Acho que tendo mais para o Sono de Inverno, mas este A Pereira Brava não deixa de ser mais uma belíssima proeza. Fui passando por vários estágios ao longo do filme, até porque a sua duração bem que permite este encadeamento emocional. Houve alturas que o achei demasiado verboso, em que me apetecia que se tivesse apostado mais na contemplação e na introspecção; noutros momentos, percebi que as decisões criativas que tinham sido tomadas tinham sido as mais correctas para aqueles momentos específicos.
Fui alterando a minha percepção também em relação à personagem principal (tantas vezes entendi-o e identifiquei-me, noutras tantas irritou-me profundamente, para de seguida me gerar empatia; exasperou-me e comoveu-me, na mesma medida, etc). É uma história com alguma poesia visual e bastante profunda ao nível dos sentimentos, sobre um jovem que terminou a sua formação académica e que regressa à terra natal, para junto da família. Ele encontra-se num limbo existencial, numa literal e figurativa "terra de nenhures", entre aquilo que sabe ser o seu verdadeiro potencial e o peso demasiado real e demolidor das circunstâncias que teimam em arrastá-lo para uma vivência semelhante à dos seus familiares.
Na sua aparente lhaneza e ligeireza, consegue ser um dedicado retrato dos dias de hoje, uma preciosidade intimista e algo melancólica que incide no contraste entre a promessa efabulada do futuro e as armadilhas constantes das heranças familiares e do meio social em que se circula.
