Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

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mansildv
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Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by mansildv »

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Realizador: Robert Siodmak
Elenco: Franchot Tone, Ella Raines, Alan Curtis, Elisha Cook Jr., Fay Helm, Aurora Miranda.

A devoted secretary risks her life to try to find the elusive woman who may prove her boss didn't murder his selfish wife.
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mansildv
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by mansildv »

Film Noir of the Week, Phantom Lady (1944)

http://www.noiroftheweek.com/2008/02/ph ... -1944.html
Samwise
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by Samwise »

Eis um filme muitíssimo curisoso. Não tem, nem de longe nem de perto, a riqueza ou as qualidades de outros noirs mais celebrados, a nível de enredo ou de construção de personagens (nem é dificil citar talvez uma dezena dessas obras "melhores"), mas tem uma série de outras características que o tornam num autêntico must. Desde logo essa rara particularidade de colocar uma mulher como "tough guy de serviço" (a Ella Raines, num grande desempenho), quando o de outro modo "protagonista pricinpal" é uma vítima resignada e demasiado macia perante a certeza de um destino obscuro, embora sobre o qual tenha a certeza da sua incocência.

To be continued...
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Samwise
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by Samwise »

Sabemos que o homem é inocente de ter assassinado a sua esposa porque seguimos - a câmara segue - o seu trajecto pela cidade de noite, na companhia de uma mulher desconhecida (e acerca de quem ele também desconhece a identidade), durante o espaço de tempo em que a hora do assassinato fica estabelecida pela polícia. Quando entra em casa, é precisamente a polícia que o aguarda junto ao cadáver, já com mais de meias certezas de que é ele o culpado.

Estamos ainda nos minutos iniciais do filme e já uma série invulgar de estranhezas ocorreram. Desde logo o encontro casual num bar entre o homem e aquela mulher desconhecida, que, como ele, teria um encontro marcado e ficou "pendurada"; a seguir a idea de ambos concordarem em fazer companhia um ao outro sem troca de detalhes pessoais - para que não houvesse a tentação de compromissos futuros; e depois ainda o facto de se encontrarem três agentes da polícia em casa dele, logo ali num ápice, com uma bateria de perguntas preparadas, e que acabam por o levar para a esquadra.

À partida este homem poderia facilmente apresentar um alibí, mesmo não contando com o testemunho da "mulher desconhecida" com quem passou a noite. Nos locais que ambos frequentaram, houve testemunhas que os viram juntos. O empregado do bar onde se encontraram, o baterista da companhia em cuja sala assistiram a um espectáculo musical (e que piscou o olho à mulher), e ainda a artista protagonista desse espectáculo, que do palco notou que partilhava o mesmo modelo de chapéu com o que a mulher desconhecida trazia na cabeça. Mas não... há um problema: qualquer uma destas testemunhas nega veementemente ter visto o casal. O barman é o único que indica que o homem esteve no bar, mas a sós - não esteve nenhuma mulher com ele. Mais, todas as tentativas para localizar a mulher desconhecida, pela polícia, e com anúncios no jornais, resultam em fracasso.

Long story short, o homem é condenado à morte através de provas circunstanciais, não conseguindo provar a sua inocência.

É aqui que entra a jovem "Kansas" (Ella Raines), de quem o condenado é patrão, e que tem uma paixão secreta por ele. Após uma conversa com o inspector da polícia que tratou do caso (e que está convencido da inocência do acusado), Kansas decide empreender uma investigação pelos próprios meios para tentar encontrar os verdadeiros culpados.

As coisas começam então a ficar realmente interessantes - e muito estranhas. Estranhas porque o ponto de partida para esta investigação "à margem da lei" é a ideia firme de que as testemunhas mentiram - todas elas -, e porque a abordagem da jovem implica alguns sacrifícios que pouca gente estaria disposta a fazer, mesmo que para provar a inocência de um amado.

Vou apenas fazer mais uma revelação sobre o enredo - e uma com alguma "envergadura" - pelo que se tiverem interesse em ver o filme "às escuras", evitem ler o que está a seguir.

***SPOILERS***

Um pouco à frente no filme há aquilo a que poderíamos justamente chamar, à inglesa, uma "sax scene" ("sax", com "a", de "saxophone", mas podia na realidade ser "e" - o uso de uma ou outra letra é indiferenciado no contexto...)

Esta é a sequência que por si só catapulta o filme para fora do anonimato e que lhe garante um lugar relevante na história do cinema.

Não sei se a escolha terá sido deliberada, ou se as restrições impostas pelo Production Code terão levado à fórmula tal como está encenada, o que é certo é que Siodmak filma uma electrizante Jam Session de Jazz, e em particular a prestação maníaca do baterista (interpretado por Elisha Cook Jr.) como se de uma performance sexual se tratasse, contando para isso com o devido empenho e encorajamentop por parte do elemento feminino, que faz o necessário para garantir que o seu par atinge o clímax.

É uma daquelas cenas que tem de ser vista com os próprios olhos para se acreditar - qualquer tentativa de descrição e detalhe ficará largamente aquém.

Contornar as regras do código em filmes desta altura tornou-se para alguns cineastas quase um desporto - um jogo de gato e rato em que a criatividade e a imaginação por vezes resolviam o assunto, permitindo que o público entendesse o que ocorria atrás da cortina de um modo "engraçado" (por exemplo, uma saída que fica na memória é a hilariante e descarada abordagem de Hawks no The Big Sleep, em que Marlowe flirta com uma lojista). Não conheço, contudo, sequência que chegue perto desta mescla, carregada de perversidade e sordidez, entre o sexo e o mundo artístico da música.

De entre outras qualidades e virtudes presentes neste filme, queria destacar também a fotografia, a cargo de Elwood Bredell. Siodmak tem talvez em Phantom Lady a melhor formulação atmosférica provocada e planeada através da luz, e ele, em particular, é um cineasta com uma série de obras de eleição em que este factor não só se impõe como fortíssimo, como é mesmo determinante para estabelecer a "mood" - e as várias "tonalidades sensoriais" que passam para a plateia.

Bottom Line: um must para qualquer apreciador de cinema noir.
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by paupau »

Muito bom filme! Gostei no início não vermos a mulher do protagonista, apenas num quadro, algo saído do Laura e mão é que foram ambos lançados em 1944?! Cheira-me a influência do Rebecca, este Phantom Lady tem algo de sonho febril tamém, sobretudo na fase inicial da investigação, em que se começa a perceber que há ali alguma espécie de conspiração por trás.
Essa cena do jazz é qualquer coisa realmente, pensei que o bateria ia ter um ataque cardíaco ou algo do género.
Foge um pouco às convenções do género realmente, mas a meu ver, a sequência mais atmosférica de noir e a Kansas a.seguir o barman pela cidade, mesmo descontando o fato de NY quase vazia, a fotografia e design de som aqui são muito bem conseguidos.
A cena final do filme é algo freudiana com o assassino a massajar a gravata deitado num divã(!) e cheio de tiques.Acho que o Frenzy do Hitch vai beber algo a esta personagem

Enviado do meu SM-A510F através do Tapatalk

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Samwise
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by Samwise »

paupau wrote: September 15th, 2020, 9:28 am a sequência mais atmosférica de noir e a Kansas a.seguir o barman pela cidade, mesmo descontando o fato de NY quase vazia, a fotografia e design de som aqui são muito bem conseguidos.
Essa sequência tem a determinada altura um momento que ainda a torna mais destacada - na estação de comboio, quando o barman decide "resolver o assunto de forma permanente". É uma cena perfeitamente dispensável e surpérflua para a narrativa (se não estivesse lá, ninguém daria por nada), mas que acrescenta, e de que maneira, à atmosfera de perigo iminente e terror a que Kansas parece estar alheia. De outras pespectiva, é um pequeno flash arrepiante sobre o comportamento humano, e sobre o que somos capazes de fazer quando ningém está a olhar...
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Re: Phantom Lady (1944) - Robert Siodmak

Post by mansildv »

Também gostei imenso, é um excelente noir yes-)

8.5/10
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