Rui, a cena que mencionas está de facto no filme. É impressionante o que a (má) memória nos faz - muito pouca coisa já recordava no filme para lá de uma ou outra sequência. Lembro-me de ter gostado do filme (e de ter pensado nos contextos abordados muito à distância), mas talvez na altura não o tenha apreciado com a devida atenção, em parte por não ter a experiência de vida necessária para absorver as subtilezas do que se estava a passar.
É uma obra altamente refinada e sofisticada mesmo para os dias de hoje (ainda que transpirando a eighties por todos os poros - pun intended!
), com um magnífico argumento, um magnífico texto e uns magníficos diálogos (e one-liners também, não esqueçamos esses) a serem servidos a um elenco que não podia ter sido mais bem escolhido. Em cima disto, é engraçado apreciar que no plano técnico esta comédia romântica de eleição também marca pontos: as sequências dentro do estúdio, quando o cronómetro aperta, estão filmadas com sentido de espaço, posicionamento e enquadramento, com cuts e travellings imaginativos e dinâmicos, a pautarem o ritmo na perfeição - um deleite para quem se interessa por estes aspectos.
Parece-me a esta distância um filme algo perdido no passado - pouco ou nada se ouve falar dele, o que é uma pena, porque dá uma abada a praticamente tudo o que se produz hoje em dia no ramo das comédias românticas - mas também é verdade que o filme é muito mais do que isso, e aponta um dedo crítico, ainda que de forma suave, sem demasiada pressão, aos "desvios" populares que dominam as redações de alguns orgãos de comunicação social (neste campo, nota-se que os tempos já avançaram, e que os problemas de agora são de outra ordem e gravidade, mas os paralelos podem sempre ser inferidos)
10/10