conta da junção de centenas de fotografias que ia tirando (e que depois usava como papel de parede, em casa). Vejo um pouco jogo de colagem meia imperfeita das fotos como um paralelo à história do próprio filme - é um jogo de ilusões e perspectivas que se via conjugando mas que encerra muitos enigmas privados - e que de vez em quando resolve baralhar as fotos entre si dando origem a um cenário alternativo.

Mas o filme é estranho mais por causa de outras coisas (o momento de estranheza absoluta que ocorre quando ela acorda em casa da "outra", e claro, a cena em que tudo...hhhmm... não posso revelar... )

Além de tudo, o filme começa com imagens do Double Indemnity a passar numa televisão... que melhor mote existirá para começar um thriller destes?
Samwise, antes de mais, os meus parabéns pela excelente exposição que fizeste deste filme, não me poderia rever mais. Femme Fatale é, na minha opinião, um dos mais ignorados filmes de De Palma (e, por extensão, dos mais desconhecidos também); para mim, sim, é o melhor dele. Começa, literalmente, como um jogo de espelhos, um autêntico "foreshadowing" (uma figura feminina sensualíssima, deitada numa cama a fumar e a ver um filme clássico noir que espelha o que iremos ver durante as cerca de 2h00 da projecção). Depois, por isto mesmo, é também um jogo metalinguístico, com epicentro naquela sequência brilhante, sexy, tensa, austera mas trepidante, quase sem diálogos - se não estou em erro - , no Festival de Cannes... Essa sequência está par a par com um dos melhores momentos do Missão Impossível, também do De Palma. É um portento, este Femme Fatale! É sobre a disponibilidade do olhar, ver e ser observado, as ilusões do real e a (im)possibilidade de interpretação do que pode ser abstracto ou enigmático. Depois, acho também que é um duelo masculino/feminino sarcástico e sedutor até dizer chega. E sim, a personagem do Banderas somos nós, os espectadores, a achar que temos algumas certezas mas também muitas dúvidas, que decifrámos algo e que estamos mais à frente das "jogadas" quando na verdade estamos a ser tão seduzidos quanto ele é na trama.
José
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by José »

Ludovico wrote: September 14th, 2018, 8:22 pm Qualquer dia mando banir o José e o Samwise :oops: :-))) :lol: :lol: :oops: .
Simplesmente conseguiram dizer que adoraram um filme que eu pensava só eu ter adorado e depois eles terem tão bem explicado PALAVRA POR PALAVRA TUDO O QUE EU PENSO SOBRE "MULHER FATAL". Assim não vale :-))) .
Eu amo o trabalho de Brian De Palma em geral e,à muitos anos atrás,mal vi este filme FUI LOGO COMPRÁ-LO EM DVD que nessa altura estava no inicio.
De tudo o que li deles os 2 sobre Mulher Fatal assino de cruz.
Só discordo do José num ponto:
O Blow-out e "O Testemunha de um Crime-Body Doble" são ambos Obras Primas absolutas, para mim, mas não favoritos meus. Já "Vestido para Matar" é unicamente um bom filme.
Os meus favoritos de DePalma são:
MIssão:Impossivel- I
Os Intocáveis
Mulher Fatal
Gosto tanto do missão Impossível dele que todos os anos o revejo.Não sei explicar porquê mas a minha vontade de o rever não me cansa. De resto, partilho em quase tudo o que o Samwise fala sobre DePalma.
Ludovico, chego à conclusão que cada um de nós que ama o Mulher Fatal andava a pensar que era o único que amava o filme. Epá, bem-vindo ao clube, nunca pensei. Eu gosto muito do Blow Out, admiro-o até, mas não se me entranha na pele completamente. O Body Double é que não consigo mesmo, não o suporto. Se tivesse que escolher 3 títulos do De Palma, pensando assim de repente - e apesar de adorar o Dressed to Kill desde miúdo -, seguiria também as tuas escolhas; claro que com o Mulher Fatal em 1º lugar :-D (já agora, o que se passa com o DVD desse filme, que não se encontra em lado nenhum, cá em Portugal?) O Missão Impossível dele é um dos filmes de acção mais elegantes, sóbrios e discretamente tensos que já vi (e recentemente pensei nisto: o filme tem um cast tão diversificado, com actores não muito óbvios para os papéis que assumiram, assim a dar muito para o internacional; foi uma jogada muito bem arquitectada). Outra coisa, adoro a tua frase de assinatura, que pertence a um filme que está no TOP 5 da minha vida, juro... Abraço
Samwise
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

José wrote: September 14th, 2018, 8:38 pm Samwise, antes de mais, os meus parabéns pela excelente exposição que fizeste deste filme, não me poderia rever mais. Femme Fatale é, na minha opinião, um dos mais ignorados filmes de De Palma (e, por extensão, dos mais desconhecidos também); para mim, sim, é o melhor dele. Começa, literalmente, como um jogo de espelhos, um autêntico "foreshadowing" (uma figura feminina sensualíssima, deitada numa cama a fumar e a ver um filme clássico noir que espelha o que iremos ver durante as cerca de 2h00 da projecção). Depois, por isto mesmo, é também um jogo metalinguístico, com epicentro naquela sequência brilhante, sexy, tensa, austera mas trepidante, quase sem diálogos - se não estou em erro - , no Festival de Cannes... Essa sequência está par a par com um dos melhores momentos do Missão Impossível, também do De Palma. É um portento, este Femme Fatale! É sobre a disponibilidade do olhar, ver e ser observado, as ilusões do real e a (im)possibilidade de interpretação do que pode ser abstracto ou enigmático. Depois, acho também que é um duelo masculino/feminino sarcástico e sedutor até dizer chega. E sim, a personagem do Banderas somos nós, os espectadores, a achar que temos algumas certezas mas também muitas dúvidas, que decifrámos algo e que estamos mais à frente das "jogadas" quando na verdade estamos a ser tão seduzidos quanto ele é na trama.
Caro José, agradeço as palavras simpáticas. Considero no entanto, e sem falsas modéstias, que "foram só ums rabiscos de ocasião", e que o filme merece, de minha parte, uma outra abordagem mais cuidada e desenvolvida. Uma que ficará por agora em "suspenso" e sem previsão de início à vista - correndo eventualmente o risco de se perder no tempo (mas tenho de estar "in the mood for it", e inspirado, e com mais tempo de relax - que agora não sucede). A respeito de tais palavras, penso que os teus textos estão bem mais incisivos e relevantes.

Em todo o caso, e como o assunto aqui é o De Palma, devido às vossas intervenções fiquei novamente contagiado por essa doença que é ver compulsivamente os filmes dele. Faltam-me dois ou três que nunca vi (o Raising Cain é um deles) , mas estou cheio de vontade de revisitar a filmografia dele, para "apreciar e deleitar". E, claro, para ficar com um olhar mais "global" do conjunto.

Nos entretantos, e enquanto não ponho mãos à obra, vou fazer-te um apelo: vê novamente o Body Double. Esquece as tentativas anteriores e dá-lhe uma hipótese. É um filme que tem bastante a ver com o Femme Fatale. É como que uma outra versão menos polida, com uma história similar e muitos pontos de contacto, a começar no Hitchcock e no seu Vertigo. Eu não consigo ver o filme sem me rir à gargalhada em muitas sequências, e digo isto no bom sentido, pois aprecio o fortíssimo sentido de ironia deliberada que o De Palma tenta no filme. Aquilo é quase um Vertigo cruzado com Rear Window versão pornográfica soft-core (e sobre isto falaremos mais tarde com mais detalhe). É delirante, mas deliberademnte delirante. É sequência atrás de sequência do mais provocador e satírico possível. De Palma a brincar ao cinema, a fantasiar Hitchcock de forma descarada, ultrajante mesmo, e a encenar os maiores fetiches sexuais-voyerísticos de uma forma que hoje provavelmente não o deixariam. Não o vejas como o "drama" que não é. E, claro, quem é que ele escolheu para interpretar a fonte de desejo? A Melanie Griffith, que é filha da Tippi Hedren, uma das mulheres que foi "desejada" dentro e fora do ecrã pelo Hitch.

O Body Double é ultrajante da melhor forma possível. salut-)

(só não gosto de uma coisa no filme, mas não vou dizer o que é...)

Mansildv, lembras-te da conversa sobre o grosseirismo do Saturday Night Fever? Na altura compareio despropositadamente com o Once Upon a Time in America, mas está aqui o filme com o qual faz mais sentido comparar quanto a questões de "grosseirismo"... :badgrin: :badgrin: :badgrin: Este Body Double consegue ser bastante mais grosseiro e rasca do que o Saturday Night Fever, mas foi feito por um mestre da cinefilia, supremamente engenhoso e criativo. A diferença nos resultados, comparando etilos de realização, é brutal.

Olhando para trás no tópico, só tu, José, é que não gostaste do Body Double... :-))) Até o Lorde X fala dele com grande "admiração". (Trata disso!!! :wink: )
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José
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by José »

Samwise wrote: September 15th, 2018, 10:42 am
José wrote: September 14th, 2018, 8:38 pm Samwise, antes de mais, os meus parabéns pela excelente exposição que fizeste deste filme, não me poderia rever mais. Femme Fatale é, na minha opinião, um dos mais ignorados filmes de De Palma (e, por extensão, dos mais desconhecidos também); para mim, sim, é o melhor dele. Começa, literalmente, como um jogo de espelhos, um autêntico "foreshadowing" (uma figura feminina sensualíssima, deitada numa cama a fumar e a ver um filme clássico noir que espelha o que iremos ver durante as cerca de 2h00 da projecção). Depois, por isto mesmo, é também um jogo metalinguístico, com epicentro naquela sequência brilhante, sexy, tensa, austera mas trepidante, quase sem diálogos - se não estou em erro - , no Festival de Cannes... Essa sequência está par a par com um dos melhores momentos do Missão Impossível, também do De Palma. É um portento, este Femme Fatale! É sobre a disponibilidade do olhar, ver e ser observado, as ilusões do real e a (im)possibilidade de interpretação do que pode ser abstracto ou enigmático. Depois, acho também que é um duelo masculino/feminino sarcástico e sedutor até dizer chega. E sim, a personagem do Banderas somos nós, os espectadores, a achar que temos algumas certezas mas também muitas dúvidas, que decifrámos algo e que estamos mais à frente das "jogadas" quando na verdade estamos a ser tão seduzidos quanto ele é na trama.
Caro José, agradeço as palavras simpáticas. Considero no entanto, e sem falsas modéstias, que "foram só ums rabiscos de ocasião", e que o filme merece, de minha parte, uma outra abordagem mais cuidada e desenvolvida. Uma que ficará por agora em "suspenso" e sem previsão de início à vista - correndo eventualmente o risco de se perder no tempo (mas tenho de estar "in the mood for it", e inspirado, e com mais tempo de relax - que agora não sucede). A respeito de tais palavras, penso que os teus textos estão bem mais incisivos e relevantes.

Em todo o caso, e como o assunto aqui é o De Palma, devido às vossas intervenções fiquei novamente contagiado por essa doença que é ver compulsivamente os filmes dele. Faltam-me dois ou três que nunca vi (o Raising Cain é um deles) , mas estou cheio de vontade de revisitar a filmografia dele, para "apreciar e deleitar". E, claro, para ficar com um olhar mais "global" do conjunto.

Nos entretantos, e enquanto não ponho mãos à obra, vou fazer-te um apelo: vê novamente o Body Double. Esquece as tentativas anteriores e dá-lhe uma hipótese. É um filme que tem bastante a ver com o Femme Fatale. É como que uma outra versão menos polida, com uma história similar e muitos pontos de contacto, a começar no Hitchcock e no seu Vertigo. Eu não consigo ver o filme sem me rir à gargalhada em muitas sequências, e digo isto no bom sentido, pois aprecio o fortíssimo sentido de ironia deliberada que o De Palma tenta no filme. Aquilo é quase um Vertigo cruzado com Rear Window versão pornográfica soft-core (e sobre isto falaremos mais tarde com mais detalhe). É delirante, mas deliberademnte delirante. É sequência atrás de sequência do mais provocador e satírico possível. De Palma a brincar ao cinema, a fantasiar Hitchcock de forma descarada, ultrajante mesmo, e a encenar os maiores fetiches sexuais-voyerísticos de uma forma que hoje provavelmente não o deixariam. Não o vejas como o "drama" que não é. E, claro, quem é que ele escolheu para interpretar a fonte de desejo? A Melanie Griffith, que é filha da Tippi Hedren, uma das mulheres que foi "desejada" dentro e fora do ecrã pelo Hitch.

O Body Double é ultrajante da melhor forma possível. salut-)

(só não gosto de uma coisa no filme, mas não vou dizer o que é...)

Mansildv, lembras-te da conversa sobre o grosseirismo do Saturday Night Fever? Na altura compareio despropositadamente com o Once Upon a Time in America, mas está aqui o filme com o qual faz mais sentido comparar quanto a questões de "grosseirismo"... :badgrin: :badgrin: :badgrin: Este Body Double consegue ser bastante mais grosseiro e rasca do que o Saturday Night Fever, mas foi feito por um mestre da cinefilia, supremamente engenhoso e criativo. A diferença nos resultados, comparando etilos de realização, é brutal.

Olhando para trás no tópico, só tu, José, é que não gostaste do Body Double... :-))) Até o Lorde X fala dele com grande "admiração". (Trata disso!!! :wink: )
Samwise, obrigado pelo feedback e pelas tuas palavras. Mesmo escrevendo às pressas, acredita, consegues sempre dar substância aos teus pensamentos e fazer-te expressar super bem. Ok, com este teu entusiasmo contagiaste-me, vou então tratar disso e pegar nesse filme. Confesso que só o vi 2 vezes, quando era adolescente. Quem sabe não vou apreciar desta vez elementos dele que na altura me passaram ao lado, quem sabe?... Vou ver, sim, mas não prometo nada :wink: A memória que tenho dele é que não se levava nada a sério e limitava-se com aquele jeito de auto-paródia e sarcasmo muito ácido, como que reduzindo os seus propósitos de uma boa e tensa intriga a uma farpa lixada aos meandros da indústria de série Z de Hollywood. Depois, e exactamente pelo que referi anteriormente, tem mesmo um tom e ar trashy soft core que esconde a mestria que se calhar até está por detrás; é do que me lembro, pelo menos... Ah, confissão plena, aqui e agora: a Melanie Griffith é excelente, sim (mas isso para mim não é nada de novo, sempre a achei espectacular, talentosa, sexy e charmosa).

Quanto ao Raising Cain, boa sorte! Digamos que é uma espécie de Peeping Tom com uns pozinhos de Psycho e Dressed to Kill, mas muito atabalhoado e involuntariamente cómico. Mas o De Palma tem essa vertente, que já aconteceu comigo também há relativamente pouco tempo: pegar num ou noutro filme dele e, de repente, começamos com uma vontade imensa de revisitar a filmografia do homem. Abraço.
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

Entretanto já vi o Raising Cain. Não é tão mau quanto cheguei a temer, mas é de facto um filme menor, e menos impactante na sua filmografia. É um típico thriller de suspense à Brian De Palma, com ligações fortes a uma obra de referência do Hitchcock (neste caso o Psycho - com a habitual sequência "copiada" e reencenada do mestre - o carro a ser mandado para dentro de água), mas sem o nervo necessário para "competir" num mercado onde já navegavam "modernices" como o The Silence of the Lambs. A maior parte do filme é aborrecida e algo inverosímil, mesmo considerando que a narrativa foca um caso de múltipla personalidade. Gostei dos últimos 15 minutos - e da sequência em "slo-mo" com climax da história - ainda assim a ser apreciada apenas por fãs do De Palma e dos seus "tiques", parece-me, dada a tendência para abusar das "coincidências" e dos efeitos técnicos. O planos final com que encerra o filme também é muito bom... É um 6/10.

(ainda hei-de contar quantos filmes dele fazem referências a Hitchcock, ou a outros mestres da 7ª arte...)
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by paupau »

Essa versao do Raising Cain que andam a ver e o recente "director's cut"?

O meu preferido ( nao sei se melhor) e de longe o Scarface. Ja estou relativamente curado, mas sou doente por esse filme. Ha uns anos atras sabia muita, muita fala de cor!

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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

paupau wrote: September 17th, 2018, 2:46 pm Essa versao do Raising Cain que andam a ver e o recente "director's cut"?
Vi o DC, que na realidade é um fan-made-edit de que o De Palma gostou. :-D
The Blu-ray release by Shout Factory contains the Directors Cut. Originally, this versions ia fanedit made by Dutch director Peet Gelderblom and based on a script he found on the internet. On indiewire, Gelderblom made his version public and Brian De Palma, who also saw it, was so thrilled by it that he asked Shout Factory to release it as Director's Cut on their upcoming Blu-ray release. Gelderblom was also involved in the production of said Blu-ray: He was given the chance to make a new edit of his version based on a new HD master. It is very unusual that a fanedit becomes a director's favorite version and that this fanedit also gets to be called Director's Cut.
The main difference betwen the Theatrical Version and the Director's Cut is the new order of the scenes. The Director's Cut begins with Jenny and Jack who bump into each and start having an affair. Then the scene on the playground: Carter meets an acquaintance, sedates her, abducts her son and hands him over to his father. Since the movie focuses on Jenny at first, the affair appears to be captivating because in the Theatrical Version, Carter's story is the center of attention. For a better transition, a part of the coversation with an acquaintance on the playground is being repeated when Jenny meets with Jack. For that reason, the Director's Cut is longer. When scenes are interchanged, there are often transitions in the Theatrical Version which is why those scenes are 1-2 seconds longer in the Director's Cut - not being mentioned in the foloowing comparison.
https://www.movie-censorship.com/report.php?ID=478140

Nas palavras do próprio Peet Gelderblom:

http://www.directorama.net/2016/07/26/c ... ctors-cut/
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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by paupau »

Ja tinha conchecimento disso sim, por isso perguntei se era a versao que andavam a ver. Se mesmo assim nao e nada de especial tao cedo nao pego nisso.

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Re: Melhor filme do Brian De Palma?

Post by Samwise »

Nestes últimos dias revi três dos títulos do De Palma de que não havia gostado muito no passado, e ganhei alguma coisa com a experiência de revisitação, embora não tanto quanto desejasse ou gostasse (ia na verdade mesmo apostado em "tentar gostar" dos filmes).

O Dressed do Kill permanece para mim um filme algo "chôcho" e disperso - as sequências de suspense estão bem doseadas quanto à forma como esse suspense é construído no tempo, e nos planos de câmara, mas estão sustentadas em pormenores físicos que me parecem, muitos deles, algo ridículos (como por exemplo as posições e as acções de cada personagem no cenário). A mesma coisa se passa nas sequências de "não suspense". Muitas delas parecem bastante forçadas (a "pior" de todas é a perseguição no metro, e o desenrolar dos vários acontecimentos que se vão sucedendo). O Hitchcock visado/homenageado/plagiado desta vez é o Psycho, mas de uma forma que me faz quase (sor)rir. 6/10

O Carrie subiu um pouco na minha consideração, muito devido aos problemas de bullying que aborda - e que são intemporais -, embora como fita de "terror", não só não tenha tanto terror como isso (tem mais violência do que propriamente indução de medo) como me parece completamente datado. Em todo o caso, a sequência final faz parte do imaginário colectivo cinéfilo (mesmo de quem não viu o filme) e está filmado com sentido de choque suficiente para causar alguns arrepios. A par desta sequência, também a inicial (em que a miúda descobre pela pela primeira vez que há uma coisa chamada "período") é de antologia, pela crueldade do contexto e pela forma provocadora como o De Palma se enfia naquele balneário. 7/10

O Blow Out foi o melhor dos três nesta "reconversão". Gostei bastante da experiência desta vez. Dos três filmes, parece-me que é o que tem a história mais consistente, as personagens mais sólidas, e a narrativa mais interessante de seguir - os vários temas que se interceptam (um deles é mesmo o processo de edição de um filme) e as técnicas de filmagem utilizadas são dignos de um grande realizador - há uma sensação de premonição e desespero que se instala às tantas e que traz à memória alguns ambientes do cinema noir mais poderoso. Parece-me o filme mais maduro e seguro dos três, embora só os esteja a comparar porque os vi de rajada. 8/10
Last edited by Samwise on January 22nd, 2019, 11:23 am, edited 1 time in total.
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