Hammett (1982) - Wim Wenders

[mansildv]

Realizador: Wim Wenders
Elenco: Franchot Tone, Ella Raines, Alan Curtis, Elisha Cook Jr., Fay Helm, Aurora Miranda.

Fictional account of real-life mystery writer Dashiell Hammett, and his involvement in the investigation of a beautiful Chinese cabaret actress' mysterious disappearance in San Francisco.

Trailer



IMDb
Wikipedia
Rotten Tomatoes

[Samwise]

Vi.

É uma curiosidade na carreira do Wenders, e é um bocado difícil de perceber o que é que o atraiu no projecto, ou se ideia era antes aproveitar uma porta aberta para o mercado americano (que esse, sim, ele muito aprecia) e ganhar boleia de uma oportunidade concedida pelo Coppola. Em todo o caso, é um filme "anónimo" - não se nota nenhuma assinatura em particular na realização (nem Wenders, nem Coppola) - com valores de produção baixos, um elenco que também não é de primeira linha, mas suficientemente competente e atmosférico (com uma BSO muito adequada) para cumprir com o caderno de encargos. E o caderno de encargos aqui era fazer uma homenagem ao cinema noir na vertente "private dick", e àquilo que a literatura do Dashiell Hammett em particular lhe forneceu como matéria prima para uma série de obras. Todo o filme está "povoado" de piscadelas de olho a personagens e histórias do Hammett, e alguns actores da era dourada do noir entram em pequenos papéis (com o Elisha Cook em destaque). A narrativa também cumpre os mínimos, com voltas e reviravoltas que não são novidade (que já vi milhares de vezes filmadas), mas que mantém os apreciadores do género entretidos. É um produto que em momento algum se liberta da capa ilustrativa do faz de conta e dos cenários de estúdio - se o fossemos comparar, por exemplo, com um Chinatown ou com um The Long Goodbye, sairia muito mal na fotografia. Ainda assim, tem os seus encantos de pequeno projecto que sabe o que é e não pretende ser outra coisa.

Acho de resto que é um filme que só vai ser devidamente apreciado por apreciadores (passe o pleonasmo) de cinema noir, e por curiosos do Wenders.

7/10

[Luis.Manuel]

Vi.

É uma curiosidade na carreira do Wenders, e é um bocado difícil de perceber o que é que o atraiu no projecto, ou se ideia era antes aproveitar uma porta aberta para o mercado americano (que esse, sim, ele muito aprecia) e ganhar boleia de uma oportunidade concedida pelo Coppola. Em todo o caso, é um filme "anónimo" - não se nota nenhuma assinatura em particular na realização (nem Wenders, nem Coppola) - com valores de produção baixos, um elenco que também não é de primeira linha, mas suficientemente competente e atmosférico (com uma BSO muito adequada) para cumprir com o caderno de encargos. E o caderno de encargos aqui era fazer uma homenagem ao cinema noir na vertente "private dick", e àquilo que a literatura do Dashiell Hammett em particular lhe forneceu como matéria prima para uma série de obras. Todo o filme está "povoado" de piscadelas de olho a personagens e histórias do Hammett, e alguns actores da era dourada do noir entram em pequenos papéis (com o Elisha Cook em destaque). A narrativa também cumpre os mínimos, com voltas e reviravoltas que não são novidade (que já vi milhares de vezes filmadas), mas que mantém os apreciadores do género entretidos. É um produto que em momento algum se liberta da capa ilustrativa do faz de conta e dos cenários de estúdio - se o fossemos comparar, por exemplo, com um Chinatown ou com um The Long Goodbye, sairia muito mal na fotografia. Ainda assim, tem os seus encantos de pequeno projecto que sabe o que é e não pretende ser outra coisa.

Acho de resto que é um filme que só vai ser devidamente apreciado por apreciadores (passe o pleonasmo) de cinema noir, e por curiosos do Wenders.

7/10

Bom, estava a ver que não. Ora então o Samwise tão conhecido pela sua paixão pelo "cinema noir" anda a ver a obra do Wenders e sobre o "Hammett" nada? Ok ok não é um "noir a sério" é algo estilo uma "homage" mas... no caso do Samwise não haveria como "escapar-se" e daqui deste lado a curiosidade era muita para ler a reacção. Está feito e digamos que a prosa não desiludiu.

[Samwise]

Sim, não é de facto um "noir a sério" (é mais uma brincadeira à volta dos códigos e das referências do género - focada na vida e obra do D. Hammett), e para além disso é um filme muito artificial - por causa, essencialmente, dos cenários de estúdio (mesmo que o Wenders diga o contrário), e dos diálogos e situações propositadamente "cliché".

Acho que "artificial" é mesmo uma palavra definidora deste filme. Uma noção de clausura esquemática que choca de frente com a "naturalidade" reinante, e com o sentido/sentimento dos guiões vagos, improvisados e livres nos filmes do Wenders até aí. Se calhar não seria algo que me chegaria com tanta percepção se o nome Wenders não estivesse nos créditos, mas acaba por ser inevitável por esse motivo.

[Luis.Manuel]

Eu achei desinteressante este filme do Wenders e realmente se era intenção "homenagear" o talento de Dashiell Hammett (do qual li alguns livros publicados num colecção de bolso muito popular que era leitura minha de praia e transportes públicos) não resultou muito bem. Talvez Wenders não se sentisse muito confortável com um trabalho de época? Talvez a parceria com Coppola não tivesse resultado muito bem? Nessa altura FFC estava com "The Escape Artist" di rigido por Caleb Deschanel, "encravado" (e quando estreou não foi muito bem acolhido) e ao mesmo tempo a lançar o "Koyaanisqatsi" do Reggio, e com isso não tivesse dedicado muita atenção ao "Hammett" mas é óbvio que algo não funcionou como seria de esperar. E se bem que não ponha em causa o talento do realizador alemão digamos que considero o conjunto da sua obra um tanto irregular.